VALOR
Tensão política derruba bolsa e faz dólar disparar
O clima no mercado financeiro se deteriorou de maneira rápida e intensa, penalizando os preços dos principais ativos brasileiros. Diante de uma disputa de poder cada vez mais conflituosa entre Executivo e Legislativo, a preocupação dos investidores já não se restringe apenas ao futuro da reforma da Previdência e, agora, começa a se estender para a própria governabilidade da gestão de Jair Bolsonaro.
O custo da falta de articulação política entre governo e Congresso já tirou mais de oito mil pontos do Ibovespa desde que o índice rompeu, na semana passada, os 100 mil pontos, enquanto o dólar está a poucos centavos da marca simbólica de R$ 4. Nesta quarta, a piora do sentimento dos investidores derrubou o Ibovespa do patamar dos 95 mil pontos para 91 mil pontos, num movimento influenciado ainda pelo ambiente adverso para emergentes. A queda piorou substancialmente bem no fim dos negócios e o índice fechou em baixa de 3,57%, aos 91.903 pontos.
Novamente, o giro financeiro foi forte, ao somar R$ 14,4 bilhões, denotando um firme ajuste na exposição ao risco. O dólar comercial teve alta de 2,27%, aos R$ 3,9548, maior patamar desde outubro, mês das eleições. Tamanha foi a tensão no dia que apenas o peso argentino desvalorizou mais que o real brasileiro. Agora, a taxa de câmbio precisa subir pouco mais de 1% para voltar à marca simbólica de R$ 4 — atingida pelo contrato futuro de dólar no fim da tarde.
Na avaliação de profissionais de mercado, o desgaste gerado entre o presidente Bolsonaro e o Congresso segue se aprofundando, com um nível de incerteza crescente envolvendo as articulações para a aprovação da reforma da Previdência. O sentimento nas mesas de operação é que o discurso de Bolsonaro é agressivo contra os parlamentares — grupo a quem cabe a palavra final pela aprovação do projeto de reforma.
O presidente fez declarações que voltaram a preocupar o mercado, pelo risco de deixar a Câmara ainda mais avessa aos projetos do Executivo. Em entrevista à TV Bandeirantes nesta quarta à tarde, Bolsonaro afirmou que não tem problemas com Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, mas afirmou que o parlamentar está “um pouco abalado com questões pessoais da vida dele”.
Ao ser questionado sobre aproximação com deputados, afirmou que não pode atender todos que querem vê-lo. “Alguns investidores elevaram o ceticismo, mas é um pouco forte dizer que o mercado desembarcou. Acho que ainda não”, diz o profissional de uma gestora. “Mas todo mundo teve que mexer na amplitude da reforma e no prazo. O que ficou agudo é a mudança de expectativa. Tinha muita gente extremamente otimista. Isso, de fato, está saindo do preço”, acrescenta. O ministro da Economia, Paulo Guedes, falou à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, onde tentou defender o ajuste fiscal a todo custo.
Para gestores, porém, o ministro não é capaz, neste momento, de acalmar os ânimos dos investidores. O nervosismo nos mercados financeiros se estendeu, inclusive, para o “after market” (pós-fechamento) da bolsa. Além de reversão de algumas apostas, operadores notam que ordens de zeragem de posições, ou “stop loss” no jargão do mercado foram acionadas para proteger os portfólios dos investidores. As ações pioraram ainda mais o desempenho, superando quedas de 5% no caso de “blue chips”.
O Ibovespa futuro registrou baixa de 4,89%, aos 90.500 pontos. Na sessão regular, apenas a ação da Suzano subiu no dia e fechou em alta de 1,87% — 65 ativos fazem parte do Ibovespa. Bancos, varejistas, siderúrgicas, Petrobras e Vale fecharam todos em forte baixa. “Parte do mercado viu oportunidade de compra na terça, depois da queda da semana passada, acreditando que poderia melhorar o sentimento, mas não foi isso que aconteceu. As maiores corretoras estrangeiras estão atuando na venda.
A bolsa subiu e bateu 100 mil pontos com expectativas, e agora precisa se ajustar, porque os ruídos estão piorando”, afirma um operador de renda variável. “A verdade é que a principal agenda do governo está travada”, afirma Fernando Barroso, diretor da CM Capital Markets. “Caminhamos para uma nova recessão se a reforma não sair neste ano. A pressão do governo é pela aprovação rápida e o Congresso quer conciliação em alguns pontos.”
O mal-estar do mercado com o governo dominou os negócios nesta quarta desde cedo, em razão da troca de farpas entre governo e Congresso observada na última semana. O ápice desse desconforto veio na terça à noite, quando a Câmara, num gesto de retaliação ao governo, aprovou um Projeto de Emenda Constitucional (PEC) que engessa ainda mais a gestão do Orçamento do governo.
“Os atritos entre Executivo e Legislativo levam o mercado a reprecificar o risco de uma diluição maior da reforma da Previdência e um processo mais longo de tramitação”, diz Damont Carvalho, diretor da área macro da Claritas Investimentos. Agora, o panorama ficou mais nebuloso aqui e no exterior, exigindo um ajuste de posições para enfrentar um período de volatilidade maior. “A probabilidade de a reforma não passar era extremamente baixa e agora aumentou um pouco, mas o cenário base ainda é de aprovação”, diz.
O que mantém a perspectiva de que a reforma sairá do papel é o fato de que a medida em si não é alvo de críticas. “A oposição não consegue canalizar uma visão contrária a reforma”, diz outro gestor. “O mal-estar não é uma situação sem volta.”
É cedo para apostar contra a reforma, diz ex-diretor do BC
A deterioração do ambiente político na última semana, agravada pela troca pública de provocações entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, abalou a confiança dos mercados financeiros no avanço da mais importante pauta do governo: a reforma da Previdência.
O receio de que o governo não consiga fazer a articulação política de forma a viabilizar uma reforma suficiente para afastar o risco de solvência do país no médio prazo fez o dólar disparar e derrubou a bolsa de valores. Para o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Rodrigo Azevedo, hoje sócio e gestor da Ibiúna Investimentos, ainda é cedo para apostar que não haverá reforma. Mas o que o mercado está refletindo é que os riscos de cauda tornaram-se muito mais elevados. "Você pode dizer que há uma disputa entre Congresso e presidente, mas não é racional assumir que os dois vão levar às extremas consequências essa postura, que seria explosiva para o país", afirma Azevedo.
"A gente acredita que, em algum momento, os agentes que estão liderando o país serão racionais, embora reconheça que essa hipótese tornou-se menos provável diante dos últimos acontecimentos." Para Azevedo, embora a temperatura em Brasília tenha subido, nem o Executivo, nem o Legislativo adotaram uma retórica contrária à reforma. "É uma negociação que está em curso... A negociação evolui, não é estanque, há recuos e avanços. Até agora não vi um ato que seja definitivo", afirma.
A ansiedade do mercado financeiro com esse tema, entretanto, é bastante justificada: a aprovação da reforma é condição necessária para que o crescimento econômico seja, enfim, retomado. Além de ser uma medida fundamental para conter o desarranjo das contas públicas, trata-se de um teste sobre a capacidade de governabilidade deste governo, sobre a qual pesa muito ceticismo. "Não vamos resolver o problema fiscal de uma hora para a outra. Mas a reforma tem um simbolismo", diz. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Valor: Por que a recuperação da atividade voltou a frustrar as expectativas?
Rodrigo Azevedo: O Brasil, em outros momentos em que sofreu retrações significativas da atividade, mostrou uma capacidade de recuperação muito mais rápida do que a vista até aqui. Existe uma corrente que acha que o processo de desalavancagem, em que você limpa o balanço das empresas e das famílias e permite que elas se endividem novamente, está acontecendo de maneira mais lenta. Mas o prazo médio do endividamento no Brasil é curto e não houve um problema do setor bancário, que foi colocado numa situação de teste de estresse, com inadimplência subindo significativamente, e sobreviveu. Então, eu acho que o setor bancário está intacto, está pronto para emprestar e, por isso, essa não parece ser uma boa interpretação. Eu gosto mais da percepção de que a gente vinha de um modelo econômico em que a participação do Estado era muito significativa, tanto por causa dos gastos quanto por causa do crédito subsidiado. E era visto como regulador, interventor. Essa dinâmica, que veio até o fim dos anos Dilma, gerou um maior espaço para o setor público e menor para o privado. Mas isso mudou, tanto pelo modelo econômico adotado no governo Temer e aprofundado pelo governo Bolsonaro e também porque acabou o espaço de o Estado estimular a economia. Então, o que aconteceu é que o setor privado tem agora que liderar o crescimento. Só que há incertezas muito significativas nos últimos dois anos, e que permanecem, à medida que existe essa dúvida acerca da execução da reforma da Previdência. Se você tem que tomar uma decisão de consumo de médio e longo prazos, é natural que os agentes econômicos esperem a redução da incerteza.
Valor: Mas como a reforma da Previdência vai influenciar, efetivamente, a dinâmica do crescimento?
Azevedo: A reforma da Previdência é necessária, mas ela não é suficiente para gerar crescimento. Não vamos resolver o problema fiscal de uma hora para a outra. Mas a reforma tem um simbolismo. Nota-se um ceticismo sobre a capacidade de execução dessa agenda liberal, que é muito construtiva do ponto de vista de ambiente de negócios e potencial de crescimento do país. A reforma é impactante e difícil de aprovar. Se houver articulação política para aprová-la, isso será visto como um indicador de que todo o resto da agenda tem maior chance de ser implementada. Acho que ela adota, além da questão fiscal, um símbolo de capacidade de execução deste governo. Acho que se ela avançar, os agentes vão sentir muito mais inclinados a dar o benefício da dúvida. Acreditar que o futuro terá menos incerteza e esse pode ser um gatilho para o investimento local e estrangeiro. À medida que o processo ratifica a percepção de que será difícil executar a agenda, fica muito mais difícil fazer uma trajetória de crescimento significativo à frente, de deslanchar a retomada brasileira, mesmo com a Selic no nível de 6,5%. Isso vai definir muito o cenário e, por isso, nesse momento o cenário será muito mais influenciado pela capacidade de entrega do governo do que pelo cenário externo, a menos que você tenha cenários extremos lá fora.
Valor: Qual a chance da reforma da Previdência ser aprovada agora, com a piora do ambiente político?
Azevedo: Aumentou a incerteza, mas o ambiente é muito fluido e é difícil atribuir uma probabilidade definitiva para um lado ou para o outro. E como isso se traduz, do ponto de vista do mercado, é que os ativos têm que ter mais prêmio de risco. Por isso o Ibovespa caiu cerca de 7%, de 100 mil pontos para o patamar atual, perto de 91 mil pontos, o dólar subiu e a curva de juros ficou mais inclinada. Isso reflete a maior incerteza. No começo do ano, se atribuía baixa probabilidade a cenários adversos, que podem ser tanto de um atraso com diluição, pode ser que a reforma não passe. Agora, essas probabilidades voltaram. Você pode dizer que há uma disputa entre Congresso e presidente, mas não é racional assumir que os dois vão levar às extremas consequências essa postura, que seria explosiva para o país. A gente acredita que, em algum momento, os agentes que estão liderando o país serão racionais, embora reconheça que essa hipótese tornou-se menos provável diante dos últimos acontecimentos.
Valor: No que o mercado se baseia para acreditar que é possível aprovar a reforma?
Azevedo: Na terça-feira, nós tivemos uma votação expressiva de uma votação constitucional [a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional do investimento impositivo], que aconteceu em dois turnos, num único dia.
Valor: Mas isso foi uma retaliação ao próprio governo.
Azevedo: O meu ponto é que, processualmente, quando o Congresso quer, ele consegue acelerar os prazos. Se eles se entenderem, há uma maioria constituída para aprovar alguma coisa. E pode aprovar rápido. Esse cenário deixou de ser muito provável, mas não é um cenário de probabilidade baixa. Acho que você tem que atribuir probabilidades a cenários e não se deixar levar por eventos de curto prazo. Os eventos geram muito conflito e não se pode fazer uma análise emocional, achando que tudo mudou para um lado ou para o outro. Agora, as probabilidades de um atraso maior da reforma, de uma reforma mais diluída ou mesmo de não aprovação, subiram. Mas a probabilidade de aprovação passou a ser zero? Os eventos recentes ainda não justificam essa avaliação.
Valor: O que o mercado enxerga para acreditar que a racionalidade será retomada?
Azevedo: Política é a arte da negociação. É uma negociação que está em curso, entre o Congresso e o Executivo. A negociação evolui, não é estanque, há recuos e avanços. Até agora não vi um ato que seja definitivo que diga: enterrou-se a reforma ou o contrário, temos certeza que ela será aprovada. Mas cresceu a chance de haver cenários adversos. A retórica que ouvimos de Brasília não é antirreforma. Até a semana passada, a percepção era de que a negociação estava avançando e havia um processo de convergência. Houve reuniões do Rodrigo Maia com o presidente Bolsonaro, com o [presidente do Senado, Davi] Alcolumbre, com o [presidente do Senado, Dias] Toffolli, e havia uma série de evidências de que o processo estava convergindo. Mas esse processo teve uma reversão. Mas ainda não é algo definitivo.
Valor: O que seria o mínimo para se considerar que a reforma foi suficiente e haja um reforço dessa confiança?
Azevedo: Há dois parâmetros. Um deles é se a reforma vai ser melhor ou parecida com a proposta pelo Temer que, grosso modo, previa uma economia entre R$ 500 bilhões e R$ 600 bilhões. Naquele momento, os agentes financeiros avaliavam que esse valor era suficiente. Mas o tempo passou. Aquilo era suficiente em 2017. Hoje em dia precisa de mais do que isso. Um número que tem sido avaliado, é que, como a diluição em relação ao projeto do Temer era de 30%, teríamos agora algo em torno de R$ 800 bilhões. Esse valor ajuda bastante, mas parece estar perto do mínimo. A questão importante é que, quão menor for a economia, menos espaço fiscal você tem para trabalhar o resto da agenda que tem que ser implementada. Se há um colchão maior com a reforma da Previdência, abre-se muito mais espaço para outros elementos no gasto público. Por exemplo, investimento em infraestrutura, que é importante, ou mesmo em educação e saúde, outros elementos da agenda que também são muito importantes. Então, é uma condição necessária, pelo menos uns R$ 800 bilhões. E quanto mais para cima for o valor, haverá mais potência para o resto da agenda ganhar corpo e ser mais eficaz.
Valor: Há aspectos qualitativos da reforma que precisam ser observados? A maneira como se vai alcançar essa economia faz diferença?
Azevedo: Acho que isso tem um impacto mais significativo sobre a estratégia política de aprovação da reforma e tem um aspecto sobre equidade, olhando mais à frente. Não do ponto de vista estrito das contas fiscais. Mas, logicamente, a qualidade do gasto vai ser afetada por isso.
Valor: Sobre o prazo de aprovação, há um limite aceitável?
Azevedo: Acho que a questão do prazo está mais associada à probabilidade de aprovação de uma reforma mais consistente. Sabe-se que essa é uma reforma dura e é preciso ter capital político para aprová-la. E quão mais perto do início do governo, o capital político tende a ser mais forte. Já vimos as pesquisas mostrando queda da popularidade desde o início do governo. Quanto mais tempo demorar, provavelmente o presidente terá menos capital político para gastar. E o resultado disso pode ser uma reforma mais diluída.
Valor: Se a PEC do investimento impositivo for aprovada pelo Senado, ela pode ameaçar o cumprimento do teto de gastos?
Azevedo: Pelo contrário. O que vai fazer o ajuste passará a ser o teto de gastos, que também é uma medida constitucional. Se não conseguir executar o que o Congresso manda e bater no teto de gastos, a Constituição já prevê os gatilhos que serão ajustados no Orçamento do ano seguinte. É um processo mais difícil de gerenciar, mas o teto de gastos será mais relevante do que tinha antes. Mas, claro, não é bom, quando o ministro Paulo Guedes está sinalizando que é preciso ter mais flexibilidade, ir na direção contrária. É um recado muito importante que o Executivo precisa entender, que precisa se mobilizar para montar uma base que seja atuante e permita ter controle sobre o processo legislativo. A história de presidentes no Brasil que não tiveram apoio no Congresso não é boa. Seja porque você perde o controle da pauta legislativa, que é a consequência mais leve, seja porque abre a possibilidade de cenários mais extremos.
Valor: Há uma ameaça de algo semelhante ao que se viu no governo Dilma?
Azevedo: Acho que precisa acontecer muita coisa para um cenário de cauda como esse ganhar probabilidade.
Valor: O mercado externo também piorou muito, contribuindo para a piora dos ativos locais. O que está por trás disso? Há realmente um risco de uma nova recessão?
Azevedo: O ambiente global é caracterizado neste momento por uma frustração da perspectiva de crescimento que se tinha em 2016 e 2017, que sofreu uma inflexão em 2018. O pico do crescimento ficou para trás e a questão, neste momento, é o quanto essa desaceleração vai se intensificar. Os Estados Unidos vêm de um crescimento acima do potencial, muito influenciado pelo pacote fiscal do presidente Trump e era natural que, combinado com o aperto da política monetária, houvesse uma desaceleração. O cenário-base era de uma desaceleração do ritmo de crescimento, mas começaram a surgir dúvidas se isso não poderia levar a um crescimento abaixo do potencial ou mesmo a uma recessão. Parte da história é que os Estados Unidos são uma economia muito integrada com o mundo e, à medida que o mundo desacelera, ele pode puxar os Estados Unidos para baixo também. A China tem um processo de redução do ritmo de crescimento, que estava muito elevado e um excesso de endividamento, que precisa ser desalavancado, processo que pode levar a uma desaceleração. Se Estados Unidos e China têm uma desaceleração dessa magnitude, o mundo inteiro desacelera. E a Europa, em particular, sofre bastante por causa de seu componente de exportações para Estados Unidos e China. Neste momento, a preocupação maior está centrada na Europa, porque existe a percepção de que tanto Estados Unidos quanto a China têm capacidade de prover estímulos pra tentar suavizar o processo de desaceleração. Enquanto a Europa continua com política monetária com taxa de juros negativa, com muito pouco espaço para estimular a economia. O que aconteceu recentemente é que esperava-se que haveria uma virada desse processo no primeiro trimestre e, até agora, isso está acontecendo de forma muito tênue, com alguns indicadores mostrando retração. Nesse ambiente, mesmo um estímulo de maior liquidez não impede que haja aversão ao risco, levando investidores a buscarem um porto-seguro, uma concentração da liquidez em dólar. A questão é que, se tivermos uma desaceleração com liquidez maior, isso vai ser benéfico para ativos de risco. Mas se tivermos um aprofundamento da desaceleração, então veremos um processo de reavaliação do apetite por risco.
Valor: Qual é o seu cenário?
Azevedo: O cenário com o qual nós trabalhamos é que já houve uma desaceleração muito significativa, já houve um grau de estímulo, as condições financeiras nos Estados Unidos já relaxaram de maneira significativa de dezembro para cá, a China já vem provendo estímulos e a própria Europa inverteu o curso da política monetária. Só que o efeito desse conjunto de ações leva tempo para se concretizar. Existe um cenário-base em que se consegue estabilizar o crescimento no segundo semestre. Mas a gente não sabe, nos próximos dois ou três meses, o quão profundo pode ser esse movimento de desaceleração antes de haver essa estabilização.
Valor: Esse quadro pode levar o Banco Central do Brasil a cortar os juros?
Azevedo: No meu cenário, a Selic fica parada por um período muito mais prolongado. O BC vai esperar passar este momento de incertezas e, quando isso acontecer, haverá outras questões. Acho que a principal incerteza que teremos daqui a três meses é que, se de fato a reforma for bem encaminhada, pode ter uma reaceleração da economia.
Valor: A alta do dólar pode levar o Banco Central a ter que intervir, usando swaps, por exemplo?
Azevedo: Os movimentos do mercado de câmbio têm sido muito ordenados, têm acontecido com liquidez, não tem tido nenhum sinal daquelas condições que tipicamente demandam atuação do Banco Central, que é um processo de formação de preços sem liquidez. Até agora, não vejo razão nenhuma para uma intervenção do Banco Central. Acho que o que estamos vendo é um processo de ordenado de ajuste a maiores incertezas, locais e externas. O câmbio flutuante serve exatamente para isso, para absorver uma parte do choque sobre a economia.
Crédito volta a crescer em fevereiro
O mercado de crédito se acelerou em fevereiro, confirmando a trajetória de expansão prevista pelo Banco Central, num sinal de que pelo menos esse canal de transmissão da política monetária está operando da forma como era esperada. O estoque de operações de crédito do sistema financeiro cresceu 0,3% no mês passado, para R$ 3,241 trilhões, o que puxou a taxa de expansão para 5,5% em 12 meses, ante 5% de avanço em 2018.
A projeção feita pelo BC para este ano é de crescimento de 6% nos empréstimos e financiamentos. A expansão do crédito foi mais forte, em especial, no crédito livre, com alta de 11,5% no estoque em 12 meses, ante 10,6% em dezembro. Esse segmento é o mais sensível à baixa dos juros básicos da economia.
Nesta quinta-feira, o BC vai divulgar as suas projeções atualizadas para o mercado de crédito, em seu Relatório Trimestral de Inflação. O estímulo monetário se transmitiu para a economia, primeiro, por meio das taxas bancárias. Desde outubro de 2016, os juros médios do crédito livre caíram de 54% ao ano para 38,5% ao ano.
As concessões de crédito também tiveram aceleração em fevereiro, de 10%, comparado com janeiro, considerando a média por dias úteis. No período de 12 meses, houve alta de 9,9%. Diante dos dados recentes que apontam expansão abaixo da prevista da atividade econômica, um número crescente de analistas tem questionado se o Banco Central baixou os juros básicos - atualmente fixados em 6,5% ao ano - o suficiente para a demanda agregada.
O desempenho do mercado de crédito contraria essa tese, embora seja apenas um dos canais de transmissão da política monetária - outros são o consumo de bens duráveis e os investimentos, a taxa de câmbio, as expectativas e o efeito-riqueza sobre detentores de títulos públicos. "O crédito apresentou uma aceleração em fevereiro", afirmou o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha.
Segundo ele, a taxa de expansão é particularmente mais forte nas operações com pessoas físicas, que apresentaram uma expansão de 9% no período de 12 meses até fevereiro, sendo 12,2% no crédito livre. No caso das operações com as empresas, a taxa de expansão em 12 meses é de 1,4%. Esse desempenho mais fraco se deve sobretudo à contração de 8% observada nas operações de crédito direcionado, com destaque para empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Ao contrário do crédito livre, o direcionado é menos sensível aos ciclos de expansão monetária. O crédito do BNDES encolheu 8,2% no período de 12 meses até fevereiro. Isso se deve, em parte, à política de redução do tamanho do banco de desenvolvimento adotada a partir do governo Temer, ao corte dos subsídios nas operações e à menor atratividade de suas linhas, depois que o BC derrubou os juros da economia como um todo. Segundo o BC, uma boa parte da demanda das empresas por crédito se deslocou do BNDES para os mercados de capitais local e externo.
Rocha ressaltou que já está havendo um crescimento mais robusto no crédito livre a empresas, com avanço de 10,6% em 12 meses. As linhas de capital de giro, porém, cujo estoque soma R$ 288,276 bilhões, tiveram uma queda de 1% em fevereiro no período de 12 meses. Embora tenham caído desde fins de 2016, em fevereiro os juros bancários subiram, de 24,7% para 25% ao ano, considerando a média das taxas das operações livres e direcionadas.
No caso do mercado de crédito livre, a alta foi mais forte, de 37,7% para 38,5%, em particular nas operações com pessoas físicas, que pularam de 51,3% para 53,2%. Rocha disse que uma boa parte da alta se deve ao que ele chama de efeito composição. Isto é, embora as instituições financeiras individualmente não tenham promovido alta nas taxas, aquelas que cobram juros mais altos contrataram mais operações no mês do que aquelas que cobram juros menores. Isso foi observado em segmentos do mercado como cheque especial, linhas rotativas de cartão de crédito e crédito não consignado.
FOLHA DE SÃO PAULO
Clima em Brasília está difícil e governo tem que fazer política com 'p' maiúsculo, diz Armínio Fraga
Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, disse nesta quarta-feira (27) que o clima em Brasília está difícil e, em razão disso, é preciso que o governo faça política com "p" maiúsculo.
Ao comentar o embate entre governo federal e o Congresso Nacional em torno da reforma da Previdência, o sócio da gestora Gávea Investimentos concordou que o imbróglio agrava a tramitação da proposta.
"Eu não sou especialista em política, mas, olhando de fora, o clima está difícil", disse ele, em seminário sobre política fiscal organizado pela FGV (Fundação Getulio Vargas) e a consultoria Oliver Wyman.
Fraga lembrou que o país continua tendo um número enorme de partidos, mas ressaltou que a política funciona a partir de negociações e acomodações e que isso não tem nada a ver com corrupção, favores ou patrimonialismo -- "modelo rejeitado por todos nós", afirmou.
"A política existe na Noruega, no Japão, nos EUA, então, vamos ter que fazer política, e tem que ser política com 'p' maiúsculo porque o problema é grande", disse.
O economista disse ainda que vê riscos na tramitação da reforma da Previdência, pois o país está longe de ter um consenso. "O governo vai ter que mobilizar toda a sua energia, seu capital político para conseguir esse resultado. Isso vai depender do presidente à sua equipe", disse ele.
Para Fraga, a Previdência brasileira é repleta de injustiças que, no fundo, reforçam a desigualdade no Brasil. Dessa forma, disse ele, existem muitas e boas razões para se fazer essa reforma e que seja reforma impactante.
"Nossos problemas são enormes e a Previdência é o maior item que está na mesa, então precisamos aprovar uma boa reforma."
ESTADÃO
Mais da metade das empresas não devem tomar empréstimo em 2019
Mais da metade das empresas brasileiras não pretendem assumir novas dívidas em 2019, segundo um levantamento feito pela Boa Vista no último trimestre de 2018, e que será divulgado hoje. Em um universo de mais de mil companhias dos setores de comércio, serviços, 58% disseram que não pretendem contratar empréstimos neste ano e 23% que têm isso nos planos.
Objetivos. O resultado da pesquisa reflete cautela diante da lenta retomada da economia. Das grandes empresas que demandarão crédito, 41% utilizarão os recursos para reforçar seu capital de giro. Entre as médias e microempresas, 47% e 46%, respectivamente, informaram que buscarão linhas de crédito para fazer novos investimentos, e, entre as pequenas, 35% pretendem tomar dinheiro pagar outros empréstimos.
Representar e promover o desenvolvimento da construção civil do Rio Grande do Norte com sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental
O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.