Segunda-feira

VALOR

Sem fôlego, atividade frustra previsões em 2018

No fim do ano passado, quando o país ensaiava uma recuperação mais forte, analistas acreditavam que a eleição presidencial provocaria certa volatilidade na economia. Mas naquele momento se imaginava que o grau de incerteza provocado pelo pleito não impediria que o Produto Interno Bruto (PIB) crescesse perto de 3%. Em dezembro, levantamento feito pelo Valor Data entre 27 economistas indicava uma média de crescimento de 2,7% do produto, com expansão de 3% no consumo das famílias e de 6% no investimento.

No primeiro bimestre, o otimismo cresceu e a média das projeções para o PIB subiu um pouco mais, para 3%. Mas quando o mercado de trabalho empacou e as turbulências externas se tornaram mais evidentes, a confiança refluiu e as projeções passaram a cair. Em abril, o Itaú Unibanco alertava em relatório que os diversos indicadores do mercado de trabalho - Pnad Contínua, Caged, sondagem Seade/Dieese - mostravam um quadro menos sólido da população ocupada e dos salários reais.

Naquele momento, as estimativas para o PIB caíam para cerca de 2%. A greve dos caminhoneiros foi a gota d'água. A partir dela, uma onda de revisões levou a projeção do PIB em 2018 a 1,5% ou menos. O consumo das famílias e a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas, equipamentos, construção e inovação) foram revisados para baixo, mas ainda devem puxar o crescimento em 2018. No primeiro caso, a expansão prevista saiu de 3% para 2%.

No segundo, de perto de 7% para cerca de 3,5%. O setor externo e o consumo do governo devem dar contribuição negativa para o PIB. No lado da oferta, indústria e serviços também foram revisados para baixo com o menor dinamismo da economia. A greve dos caminhoneiros embaralhou a leitura da atividade e, por isso, os pontos de atenção do segundo trimestre serão os investimentos e o consumo das famílias, pois são eles que darão a real dimensão do impacto da greve e o sinal de como será a recuperação da atividade num segundo semestre que tem a volatilidade cambial provocada pelas eleições como dificuldade adicional, na opinião de Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

"A boa notícia é que os dados que têm sido divulgados de junho para cá mostram que, apesar dos desdobramentos relacionados à tabela de frete, há uma certa resiliência positiva da economia, que está num ritmo de expansão similar ao de antes da crise", diz. Ele cita como exemplos os dados de bens de capital e de veículos, relevantes por estarem diretamente relacionados à confiança dos empresários para investir e dos consumidores para tomar crédito. Ainda assim, sua estimativa para o PIB no ano foi reduzida de 2,5% para 1,6%. Entre grandes instituições financeiras, há apostas mais baixas, como a do Bradesco (1,1%), JP Morgan (1,2%) e Itaú (1,3%).

Mais pessimista está o economista-chefe da gestora Mogno Capital, Vagner Alves, para quem o PIB deste ano deve crescer apenas 0,8%. A greve e a corrida eleitoral, diz, adiaram decisões de investimento e de consumo, determinando uma paralisia na atividade, com alguma aceleração só no fim do ano, puxada pela liberação de R$ 34,3 bilhões do PIS-Pasep. "Temos a recuperação mais lenta da história. A 'bagunça' ainda é grande e a situação fiscal é muito pior que antes". Alves diz ainda que a piora no cenário externo para os países emergentes tende a se agravar em 2019, ano que, para ele, ainda será de transição e de baixo crescimento.

 

Bancos retomaram 70 mil imóveis por falta de pagamento desde 2014

Com a alta inadimplência nos financiamentos imobiliários provocada pela crise econômica, o número de imóveis retomados pelos bancos disparou nos últimos anos. Desde o início de 2014, as cinco maiores instituições financeiras do País retomaram R$ 11,5 bilhões em imóveis por falta de pagamento. O setor estima que essa cifra corresponde a cerca de 70 mil casas e apartamentos.

A inadimplência cresceu à medida que a crise elevou o desemprego e reduziu a capacidade financeira das famílias. Atualmente, os cinco maiores bancos têm o volume recorde de R$ 13,7 bilhões em imóveis à espera de um interessado – incluindo as unidades que já estavam no estoque –, cifra que cresceu 745% em quatro anos e meio.

Números nos balanços do Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco e Santander revelam que, juntas, as instituições tiveram aumento médio de quase R$ 2 bilhões no volume de imóveis retomados a cada ano entre 2014 e o ano passado. O ritmo continua forte em 2018 e, em apenas seis meses, bancos tomaram mais R$ 1,48 bilhão em casas e apartamentos de inadimplentes.

A líder no setor imobiliário, a Caixa, encabeça esse movimento, com cerca de 70% desse total de unidades retomadas. Em junho, eram cerca de 47 mil imóveis de clientes que, somados, valiam R$ 9,1 bilhões. Em 2016, o estoque era menos da metade: 23 mil unidades.

O mesmo fenômeno acontece nos concorrentes, ainda que com ritmo um pouco menos intenso. Desde o início de 2014, Bradesco, Santander e Itaú somaram, cada, cerca de R$ 1 bilhão a essa carteira. O BB teve aumento menos expressivo, com R$ 116 milhões no período.

“São números que chamam atenção. Se continuarmos observando esse movimento por mais um ou dois anos, poderemos ter um problema razoável”, avalia o professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, Rafael Schiozer. O professor nota que o principal risco para os bancos é a queda do preço dos imóveis, o que reduz a possibilidade de a instituição reaver o dinheiro emprestado.

Velocidade da retomada

O presidente da Associação dos Mutuários de São Paulo, Marco Aurélio Luz, explica que bancos normalmente retomam o imóvel em processos que duram de seis meses a um ano, mas há casos mais rápidos. Imóveis financiados pelo Sistema Financeiro Imobiliário (SFI) – acima de R$ 950 mil em São Paulo, Rio, Minas e e Distrito Federal e R$ 800 mil nos demais Estados – podem ir a leilão em 90 dias. A retomada de imóveis financiados pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH), que têm valores abaixo dos limites do SFI, costuma demorar alguns meses a mais.

Esse esforço dos bancos em despejar os clientes rapidamente gera efeito positivo nos indicadores de inadimplência. Isso acontece porque, com a retomada do imóvel, a operação deixa de ser considerada “crédito inadimplente” e passa a ser um “ativo” do banco. A posse desses imóveis, portanto, acaba amenizando os indicadores de calote.

Segundo o Banco Central, o porcentual dos financiamentos imobiliários para pessoas físicas com inadimplência superior a 90 dias tem oscilado em torno de 2% desde o início da década. Ou seja, atrasos no pagamento são cada vez mais frequentes, mas o banco corre para liquidar a operação antes que isso seja visível na inadimplência.

 

Para economistas, PIB do 2º trimestre cresceu apenas 0,1%

Num período conturbado pela greve dos caminhoneiros, o crescimento da atividade econômica do país ficou muito próximo de zero no segundo trimestre, quando comparado ao primeiro, que também foi fraco. A média das estimativas de 23 consultorias e instituições financeiras para o Produto Interno Bruto (PIB) do período é de avanço de apenas 0,1%. Se realizado, o resultado ficará abaixo da alta de 0,4% entre janeiro e março, em relação ao quarto trimestre de 2017, uma taxa que já foi frustrante, dado que no início do ano as expectativas para esse período giravam em torno de 1%.

O PIB de abril a junho será divulgado na próxima sexta-feira, dia 31, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A paralisação dos condutores - que durou 11 dias em maio - teve efeito relevante sobre a economia, mas não foi suficiente para fazer com que o PIB recuasse nos três meses encerrados em junho, afirma Alessandra Ribeiro, diretora da área de macroeconomia e política da Tendências Consultoria. O aumento no nível de atividade do setor agropecuário e do de serviços, calcula, mais do que compensou o tombo do segmento industrial.

Para a Tendências, o PIB subiu 0,2% de abril a junho na comparação com os três primeiros do ano, feitos os ajustes sazonais. Nos cálculos da consultoria, o PIB do agronegócio cresceu 0,4% entre o primeiro e o segundo trimestre, mesma alta esperada para o ramo dos serviços, que não foram tão afetados pela greve devido à influência positiva do comércio varejista e, em menor grau, a algum aquecimento no setor público, que tem feito mais contratações no período recente.

Alessandra lembra que, do primeiro para o segundo trimestre, o volume de vendas do varejo ampliado - que inclui os setores de automóveis e material de construção e é a principal 'proxy' para o desempenho do comércio dentro do PIB - avançou 0,2%. "O comércio, apesar do choque de confiança e da perda de dinamismo do mercado de trabalho, acabou se segurando", disse.

Essa resistência é relacionada, principalmente, à retomada nas concessões de crédito para famílias. "É uma boa notícia diante de tudo que vimos neste ano." O PIB industrial, por outro lado, foi o que mais sofreu os efeitos do bloqueio nas estradas e não teve nenhum vetor positivo para amortecer a queda do setor de transformação, estimada em -1,4% para o segundo trimestre, observa a economista. Na média, a expectativa é de redução de 0,8% da indústria, mesmo recuo esperado para o PIB da construção civil em igual intervalo.

Nas Contas Nacionais, a construção engloba a atividade industrial. Para a economista da Tendências, a construção civil é a grande frustração em relação à atividade econômica no trimestre e no ano. De abril a junho, o desempenho ruim do setor afetou negativamente a indústria e, pelo lado da demanda, os investimentos. A consultoria estima queda de 1,7% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas, construção civil e investimentos).

Do primeiro para o segundo trimestre, o consumo doméstico de máquinas e equipamentos ficou 6,1% maior, mas a alta não foi suficiente para compensar o tombo de 4% da produção de insumos típicos da construção em igual comparação. Para as outras linhas da demanda no PIB, a Tendências estima aumento de 0,5% no consumo das famílias e de 0,3% no do governo. "Houve uma abertura de espaço dentro do teto para que os gastos cresçam um pouco", afirma.

A MCM Consultores também prevê um fraco desempenho para o setor industrial, o que a fez revisar para baixo a estimativa para o PIB do segundo trimestre, de alta de 0,5% para 0,3%, em relação ao primeiro. Para a MCM, o PIB industrial caiu 0,6% no período, enquanto o do agropecuário e o de serviços cresceram 0,1% e 0,5% em relação ao primeiro trimestre, respectivamente.

Pela ótica da demanda, todas as aberturas das Contas Nacionais foram cortadas pela MCM na nova projeção do PIB. O pior desempenho, deve ser observado nos investimentos, que devem ter caído 2% na passagem trimestral. "Houve desaceleração tanto do consumo aparente de bens de capital como da produção dos insumos típicos da construção civil no trimestre", explicam os economistas da casa.

Para o consumo das famílias, a MCM está menos otimista e estima aumento de apenas 0,1% do primeiro para o segundo trimestre, enquanto os gastos do governo devem ter subido 0,2%. No setor externo, os economistas da consultoria projetam retração de 5% das exportações, e queda de 2,9% das importações. Na ponta mais pessimista das estimativas para o PIB do segundo trimestre, a MB Associados projeta uma queda de 0,2% para a atividade em relação ao primeiro trimestre.

Em relação ao segundo trimestre de 2017, a estimativa é de avanço de apenas 1,1%. Antes da greve dos caminhoneiros, a previsão da consultoria era de um crescimento entre 0,7% e 0,8%. "Uma queda de 0,2%, dado o tamanho da crise [gerada pela paralisação] até que não foi um preço tão alto a se pagar", avalia Sergio Vale, economista-chefe da MB.

Para o segundo trimestre, em relação a igual período de 2017, o economista estima alta de 1,1% para a indústria, 1% para os serviços e 1,2% para o setor agropecuário. Na demanda, o consumo das famílias deve ter crescido 1,9%, os investimentos 1,7% e o consumo do governo recuou 1,4%. O setor externo, diz, deu contribuição negativa para o PIB do período.

 

Cena eleitoral mantém câmbio pressionado

Os próximos dias prometem mais especulações em relação à corrida eleitoral, principalmente com o início do horário eleitoral gratuito em rádio e TV, na próxima sexta-feira. O nervosismo com a cena eleitoral, que impulsionou o dólar para acima dos R$ 4, ainda pode se intensificar nesta semana. A disputa presidencial se tornou o principal catalisador dos negócios, o que fica evidente no comportamento do câmbio.

Na semana passada, o desempenho do real foi o mais fraco entre as principais divisas globais, pior até que o do peso argentino. Por aqui, o dólar acumulou alta de 4,86% nesse período, saltando para R$ 4,1047. Na máxima, chegou a R$ 4,1319, maior nível desde janeiro de 2016. O que está por trás de grande parte dessa deterioração é o pessimismo trazido com pesquisas eleitorais.

Pesquisas de Datafolha e Ibope trouxeram Lula (PT) firme na liderança da disputa, enquanto Geraldo Alckmin (PSDB) — nome mais alinhado à agenda do mercado — patina nas intenções de voto. O estresse só não foi pior porque, além de um alívio no exterior, a pesquisa XP/Ipespe mostrou leve desaceleração da chapa petista. Diante de tantas incertezas e do salto do dólar, as atenções se voltam para o Banco Central, que ainda não se pronunciou sobre uma eventual intervenção.

Para a MCM, a volatilidade do câmbio pode ser um bom termômetro para se verificar o momento de uma atuação do BC. E, por ora, a instabilidade é menor que em outros momentos em que o BC buscou conter os ânimos do mercado com swap cambial. A volatilidade média de cinco dias permanece em nível “relativamente baixo”, próxima a 15%. “Em princípio, portanto, não deverá ocorrer uma retomada da venda de swaps nos próximos dias”. Para efeito de comparação, o “evento JBS” de maio de 2017 levou a uma disparada da volatilidade, que subiu do intervalo entre 5% a 20% (taxa anualizada) para 70%.

Diante disso, o BC fez sua primeira venda de swap na gestão de Ilan Goldfajn. Em junho deste ano, a instituição retomou as intervenções quando a volatilidade média de cinco dias subiu do intervalo de 5% a 20% para 50%. Também como havia ocorrido no ano anterior, a venda foi interrompida apenas quando a volatilidade caiu para 10% ao ano. A trajetória do dólar ainda pode continuar para cima no curto prazo, sustentando a ansiedade com a atuação do BC.

Alguns profissionais de mercado temem que Fernando Haddad (PT) ganhe mais apoio do que Alckmin nos próximos dias, por causa da transferência de votos do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva. O trunfo do tucano é justamente a maior exposição no horário eleitoral, que é resultado da aliança com partidos do Centrão. De qualquer maneira, a apreensão dos investidores deve seguir elevada até que haja alguma clareza no campo político.

Para os especialistas do Goldman Sachs, a recente experiência de eleições na América Latina — a exemplo de México e Chile — sugere que, muitas vezes, o mercado assume uma postura excessivamente pessimista quanto aos resultados políticos e, assim que surge alguma clareza, pode haver espaço para uma recuperação. O risco é que o futuro governo terá o desafio de evitar uma deterioração da dívida fiscal e “planejar proativamente políticas  (potencialmente impopulares) que visem reduzir a trajetória da dívida”.

A expectativa no Goldman Sachs é que o real tenha algum apoio no médio prazo, por causa de fundamentos mais positivos da economia brasileira. A projeção é de dólar a R$ 3,50 em 12 meses. Mas isso só será sustentado com firme esforço do governo com ajuste das contas públicas.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Presidente do BIS alerta sobre os riscos do protecionismo à economia

Augustin Carstens, diretor geral do BIS (Banco Internacional de Compensações, da sigla em inglês) fez neste sábado uma crítica contundente para o risco do protecionismo, uma indireta não tão sutil ao presidente americano, Donald Trump, que usa tarifas para espremer concessões de China, México e muitos outros países.

Reverter a globalização "pode aumentar preços, o desemprego e reduzir o crescimento", disse Carstens, ex-chefe do banco central do México, a antigos colegas e atuais chefes de bancos centrais, no simpósio anual de economia do Federal Reserve (o Banco Central dos Estados Unidos).

Tarifas mais altas podem aumentar a inflação dos Estados Unidos e forçar o Fed a aumentar taxas, aumentando o preço do dólar e prejudicando tanto exportadores americanos quanto economias de mercados emergentes, disse Carstens.

O protecionismo também ameaça "desestabilizar mercados financeiros" e colocar um peso sobre o gasto de capital de empresas, já que os investidores passam a ter medo e as condições financeiras se restringem", disse.

O BIS publicou um artigo afirmando que a revogação do Acordo de Livre Mercado da América do Norte (Nafta), uma das ameaças de Trump, significaria a perda de PIB de US$ 37 bilhões ao Canadá, US$ 22 bilhões ao México e US$ 40 bilhões aos EUA, com barreiras sem tarifas sendo responsáveis pela parte das perdas. Salários também cairiam na América do Norte, disse a pesquisa.

Negociadores de México e EUA reduziram as diferenças sobre o pacto nos últimos dias e o Canadá se juntará às conversas uma vez que isso for resolvido, mas o futuro mais amplo do Nafta segue incerto.

EUA e China também têm discutido questões comerciais. Oficiais americanos e chineses também tiveram negociações nesta semana, com poucos progressos, e a guerra comercial apenas cresceu com a ativação de uma nova rodada de tarifas nos produtos avaliados em US$ 16 bilhões  dos dois países.

Apesar de o presidente do Fed, Jerome Powell, ter sinalizado com um gradual aumento dos juros num futuro próximo, ele e outros formadores de políticas econômicas têm pisado em ovos a respeito dos efeitos das fricções comerciais à economia dos EUA e na política monetária.

Até agora, eles dizem, o impacto das tarifas e oscilações cambiais relacionadas em alguns países como a Turquia não estão desacelerando a economia dos EUA, e, portanto, não é necessária uma resposta.

Mas, falando no último painel da reunião que examinou o impacto de estruturas de mercado na inflação e outras métricas que os bancos centrais acompanham de perto, Carstens alertou que seria arriscado ignorar os conflitos comerciais.

"Pessoas com influência em políticas econômicas não deveriam ignorar a evidência crescente de que a depreciação abrupta de taxas de juros reduz investimentos e o crescimento econômico em economias de mercados emergentes", disse. "Isso tem implicações para todo mundo, porque uma atividade econômica mais fraca reduz a demanda por exportações de economias avançadas".

 

Faltou um pouco de generosidade para o presidente Lula, diz Pedro Malan

Um olhar demorado sobre o governo nos últimos 15 anos de quem esteve por lá nos 15 anos anteriores. Nada escapa ao ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda Pedro Malan.

Avesso a entrevistas, Malan falou longamente sobre “Uma Certa Ideia de Brasil", nome do livro que reúne artigos seus publicados no jornal O Estado de S. Paulo entre 2003 e maio de 2018.

Não se furtou a comentar certa insistência do governo Lula em tratar os avanços do país como tivessem começado em 2003. Mas falou também dos ganhos obtidos no período petista e das inúmeras vezes em que alertou, em seus artigos, sobre o perigo dos gastos excessivos.

Às vésperas das eleições, rechaça autoritarismos e salvadores da pátria e avisa: a história é um infindável diálogo entre passado e futuro. Portanto, a “memória do futuro” exige a memória do passado.

O cenário de inflação e juros baixos veio para ficar? 

O fato de termos derrotado a hiperinflação não significa que a inflação muito baixa tenha se incorporado ao DNA do Brasil. Mas a situação é muito mais favorável do que a da Argentina e da Turquia.

Temos combinação de superávits na balança comercial, déficits reduzidos em conta-corrente, reservas de US$ 380 bilhões e investimento direto que continua fluindo. O investidor chinês diz que está olhando horizonte de 25, 30 anos porque acha que o Brasil vai conseguir equacionar seus problemas. Acho que eles estão corretos. Mas há urgências.

Qual é a questão mais urgente?

Lidar com a situação fiscal, e aí há um grau razoável de busca por convergências possíveis. O Brasil é uma sociedade de massas urbana, com legítimas diferenças de opinião e conflitos de interesse.

Há duas formas de lidar com isso: uma é buscar soluções negociadas de compromissos, pois estamos em uma democracia. A outra é o regime autoritário, que, por não ter de lidar com o Congresso e o Judiciário, pode, aparentemente, ser mais eficaz no tipo de demanda que ele resolve atender. Mas não é solução sustentável ao longo do tempo. A ideia de que é possível um messianismo, um salvador da pátria, não serve para o Brasil de 2018.

Pressões por mais gastos não viriam da necessidade de inclusão de uma população gigante cuja maioria estava alijada do crescimento? 

É uma legítima pressão numa sociedade democrática. Mas de 1991 a 2016, o gasto público passou de 11% para 20% do PIB, em tentativas de responder a vários tipos de demanda.

O problema é que, quando se faz isso de modo reiterado, com o gasto subindo acima do PIB, se torna insustentável. A não ser que se aumente a tributação ou o endividamento público, que é a tributação sobre gerações futuras.

A nossa sociedade tem uma visão muito cética em relação à ineficiência do governo, mas, ao mesmo tempo, continua achando que ele deve resolver todas as questões, embora não queira aumento de imposto. São escolhas difíceis.

Os países europeus que hoje têm bom padrão de vida se mataram entre as duas grandes guerras. Depois disso, conseguiram administrar esses conflitos sabendo que era do interesse de todos fazer isso por meio de negociações.

Mas nós já nos matamos. Estamos no caminho das negociações? 

Acho que não temos alternativa se não tentar. Desistir de tentar é a barbárie, na área de segurança pública, já visível. Isso tem a ver com problema de prioridades na alocação de recursos escassos.

Não temos prioridades? 

Achamos que tudo é prioritário. Sob algum sentido é. O Brasil que eu quero é que tenha segurança pública, saúde, educação. Mas um governo tem obrigação de dizer que recursos não são infinitos e, portanto, há escolhas difíceis. Tem uma dívida com trajetória insustentável. Vamos ter que ter uma sequência de superávits primários —a não ser que alguém queira dar um calote na dívida ou reestruturá-la—, e isso exige coisas que precisam ser iniciadas agora.

Por exemplo? 

A reforma da Previdência. E, no curtíssimo prazo, reduzir a alta taxa de incerteza sobre o que um futuro governo, que o povo escolherá nas urnas, fará.

O motivo da incerteza é o PT? Ele não aprendeu no governo? 

Espero que sim, mas isso tem de se expressar nos termos da campanha. Lula, sob certo sentido, está em sua oitava campanha presidencial. E continua sendo fator determinante apesar de sua situação. Uma qualidade dele: é um grande estrategista político.

Citando o escritor Ivan Lessa, o sr. diz que o Brasil se esquece a cada 15 anos dos últimos 15 anos. Lula, com quase 40% das intenções de voto, é mostra de esquecimento ou de lembrança dos últimos anos? 

Pode ser as duas coisas. Tem lembranças, sim, e é óbvio que isso precisa ser reconhecido. A decisão de consolidar os programas de transferência de renda foi correta. Só faltou um pouquinho de generosidade, de reconhecimento da realidade e de não tratar como se tudo tivesse começado do zero a partir de primeiro de janeiro de 2003, o que não foi verdade. Mas o fato é que foi positivo. Mas muita pouca gente no Brasil se dá conta de quão excepcional foi o período de 2003 a 2008 para o mundo.

Mas pode variar de governo para governo o que pode ser feito com esse bônus, não? 

Parafraseando o próprio Lula numa entrevista que deu em 2009: “Nosso erro foi tentar fazer muito mais do que era possível fazer com os recursos disponíveis e, nesse processo, tivemos um enorme desperdício de recursos”.

Acho que foram desastrosas as decisões de construir ao mesmo tempo quatro refinarias no Brasil e comprar mais duas fora, de tentar construir a maior indústria naval do mundo, etc.

Enquanto os termos de troca estão subindo, é possível atuar em várias frentes, mas não é possível fazer isso para sempre. Não fui só eu, mas vários economistas diziam que a situação que vivíamos a partir de 2012 era insustentável. E, de fato, o desemprego chegou a 6% em junho de 2014 porque estava um enorme “pau na máquina”. Mas aquilo teria implicações mais à frente. O objetivo foi alcançado, mas foi uma vitória de Pirro.

No livro, o sr. cita a necessidade de sonhos e alianças. Nosso grande problema são os sonhos ou as alianças? 

Lideranças que sejam capazes de fazer esforço para juntar as duas coisas. Tem um amigo que tem um livro que se chama “Você é do Tamanho dos seus Sonhos”.

Acho lindo isso, mas uma vez brinquei com ele: você deveria colocar “do tamanho de seus sonhos e do grau de esforço, gana, garra e persistência que você dedica para torná-los realidade”. Senão, parece que sonhar basta.

Parece que o sr. se ressente da falta de reconhecimento do governo Lula em relação aos avanços ocorridos antes. 

Eu não me ressinto. Eu digo no livro que, para o Brasil, seria muito bom dar continuidade àquilo que estava sendo feito. A política que estava sendo feita no início [dos governos petistas] foi submetida a um crescente fogo amigo, mas foi ela que permitiu que o Brasil aproveitasse o cenário internacional favorável.

O ponto de inflexão foi lá para março, abril de 2006, quando saiu o Palocci e apareceu a história de que “gasto é vida”. Entre 2011 e 2017, enquanto o Brasil cresceu 0,5%, em média, o resto do mundo cresceu 5%.

O sr. diz que só em 1940 o PIB nominal americano voltou ao nível de 1929. E o Brasil, quando voltará ao pico de 2014? 

Não vamos recuperar o nível de renda antes de 2020 ou 2021. Não teremos súbita explosão de crescimento. Em especial porque não há um vento a favor internacional. Dependemos do investimento, do consumo, das exportações líquidas. A situação pode mudar se conseguirmos restaurar o clima dos investidores de que o Brasil caminha para resolver seus problemas. 

O discurso do Temer quando assumiu foi que a volta da confiança seria rápida. Mas vieram outras coisas também. E faz diferença um presidente eleito —qualquer que seja o resultado das urnas. A escolha das pessoas é muito importante e, nessa área, o governo Temer acertou, ao compor a equipe econômica. Dizem especialistas que havia chance de aprovação da Previdência. Mas ele foi atropelado pelas gravações.

Tivemos uma geração de economistas estudando inflação. A próxima vai olhar o quê? 

Implicações do desenvolvimento tecnológico sobre a demanda por trabalho e grau de qualificação de mão de obra e seus efeitos sobre distribuição de riqueza. 

Se for convidado, vai voltar ao serviço público? 

Você sabe qual é minha idade? [risos].

O sr. cita o escritor Jorge Luis Borges e as memórias de futuro, algo que pode vir a ser. Qual é a sua? 

É um Brasil que tente compatibilizar a ideia de liberdades individuais, menos injustiça social e eficiência operacional do setor público e maior competitividade internacional no setor privado. Não é fácil. Muitos poucos países do mundo conseguiram isso.

 

Caixa reduz juros do crédito imobiliário com recursos da poupança

A Caixa Econômica Federal anunciou a redução nas taxas de juros do crédito imobiliário com recursos da poupança, o chamado SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo).

As taxas mínimas passaram de 9% ao ano para 8,75% no SFH (Sistema Financeiro de Habitação), que financia imóveis de até R$ 800 mil para todo país, exceto Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal, onde o limite é de R$ 950 mil.

No SFI (Sistema de Financiamento Imobiliário), as taxas vão de 10% ao ano para 9,5%. O sistema engloba imóveis acima do limite do SFH.

Além da redução de juros, a Caixa aumentou o limite de financiamento de imóveis usados de 70% para 80%.

Todas as mudanças começam a valer a partir de sexta-feira (24).

A Caixa detém 69,3% de todo o crédito imobiliário do país e tem R$ 82,1 bilhões disponíveis para empréstimo habitacional em 2018.

De acordo com o presidente da Caixa, Nelson Antônio de Souza, a nova redução das taxas facilita o acesso à casa própria e contribui para a retomada de investimentos no setor da construção civil.

“Cabe à Caixa como principal agente financeiro da habitação continuar oferecendo as melhores taxas e condições para os nossos clientes, além de colaborar com a retomada de investimentos do mercado imobiliário e suas cadeias produtivas”, afirmou em nota.

A carteira de crédito ampla da Caixa totalizou R$ 695,3 bilhões no semestre de 2018, um recuo de 2,9% na comparação anual, apesar do aumento de 3,6% no crédito habitacional.

A carteira imobiliária chegou a R$ 436,4 bilhões em junho, sendo R$ 250,9 bilhões concedidos com recursos do FGTS, um aumento de 13%, e R$ 185,6 bilhões com recursos da poupança, que recuaram 7%.

Em abril, a Caixa já havia reduzido em até 1,25 ponto percentual as taxas de juros do crédito imobiliário para operações com recursos do SBPE. O banco também ampliara, à época, o limite de financiamento do imóvel usado de 50% para 70%.

OUTROS BANCOS

Desde o dia 17, o Itaú reduziu suas taxas da Carteira Hipotecária (CH) de 9% ao ano para 8,8%, unificando-as com os juros do SFH.

A CH permite que pessoas físicas e jurídicas contratem crédito para aquisição de imóvel residencial e comercial, usando recursos de investimentos e ou da poupança, mas não o FGTS.

"Nossa intenção é investir no produto porque acreditamos que o mercado está voltando", afirma Cristiane Magalhães, diretora de crédito imobiliário do Itaú Unibanco.

Os demais grandes bancos não mexeram em suas taxas.

 

ESTADÃO

Indicador de demanda por crédito mostra queda de 1,1% em julho

Mesmo após o período de instabilidade causada pela paralisação dos caminhoneiros, a demanda por crédito não oferece sinais claros de recuperação, com a lentidão na retomada da economia e do emprego ainda prejudicando o consumo. O indicador de demanda por crédito do consumidor da Boa Vista SCPC, por exemplo, caiu 1,1% em julho na comparação com junho e 2% em relação ao mesmo mês de 2017. No acumulado em 12 meses – de agosto de 2017 a julho deste ano -, o indicador, no entanto, apresenta alta de 2,2%.

 

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