Segunda-feira

VALOR ECONÔMICO

Mercado estima inflação menor para 2018 pela sétima vez seguida

A mediana das projeções dos economistas do mercado para a inflação oficial em 2018 teve a sétima queda seguida, agora de 3,89% para 3,71%, de acordo com a pesquisa semanal Focus, do Banco Central, divulgada nesta segunda-feira com estimativas coletadas até o fim da semana passada.

Para 2019, o ponto-médio das expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) também recuou, de 4,11% para 4,07%, o que representou seu quinto corte semanal consecutivo. Para os próximos 12 meses, a estimativa registrou alta, de 3,73% para 3,77%.

Entre os economistas que mais acertam as previsões, os chamados Top 5, de médio prazo, a mediana para a inflação oficial também recuou em 2018, de 3,91% para 3,66%, mas subiu de 3,96% para 4,20% em 2019. O IPCA de novembro registrou deflação de 0,21%, após subir 0,45% em outubro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sexta-feira. Trata-se da maior deflação para o mês desde o Plano Real, de 1994.

O resultado negativo foi maior do que as expectativas mais baixas de 37 consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data, que iam de -0,17% a -0,04%, resultando numa média de -0,10%. Faltando um mês para o fechamento do ano, o IPCA acumula alta de 3,59% em 2018. O índice caminha para ficar abaixo do centro da meta de inflação do governo, de 4,5% neste ano — o patamar tem uma margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

 

Nova equipe econômica aponta para continuidade

A manutenção de novos nomes da atual equipe econômica, confirmada no sábado pelo novo ministro da Economia, Paulo Guedes, é um sinal forte de continuidade da linha que vem sendo seguida pelo governo de Michel Temer. Guedes já havia anunciado a permanência de Mansueto Almeida na Secretaria do Tesouro e agora trouxe outra leva de técnicos que já vinham atuando na administração federal. Ainda assim, a nomeação do economista Marcelo Guaranys para a secretariaexecutiva do ministério pode ser considerada uma surpresa.

Atualmente na Casa Civil, ele já foi presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Guaranys é um grande conhecedor da máquina pública e foi colocado em um posto que exigirá uma intensa interlocução com as outras áreas do governo. Ele é chamado nos bastidores do governo como o "Dyogo Oliveira" do momento, em uma referência ao perfil do atual presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que pela capacidade técnica acaba atravessando governos das mais variadas linhas.

A presidência do BNDES, que será ocupada por Joaquim Levy, era a primeira opção do economista Carlos da Costa, escolhido para a Secretaria-Geral de Produtividade e Competitividade. No novo governo, Costa deverá ter um papel importante de interlocução com o setor privado. Na Secretaria-Geral da Fazenda, o engenheiro Walderi Rodrigues terá uma função importante na elaboração de medidas, função na qual terá como secretário-adjunto o atual ministro do Planejamento, Esteves Colnago.

 

Inflação baixa reforça aposta em Selic estável por mais tempo

O cenário de inflação segue trazendo surpresas positivas, o que abre caminho de estabilidade para a taxa básica de juros ainda por alguns meses, talvez até por todo o ano de 2019. O resultado do IPCA de novembro, divulgado na sexta-feira, reforçou essa aposta e levou alguns economistas a postergarem suas expectativas na retomada de um aperto monetário. Isso mesmo com as incertezas sobre o desempenho do novo governo e com a evolução do cenário internacional.

Todos os 33 economistas ouvidos pelo Valor esperam que o Copom (Comitê de Política Monetária) mantenha a taxa Selic inalterada em 6,5% na reunião que acontece nesta semana, nível em que está desde março deste ano. Este já é o período de estabilidade de juro mais longo desde 2015, quando a taxa permaneceu estável em 14,25% por 14 meses consecutivos. Na ocasião, o que se sucedeu a esse período de juro inalterado foi um ciclo de alívio monetário, que levou a taxa para o nível atual, de 6,5%, que é a mínima histórica.

A maioria dos entrevistados - 12 economistas - espera que o juro volte a subir em meados do próximo ano e até atingir a taxa de 8% em dezembro. Mas há um grupo também relevante, de oito economistas, prevendo que a taxa Selic só será alterada em 2020 e, portanto, terminará o ano que vem nos atuais 6,5%. A inflação ainda baixa e as projeções alinhadas à meta dos próximos anos justificam esses cenários ainda tranquilos para a política monetária. Isso, num ano em que a alta do dólar, que já acumula 17% no ano, chegou a acender uma luz amarela.

O fortalecimento da moeda americana no exterior, a diminuição do diferencial do juro local em relação ao dos Estados Unidos e as incertezas sobre o rumo das reformas estruturais levaram o câmbio a um novo patamar, a ponto de colocar em discussão, durante este ano, se o BC não seria forçado a antecipar um aperto monetário.

O IPCA de novembro, mostrando deflação de 0,25%, mais baixo do que o previsto pelo mercado, não apenas afastou esse risco como pode tornar mais distante a necessidade de elevação do juro básico, na visão de alguns especialistas. É o caso do Bradesco, que mudou sua projeção para a Selic no fim do próximo ano de 8% para 7,25%.

Em relatório assinado pelo economista-chefe do banco, Fernando Honorato, a lenta recuperação da atividade e o cenário de inflação contida no Brasil favorecem os juros baixos no país. "Até o momento, os dados correntes de atividade ainda não mostraram uma melhora mais intensa.

O crescimento tem se espalhado, mas o ritmo ainda permanece gradual. O lado 'positivo' dessa lenta retomada é que a ociosidade se mantém elevada", afirma o Bradesco. A inflação sob controle é, talvez, o principal legado deixado pelo governo Temer. E, para analistas, a escolha do novo nome para o Banco Central - o economista Roberto Campos Neto - reforça a expectativa de continuidade da política bem-sucedida de Ilan Goldfajn. Mas há muitos riscos no horizonte, no exterior e, principalmente, na cena local.

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, observa que o risco doméstico reside na incerteza sobre a capacidade de o futuro governo apresentar seus planos de modo a conciliar as dificuldades de curto prazo na economia e na política. "Alguns meses de trégua vigilante vão se passar até que o patamar possível de confiança se estabeleça.

Trabalhamos com um nível de tensão que mantém o real perdendo valor ao longo do ano, mas sem que haja pressão sobre as expectativas de inflação", afirma Gonçalves, que espera que taxa de juro encerre 2019 em 7,5%. "Se a reforma da Previdência não avançar no 1º semestre, acreditamos que o mercado reagirá bem negativamente e isso pode impactar bastante o câmbio e as expectativas", afirma Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos.

Já olhando para o exterior, Solange diz que uma desaceleração mais forte de China ou um aumento da aversão ao risco produzida pelas tensões comerciais podem levar a uma depreciação cambial maior e ameaçar as expectativas ancoradas. "Confirmada a retomada da economia do Brasil, o cenário de juros perde pressão, mas fatores externos devem ser acompanhados com lupa, pois podem contaminar a confiança e os indicadores de atividades", afirma Pablo Spyer, da Mirae Asset.

Os pontos de atenção, ressalta, são a postura do Federal Reserve sobre os juros americanos, o risco de retomada da guerra comercial, desaceleração da economia mundial e desordem nas economias da zona do euro.

 

ESTADÃO

‘Depois da lua de mel, vem a realidade’

Aos 82 anos, o guru dos mercados emergentes Mark Mobius está em uma nova empreitada. Após se aposentar da empresa de investimentos Franklin Templeton – na qual ficou mais de 30 anos e que o tornou conhecido mundialmente --, lançou o Mobius Capital Partners, que terá fundos de investimentos destinados a empresas de médio porte de países emergentes. Apoiador das medidas de Donald Trump, Mobius se mostra entusiasmado com a Lava Jato e com o futuro governo de Jair Bolsonaro, apesar de apontar que a lua de mel entre investidores e o presidente eleito pode acabar em seis meses, quando aparecerem dificuldades para aprovar reformas no Congresso. O megainvestidor esteve no Brasil na última semana para reuniões com o BTG, que distribuirá seu fundo no País, e conversou com o Estado. Disse que a guerra comercial entre China e EUA será longa, e que o Brasil poderá se beneficiar disso. Leia os principais trechos da entrevista:

Há uns meses, o sr. disse que os investidores viriam ao Brasil quando as incertezas políticas acabassem. Elas acabaram?

Agora há mais certezas. Pelo menos é a impressão no exterior. Os investidores sabem que Bolsonaro foi eleito e que ele tem uma agenda favorável aos negócios. Haverá uma lua de mel e depois a realidade se estabelecerá. Talvez, em seis meses, as pessoas digam que tem um Congresso contra ele para fazer as reformas. Mas a maioria dos investidores dirá: ‘o progresso que ele fará será suficiente para mover a economia’.

Os investidores vão esperar definições mais claras para vir ao Brasil?

Não. O mercado acionário no Brasil já subiu uns 30%. Os investidores perceberam e disseram: ‘melhor entrar lá, antes que suba mais’. Isso está acontecendo agora. Os números em janeiro vão mostrar isso.

O País passou por uma de suas piores crises nos últimos anos. O sr. vê uma recuperação?

Definitivamente. Olhe a Petrobrás e o que ela tinha no passado para reformar, estamos falando de bilhões de dólares de economia para o governo. Esse é um exemplo. Se Bolsonaro for capaz de atacar a corrupção, o que já vem acontecendo, será um grande impulso para a economia.

Há outros problemas no País além da corrupção, como desemprego e falta de investimento.

Bolsonaro percebeu que primeiro tem de olhar para o Orçamento, reduzir os custos do governo. Quando isso acontecer, a confiança na moeda vai aumentar, e isso é positivo. Outra coisa é a reforma trabalhista. Isso também vai ser muito bom para os negócios, porque significa liberalizar o mercado. As companhias vão responder a isso investindo mais.

O sr. já comentou que seu fundo vai investir em empresas brasileiras. Que empresas e setor está olhando?

Já investimos em uma do varejo. Estamos olhando uma empresa de internet e outra de manufatura.

Como estão os preços das empresas brasileiras?

Elas estão muito baratas. Não só as brasileiras, a maiorias das de mercados emergentes.

Muitas dessas empresas estão baratas porque a moeda de seus países desvalorizou por causa de crises financeiras. Essas crises ficaram no passado?

Acabou. Vamos pegar a Argentina. (O presidente Mauricio) Macri está tentado fazer reformas. Eles tiveram de pedir ajuda ao FMI. Quando o FMI vem, ele força o País a mudar, a ter o orçamento em ordem. Esse é o momento para investir. Quando as coisas realmente parecem ruins, é preciso olhar o que virá: qual a intenção do governo? No Brasil, teve a Lava Jato, pessoas foram para a cadeia por corrupção. Esse é o momento para investir no País.

Quando Donald Trump anunciou uma trégua na guerra comercial, o sr. comentou que esse enfrentamento não acabou. Pode haver um acirramento?

Os americanos perceberam que (a guerra) não é apenas sobre comércio, é sobre transferência de tecnologia, é sobre coisas que são injustas do ponto de vista americano. Acho que isso vai durar bastante.

O sr. disse que o Brasil pode sair ganhando, mas uma guerra comercial pode desacelerar a economia global, reduzir preços de commodities e afetar o País negativamente...

Depende da relação do Brasil com os EUA. Muito da produção chinesa pode vir para o Brasil e, então, ser exportada para os EUA. Há ótimas empresas aqui e está mais caro produzir na China. Vocês terão boas oportunidades.

Trump deu o pontapé inicial nessa guerra. Como analisa o governo dele?

Ele está fazendo um bom trabalho. É preciso escutar o que ele diz. Ele diz que gostaria de ter livre comércio total, mas a relação (dos EUA) com a China é loucura. O mesmo com a Europa. Você quer exportar algodão americano para a Europa, tem 25% de taxas. O que é isso? A beleza de Trump é que ele está disposto a falar alto: ‘vamos sentar e mudar essas coisas agora’.

Há quem compare Bolsonaro a Trump. O Brasil pode brigar com países como China mesmo sem ter a importância dos EUA?

O Brasil é importante. Vocês são grandes exportadores de matérias-primas. Bolsonaro pode fazer muito.

 

‘O Brasil é uma das melhores apostas para 2019’, diz ex-diretor do BC

As condições econômicas para o Brasil voltar a crescer são as melhores desde a redemocratização do País, na análise do ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC) e sócio da Ibiuna Investimentos, Mário Torós. A decolagem, porém, vai depender da capacidade política do presidente eleito, Jair Bolsonaro, para resolver o problema fiscal. Caso consiga, o País poderá chegar ao segundo semestre de 2019 crescendo a uma taxa anualizada de 3,5% ou 4%, diz o economista. Segundo ele, Bolsonaro tem até o fim do ano para aprovar a reforma da Previdência. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Estado.

Como será o Brasil que Bolsonaro vai receber?

Sempre que se analisa o Brasil, é preciso olhar o cenário doméstico e internacional. Talvez Bolsonaro esteja assumindo um governo com a melhor situação econômica, do ponto de vista de fatores cíclicos, do novo período democrático. A taxa de juros está baixa, a inflação baixa, o hiato do produto (ociosidade que permite crescimento econômico) bastante grande. Claro que tudo isso foi à custa de desemprego, mas a situação de balanço de pagamentos é tranquila e a conta corrente, equilibrada. Mas há um problema estrutural enorme: o fiscal. Se esse nó for desatado, o País pode entrar em um ciclo de crescimento sustentável.

E o que tem de ser feito?

São coisas sabidas: reforma da Previdência, simplificação tributária, fim do abono salarial. Acho que as já medidas foram desenhadas pela equipe econômica, que é excelente. A questão que remanesce é se vai haver capacidade política. O governo Temer não teve. Conseguiu só no primeiro ano.

O sr. está confiante nessa capacidade política?

Ainda é cedo para afirmar. As medidas estão na direção correta. Do ponto de vista de mercado, os preços (na bolsa) mostram isso: estão atrativos e há prêmios grandes que refletem dúvidas.

A economia decola em 2019?

As indicações mostram que uma alta de 2,5% no PIB é bastante factível. A questão é se o governo consegue desatar o nó fiscal. Se consegue deixar claro no primeiro semestre que a questão será resolvida, a economia pode acelerar. Podemos chegar nos últimos trimestres crescendo a uma taxa de 3,5% ou 4% ao ano.

Com esse crescimento, será possível manter a inflação e os juros baixos?

Acho que o BC fez um trabalho extraordinário de ancorar as expectativas de inflação. Mas ainda é cedo para dizer se a taxa de juros permanecerá estável.

Que avaliação o sr. faz do novo presidente do BC, Roberto Campos Neto?

Trabalhei com ele muito tempo no Santander. A escolha não podia ser melhor. Ele é tranquilo, sabe ouvir e é ponderado ao tomar decisões.

Há um debate em torno da autonomia do BC. O que mudaria, na prática, com a medida?

Há estudos que tentam quantificar isso: quanto se consegue reduzir na taxa de juros diminuindo a incerteza (com a autonomia do BC). Do ponto de vista institucional, essa passagem dará para os agentes econômicos confiança, uma mensagem de que se está indo na linha de praticamente todos os países centrais e, portanto, investir aqui faz sentido. Recentemente, Donald Trump disse estar infeliz com o (presidente do Fed, o Banco Central americano) Jerome Powell. O mercado ignorou isso (por causa da autonomia do banco). Isso poderia custar milhões. Imagina se um presidente do Brasil diz: ‘olha, não sei, não, esse presidente do BC’.

Como gestor, que apostas o sr. está fazendo?

Depois de grande exuberância (na economia global) em 2016 e 2017, começou um período de aperto de liquidez. Esse aperto vai ter um impacto negativo nos mercado emergentes em geral e é base para a economia brasileira no próximo ano. Não dá para ser tão vagaroso na reforma com esse cenário. Dito isso, nos mercados emergentes, o Brasil talvez seja uma das melhores apostas. O México, por exemplo, tem um prêmio maior que o do Brasil, mas o Brasil tem mais upside (espaço para valorização). Gosto da curva de juros do Brasil e da Bolsa em geral, principalmente porque vai ter desregulamentação das empresas, privatização de braços delas e melhora da gestão pública.

O sr. falou que há muitas oportunidades para o Brasil. O que pode ameaçá-las?

Que a economia americana cresça mais aceleradamente, pressione a inflação e o Fed tenha de aumentar os juros mais que o previsto. Esse risco era alto, mas diminuiu um pouco. Outro risco é uma desaceleração mais forte nas economias centrais que leve a crer que o Fed subiu muito os juros. Esse é um cenário menos provável, mas faria as commodities caírem. Do ponto de vista doméstico, é não conseguir transformar um diagnóstico correto do que tem de ser feito na economia brasileira em ações.

Analistas apontam a reforma da Previdência como prioridade. Qual o prazo para ser aprovada sem prejudicar as expectativas?

Acho que tem o ano que vem. Mas, se durante o ano, o governo consegue aprovar outras coisas – independência do BC, cessão onerosa – e mostra que a proposta da Previdência é exequível, os dividendos podem ser coletados ao longo do ano.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Diante da crise, é preciso celebrar baixo crescimento da pobreza, diz economista

Diante da severidade da recessão dos últimos anos, o aumento da pobreza ocorrido no Brasil em 2017 foi, surpreendentemente, pequeno, um fato que precisa ser celebrado.

A opinião é do pesquisador Ricardo Paes de Barros, conhecido como PB, que se tornou referência por seus estudos sobre desigualdade de renda e educação no país.

“Diante de uma crise dessa magnitude, você ter menos de um ponto percentual de aumento da pobreza é algo para um país celebrar”, disse ele, que é economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper.

A análise se referia a dados divulgados na semana passada pelo IBGE(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo o órgão, o contingente de pobres no país aumentou de 25,7% para 26,5% da população entre 2016 e 2017. No mesmo período, a extrema pobreza, que afetava 6,6% dos brasileiros, passou a atingir 7,4% do total.

Pela linha definida pelo Banco Mundial —métrica adotada pelo IBGE—, são classificados como pobres os que vivem com até US$ 5,50 (o equivalente a R$ 406 por mês, segundo a cotação do período analisado) por dia. Os de extrema pobreza têm renda diária inferior a US$ 1,90 —R$ 140 por mês.

“Foi um pequeno aumento, mas muito concentrado naqueles que são muito pobres.”

Para PB, se, por um lado, os dados revelam que o impacto da crise sobre os extremamente pobres foi dramático, por outro, indicam que o progresso anterior do país no combate à pobreza tem sido resiliente.

Ambos os resultados têm de ser mais bem estudados e compreendidos, diz. Mas, olhando para a frente, PB ressalta que o Brasil chegou ao limite da possibilidade do combate à pobreza apenas com política social, sem uma economia saudável —que gere emprego para todos e inclua os extremamente pobres— por trás.

“Então, economia, por favor, cresça aí!”

O que o aumento da pobreza revelado pelo IBGE representa em termos de retrocesso para o país? 

Não olhei os dados com cuidado. Mas isso já era, mais ou menos, conhecido. Uma das preocupações é se isso reverte os ganhos do passado. Precisamos ter em mente que a redução que fizemos na extrema pobreza foi astronômica. A pobreza em 2014 era menos de um terço do nível de 2003, uma queda gigantesca.

Então, o aumento agora, menor que um ponto percentual, não chega a 10% do que a gente reduziu de pobreza nos últimos tempos. Ele é bem problemático, mas de forma nenhuma representa reversão.

Obviamente, a gente gostaria de ver a extrema pobreza continuando a cair e espera que ela volte a cair, mas, em certo sentido, dada a magnitude da recessão e do desequilíbrio fiscal do país, ela subir menos de um ponto percentual mostra uma certa resiliência, porque ela tinha caído 10 ou 11 pontos percentuais, dependendo de como se mede.

Agora, 2017 foi muito ruim para os muito pobres. Esse período foi dramático para esse grupo, cuja renda caiu mais de 10% em termos reais. Ou seja, foi um pequeno aumento da pobreza, mas muito concentrado nos que são muito pobres.

Isso não seria um retrocesso? 

Para um país que tinha mais de 10% da população na extrema pobreza, eu não chamaria isso de reversão de maneira nenhuma. A grande conquista da nossa redução da extrema pobreza no passado foi que, embora em parte ela tenha sido explicada pelo Bolsa Família, em larga medida, se deu por inclusão produtiva, pelo trabalho das pessoas.

Mas esse processo, que foi muito legal, não conseguiu chegar, em toda a era Lula [Luiz Inácio Lula da Silva] e Dilma [Rousseff], aos 5% mais pobres. E eles foram os que mais sofreram agora.

O IBGE atribui o aumento da pobreza ao maior desemprego. Se os extremamente pobres não tinham sido incluídos produtivamente, por que foram os mais afetados? Faltou proteção social? 

Acho um pouco inesperado porque eu imaginaria que esses 5% que, tradicionalmente, estão mais desconectados do setor formal sofreriam menos com uma crise que atingiu tantos setores formais da economia.

É curioso que, no meio da distribuição, as pessoas se mantiveram mais ou menos com a mesma renda.

Já entre os 5%, a renda cai bastante. Precisaríamos de um estudo mais detalhado porque na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio, do IBGE) os 5% mais pobres de 2016 não são necessariamente os 5% mais pobres de 2017.

Se um monte de gente do mercado formal fica desempregada e com renda muito baixa, eles passam a integrar os 5% mais pobres. Pode ter ocorrido uma mexida em quem são os 5% mais pobres do Brasil.

Em termos relativos, esses desempregados podem ter se tornado mais pobres do que os do grupo que vive do Bolsa Família? 

Exatamente. Pode ter aparecido um novo extremamente pobre no Brasil. Se bem que os antigos 5% mais pobres não podem ter melhorado tanto de vida, e, portanto, a pobreza teria de ter subido muito mais. Precisamos olhar com mais cuidado os dados. É uma especulação.

É relativamente surpreende que o aumento da pobreza tenha sido tão pouco porque a crise no mercado de trabalho foi muito maior. Aí entra a questão da resiliência.

E o que explica essa resiliência? O Bolsa Família? 

O fato de você ter uma rede de proteção como o Bolsa Família ajuda. Mas, olhando para os dados, ninguém diria que o Brasil passou pela recessão que passou. Dado o aumento na taxa de desemprego, era de esperar que a pobreza aumentasse muito mais. O fato de ter aumentado muito pouco é surpreendente.

Com outra metodologia de mensuração o resultado poderia ser diferente? 

Não, o dado é esse. Um relatório do Banco Mundial já antecipava um aumento pequeno da pobreza, e eu tinha pensado que não era possível. Mas acabou sendo mesmo.

Eu celebraria esse aumento da pobreza. Só isso para uma recessão desse tamanho? Agora, por que foi só isso com tanto desemprego? Como mais desempregados não entraram na extrema pobreza, como eles não entraram nem na pobreza?

Talvez porque esse desemprego esteja muito concentrado entre os jovens, e não tanto entre os chefes de família. Precisamos de um estudo mais profundo para entender.

Então, a boa notícia é que não afetou tanto a extrema pobreza. A má notícia é que, entre os pobres, pegou o muito, muito pobre.

Olhando para a frente, o que o Brasil deveria estar pensando em termos de política pública de combate à pobreza? 

Em primeiro lugar, diante de uma crise dessa magnitude, você ter menos de um ponto percentual de aumento da pobreza é algo para um país celebrar. Nenhum país do mundo consegue isso.

Precisamos entender como conseguimos isso. Ainda nem conseguimos entender direito como fizemos a extrema pobreza cair tanto, porque não foi simplesmente o Bolsa Família.

A outra coisa é que, para a gente andar para a frente agora, só com uma economia saudável. Acho que todo o mundo que estuda pobreza está convencido de que chegamos mais ou menos ao limite de fazer política social remendando em cima de uma economia frágil, num país que não cresce.

É claro que dá para fazer muita coisa ainda, mas, vamos combinar, estamos chegando ao limite. Então, economia, por favor, cresça aí!

O sonho da política social, o sonho de Osmar Terra [ex-ministro de Michel Temer, que voltará a comandar a área social na gestão de Jair Bolsonaro] deve ser que os economistas façam nossa economia andar para a frente.

Quando a economia deslanchar, não poderemos fazer como no passado. Temos de ter política social, que vai garantir que os mais pobres se enganchem no mercado produtivo. Isso não é automático, requer uma política social de inclusão produtiva que nosso ministro Osmar Terra tentou fazer na última administração dele pós-Dilma, mas que ainda está devendo um pouco.

Ele fez algo maravilhoso com o Criança Feliz [focado na primeira infância], aumentou o valor real do Bolsa Família, acho que melhorou bastante sua fiscalização e acabou com a fila do programa.

Foi uma boa decisão chamá-lo de volta? 

Sem dúvida, foi uma excelente escolha. Mas a questão da inclusão produtiva no Brasil, para mim, é um grande mistério porque a presidente Dilma, ao lado da ex-ministra Tereza Campello[Desenvolvimento Social e Combate à Fome], desenvolveu um programa fantástico de inclusão produtiva, que é o Brasil sem Miséria. Eu estava no governo na época e dei uns palpites, deveria ter participado mais. Mas, até onde vi, a implementação dele foi muito sólida, feita por equipe supercompetente.

E acho que esse programa foi descontinuado ainda na gestão Dilma e eu não entendo o porquê. Eu me lembro do Osmar Terra chegando, perguntando pelo programa e descobrindo que ele não existia mais.

 Acho que ele tinha um erro. Era muito bem integrado em Brasília. Mas um programa de inclusão produtiva precisa ser muito bem integrado lá na ponta. Se você não der ao agricultor familiar assistência técnica, crédito, apoio à comercialização, ele não vai sair da pobreza.

Acho que precisamos fazer de novo um Brasil sem Miséria com um atendimento lá na ponta mais integrado, mais customizado, parecido com o Chile Solidário.

A assistente social precisa ir a cada família e conversar para entender como ela pode ser incluída produtivamente. Se for um empreendedor, é preciso uma política. Se for um pequeno produtor, outra política.

O almirante Bento Costa Lima de Albuquerque Junior, futuro ministro de Minas e Energia de Jair Bolsonaro, é seu irmão? 

Sim. Ele é filho da segunda esposa do meu pai. O pai dele morreu quando ele tinha uns dois anos e a mãe dele se casou com meu pai quando ele tinha uns quatro anos. Ele é quatro anos mais novo que eu. Meu pai botava nós dois de castigo e me colocava para dar aula de física e de energia para ele nas férias [risos].

 

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