Quinta-feira

VALOR

Mercado enfrenta choque de realidade e dólar bate maior nível do ano

O mercado de câmbio voltou do feriado do Carnaval enfrentando um choque de realidade: a reforma da Previdência terá um caminho difícil pela frente e, para piorar o nervosismo dos investidores, repleto de ruídos de comunicação. Tudo isso intensifica a demanda por proteção do dólar, num movimento que conduz a cotação para o maior nível deste ano. Hoje, o dólar comercial engatou numa firme escalada e fechou em alta 1,46%, aos R$ 3,8342, patamar mais elevado desde 28 de dezembro, quando ficou em R$ 3,8742.

Para se ter ideia do tamanho do movimento, a moeda chegou a tocar R$ 3,8449 na máxima do dia e, com o salto da cotação, o desempenho do real só não foi pior que o do peso argentino. O aumento do prêmio de risco é atribuído, em grande parte, ao ambiente desfavorável aos emergentes no exterior e outros ajustes técnicos por aqui.

No entanto, o volume de críticas no mercado sobre a capacidade de comunicação do governo deixa a sensação de que a escalada do dólar pode ser um dos primeiros sinais de que a tolerância dos investidores com deslizes do governo está abalada. Desta vez, o que acentuou o desconforto no mercado foi o comentário do presidente Jair Bolsonaro, com divulgação de um vídeo polêmico no Twitter, sobre comportamentos inadequados no Carnaval.

A reclamação vem justamente num momento em que a reforma da Previdência começa a tramitar no Congresso, algo que deve exigir habilidade do Executivo para se articular com parlamentares. Ou seja, qualquer deslize de comunicação pode servir para armar a oposição.

"A paciência do mercado está acabando. Havia uma expectativa maior para o primeiro trimestre. Mas o fluxo estrangeiro que sazonalmente ingressa no país no período de janeiro e fevereiro não veio. Isso é um sinal de que a valorização global da moeda americana e as indefinições e falta de comunicação do novo governo brasileiro retardaram esse fluxo", diz Italo Abucater dos Santos, gerente de câmbio na Tullett Prebon. "Como se fala que o ano só começa após o Carnaval, tivemos a cereja do bolo com o vídeo que o presidente publicou no Twitter, azedando mais ainda o humor do mercado", acrescenta.

O ambiente adverso no exterior foi o catalisador do salto do dólar, que ganhou força por aqui ao romper a marca de R$ 3,80, diz Luiz Eduardo Portella, sócio e gestor da Novus Capital. "É claro que o tuíte não ajuda, mas acho que o movimento de piora está exagerado", diz. O gestor destaca que é cedo para dizer que o clima do mercado azedou. "Semana que vem começa o ano de verdade, vai ser importante ver o comportamento do mercado (...) Existe uma expectativa de quando Bolsonaro vai entrar, de fato, na campanha a favor da reforma da Previdência. O tuite de hoje gera frustração, pois o foco ainda está na agenda de costumes", acrescenta.

"As últimas publicações de Jair Bolsonaro nas redes sociais acabaram gerando desconfiança do mercado sobre o foco nas questões de mais urgência, como a reforma da Previdência", afirma Matheus Gallina, trader de renda fixa Quantitas. Segundo ele, era esperado que o presidente estivesse focado em pontos críticos como as reformas, mandando mensagem para o Congresso da urgência das aprovações, e não é isso o que tem acontecido. Profissionais insistem, entretanto, que ainda dá tempo de reverter o desconforto e a perspectiva é favorável para a aprovação da reforma da Previdência.

Tanto é que os investidores locais continuam bem alocados em ativos brasileiros, sem grande desmanche de posição. "Os ruídos de comunicação dentro do governo trazem um certo desconforto. Temos de estar atentos às reformas, mas não se pode precificar um fracasso delas", afirma o Paulo Nepomuceno, estrategista-chefe da Coinvalores.

Essa piora de humor que se viu no mercado, no entanto, ainda não expressa uma aposta pessimista, mas um desconforto entre investidores. Tanto é que os juros futuros tiveram uma alta mais modesta. A taxa do DI para janeiro de 2025 - um bom termômetro da percepção de risco - subiu de 8,84% para 8,89%.

Para Dan Kawa, estrategista da Tag Investimentos, o mercado de câmbio enfrentou a continuidade de um movimento de dólar forte no mundo, após dados econômicos que mostraram uma economia dos EUA ainda relativamente saudável, principalmente, quando comparada ao desempenho econômico do resto do mundo. Tudo isso veio ainda num dia de liquidez contida, já que o horário de negociação foi reduzido ao período vespertino na Quarta-feira de Cinzas.

O profissional da Tag aponta que, ao menos por ora, o vaivém das negociações sobre a reforma da Previdência segue dentro do esperado. O que deixa o ambiente de negócios um pouco mais delicado, no entanto, são dados mais fracos de atividade econômica no Brasil, o que está levando o mercado a reduzir as expectativas para o crescimento deste ano.

"Acho que o governo ficou um tempo quase que com um 'monólogo' sobre a proposta, agora estamos no momento de negociações", diz. "Contudo, juntando o cenário externo com o que já havia sido precificado nos ativos locais, acho natural uma realização de lucros e/ou consolidação do mercado", aponta.

 

Análise: Crescem as apostas em cortes de juros em 2019

O Boletim Focus traz as primeiras apostas substanciais de novos cortes na taxa básica de juros neste ano. Para cerca de 10% dos analistas consultados nessa pesquisa de expectativas de mercado, o Banco Central (BC) deverá cortar os juros em 2019 em pelo menos 1 ponto percentual, dos atuais 6,5% ao ano para entre 5,25% e 5,5% ao ano. Em fins de janeiro, apenas alguns analistas econômicos isolados achavam possível o BC ampliar o estímulo monetário. A pesquisa Focus não inclui informações qualitativas sobre o que poderia ter engrossado as apostas em cortes de juros.

Mas há sinais de que, para um grupo crescente de analistas econômicos, os estímulos monetários promovidos pelo BC até agora têm sido insuficientes para levar a inflação – hoje muito baixa – para as metas. Operadores do mercado já vinham considerando, nas suas decisões de investimento, a possibilidade de os juros caírem abaixo de 6,5% ao ano. Mas essas apostas consideravam mais os riscos de o Banco Central ter que promover novos estímulos, diante de uma possível falta de aceleração da inflação às metas. A novidade é que, de forma crescente, os analistas econômicos estão prevendo um corte substancial de juros em seu cenário central de trabalho.

Nas últimas semanas, os analistas econômicos reduziram, de forma geral, as suas apostas para a inflação em 2019 e 2020 e rebaixaram as perspectivas de crescimento econômico neste ano. Quase ninguém acredita que a inflação vai superar a meta deste ano, de 4,25%. Menos de 15% dos analistas acreditam que a inflação de 2019 vai ficar na vizinhança mais imediata da meta, em um percentual acima de 4,1% e até 4,3%. A maior parte prevê percentuais abaixo da meta.

A distribuição das expectativas para o IPCA em 2020 começam a pender mais para abaixo da meta do ano, de 4%. As projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano também se deslocaram para baixo. A mediana das expectativas para a expansão do PIB em 2019 caiu de 2,5% para 2,3% nas últimas quatro semanas. Cerca de 30% dos analistas preveem crescimento menor ou igual a 2,2%.

O Banco Central tem destacado, na sua comunicação oficial, que com as informações disponíveis até meados de fevereiro não via motivos para baixar ainda mais os juros. Seu cenário central é que a inflação suba gradualmente em direção às metas em 2019 e 2020. Sua previsão é uma recuperação gradual da economia. Também tem destacado que, hoje, os riscos de a inflação superar o projetado são maiores do que ficarem aquém. O principal risco apontado é uma eventual frustração nas expectativas de aprovação nas reformas fiscais, sobretudo da Previdência.

O Banco Central mudou de comando na semana passada, com a saída de Ilan Goldfajn e a nomeação de seu novo presidente, Roberto Campos Neto. Mas, por enquanto, os sinais são de continuidade da política monetária. Em sabatina no Senado, Campos renovou a mensagem de cautela na condução da política monetária e deu indicações de que considera que os estímulos monetários estão cumprindo o seu papel estímulos monetários estão cumprindo o seu papel.

“Parece que há um questionamento grande: a Selic caiu muito, foi à metade, foi de 14,25% ao ano para 6,5% ao ano, mas isso não foi capaz até agora de gerar um crescimento robusto”, afirmou. “Aqui, eu acho que é importante frisar que a coisa mais importante para o crescimento é a estabilidade de preço.” O novo diretor de política monetária do BC, Bruno Serra Fernandes, também avalizou o cenário de convergência da inflação em direção às metas e reforçou a avaliação de que a política monetária é estimulativa.

“A inflação corrente e suas expectativas para os próximos anos se encontra em níveis condizentes com as metas fixadas pelo Conselho Monetário Nacional”, disse Fernandes no Senado. “A taxa básica de juros encontra-se em nível historicamente baixo, de forma a estimular a atividade econômica, que, por sua vez, ainda se destaca pela ociosidade na utilização dos fatores de produção.”

 

Mais competição não basta para reduzir spread, diz Loyola

O aumento da competição no setor bancário é bem-vindo, mas não é isso que vai reduzir as taxas de juros do crédito no país, afirma o ex-presidente do Banco Central (BC) Gustavo Loyola. Fatores como a dificuldade de executar garantias e a escassez de informações sobre os tomadores encarecem as operações, segundo o economista.

 "O custo de crédito é alto fundamentalmente por aspectos que estão fora do controle dos bancos", diz Loyola, que recebeu o Valor em seu escritório na consultoria Tendências. Por isso, na visão do economista, não é o surgimento de fintechs que vai baratear o crédito. "Não estou dizendo que não têm um papel, essas empresas novas, de até desafiar o sistema bancário tradicional. Mas não vão resolver o problema do spread", afirma.

Para o ex-presidente do BC, o novo ocupante do cargo, Roberto Campos Neto, herda um legado de Ilan Goldfajn, e deverá ser o patrocinador de medidas para reduzir o custo do crédito e preparar a transição do mercado para um modelo digital, ainda não completamente conhecido. Apesar disso, não pode descuidar da estabilidade da moeda e do papel de garantidor da estabilidade financeira. "Não adianta fazer uma casa bonitinha que caia ao primeiro vento", afirma Loyola. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Valor: Qual deve ser a missão de Roberto Campos Neto à frente do Banco Central?

Gustavo Loyola: O BC tem duas funções permanentes. Uma é a estabilidade da moeda, tarefa nunca terminada porque as circunstâncias mudam e, se descuida, a inflação ancorada pode escapar. Além disso, o BC tem o papel de regular e zelar pela estabilidade do sistema financeiro. E essa é uma agenda que está em permanente mudança, dependendo da macroeconomia e da evolução tecnológica. O BC deve, ainda, ser o grande patrocinador de medidas para reduzir o custo do crédito no Brasil. Esse programa BC+, que o ex-presidente Ilan Goldfajn iniciou, deve ser continuado na gestão do Roberto Campos Neto. Um papel relevante é fazer a transição do mercado para o processo digital. Daqui a algum tempo, vai ter dinheiro de papel? O dinheiro no BC vai ser blockchain? O BC tem sempre algo a resolver, sem que se esqueça da inflação e da estabilidade. Não adianta fazer uma casa bonitinha que caia ao primeiro vento. Não adianta enfeitar de flores o sistema bancário, mas construindo instituições frágeis e fragilizando as que estão sólidas. Esse é o cuidado que tem de ter. O Ilan deixa um legado: recuperou a credibilidade do BC sem sequer ter aumentado o juro uma vez. Quem vem depois tem dificuldade.

Valor: Na sua opinião, Campos pode ter de elevar os juros?

Loyola: O BC diz que estamos numa política estimulativa de juros. Isso significa que, em algum dia, vai ter de normalizar a taxa de juros e subir. Se ele estiver certo, sim. Mas alguns acreditam que não, que essa política não está estimulando nada. Eu acho que caiu e está estimulando menos talvez. Não é que o BC não ache que isso possa estar acontecendo. Os banqueiros centrais não têm espaço para fazer muita aposta. Imagina que o BC baixa mais o juro, depois tem de subir por causa da inflação. Tem uma posição mais conservadora. Mas, se a reforma da Previdência passar, o BC pode ficar mais ousado. Pode dar uma puxadinha, testando o limite um pouco mais.

Valor: A Febraban lançou um livro com razões para o alto custo do crédito, e quase nenhuma depende dos bancos. Qual a sua avaliação?

Loyola: O custo de crédito é alto fundamentalmente por aspectos que estão fora do controle dos bancos. Há duas questões, principalmente. Ambas redundam num índice de inadimplência mais elevado que em outros países. Uma tem a ver com a dificuldade de ter informações dos tomadores de crédito, que pode levar a uma avaliação errada e a mais perdas. A outra é a questão da execução das garantias e a dificuldade de o crédito ser recebido. E aí há questões de insegurança jurídica, legislação inadequada. A maioria dos trabalhos aponta a inadimplência como o fator preponderante para explicar os spreads no Brasil tão díspares aos de outros países. Temos algumas pistas de que isso ocorre quando observada a diferença dos spreads de linhas de crédito que têm garantias, como consignado ou financiamento de veículos, para outras como cartão de crédito. Mas tem outras questões também: fatores de tributação, compulsório, custo Brasil...

Valor: A concentração bancária é uma das causas do elevado custo do crédito no Brasil?

Loyola: Mesmo achando que quanto mais competição melhor, a concentração bancária não é uma explicação para os spreads elevados. Diria assim: a concentração bancária no Brasil decorre de distorções do mercado que também explicam o spread alto. Mas não que a concentração seja a causadora dos spreads. Por exemplo, no período em que eu estive no Banco Central a gente fez a privatização dos bancos estaduais e a venda de alguns bancos brasileiros pelos problemas que estavam enfrentando. Vimos nesse período muitos bancos estrangeiros vindo para o Brasil e depois indo embora. Nos grandes varejistas, ficou só o Santander de estrangeiro. Não houve política deliberada de concentrar o mercado, as condições levaram a isso. A agenda de aumentar a competição é importante, mas não resolve o problema do spread.

Valor: A concentração é, então, um legado do Proer?

Loyola: Aquele período deixou alguns legados. O primeiro foi ter evitado a crise bancária. Outro foi basicamente ter criado no Brasil um sistema bancário muito sólido e resiliente a crises. Passamos pela pior recessão em décadas e não fez nem cócegas no sistema bancário. Passamos pela crise de 2008 e 2009 com pouquíssimos problemas. Construímos no Banco Central - não só na minha gestão especificamente, mas também nas que me seguiram, com Gustavo Franco, Armínio Fraga, Henrique Meirelles - um arcabouço regulatório de supervisão bancária reconhecido como um dos melhores do mundo. E com instituições que dão solidez ao sistema, como o Sistema Brasileiro de Pagamentos e o Fundo Garantidor de Créditos. Valor: Há ainda um valor a ser pago pelos bancos ao Tesouro Nacional referente ao Proer. É uma herança a ser resolvida? Loyola: Não acompanho tão de perto. Grande parte dos créditos foi quitada. Minha impressão é que existem questões relacionadas ao nosso ambiente jurídico e institucional, com dificuldades em encerrar liquidações e falências.

 Valor: É possível prever novas crises bancárias?

Loyola: A crise bancária tem uma questão que muitas vezes você só consegue adotar medidas duras depois que há uma tragédia. Antes, é muito complicado. Sempre tem alguém para dizer que você não deveria ter feito aquele gasto, aquela medida, que não era necessário. Muitos diziam: não tem risco sistêmico nenhum, poderiam ter fechado os bancos. Mas e a contraprova? Essas coisas você não paga para ver. O que a gente tem é experiência de crise bancária em outros países. A Venezuela passou por uma crise bancária complicada, que deixou marcas muito grandes na sociedade. Até que ponto essa crise pode ter influenciado a trajetória política da Venezuela?

Valor: Desde a crise de 2008, está pendente a aprovação dos planos de resolução [roteiros de como liquidar bancos em dificuldades sem recorrer ao contribuinte]...

Loyola: A crise de 2008 deixou muitas lições. Custou muito caro também. E é interessante fazer um paralelo com o Proer. Quando a crise vem, você nunca está preparado nem tem os instrumentos. O próprio Fed [Federal Reserve, banco central americano] não tinha os instrumentos, nem outros países. Desde a crise de 2008, começamos a valorizar algumas coisas, como a cooperação internacional, o fortalecimento das regras de Basileia. Uma delas foi justamente a ideia de reduzir o custo das crises bancárias para o contribuinte. Uma parte desse processo é a resolução. No Brasil, falta essa perna. O projeto está muito bem estruturado, foi amplamente discutido, mas não foi para o Congresso por falta de oportunidade política.

Valor: O que falta para aperfeiçoar mais o sistema financeiro?

Loyola: No geral, a nossa regulação bancária está em linha com o que existe no mundo. Talvez, o que mais falte seja a lei de resolução, do ponto de vista estrutural. Vejo evolução em outras áreas também. Há uma coordenação muito maior entre Banco Central e CVM, porque hoje o crédito flui do balanço dos bancos para o mercado de capitais. É claro que no Brasil tivemos nos últimos anos eventos de fraudes, mas em todo o mundo isso ocorre. Temos um sistema de pagamentos sólido, uma bolsa muito bem estruturada. Na estabilidade financeira, estamos bem. Precisamos que o crédito seja mais barato.

Valor: Como a situação econômica influencia essa discussão?

Loyola: Durante muito tempo, o Brasil teve três grandes problemas macro, que estavam interligados: inflação muito alta, déficit fiscal grande e fragilidade das contas externas. Era o triângulo das Bermudas. Resolvemos a inflação e as contas externas. Ficamos com um problema no fiscal, que explica ainda uma parte de por que o Brasil ainda tem custo alto. Por isso, o cenário de aprovação da reforma previdenciária é muito bom. Agora, dito isso, tem coisas pequenas. Com a retração do BNDES, praticando taxas mais próximas de mercado, criou-se espaço para o crescimento do mercado de títulos mais de longo prazo. Claro que ajudado pelos juros relativamente baixos, que têm levado os investidores a buscar diversificação para ativos de maior risco. É um processo, você vai aperfeiçoando.

Valor: Há uma discussão sobre a desverticalização da atividade dos bancos em meios de pagamentos. Como o senhor enxerga esse tema?

Loyola: Sou contra, em princípio, intervenções governamentais para determinar qual a estrutura que determinada indústria tem de ter. Mas o governo tem de olhar a conduta dos agentes econômicos e o uso do poder de mercado. Sou sempre mais favorável a um processo de supervisão de conduta do que a uma interferência normativa para dizer como a indústria tem de se organizar. Tem muita gente defendendo desverticalizar, mas olhando mais seus interesses ou de suas empresas do que fazendo uma análise técnica. O Cade é uma instituição muito atuante. O próprio BC tem demonstrado uma preocupação maior com a competição. Sou cético em relação à ideia de que isso vai resolver o problema e beneficiar o consumidor.

Valor: O foco tem de ser a prática anticompetitiva?

Loyola: Têm surgido várias empresas novas na indústria de pagamentos, o que é muito bom. Algumas delas muito eficientes, competitivas e com gente muito competente. Mas alguém pode responder se, daqui a dez anos, o mercado estará como está ou se elas terão incentivos para se juntar? Elas também não sabem.

Valor: A entrada de novas empresas pode reduzir os spreads?

Loyola: Me incomoda quando se quer misturar essa discussão com a questão do spread, como se fosse resolver. Gostaria de ver uma tabela, lado a lado, com o custo do crédito que os bancos dão e o que as fintechs dão, para um mesmo tipo de modalidade, para ver se tem grande diferença de taxa. Vai ser surpresa para mim que haja. Ninguém faz milagre. Você pode dizer que tem uma estrutura com menos custo, que essa firma entrante puxa a taxa para baixo. Pode até ser. Mas será que essa diferença de taxas vai ser suficiente para explicar uma queda no spread bancário? Já testemunhei empresas muito agressivas em redução de taxa de juro que se deram mal porque acabaram errando na precificação. Não estou dizendo que não têm um papel, essas empresas novas, de até desafiar o sistema bancário tradicional. Mas não vão resolver o problema do spread. Os bancos estabelecidos têm custo legado, investiram muito. Têm infraestruturas de TI, interoperabilidade, sobre os quais esses novos entrantes trabalham usando contas, transferências. Quando um novo entrante desse recebe dinheiro de um grande banco de varejo tem a segurança de que alguém fez um trabalho de prevenção à lavagem de dinheiro antes. Então [os bancos] carregam esse custo e as entrantes não. Agora, o mercado vai decidir quem vai ganhar a briga. O que o BC pode fazer é apoiar.

Valor: A mudança na lei que permite negócios com partes relacionadas traz mais risco ao sistema? Por que liberar isso agora?

Loyola: Frequentemente se observava que os bancos faziam empréstimo fraudulento para seus acionistas. Esses acionistas, tomadores do crédito, não pagavam, o banco quebrava e os depositantes ficavam a ver navios. Tem história no mundo inteiro com essa situação. Então, historicamente, a regulação bancária colocou sob um holofote muito grande as operações de crédito com partes relacionadas. Em alguns países, isso levou a uma proibição total. Em outros, a alguns limites. O Brasil optou por uma solução radical, criminalizou o empréstimo para partes relacionadas. Aí tinha situações assim: se você é do Banco do Brasil, não pode ter cartão de crédito ou crédito imobiliário do BB, tem de ter da Caixa. Estávamos num exagero. A mudança atual impõe uma responsabilidade adicional para os bancos, que vão ter de estabelecer políticas e regras para empréstimos com partes relacionadas. O BC baixou uma circular bastante restritiva, não vejo isso aumentando o risco do sistema. Vi na vida de BC muita troca de chumbo. Banco A empresta para os controladores do banco B; banco B empresta para o controlador do banco A. Você perdia, inclusive, a transparência.

Valor: Nesse caso e em outros, o BC está exigindo mais autorregulação dos bancos. É uma tendência?

Loyola: Mostra um grau de maturidade institucional maior. E evidentemente é uma avenida de duas mãos, porque exige um sistema bancário com um grau de governança muito maior. A futura norma de prevenção à lavagem de dinheiro, por exemplo, é tipicamente isso. Joga a responsabilidade para os bancos de classificar seus clientes por risco, inclusive usando instrumentos de 'analytics' e dados, trabalhando em comportamentos não usuais. Essa norma foi muito criticada pela questão dos parentes dos políticos. Mas a abrangência do conceito aumentou. Evidentemente, são coisas que impõem o seguinte: para operar no mercado financeiro, tem de ter uma mínima infraestrutura, precisa ter capital. É inerente ao processo, mas precisa ter.

 

FOLHA

Após decepção com PIB de 2018, economistas preveem expansão de 2,3% em 2019

Economistas ouvidos pelo Banco Central reduziram bruscamente as projeções para o crescimento econômico de 2019.

Entre quinta-feira (28) e sexta-feira (1º), as expectativas colhidas no boletim Focus desaceleraram: a alta de 2,46% esperada para a economia neste ano passou para 2,30%. Uma semana antes, a alta esperada para a economia em 2019 chegava a 2,48%.

Foi a queda de previsão para 2019 mais drástica desde junho do ano passado. Até meados do ano passado, economistas esperavam expansão de 3% para este ano.

As revisões foram deflagradas pela decepção com os números do PIB (Produto Interno Bruto) de 2018, divulgados no dia 28 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No ano passado, a economia cresceu 1,1%, mesmo percentual registrado um ano antes. O desempenho confirmou a retomada econômica mais lenta da história, como matéria da Folha já havia indicado.

No último trimestre do ano passado, a economia cresceu apenas 0,1% em relação ao trimestre anterior, deixando uma herança bastante fraca para este ano. Considerando o desempenho do último trimestre do ano passado, se o PIB não se mexesse neste ano, o crescimento seria de apenas 0,4%.

Esta é uma das razões para os economistas não se mostrarem muito otimistas mesmo com a trajetória da economia no ano que vem.

Segundo o boletim Focus, a alta esperada para o PIB de 2020 é de 2,70%. Até o dia 28, no entanto, as previsões eram de crescimento de 2,80%.

OCDE

Na avaliação de economistas, mesmo que a reforma da Previdência seja aprovada neste ano, é pouco provável que a economia brasileira encontre fôlego para deslanchar em 2019.

Passada a euforia com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL), já há no mercado quem espere crescimento abaixo de 2%.

A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) reduziu as estimativas de crescimento para o Brasil em 0,2 ponto em 2019, a 1,9%, mantendo a projeção de expansão de 2,4% em 2020, informou relatório divulgado nesta quarta-feira (6).

A organização também cortou a projeção de crescimento para a economia global em 2019 e 2020, após reduções em novembro, alertando que as disputas comerciais e a incerteza sobre o Brexit afetarão as empresas e o comércio mundiais.

De acordo com o relatório da OCDE, a perspectiva é que a economia mundial cresça 3,3% em 2019 e 3,4% em 2020.

Essas projeções representam cortes de 0,2 ponto percentual para 2019 e 0,1 ponto para 2020, em comparação com as estimativas da OCDE em novembro.

No Brasil, o Itaú foi uma das primeiras instituições a revisar suas projeções para 2019, de 2,5% para 2%. Entre os menos otimistas, o Banco Fibra revisou a estimativa de crescimento do PIB de 2,5% para 1,7% em 2019, embora tenha mantido a previsão de alta de 3% para 2020.

Com o desempenho fraco do ano passado, a economia brasileira está no mesmo patamar do primeiro semestre de 2012 e 5,1% abaixo do pico alcançado no primeiro trimestre de 2014.

Diante de uma economia mais fraca, já há no mercado financeiro quem não descarte reduções da taxa Selic, hoje em 6,5%, ainda neste ano. Por enquanto, economistas ouvidos pelo Banco Central preveem manutenção do juro básico em 6,5%.

 

OCDE reduz projeção de crescimento do Brasil a menos de 2% em 2019

A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) reduziu as estimativas de crescimento para o Brasil em 0,2 ponto em 2019, a 1,9%, mantendo a projeção de expansão de 2,4% em 2020, informou relatório divulgado nesta quarta (6).

A organização também cortou a projeção de crescimento para a economia global em 2019 e 2020, após reduções em novembro, alertando que as disputas comerciais e a incerteza sobre o Brexit afetarão as empresas e o comércio mundiais.

De acordo com o relatório da OCDE, a perspectiva é que a economia mundial cresça 3,3% em 2019 e 3,4% em 2020.

Essas projeções representam cortes de 0,2 ponto percentual para 2019 e 0,1 ponto para 2020, em comparação com as estimativas da OCDE em novembro.

"Altas incertezas de política econômica, tensões comerciais e mais erosão da confiança empresarial e do consumidor estão contribuindo para a desaceleração", disse a OCDE no relatório.

"Substancial incerteza sobre a política econômica permanece na Europa, incluindo sobre o Brexit. Uma saída desordenada aumentaria os custos para as economias europeias de forma substancial", completou a OCDE.

Para a Alemanha, maior economia da Europa, a OCDE cortou com força a estimativa de crescimento do PIB em 2019 a 0,7%, de 1,6% antes. A organização prevê uma ligeira recuperação para 1,1% em 2020.

 

 

 

 

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