Sexta-feira

VALOR ECONÔMICO

'Brasil está preparado para tensão eleitoral e externa'

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, enumerou, em entrevista ao Valor, ontem, os três amortecedores que o Brasil dispõe para enfrentar eventual turbulência decorrente da disputa eleitoral que se aproxima, assim como para lidar com volatilidades produzidas pela mudança do cenário externo: um confortável balanço de pagamentos, cujo déficit em transações correntes é de somente 0,4% do PIB, um sistema financeiro sólido e folga no regime de metas para a inflação, cujas expectativas de mercado estão bem aquém da meta de 4,5%.

llan não se decepcionou com os últimos dados de atividade econômica, que mostra mais fraca do que era esperado. Ele atribui o desapontamento como fruto da ansiedade das pessoas por uma retomada mais rápida da economia depois de dois anos de recessão. O BC, porém, como salientou, manteve o prognóstico de crescimento deste ano em 2,6% nos últimos relatórios de inflação. A tendência de recuperação continua e será gradual, sustentou o presidente do BC.

Segue abaixo a íntegra da entrevista:

Valor: Nas últimas semanas o real teve forte desvalorização frente ao dólar. Para onde vai a taxa de câmbio?

Ilan: O câmbio é flutuante, não somos nós que falamos para onde que vai. Mas obviamente nós olhamos, monitoramos com bastante cuidado o desenvolvimento para garantir que está tudo funcionando bem, está refletindo os fundamentos, não há nenhuma distorção. Tem questões externas relevantes e tem questões internas que fazem com que o real se deprecie um pouco mais ou um pouco menos. Nosso papel é ficar de olho e evitar qualquer dinâmica perversa. Suavizar os movimentos, quando preciso e deixar o mercado funcionando bem. Não faltar liquidez. Vamos aproveitar que temos uma situação confortável de reservas cambiais e de swaps para deixar o mercado funcionar da melhor forma possível.

Valor: O movimento do câmbio e dos juros nos Estados Unidos muda a avaliação do BC com relação ao cenário externo?

Ilan: Temos falado que é um cenário benigno, de juros baixos e com crescimento que se espalhou pelo mundo. O Fundo Monetário Internacional (FMI) reforçou que o crescimento deve chegar a 3,9% neste ano e no próximo. É um crescimento forte. Tem juro zero no Japão, juros muito baixos na Europa e relativamente baixo, ainda, nos Estados Unidos, mas que está se normalizando. Também temos colocado que o cenário que estamos olhando tem riscos.

Valor: Quais são?

Ilan: Poderíamos colocar uma lista enorme de riscos, mas para comunicar melhor vamos concentrar nos dois mais relevantes. O primeiro risco é o de termos uma mudança nesse cenário externo benigno em um momento em que ainda não terminamos os ajustes e as reformas na economia brasileira. Obviamente temos de acompanhar esse risco que, às vezes, aumenta um pouquinho. Por exemplo, a normalização da política monetária dos EUA teve um aumento pequeno, visto pela taxa de juros de 10 anos. A inflação, nos EUA, está caminhando para 2%, sem nenhum salto por, mas os juros já começam a precificar um mundo diferente.

Valor: E o segundo?

Ilan: O outro não tem relação com o cenário externo, mas tem a ver com o outro lado que é a inflação corrente no país continuar andando em níveis baixos, projeções baixas. E como temos falado, temos de balancear esses dois lados da política monetária.

Valor: Qual o impacto da depreciação cambial na atividade? Concorda com a visão de que a taxa de câmbio desvalorizada, no curto prazo, é contracionista mas no médio e longo prazos tem efeito expansionista?

Ilan: Por muito tempo associamos a taxa real depreciada ao estímulo às exportações que, por sua vez, estimula a indústria. Depois de um tempo se falou que o câmbio tem um outro lado, das importações, dos impactos sobre as importações de equipamentos e sobre os investimentos. Tem sempre os dois lados e o resultado líquido não sabemos qual é, mas o câmbio é um preço relativo. Ele incentiva um lado e desincentiva outro.

Valor: A depreciação do real não poderia reforçar a percepção de que a atividade fraqueja?

Ilan: Não quero definir para que lado o câmbio incentiva ou não. Acho que são vários efeitos e o líquido para mim não é claro, não é em uma direção só. Então vamos ver na prática, embora ocorram tantas outras coisas. Há incertezas internas, externas, impacto da política monetária, que tem um período de transmissão.

Valor: O sr. está decepcionado com o desempenho da economia?

Ilan: Não. Achamos que a tendência [de crescimento] continua. Como estamos saindo da recessão há sempre uma ansiedade maior para recuperar. Se você reparar bem nossa projeção ficou em 2,6% ao longo dos Relatórios de Inflação. Não mudamos quando todos achavam que estava mais para 3%. E também não reduzimos agora. Estamos olhando a tendência, que é de uma recuperação de 2,5% a 3%. Não é uma recuperação em forma de "V". Caiu muito e vai recuperar muito, mas de forma gradual e isso significa que vai ter mês melhor, mês pior.

Valor: A taxa de juros Selic despencou e há quem questione se a política monetária perdeu potência ou se há um entupimentos nos canais de transmissão...

Ilan: Não acredito [em perda de potência] por duas razões. Um dos motivos de termos saído da recessão - estamos vindo de uma contração de 3,5% para uma expansão de 2,5% a 3% -foi a política monetária. A inflação caiu a renda subiu, o juro caiu, incentivou a economia. O crédito que estava caindo começou a subir principalmente para pessoa física. Os juros bancários também caíram e isso tem ajudado a recuperação. Acho que o que essa questão revela é um desejo de todos de ter tudo mais acelerado. Em relação a taxas bancárias e crédito, gostaria que fosse mais rápido do que normalmente é. Fizemos um box no relatório de inflação dizendo que normalmente cai dessa forma, primeiro a Selic e depois o resto.

Valor: É que nosso histórico é de recuperação rápida, não?

Ilan: Mas vimos que desde 2003, nos últimos cinco episódios [de corte de juros], a reação dos juros bancários e do crédito está indo mais ou menos na média. Nosso trabalho é ver se conseguimos que desta vez seja um pouco mais rápido. Estamos trabalhando nas questões estruturais para ver se ajuda.

Valor: As incertezas políticas estão pesando de forma relevante nesse cenário?.

Ilan: Nos últimos dois anos muito se falou sobre como era possível a economia se descolar de outros fatores não econômicos. Agora se fala que voltou a estar colada. Sempre dissemos que nunca se descola completamente porque algumas decisões levam em conta o futuro. Quem vai fazer investimento de alguns anos, pode ser que espere um pouquinho mais. O consumidor, diante de incerteza sobre qual será a direção da política econômica, pode adiar um pouco seus gastos. E esse adiamento é um fator a mais no gradualismo da recuperação. Quanto mais pudermos ser claros com relação ao futuro, melhor. E nosso papel de Banco Central é ser apartidário e completamente técnico para poder dar estabilidade.

Valor: O BC está se preparando para eventuais turbulências pré-eleitorais?

Ilan: Diria que são três amortecedores que já tínhamos e fortalecemos. Primeiro, temos um balanço de pagamentos melhor do que em outros momentos. O déficit em conta corrente está em 0,4% do PIB e o investimento direto está em 3,5% do PIB, ou seja, oito vezes mais. No lado do fluxo de capital, caso os investidores queiram entrar e sair, temos 20% do PIB em reservas cambiais e um estoque de swaps em patamar confortável, de US$ 23 bilhões. Poderíamos ter ido a zero, mas não precisa. Em segundo, o nosso sistema financeiro é robusto, sólido, que acabou de passar por um teste de estresse real, que foram os dois anos de recessão. As pessoas hoje não duvidam dessa solidez. E, finalmente, o último amortecedor é que temos uma folga no regime de metas para inflação. Não estamos hoje no teto de inflação onde qualquer movimento vai deixar tudo mais difícil. Estamos, inclusive, abaixo da meta. À medida que a economia se recupera vamos caminhando em direção à meta. A inflação aumenta este ano e no ano que vem já estará na meta.

Valor: Faltou arrumar a parte fiscal, não?

Ilan: Isso. Tem a reforma da Previdência, que precisa ser feira para resolver a questão fiscal. Esse seria o risco que permaneceu.

Valor: Por quanto tempo é possível manter a Selic baixa sem resolver o desequilíbrio fiscal?

Ilan: Essa é uma pergunta difícil, pois sabemos que no médio e longo prazos, para manter a inflação baixa, o fiscal tem de estar em ordem. Sabemos, também, que no curtíssimo prazo isso depende de questões conjunturais como a atividade, projeções de inflação, inércia. Em que momento você passa do curto prazo para o médio e longo prazos é difícil saber. Então eu digo que o Brasil tem todas as condições de manter a inflação baixa de hoje e juro baixo de hoje. Mas precisamos continuar com as reformas, aprovar a da Previdência. Só com isso é que se mantém nossas projeções de inflação na meta ao longo do tempo.

Valor: O senhor está dizendo que há o risco de o Brasil dar certo?

Ilan: É precisa que nós brasileiros contribuamos para que dê certo. Precisamos criar as condições para isso. Não é só o BC que cria essas condições, esse é um ponto relevante. É a sociedade, os seus representantes, o Poder Executivo. Tudo isso influencia a nossa capacidade de manter a inflação baixa. O BC também. Mexemos com expectativas. Trabalhamos para estar sempre dentro da meta. Mas é um trabalho em conjunto.

Valor: E se o governo tiver que abandonar a âncora do teto de gastos por absoluta falta de instrumento para cumpri-lo?

Ilan: O teto de gasto e a possibilidade do ajuste fiscal nos ajudaram a mudar a expectativa de inflação. Houve mudança de expectativa [em 2016]. Se imaginava que a inflação ficaria em 8%, considerando as taxas implícitas. Mudou porque o BC se mostrou determinado a buscar a meta. Mas mais do que isso, foi a mudança da direção da política econômica como um todo. E o teto de gastos foi fundamental nessa mudança de política.

Valor: O senhor falou do cenário externo, do aumento dos juros nos EUA, da questão da inflação. Haveria alguma mudança de mensagem de política monetária?

Ilan: Nós sempre tomamos a decisão no Copom, mas a princípio tudo está como a gente tem pensado, de forma geral. Os riscos continuam aí, o cenário continua aí, não há nada na tendência muito diferente do que temos observado, inclusive o balanço de risco.

Valor: A Selic caiu para menos da metade e os bancos continuam com taxas estratosféricas, de 300% ao ano no cartão de crédito, no cheque especial. Eles não vão entrar em um padrão de normalidade algum dia?

Ilan: O spread tem caído, o crédito tem subido. Essa percepção que você está falando é a percepção de que as pessoas gostariam de mais. A Selic andou muito rápido e isso gera ansiedade de que outros juros caiam na mesma rapidez. Em geral isso não acontece. E depende de alguns fatores que não só a taxa Selic. Ela é um dos ingredientes do bolo, que tem vários outros ingredientes. Temos trabalhado para que todos os componentes do sistema andem. Por exemplo, a parte de informação, poder avaliar o cliente e reduzir juro dele porque ele é bom pagador.

Valor: Com a aprovação do cadastro positivo?

Ilan: Isso. Os juros vão cair mais rápido se eu permitir ter informação positiva sobre as pessoas. As pessoas, hoje, já são negativadas, o que estamos querendo é que elas sejam positivadas. Queremos democratizar a informação. E infelizmente [a sociedade] tem um olhar um pouco antigo que não vê. Eu tenho confiança que vamos poder avançar.

Valor: Há o receio da perda da privacidade, de as informações bancárias e financeiras das pessoas ficarem rodando por aí?

Ilan: Mas não ficam, porque só publica a nota. Há muita desinformação. Só será publicado um ranking, um número. Mas aí dizem que pode haver fraude. Não vamos deixar que a taxa de juros deixe de cair por causa de nossos receios.

Valor: O senhor acha que a medida passa no Congresso?

Ilan Acredito que sim, mas temos que ter essa consciência. Nós queremos ser iguais ao resto do mundo. Outro dia mostramos para os parlamentares um mapa com as informações sobre onde existe cadastro positivo. Temos chance real de ajudar [na queda dos juros bancários]. Acabou de sair a nota de crédito e juro continuou caindo. A tendência é de queda. Nós temos que trabalhar é na velocidade.

Valor: Maior ou menor estímulo à concorrência entre bancos é uma questão de regulação, não?

Ilan: Concorrência tem a ver com ter uma situação de mercado tal que leve a uma eficiência dos menores preços. Competição também não é zero ou um. Pode ter mais, pode ter menos. Pode ter mais competição? Se pode, nós vamos atuar.

Valor: O senhor acha que pode?

Ilan: Entre as coisas que estamos fazendo tem uma medida bem interessante, que identificamos como algo que pode ajudar na competição, que é a portabilidade da conta salário. Por que ela é importante? Porque é onde o trabalhador recebe o salário e onde ele tende a ficar. O que é a portabilidade? É você dizer que não está gostando dessa taxa, das condições e mudar de banco. Essa portabilidade é fundamental porque dá poder de competição para você mudar de banco. Se o banco percebe que a pessoa não vai mudar, ele tem algum poder e acaba tendo uma taxa um pouco maior.

Valor: Dá o poder de competição para o consumidor, certo?

Ilan: Isso, para o consumidor. Para isso fizemos uma mudança bem simples e não reinventamos a roda. Pegamos o que existe para o celular. Se você quer mudar a portabilidade do celular, você pede para a companhia telefônica que você quer ir para ela avisar a sua decisão para a companhia que você está. Para trocar de banco o cidadão tinha que ir ao banco em que ele tem conta dizer que quer mudar. Agora ele vai para o banco novo e pede que ele faça a mudança da conta.

Valor: Como o BC vai decidir no caso concreto da compra da XP investimentos pelo banco Itaú? É um ato de concentração?

Ilan: Não vou falar de um caso específico. Posso dizer que nosso entendimento com o Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] é de que [para a operação se efetivar] é preciso de um duplo sim [o Cade aprovou a operação; o BC tem até julho para se manifestar].

Valor: Com a inflação em um patamar baixo, não é hora de pensar na desindexação da economia?

Ilan: A indexação que importa para a economia é aquela que faz com que tenha inércia. Tem muita indexação informal. O reajuste da mensalidade escolar, por exemplo, não está escrito em nenhum lugar. Em algum momento essa necessidade de indexar o passado vai terminar porque a inflação vai estar baixa. O que nós não podemos permitir é que a inflação volte a subir. Estamos com uma boa chance de acabar com essa indexação.

 

Para BC, agropecuária vai puxar economia do Nordeste

A agropecuária deve ser um diferencial positivo na economia do Nordeste este ano e pode aproximar o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) da região ao do resto do país, disse chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, ontem, no Recife. "Os prognósticos de safra são positivos, enquanto que para demais regiões a previsão é de retração da produção", afirmou.

"Isso vai contribuir para a retomada nordestina, mas a precisão em termos de intensidade é difícil de ter. Prefiro não arriscar." Os principais produtos agropecuários do Nordeste são os grãos, produzidos principalmente nos Estados de Maranhão, Bahia e Piauí, e a cana-de-açúcar, nos Estados de Pernambuco e Alagoas.

Segundo Maciel, em 2017 houve um dinamismo menor no processo de retomada do Nordeste - apesar da contribuição positiva da agricultura nacionalmente - e isso se manteve no início doe ano. "Outras regiões já mostraram saldo positivos de vagas no início do ano [primeiro trimestre], o Nordeste ainda não", afirmou.

O ritmo de recuperação da economia tem sido diferente entre as regiões do país, de acordo com relatório divulgado ontem pelo BC. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central - Brasil (IBC-Br) cresceu 1% no trimestre móvel encerrado em fevereiro, em relação ao período de três meses encerrado em novembro.

Na mesma comparação, houve alta de 2,1% na atividade econômica e um recuo de 0,5% no Norte, devido a resultados adversos na construção civil e indústria de transformação. No Nordeste, houve alta de 0,3%, refletindo oscilação de resultados setoriais. No Sul, houve aumento de 0,5%, revelando um quadro um pouco mais disseminado de recuperação entre os setores. No Sudeste, a queda de 0,1% "sugere acomodação", de acordo com o BC.

Maciel evitou fazer previsões mais precisas para cada região. No entanto, disse que há uma tendência de que a região Norte se mantenha crescendo acima da média nacional. Segundo Maciel, dois fatores beneficiam o Norte: o crescimento mundial, que aumenta a demanda por minério no Estado do Pará, e a melhora da demanda interna, que alavanca a indústria da Zona Franca de Manaus.

"A médio e longo prazos, o que costumamos observar é que a expansão seja mais acelerada em regiões menos desenvolvidas. Isso é um fato econômico no longo prazo, as oportunidades de investimento são mais evidentes", disse Maciel.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Caixa voltará a fazer operações de crédito com estados e municípios

A Caixa voltará a fazer operações de crédito com estados e municípios, após avaliação jurídica do governo concluir pela legalidade delas e o Banco Central modificar regras de requerimento de capital.

Suspensas em janeiro, as operações de crédito têm garantia das receitas dos fundos de participação de estados (FPE) e dos municípios (FPM) e teve sua legalidade atestada após análise conjunta da CGU (Controladoria-Geral da União) e da AGU (Advocacia Geral-da União).

A retomada das operações foi determinada pelo conselho de administração do banco público, que levou em conta uma circular do BC de fevereiro que trouxe novas regras sobre o capital exigido para novas operações com garantias dos fundos.

O conselho de administração da instituição havia suspendido créditos a governos regionais que tinham como garantia receitas tributárias ou verba recebida via fundo de participação por considerá-los inconstitucionais.

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

Economistas defendem nova agenda

A falta de reformas na condução da economia do País pode resultar em novos Estados entrando em crises semelhantes à vivida pelo Rio de Janeiro, em uma nova escalada da inflação ou ainda em um eventual calote do governo brasileiro, afirmou nesta quinta-feira, 26, o economista Marcos Lisboa, presidente da instituição de ensino superior Insper, na apresentação de um diagnóstico detalhado dos problemas econômicos do País.

O documento – cuja coordenação foi feita também pelos economistas Ana Carla Abrão, colunista do Estado e sócia da consultoria Oliver Wyman, e Vinicius Carrasco, professor da PUC-Rio – é o primeiro de uma série batizada como Panorama Brasil. O projeto, de acordo com Lisboa, busca sair do “debate superficial de câmbio e juro” para investigar com rigor acadêmico temas como a complexidade do sistema tributário brasileiro e o comércio exterior fechado.

Segundo Ana Carla, a série de documentos não tem caráter partidário ou eleitoral. “Não é um programa de governo. É uma contribuição para o debate. Por acaso, o momento é bastante propício. Mas nossa ambição é que a série se mantenha viva por muito tempo, independentemente do ciclo eleitoral”, afirmou a economista, que também foi secretária da Fazenda de Goiás entre 2015 e 2016, durante o governo de Marconi Perillo (PSDB).

Apesar de fugir da ideia de proposta de programa de governo, o projeto aponta a necessidade de reformas, como a abertura comercial, e critica questões como o a concessão de crédito subsidiado por bancos públicos.

Diagnóstico. O relatório apresentado na última quinta-feira, 26, intitulado “Renda e Produtividade nas Duas Últimas Décadas”, mostra que a renda per capita no Brasil cresceu menos, nos últimos 20 anos, que em outros países emergentes e na América Latina. Isso ocorreu devido à falta de melhoras na produtividade, que está estagnada desde 1980 devido, entre outros fatores, à baixa qualidade de educação, à burocracia no ambiente de negócios e a um setor público ineficiente.

“Avançamos muito em diversos indicadores sociais e várias pessoas saíram da miséria, no entanto, nosso desempenho foi aquém dos demais países emergentes. Desde 2011, descolamos dos demais países. Enquanto o resto do mundo continuou crescendo, o Brasil passou a andar para trás”, disse Lisboa. Caso o País mantenha a taxa de crescimento dos últimos 20 anos, acrescentou, terá uma economia como a do Chile apenas daqui a 38 anos – daí, a necessidade de reformas.

 “Necessitamos de uma reforma urgente ou vamos ficar piores, ou teremos mais crise nos Estados, com consequências na saúde, na educação e na segurança, ou crise no governo federal, com inseguranças como aumento de impostos, ou risco de inflação ou calote. Com esse ambiente de risco, não se deve estranhar que, mesmo com queda de juros, a economia ainda ande de lado”, destacou Lisboa.

Investimento. Um dos entraves da produtividade brasileira, para os economistas, é o baixo nível de investimento em infraestrutura, que não apresentou avanços significativos desde 2010. No ano passado, o Brasil estava na 73ª posição entre 137 países em termos de qualidade da infraestrutura, segundo o Global Competitiveness Index (GCI), do Fórum Econômico Mundial. O Chile estava em 41º, o Uruguai em 45º e a Turquia em 53º.

“O fato de que a produtividade é baixa é sinal de que investimos mal em capital, investimos em máquinas que não foram usadas, em capacidade excessiva. Há evidências de que investimentos muito mal”, disse Vinicius Carrasco. O professor da PUC-Rio lembrou do caso do aeroporto de Viracopos, que recebeu uma injeção de investimentos, mas opera com grande ociosidade.

Ouro problema que impede o País de aumentar sua produtividade é a educação. A qualidade do ensino no Brasil melhorou entre 2006 e 2009, mas não manteve essa tendências nos anos posteriores. A nota dos estudantes brasileiros no Programa Internacional de Avaliação Escolar (PISA) é bastante inferior a dos países emergentes, o que, de acordo com o relatório, indica que a qualidade do ensino não acompanhou o aumento da escolaridade média verificado no País. “O que aconteceu com a educação? Por que aumentamos tanto o gasto (em educação) e nossos indicadores ficaram para traz? Entender esse quadro será nosso objetivo?”, afirmou Lisboa.

Outros temas abordados na discussão foram a demografia desfavorável à frente, com aumento drástico da razão de dependência (idosos sobre população ativa) até 2050, e a reforma do Estado, com destaque para o peso excessivo da folha salarial nas despesas dos Estados. “Precisamos de uma reforma para melhorar o serviço público. Consumimos 39% do PIB com a máquina pública e temos os serviços públicos avaliados como os piores de mundo”, disse Ana Carla.

Cadastro positivo. Lisboa e Ana Carla defenderam ainda o cadastro positivo e criticaram os cartórios que se opõem à medida, que aumentaria a concorrência entre os bancos. Para Lisboa, é preciso discutir a eliminação dos cartórios no País. “Por que precisamos de cartórios? Eles dão segurança, geram benefício ou são apenas um pedágio que temos de pagar para o Brasil velho?”, questionou. “O mundo já utiliza outras formas de fazer registros”.

 

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