Segunda-feira

DIÁRIO DO NORDESTE

Aumentam vendas de materiais de construção

As lojas de material de construção, na região Centro-Sul do Ceará, vivenciam a expectativa de ampliação do varejo a partir do próximo mês. A maioria das famílias prefere fazer serviços de reforma, ampliação e pintura de imóveis residenciais e comerciais ao longo do segundo semestre, isto é, após a quadra invernosa no Estado. Embora ocorram investimentos do setor ao longo do ano, de agosto a dezembro há um aquecimento nas vendas.

A expansão urbana intensificada nesta década contribuiu para o aquecimento do setor. Em decorrência desse fenômeno, houve uma expansão no número de lojas especializadas em material de construção, que saíram do tradicional centro comercial para os bairros e até para os distritos. "As lojas acompanharam a tendência de descentralização, favorecendo o acesso aos consumidores de modo geral", observa o consultor empresarial, João Alverne Albuquerque.

Nas cidades pólo regional e nos pequenos núcleos urbanos verifica-se que o centro comercial que abrigava com exclusividade diversos segmentos agora assiste a abertura de novos pontos de venda nos bairros.

O setor da construção civil, por exemplo, mantém-se aquecido no Interior do Ceará. A ampliação de linhas de crédito por bancos oficiais para aquisição de casas, serviços de reforma e ampliação nos últimos anos favorece o mercado. Esse crescimento reflete nas vendas de material de construção. Houve necessidade de expansão e implantação de novos bairros que ocuparam e transformaram a periferia. A expansão da cidade trouxe uma novidade: dezenas de lojas foram abertas nos bairros e nas principais avenidas.

Tendência

O setor de material elétrico, hidráulico, cerâmica, tinta e ferragens acompanhou essa tendência. Por iniciativa de novos empresários, os pontos de venda foram se multiplicando e ficando cada vez mais perto dos moradores das novas áreas urbanas.

Em todos os bairros, há pelo menos uma loja especializada em material de construção. "A falta de estacionamento no centro levou à abertura de lojas nos bairros", observa o vendedor Luís Ribeiro.

Ele lembra que o bairro Alto do Jucá, nesta cidade, transformou-se em um verdadeiro corredor comercial, com destaque para várias lojas do setor. Recentemente, foi inaugurada em novas instalações a ConstruLima.

Dificuldades

São pelo menos seis bairros (Prado, Vila Neuma, Vila Moura, Fomento, Cajazeiras e Santo Antonio) que têm acesso mais próximo ao Alto do Jucá. O empresário Raimundo Moreira que há 17 anos tem loja no centro reclama das dificuldades dos clientes chegarem à loja. "Não há vagas, pontos para estacionar e hoje em dia quase todos os moradores tem carro ou moto", disse.

A loja mais antiga do setor, em funcionamento nesta cidade, a Construshop Lafayete, há 65 anos permanece no centro comercial, mas enfrenta a concorrência que se espalha nos diversos bairros da cidade e a dificuldade de acesso dos clientes. Os comerciários dizem que as vendas estão boas, mas são variáveis, pois há dias que são bem melhores do que outros.

O empresário Augustinho Nogueira depois de morar e trabalhar alguns anos em São Paulo fez o caminho de volta ao Interior do Ceará em busca de mais tranquilidade e paz, fugindo do agito do trânsito e da violência. Há 10 anos, instalou nesta cidade, uma loja especializada em material de construção, com um nome curioso, João de Barro.

Nogueira escolheu o bairro Alto do Jucá para instalar a primeira loja. O negócio deu certo e três anos depois abriu uma filial na mesma área. "No centro, há dificuldades de locação de prédio e já havia outras empresas do mesmo ramo", explicou a filha do empresário, Monalisa Araújo. "O nosso objetivo foi atender a clientela do bairro e de outras áreas próximas".

O especialista em logística empresarial, Antonio Oliveira Neto, disse que a própria necessidade provocou a expansão e descentralização das empresas que comercializam material elétrico, hidráulico e ferragens.

"Os empresários observaram o crescimento dos bairros e surgiram as primeiras lojas para atender com mais facilidade a clientela", frisou. "Esses pontos de venda cresceram e despertaram a atenção de outros empreendedores", disse Oliveira.

Uma das primeiras lojas a buscar alternativa de venda fora do tradicional centro comercial foi a Comacom, que surgiu na Avenida Perimetral.

Instalada no fim da década de 1990, passou a atender moradores de vários bairros: Veneza, Vila Centenário, Cocobó, Esplanada e Cohab. A ideia deu certo e a empresa cresceu. Hoje é referência na área e nas suas proximidades surgiram outras empresas concorrentes.

Esse fenômeno de expansão das lojas de material de construção nos bairros e nos distritos verifica-se em Várzea Alegre e Icó também com maior intensidade. Um exemplo é a loja aberta pelos irmãos GG, no distrito de Lima Campos, em Icó. Os empresários estão satisfeitos com o empreendimento e as vendas que atendem a necessidade de clientes, moradores de sítios e vilas rurais.

 

TRIBUNA DO NORTE

Bancos terão até R$ 45 bi a mais para empréstimos

Brasília (ABr e AE) - O Banco Central (BC) anunciou ontem medidas para melhorar a distribuição de liquidez (recursos disponíveis) na economia. Foram alteradas normas de recolhimentos compulsórios – dinheiro que os bancos são obrigados a deixar depositados no BC, sobre recursos a prazo e à vista – com impacto estimado em R$ 30 bilhões.

O chefe do Departamento de Normas do BC, Sergio Odilon dos Anjos, disse que os bancos terão até R$ 45 bilhões a mais em caixa disponível para empréstimos com as medidas. Isso porque, além dos R$ 30 bilhões de liberação de compulsórios, o BC projeta que o impacto potencial das medidas, ao longo do tempo, pode chegar a R$ 15 bilhões.

 “Não pensamos na medida de hoje para amanhã. Temos de aguardar o comportamento da demanda para saber em quanto tempo esses R$ 15 bilhões se transformariam em crédito”, explicou.

Medidas

Segundo o BC, para adotar as medidas foi considerada a evolução dos recolhimentos compulsórios nos últimos anos, que passou de R$ 194 bilhões ao final de 2009 para cerca de R$ 405 bilhões atualmente. O BC também cita a recente moderação na concessão do crédito, a inadimplência em patamares relativamente baixos e o recuo do nível de risco no sistema financeiro nacional.

Uma das medidas permite que até 50% do recolhimento compulsório referente a depósito a prazo sejam cumpridos com operações de crédito. Assim, pelo prazo de um ano, 50% dos valores recolhidos poderão ser usados pelos bancos na contratação de novas operações de crédito e na compra de carteiras diversificadas (pessoas jurídicas e físicas) de outras instituições.

O BC ampliou o rol de instituições financeiras elegíveis – de 58 para 134 – à condição de cedentes (vendedoras) das operações para fins de dedução do recolhimento. Instituições financeiras cujo Patrimônio de Referência Nível 1, na posição de dezembro de 2013, seja inferior a R$ 3,5 bilhões serão elegíveis, sem restrições.

A outra medida teve o objetivo de ampliar o número de bancos que poderão usar parte (até 20%) de seus recolhimentos compulsórios sobre depósitos à vista para empréstimos e financiamentos que sejam enquadráveis no Programa de Sustentação do Investimento (PSI). Para isso, o BC reduziu de R$ 6 bilhões para R$ 3 bilhões o valor do Patrimônio de Referência Nível 1 das instituições.

Além disso, a autoridade monetária retirou medidas macroprudenciais, implementadas a partir de 2010, alterando critérios relativos ao requerimento mínimo de capital para risco de crédito das operações de varejo.

O chefe do Departamento de Normas do Banco Central, Sergio Odilon dos Anjos, informou que uma das medidas publicadas ontem pela autoridade monetária tem o objetivo de melhorar a oferta de crédito para pequenas e médias empresas. Antes, os bancos podiam conceder até R$ 600 mil para empresas desse grupo e ponderar 75%. A partir de agora esse limite passa para R$ 1,5 milhão, ponderando os mesmos 75%. “Isso melhora a oferta de crédito para esse grupo de empresas, que tinha mais dificuldade de acesso”, completou.

 

VALOR ECONÔMICO

Copa esfria crédito imobiliário, que registra recuo de 19% em junho

O crédito imobiliário vai precisar de um impulso no segundo semestre se quiser encerrar o ano crescendo na velocidade prevista pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Os desembolsos de financiamento imobiliário com recursos da poupança encerraram o primeiro semestre com R$ 53,1 bilhões concedidos, um crescimento de 7% na comparação com igual período de 2013, e longe da projeção da entidade para o fim do ano, de avanço de 15%.

O mês de junho foi particularmente ruim, com a grande quantidade de feriados e os jogos da Copa do Mundo esfriando a venda de imóveis usados e os lançamentos de incorporadoras. No mês, foram desembolsados R$ 9 bilhões em empréstimos imobiliários, valor 19% menor que igual período do ano passado. Em junho de 2013, a modalidade bateu o recorde de desembolsos desde o começo do real (R$ 11,2 bilhões). Ante o volume de maio, houve recuo de 7%.

Esse foi o primeiro mês desde setembro de 2012 em que houve uma queda na comparação com igual período do ano anterior. "Com os feriados e a Copa, junho parou", disse o presidente da Abecip, Octávio de Lazari Junior. Segundo o executivo, sem o "efeito junho", estimava-se um avanço próximo de 13% para o semestre.

A Abecip segue apostando em um avanço de 15% para o ano e espera uma aceleração dos desembolsos no segundo semestre. "Mesmo com eleição, vamos chegar aos 15%", afirmou Lazari, ponderando que a segunda metade do ano costuma ser mais forte em crédito imobiliário. A melhora do segundo semestre, contudo, vai ter que esperar julho passar, já que o mês também sofreu os efeitos negativos do Mundial. "Agosto e setembro vão ser referências melhores para o resto do ano", disse.

Os desembolsos de crédito para aquisição de imóveis somaram R$ 38,3 bilhões, com avanço de 8% na comparação anual. Olhando apenas imóveis usados, foram concedidos R$ 23 bilhões no período, queda de 0,07% ante 2013. Já para a construção de imóveis, foram R$ 14,8 bilhões desembolsados no semestre, um crescimento de 4% na mesma comparação.

Quem deixou para financiar a casa própria no segundo semestre pelo menos não vai precisar se preocupar em pagar mais caro por isso. Segundo Lazari, a perspectiva de aumento de taxas de juros no crédito imobiliário nos próximos meses "tende a zero". "A oportunidade para aumento de taxas ficou para trás", disse, citando a forte competição no segmento.

O executivo afirma que não chegou a 0,5% ao ano o acréscimo nas taxas de juros do financiamento imobiliário no rastro do aumento da Selic do último ano. "Quem mais corrigiu foram os bancos que estavam mais fora da curva, como os públicos. Se você olhar as taxas de juros dos bancos privados hoje, é difícil dizer qual é qual."

A Caixa Econômica Federal, por exemplo, que cobrava 6,91% ao ano, em média, no financiamento habitacional em janeiro, passou a cobrar 7,46% em junho. No Bradesco, a taxa passou de 8,47% para 8,69% no mesmo período, segundo o Banco Central.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Na contramão do país, Nordeste cresce 4%

O Nordeste, região em que a presidente Dilma Rousseff teve a maior queda nas intenções de voto no último Datafolha, vive neste ano situação inversa à do resto do país em termos econômicos.

A atividade econômica cresceu acima de 4% nos cinco primeiros meses do ano, resultado superior à média nacional (0,6%), segundo o Banco Central.

A região apresenta, por outro lado, os piores dados em relação ao emprego (veja quadro). Quando se considera apenas os dados sobre emprego formal, o Nordeste é a única região na qual houve redução no número de vagas no primeiro semestre, segundo o Ministério do Trabalho.

A piora no mercado de trabalho reflete, principalmente, a crise na construção civil, grande empregadora na região. Os dois Estados que mais cortaram empregos no setor, depois de São Paulo, foram Bahia e Pernambuco.

O Nordeste passa por uma transição entre um período de muitas vagas com salários menores na construção para outro com menos empregos, com rendimentos maiores, na indústria, diz o presidente interino da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco, Ricardo Essinger.

"Muitas fábricas estão ficando prontas, e a quantidade de operários empregados na produção é menor que na construção. Mas você está criando emprego de melhor qualidade e remuneração."

A entrada em operação dessas empresas é um dos motivos pelos quais a indústria cresceu 1,6% na região até maio. Ao mesmo tempo, o setor caiu 1,6% na média nacional, disse Essinger.

O fim de uma série de obras também afeta as construtoras do setor imobiliário. De acordo com o sindicato das empresas de construção da Bahia (Sinduscon-BA), muitos trabalhadores foram dispensados no interior com a conclusão de obras do programa federal Minha Casa Minha Vida fases 1 e 2. Novos empreendimentos só vão aparecer quando for lançada a fase 3, prevista para 2015.

Disputas judiciais com a prefeitura de Salvador, em relação a tributos, também paralisaram o já desaquecido mercado da capital. "São dificuldades dentro de um mercado não tão positivo como nos últimos anos", diz o presidente do Sinduscon-BA, Carlos Henrique Passos.

O operário Israel dos Santos Filho, 24, foi demitido há 15 dias em Salvador, após o término da primeira etapa da obra. Desde então, procura vaga em outros canteiros.

"Até um ano atrás, você saía de uma obra e imediatamente conseguia se colocar em outra. Agora está muito mais difícil. Conheço vários amigos desempregados."

Israel trabalhava havia seis anos com carteira assinada como operador de bob cat (espécie de empilhadeira que retira entulho). O salário médio na função é R$ 1.200.

Apesar da piora no emprego, a renda média cresce acima do verificado no restante do país, segundo o IBGE. Além do aumento nas vagas com remuneração maior, o Nordeste concentra grande parte dos recursos destinados a programas sociais.

Esse fator tem contribuído para sustentar o consumo na região, além do impacto da indexação do salário mínimo, segundo o professor Roberto Tatiwa, da Universidade Federal do Ceará.

As vendas do comércio na região crescem acima da média nacional. O pior resultado, do Piauí (3,3%), é mais que o dobro da média (1,4%).

O cenário contribui para a boa avaliação do governo na região. Dilma lidera as intenções de voto no Nordeste, embora tenha caído de 55% para 49% da preferência no último Datafolha. Eduardo Campos (PSB) tem 12%. Aécio Neves (PSDB), 10%.

Para Tatiwa, o Nordeste precisa melhorar em relação à qualidade da mão de obra, infraestrutura e indicadores sociais para manter o crescimento superior ao do país.

"Diferenças entre crescimento e qualidade de vida podem estimular uma migração. Dessa vez, não de retirantes, mas de pessoal qualificado", afirma.

 

Tese da estagflação divide economistas

Pelo quarto ano seguido, o Brasil deve repetir a combinação de crescimento relativamente baixo e inflação próxima ao teto da meta, o que, levando em conta as expectativas do mercado, também se dará em 2015. Apesar disso, economistas ainda veem com cautela a afirmação de que a economia brasileira atravessa um quadro de estagflação.

Há uma divisão bem equilibrada entre analistas que veem nos indicadores atuais sinais desse processo e os que não compram essa tese. De um lado, um grupo evoca o comportamento recente do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e da atividade para afirmar que a dinâmica atual se assemelha a um período de estagflação. De outro, uma parte também relevante dos economistas destaca que alguns elementos que caracterizariam esse período não estão presentes.

São eles alta do desemprego, recessão de fato e descontrole inflacionário. Nos 12 meses até junho, o IPCA ultrapassou o teto da meta perseguida pelo Banco Central, ao atingir 6,52%, mas tem chegado até dezembro dentro dos limites estipulados pelo regime de metas nos últimos anos.

Dentro do projeto de coleta de projeções dos principais indicadores, o Valor Data faz, periodicamente, consultas qualitativas com as consultorias e departamentos econômicos de instituições financeiras. Para essa rodada, foram apresentadas quatro questões, com o objetivo de discutir se o país está em estagflação e o que teria causado esse fenômeno.

Para o sócio da Tendências Consultoria, Juan Jensen, a estagflação foi desencadeada pela mudança na política econômica, que substituiu o tripé metas de inflação, de superávit primário e câmbio flutuante pela "nova matriz econômica". Essa nova diretriz, afirma, foi marcada por políticas fiscal e monetária mais frouxas, que estimularam a demanda, ao mesmo tempo em que uma desvalorização cambial "forçada", junto à piora de previsibilidade da economia, restringiu a expansão da oferta.

José Francisco de Lima Gonçalves, do Banco Fator, e Eduardo Velho, da INVX Global Partners, ponderam que falta uma taxa de desemprego maior para se configurar uma estagflação "de manual" no Brasil. Segundo eles, porém, essa parece ser uma questão de tempo. Para Gonçalves, a piora das expectativas, que inibiu investimentos, e os mecanismos de sustentação da "espiral" de salários e preços são os responsáveis pelo baixo crescimento e pela inflação pressionada. Velho culpa a "gestão confusa e intervencionista" da política econômica, que diminuiu a confiança.

Para Fernando Genta, da MCM Consultores, os números só não são piores em função de diversos "paliativos" adotados pelo governo, como medidas de estímulo ao consumo e represamento de preços administrados. Recentemente, diz, houve alguma perda de ímpeto da demanda, que não deve se transformar em alívio inflacionário significativo, porque o necessário realinhamento de preços mantém expectativas pressionadas.

As projeções para inflação mostram uma resistência que não condiz com o quadro atual de forte descompressão dos preços no atacado, afirma Bráulio Borges, da LCA, mas, por outro lado, o retrospecto dos últimos quatro anos se assemelha a um processo de estagflação: a expansão do PIB per capita deve se reduzir de 3% ao ano, na média de 2003 a 2010, para um nível próximo de 1% de 2011 até 2014, com alta de 5,8% para 6,2% do IPCA. Para ele, os maiores responsáveis por esse movimento foram o enfraquecimento da economia mundial, a perda de vigor do consumo interno e a depreciação cambial ocorrida desde 2012.

Daniel Moreli Rocha, do banco BI&P, também acredita que o país está em estagflação, mas tem um diagnóstico mais próximo dos outros analistas. "Podemos entender esse fenômeno começando pelas distorções que foram criadas após a crise de 2008", afirma, referindo-se ao excesso de incentivos à demanda, com "sufocamento" da oferta pela competição internacional e pressão des custos.

Sérgio Vale, da MB Associados, vai mais longe. Afirma que o período atual replica "de forma melancólica" os anos 70, quando reformas liberais foram seguidas de políticas de incentivo à demanda com viés protecionista. Para Vale, a demanda aquecida sancionou uma inflação próxima de 6% e, quando houve arrefecimento, choques de oferta começaram a ocorrer.

André Muller, da Quest Investimentos, avalia que o país se aproxima "de algo como" uma estagflação. Nos anos recentes, o país chegou ao limite do modelo de crescimento caracterizado por ocupação de mão de obra e capacidade instalada, antes excedentes, devido às restrições impostas pelo mercado de trabalho mais apertado e pelos gargalos de infraestrutura, diz.

Os mesmos entraves são mencionados por economistas contrários à ideia de estagflação. O economista-chefe do Santander, Mauricio Molan, argumenta que é prematuro classificar o momento atual dessa forma, mas avalia que os riscos têm aumentado. Os últimos dados mostram, diz, quão ingênua é a ideia de que é possível tolerar inflação mais alta para obter maior crescimento.

"Quanto maior a inflação, que nada mais é do que o sintoma de algum desequilíbrio, maior o ajuste necessário para corrigir distorções", afirma Molan. Segundo ele, essas distorções são provocadas pelas limitações de expansão da capacidade produtiva, com menor oferta de mão de obra, produtividade baixa e queda dos investimentos.

Estes fatores levaram a uma redução do PIB potencial brasileiro, diz Marcelo Arnosti, do BB-DTVM, o que dificulta a queda da inflação. Mesmo assim, afirma, estagflação não seria o termo mais adequado para definir o que está se passando na economia nos últimos anos. "Ainda que seja teoricamente possível, não acreditamos que entraremos em um processo prolongado de estagflação pois a inflação tende a ceder face à contração do nível de atividade", afirma Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco.

Assim como Arnosti, o economista Vinícius Botelho, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, afirma que o crescimento está baixo porque houve redução da capacidade de expansão da economia, mas essa não seria a mesma explicação para a aceleração da inflação, que subiu como reflexo de um período de juros baixos e do aumento do crédito dos bancos públicos.

A economista-chefe da Rosenberg , Thaís Zara, menciona resquícios de indexação, a maior vantagem competitiva dos serviços em detrimento dos bens comercializáveis e a defasagem da resposta do mercado de trabalho à desaceleração da atividade como fatores que dificultam a volta da inflação à patamares "mais civilizados", ainda que esta ainda se encontre em um dígito e, na maioria do tempo, dentro das bandas estabelecidas pelo regime de metas.

Portanto, conclui Thaís, não é possível designar o momento atual como estagflação, que é caracterizada por descontrole inflacionário, argumento também usado por Jankiel Santos e Flávio Serrano, do BES Investimento. "O que temos visto é a perda de dinamismo da atividade por conta das restrições de oferta que o país precisa tratar", dizem eles.

Primeiro, o Banco Central desarmou as expectativas de que a taxa básica de juros seria reduzida, porque as pressões inflacionárias ainda são evidentes. No dia seguinte, o mesmo BC anuncia um pacote de R$ 45 bilhões, concentrado em liberação de dinheiro para os bancos aumentarem a concessão de crédito para famílias e empresas. Os sinais, no entanto, não são contraditórios aos olhos do governo federal.

Para o governo, no entanto, a contradição entre as duas medidas seria apenas aparente, e é possível separar em gavetas distintas a preocupação com a inflação expressa na questão dos juros e o afrouxamento em relação ao crédito - que, teoricamente, incentiva o consumo e pressiona a inflação.

Os fatos, no entanto, são os seguintes. Na quinta-feira, o Banco Central sinalizou, por meio da ata da última reunião de seu Comitê de Política Monetária (Copom), que a Selic, hoje em 11% ao ano, não deve ser reduzida - movimento entendido pelo mercado como uma manifestação de que a inflação elevada incomoda mais a autoridade monetária do que o baixo crescimento. Ontem, o BC anunciou um pacote com liberação de dinheiro que os bancos devem manter parado compulsoriamente no Banco Central, de forma a ampliar a liquidez no mercado de crédito.

“Estruturalmente, já são situações distintas”, sustenta uma fonte qualificada do governo, explicando que mudanças desse porte não podem acompanhar “em alta frequência” o comportamento do mercado. O fato de ter sido agora, às vésperas de um processo eleitoral que se desenha com forte debate econômico e num momento em que os principais índices de atividade patinam, teria sido apenas uma coincidência.

Impacto. Há dúvidas no mercado sobre o impacto das medidas na economia real diante do ainda elevado nível de endividamento das famílias. Para técnicos do governo, os dados estatísticos de endividamento do consumidor embutem um perfil que não é totalmente negativo, com reflexos do forte aumento do crédito imobiliário, em torno de 30% ao ano, e do financiamento de veículos. Nesse caso, o passivo (dívida) vem acompanhado de um ativo (imóvel ou carro), o que reduz o risco do endividamento.

No sistema financeiro, há hoje uma assimetria de liquidez, concentrada nos 12 maiores bancos. A ótica das medidas, na avaliação do governo, é ampliar crédito e dar mais racionalidade à liquidez. O prazo de um ano para a compra de carteira, segundo apurou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, serve apenas como indicativo. Poderá ser prorrogado ou encurtado, caso o resultado das medidas seja ou não satisfatório.

A equipe técnica se baseia no fato de que a medida não abre crédito novo. Os bancos comprarão carteiras já formadas e vão abrir espaço para alguns segmentos específicos. Foi uma forma alternativa para atuar no segmento sem direcionar medidas ao segmento de consumo.

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