Segunda-feira

VALOR ECONÔMICO

Projeção para inflação em 2018 cai para 4,40%, aponta Focus

A mediana das projeções dos economistas do mercado para a inflação oficial em 2018 voltou a cair, agora de 4,43% para 4,40%, mostra a pesquisa semanal Focus, do Banco Central (BC), divulgada nesta segunda-feira. Para 2019, o ponto-médio das expectativas para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) manteve-se em 4,22%. Para os próximos 12 meses, a estimativa saiu de 3,93% para 3,91% de aumento.

Entre os economistas que mais acertam as previsões, os chamados Top 5, de médio prazo, a mediana para a inflação oficial de 2018 passou de 4,50% para 4,28% e de 3,97% para 3,82% em 2019. Câmbio A mediana das projeções para o dólar no fim de 2018 entre os economistas Top 5, de médio prazo, voltou a cair, agora de R$ 3,80 para R$ 3,73 no fim de 2018.

No caso do próximo ano, no entanto, foi elevada de R$ 3,59 para R$ 3,75 no de 2019 nesse mesmo seleto grupo. Entre os economistas do mercado em geral, o ponto-médio das apostas caiu de R$ 3,71 para R$ 3,70 no encerramento de 2018 e permaneceu em R$ 3,80 no de 2019. Selic As medianas das estimativas para a taxa básica de juros não sofreram alterações entre os economistas em geral: ficaram em 6,50% no fim deste ano (pela 24ª semana consecutiva) e 8% no próximo calendário, patamar em que já está há 43 semanas agora.

Entre os Top 5 de médio prazo, o ponto-médio para a Selic no encerramento de 2018 ficou em 6,50% pela 25ª semana seguida e caiu dos 7,88% da semana passada para 7,50% em 2019. PIB A mediana das projeções do mercado para o crescimento da economia em 2018 seguiu em 1,36%.

As estimativas para a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano tiveram interrompida na semana passada a trajetória de queda quase ininterrupta que vinha desde o fim de fevereiro, quando a mediana do mercado atingiu um auge de 2,92% no Sistema de Expectativas de Mercado do Banco Central, que dá origem ao boletim Focus. Para 2019, o ponto-médio das estimativas também ficou estacionado, em 2,50%. No fim deste mês, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga as Contas Nacionais Trimestrais relativas ao terceiro trimestre do ano, com a variação do PIB no período.

No segundo trimestre, a economia brasileira cresceu 0,2% em comparação aos três primeiros meses do ano, acima da média apurada pelo Valor Data junto a 22 consultorias e instituições financeiras, que apontava para alta de 0,1%. O dado do primeiro trimestre foi revisado de um crescimento de 0,4% para um modesto 0,1%.

O Banco Central reduziu de 1,6% para 1,4% a projeção para o avanço do PIB em 2018 em seu Relatório de Inflação (RI) do terceiro trimestre, divulgado no fim de setembro. A autoridade monetária também informou que estima que a economia brasileira cresça 2,4% em 2019, em sua primeira estimativa oficial para o próximo ano.

 

Alívio pós-eleição ajuda a atividade, afirma Mesquita

A queda do dólar e a redução dos níveis de incerteza provocadas pelo resultado das eleições presidenciais, com a vitória de Jair Bolsonaro (PSL), já estão tendo efeitos concretos para estimular a economia e poderão adiar o processo de alta dos juros básicos pelo Banco Central, afirma o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita.

Em entrevista ao Valor, o ex-diretor de Política Econômica do BC diz que a queda dos juros negociados em mercado e a alta da Bolsa representam um alívio nas condições financeiras que devem chegar à atividade econômica. Segundo ele, a eleição, em si, não influencia diretamente as decisões do Banco Central. Mas empurrou o dólar para baixo, melhorando as projeções de inflação e reduzindo os riscos no cenário. "Vai haver uma discussão sobre estabilidade da taxa de juros talvez durante todo o próximo ano", afirma ele.

Na entrevista que segue, ele afirma que são boas as chances de aprovação das reformas por um novo governo que começa com aprovação popular. Mas pondera que o cenário internacional ficou menos favorável.

Valor: O Itaú Unibanco reviu as suas projeções para a economia depois das eleições?

Mario Mesquita: Fazemos as revisões nos relatórios mensais, a próxima edição sairá no fim da semana. Os últimos números da economia global também não são tão favoráveis. Aumentaram os riscos de desaceleração na China, a economia europeia mostrou sinais de perda de dinamismo. Tivemos a notícia de estímulo fiscal na China. Se as autoridades lá estão preocupadas, é porque existe esse risco.

Valor: O que muda no cenário no Brasil depois da eleição?

Mesquita: Algumas coisas não mudam, como a necessidade de fazer o ajuste fiscal, que começa pela reforma da Previdência. A prioridade, que tem sido sinalizada pela equipe de transição do novo governo, é completar esse processo. Algumas preocupações que existiam no mercado durante a eleição sobre o risco de rever reformas do governo Temer tendem a se dirimir.

Valor: Qual é a real perspectiva de resolver o imenso problema fiscal no governo Bolsonaro?

Mesquita: Não é um problema que vai ser resolvido no curtíssimo prazo. Tem primeiro que zerar o déficit, depois caminhar para o superávit primário na faixa de 2% a 2,5% do PIB [Produto Interno Bruto]. Isso não vai acontecer nos próximos dois anos. Provavelmente, é algo mais para o fim do mandato presidencial. No entanto, zerar o primário em 2019 é algo factível, ainda que baseado em eventos não recorrentes, se avançar o leilão dos excedentes da cessão onerosa, se tiver leilão de licença de telefonia 5G. Zerar o déficit nessas condições é um avanço, não suficiente, mas importante.

Valor: Qual é a perspectiva de o novo governo formar uma base parlamentar para aprovar reformas?

Mesquita: O futuro governo, aparentemente, vai tentar um "reset" [reiniciar em novas bases] das relações ente os poderes Executivo e Legislativo. É possível que caminhe para um novo tipo de relacionamento, menos calcado em nomeações, haja vista a redução provável do número de ministérios. Mas não considero que seja impossível conseguir aprovar. O governo se iniciará provavelmente com uma dose de aprovação popular.

Valor: Qual é a paciência que os mercados terão para aguardar a implementação do ajuste?

Mesquita: Dado o grau de entendimento relativamente disseminado na sociedade sobre a gravidade do problema da Previdência Social e o amparo do governo no mandato popular, é provável que se consiga aprovar uma reforma da Previdência que vai na linha da proposta do atual governo, que gera uma economia de 1,5% do PIB em 2025, talvez mais. Se o governo conseguir aprovar a Previdência e os números fiscais forem melhorando, o sentimento do investidor em relação ao Brasil tende a ser mais favorável.

Valor: Como a eleição do Bolsonaro pode influenciar as decisões do Comitê de Política Monetária [Copom] do Banco Central?

Mesquita: A eleição em si, diretamente, não influencia o Copom. O Copom filtra tudo o que acontece nas suas projeções e na sua avaliação do balanço de riscos. Por exemplo, no caso atual, a taxa de câmbio vinha gerando pressões inflacionárias. O Copom tinha sinalizado que, caso o câmbio se estabilizasse em um patamar que gerasse pressões inflacionárias ou riscos de pressões inflacionárias importantes, ele poderia ajustar a Selic, ou começar a reduzir os estímulos que está injetando na economia. Com a apreciação cambial de 10% que houve entre o Copom de setembro e o Copom mais recente, já mudou um pouco a linguagem. As projeções do BC no cenário de referência ficaram bem alinhadas com a trajetória das metas até 2020, de modo que parece que não há necessidade de se elevar a taxa de juros muito provavelmente até o final do primeiro semestre de 2019, ou talvez até mais adiante no ano que vem.

Valor: Até quando?

Mesquita: Vai haver uma discussão sobre estabilidade da taxa de juros talvez durante todo o próximo ano. Obviamente, por trás disso está uma hipótese de que o contexto global não mude muito. Na medida em que o novo governo consiga de fato implementar reformas, que o risco país caia e o câmbio fique bem comportado, essa fonte de pressão inflacionária tende a diminuir. Claro que a atividade econômica se aquecendo gradativamente pode levar a um estreitamento do hiato, que pode gerar pressões inflacionárias. Mas por ora a gente ainda vê uma recuperação bem tímida da economia.

Valor: Como explicar que o BC ainda veja riscos que pendem para mais para o lado negativo?

Mesquita: É natural os banqueiros centrais serem mais cautelosos do que o mercado, mesmo porque o custo de errarem é muito grande para a sociedade. Não me surpreendeu que a avaliação sobre a assimetria do risco não tivesse removida por completo. As chances de aprovar reformas da Previdência aumentaram - poderia ter diminuído, dependendo do resultado eleitoral -, mas a reforma não foi aprovada ainda. Não temos uma equipe de governo completa, que vai ser anunciada nas próximas semanas, não temos a configuração definitiva do Congresso, com presidente da Câmara. São informações importantes para o BC avaliar a probabilidade de aprovação de reformas.

Valor: A eleição do presidente Bolsonaro terá algum efeito em atividade via confiança?

Mesquita: A incerteza acaba levando a uma contração das condições financeiras, seja via elevação de taxa de juros de mercado seja via queda dos preços das ações. Ou ambas ao mesmo tempo. Na medida em que os juros de mercado caem, o preço das ações sobe, isso tende a ter um efeito favorável sobre a atividade econômica.

Valor: Já está acontecendo isso?

Mesquita: Já está acontecendo e tende a influenciar a atividade econômica com alguma defasagem. Mas a gente já observa, desde agosto ou meados de setembro, uma descompressão das condições financeiras. Agora, as condições financeiras locais refletem também as condições financeiras globais. A alta de juros nos Estados Unidos, o que está acontecendo no entorno global, tende a limitar a exuberância dos preços de ativos e uma descompressão mais agressiva das condições financeiras.

Valor: Quando essa melhora das condições financeiras vai chegar na economia real?

Mesquita: Depende do indicador. No caso da Bolsa de Valores, em dólares, em geral antecipa movimentos da produção industrial em um trimestre.

Valor: Qual é sua visão sobre a proposta cogitada pelo futuro governo de reduzir o volume de reservas internacionais?

Mesquita: Houve ponderação, por parte de gente da equipe de transição, sobre o que fazer em um momento de estresse, se venderia spot [venda de dólar no mercado à vista] em vez de fazer operação com swap. Penso que é isso que a equipe do novo governo tem em mente, e não um programa de redução de reservas. De resto, se a gente mantém as reservas constantes em termos nominais, na medida em que o PIB vai crescendo elas vão ficando menos relevantes. Claro que as reservas têm um custo fiscal, mas no nosso arcabouço legal elas estão na competência do Banco Central. Quando surgem essas ideias de fazer operações com reservas para reduzir o custo fiscal, é algo que tem que ser discutido entre o futuro governo e o futuro Banco Central.

 

Joaquim Levy é sondado para presidir o BNDES

O ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy foi sondado para presidir o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Levy comandou a pasta da Fazenda no primeiro ano da segunda gestão de Dilma Rousseff, quando iniciou a redução dos subsídios concedidos nos créditos do BNDES, inchados por cerca de R$ 500 bilhões de empréstimos do Tesouro Nacional para financiar, sobretudo, o PSI (Programa de Sustentação dos Investimentos). Ainda na transição de governo, em 2014, Levy aumentou a TJLP, juros cobrados nos financiamentos do BNDES, e que estavam bem abaixo da taxa Selic, configurando uma conta de subsídios pesada. Em 2015, o BNDES devolveu R$ 30 bilhões ao Tesouro.

Nos anos seguintes, já com Henrique Meirelles na pasta da Fazenda, a devolução foi acelerada e crucial para o cumprimento da regra de ouro da política fiscal, que proíbe que as operações de crédito da União superem as despesas de capital. O BNDES tem, hoje, uma programação para a devolução antecipada dos R$ 250 bilhoes que ainda faltam.

Ao participar na semana passada de um painel no Conselho das Américas, em Washington, Levy, que é diretor financeiro do Banco Mundial, falou dos desafios, em várias frentes, do governo Bolsonaro, tais como reformar a Previdência Social e privatizar estatais — "de maneira profissional, com melhor marco legal". Segundo ele, a arquitetura geral é clara, "sabemos o que se deve fazer" e, para isso, é preciso "vontade política e um pouco de coragem".

Levy salientou, ainda, que o novo governo está aberto aos investimentos privados, mas esses devem ser feitos com transparência para evitar os problemas e escândalos dos últimos anos, quando várias empresas se envolveram em casos de corrupção. "A economia está fraca porque não há investimentos", disse. A expectativa é de que nesta semana sejam definidos os nomes para vários cargos importantes para a politica econômica, a começar pelo Banco Central. O presidente do BC, Ilan Goldfajn, chegou de uma viagem a Israel e decidirá se permanece no cargo.

Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e sócio da Mauá Capital, foi sondado para a presidência do Banco do Brasil, mas não incentivou a equipe de Bolsonaro a concretizar um convite. No Ministério da Fazenda há cargos como o da secretaria do Tesouro Nacional e da secretaria executiva, onde atualmente estão Mansueto de Almeida e Ana Paula Vescovi, que podem ser convidados a permanecer. Até agora o único que foi convidado para ficar foi Waldery Rodrigues, da equipe de Marcos Mendes, na Assessoria Especial do ministro.

 

Indústria propõe criação do Ministério da Produção, Trabalho e Comércio

Dez entidades representantes do setor industrial no país levaram a Onyx Lorenzoni (DEM-RS), futuro ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, a proposta para criação do Ministério da Produção, Trabalho e Comércio, que se fundiria com a atual pasta do Trabalho, apurou o Valor com fontes ligadas à indústria. A iniciativa é uma resposta ao plano de incorporação do Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) ao Ministério da Economia, que será comandado por Paulo Guedes.

Esse superministério nasce com a reunião das pastas da Fazenda e Planejamento. A decisão do novo governo de juntar os três ministérios gerou grande descontentamento entre representantes da indústria, que não veem sentido na extinção do Mdic. "A acusação de que o Mdic apenas serve para conceder subsídios e incentivos às empresas do setor não procede", comentou uma fonte, lembrando que foi a Fazenda quem mais concedeu subvenções nos últimos governos.

Lorenzoni prometeu que dará amanhã uma posição sobre a proposta de criação do Ministério da Produção, Trabalho e Comércio, segundo as fontes. O deputado federal iria se reunir com Jair Bolsonaro (PSL) no feriado para discutir, entre outros assuntos, o pedido apresentado no meio da semana passada pelas associações, em reunião em Brasília.

No documento, as entidades - Abimaq, Abinee, Abicalçados, Abiquim, Abit, Abrinq, Anfavea, AEB (de comércio exterior), Cbic (da construção civil) e Instituto Aço Brasil - sugerem a combinação de produção e trabalho em uma única pasta, em linha com o objetivo do novo governo de redução da estrutura do Estado e da burocracia, e de busca por maior eficiência. Junto com a promessa de análise, porém, o futuro ministro da Casa Civil avisou que Guedes é contra a criação da pasta aos moldes propostos pela indústria.

Um dia antes, o futuro ministro da Economia havia anunciado oficialmente a fusão do Mdic com a Fazenda e o Planejamento. Ao receber o documento de uma página produzido pela indústria, Onyx observou ainda que essa é uma discussão de estratégia de governo. "De qualquer maneira, o próprio presidente eleito disse que não iria atrapalhar a indústria", lembra uma fonte.

Num primeiro encontro com Lorenzoni e Bolsonaro, em 22 de outubro, no Rio de Janeiro, a coalizão de entidades apresentou pontos de uma agenda de crescimento, que passam por ênfase em construção civil e infraestrutura (grandes geradores de empregos), soberania nacional (garantida de conteúdo local), ajuste fiscal e reformas previdenciária e tributária e abertura comercial e crescimento econômico. Além de condições para aumentar as exportações de produtos manufaturados.

Como a geração de empregos se dá na produção de bens e serviços e no comércio, defendem as associações, faria sentido a criação de um Ministério da Produção, Trabalho e Comércio, com consequente aperfeiçoamento da relação entre capital e trabalho. "A junção entre produção e trabalho é uma mudança de paradigma, que busca desburocratizar e aprimorar a relação capital-trabalho, facilitando assim a colaboração entre as partes e promovendo o empreendedorismo, a inovação, a produtividade e a competitividade da economia brasileira", diz um trecho do documento, ao qual o Valor teve acesso.

A defesa é que a indústria responde por 32% da arrecadação de tributos federais, 51% da exportações brasileiras e por 21% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, sendo 11% da indústria de transformação. Além de 20% na geração do emprego formal do Brasil. "Tem de ter reconhecimento de sua representatividade na economia brasileira. É um peso enorme e, por isso, não pode ser tratada sem o devido respeito que merece", observa uma das fontes.

Para a coalizão, o Ministério da Produção, Trabalho e Comércio nasce com a missão de fomentar investimentos, inovação, produtividade, competitividade e a geração de empregos a partir de uma política de estímulo à produção de bens e serviços. O modelo proposto já foi testado no Brasil.

Em 1930, foi uma das primeiras iniciativas do governo implantado em novembro sob a chefia de Getúlio Vargas. No dia 26 daquele mesmo mês foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. O "ministério da Revolução", como foi chamado por Lindolfo Collor, primeiro titular da pasta, surgiu para concretizar o projeto do novo regime de interferir sistematicamente no conflito entre capital e trabalho. Até então, no Brasil, as questões relativas ao mundo do trabalho eram tratadas pelo Ministério da Agricultura, sendo, na realidade, praticamente ignoradas pelo governo.

Ele foi desmembrado em 1961, em lei de 1960, quando foi criado o Ministério da Indústria e Comercio (MIC). E a pasta de Trabalho passou a ser denominada Trabalho e Previdência Social. A vizinha Argentina vive essa experiência, de forma mais ampla, do Ministério de Produção. Criado no governo de Maurício Macri, em dezembro de 2015, a pasta engloba as secretarias de Indústria, Comércio, Trabalho, Previdência e também Agricultura.

Foi bem aceita pelo empresariado, principalmente o ligado à indústria, que carregava lembranças amargas da economista Debora Giorgi, ministra da Indústria durante todo o governo de Cristina Kirchner (2008-2015). Giorgi era temida porque durante a sua gestão exigia das empresas explicações contínuas sobre reajustes de preços.

Na era Macri, representantes do setor produtivo foram chamados para compor a equipe econômica. O primeiro a assumir o Ministério da Produção foi o empresário e engenheiro Francisco Cabrera, que, na época, presidia a Fundação Pensar, uma entidade pública voltada a pesquisar o emprego do futuro.

Em meados deste ano, Cabrera foi substituído por Dante Sica, sócio da Abeceb, uma das consultorias mais conhecidas e atuantes de Buenos Aires. Sica levou para o ministério uma vasta experiência de trabalho junto a empresários de vários setores. Ele é um dos economistas argentinos que mais conhece a economia brasileira. A Abeceb esteve sempre próxima da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

 

Economista vê risco de crise global e sugere ao Brasil acelerar reformas

Durante seu mandato de quatro anos Jair Bolsonaro dificilmente escapará de enfrentar uma nova recessão mundial. A nova crise é uma questão de tempo e poderá ser ainda mais difícil a combater, por causa da exaustão de instrumentos como política monetária e estímulos fiscais e também o menor espaço para cooperação internacional.

A avaliação é do professor Arturo Bris, diretor do Centro de Competitividade Mundial da escola de administração IMD, de Lausanne (Suíça). Ele figura no ranking dos cem acadêmicos de finanças mais lidos do mundo. Existe certo consenso de que a atual expansão global continuará em 2019, com os EUA elevando seu deficit fiscal, a China mantendo flexibilidade na política fiscal e expansão de crédito, e a Europa sustentando certo ritmo de atividade.

A partir de 2020, porém, as condições poderiam começar a deteriorar em direção à crise, seguida por recessão global, na avaliação do economista Nouriel Roubini, que foi um dos primeiros a cravar a deflagração da crise de 2008. Bris já vê sinais de pré-crise. As bolsas tiveram importantes quedas em várias partes do mundo mais de uma vez este ano, com investidores inquietos com a desaceleração do crescimento e efeitos de elevação dos juros nos EUA, por exemplo, sobre emergentes altamente endividados.

 Para Bris, o próximo governo no Brasil deve levar em conta os riscos de nova crise global. Mas sobretudo acelerar reformas para fazer o país sair de sua própria crise de crescimento baixo. Leia a seguir a entrevista:

Valor: Uma nova recessão global é só uma questão de tempo?

Arturo Bris: Sim, venho escrevendo sobre isso há um bom tempo. E no contexto em que estamos agora, de guerra comercial potencial entre EUA e China, ainda mais. A economia mundial mostra sinais de que estamos num período de pré-crise. O Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a prever uma desaceleração do crescimento econômico mundial. Já chegamos ao pico do ciclo econômico. Os mercados financeiros subiram demasiado. Não sabemos o que vai causar a próxima crise, nem quando. Posteriormente, vamos dizer, ah, claro, sabíamos.

Valor: Alguns analistas falam de nova crise a partir de 2020.

Bris: É difícil dizer, porque eu mesmo venho colocando data nos últimos quatro anos, e a recessão não ocorre. Mas ela pode acontecer a qualquer momento.

Valor: O presidente eleito no Brasil terá portanto um cenário externo complicado?

Bris: Com certeza, esse é um bom ponto que não se tem em conta. O novo governo poderia acelerar as mudanças também para fazer frente à próxima crise global. Uma visão demasiado interna pode ser contraproducente.

Valor: Há dois anos o sr. apontava a China como uma dos causas de uma próxima crise global. E agora?

Bris: Agora também, e provavelmente até mais que antes. Primeiro, a economia chinesa está mais débil do que há dois anos. O crescimento chinês desacelerou. Segundo, os problemas financeiros do país, particularmente a dívida privada, aumentaram ainda mais. Num contexto de guerra comercial com os EUA, isso é bem mais dramático. Os indicadores financeiros típicos, como a volatilidade ou as taxas de poupança privadas, sinalizam crises nos últimos anos. Quando a taxa de poupança diminui, é um indicador de crise potencial. Com relação aos EUA, as políticas de Trump são as adequadas aos EUA no curto prazo, mas inconsistentes no longo prazo. A politica de substituição de importações não é consistente com taxas de juros baixos. Também vai levar a um endividamento maciço do governo federal. No médio prazo, o perigo é que Trump persista nessas políticas, e isso acabará mal, com impacto no mundo inteiro.

Valor: O sr. concorda que o arsenal para enfrentar a próxima recessão é limitado?

Bris: Sem dúvida. A regulação que temos agora [no setor financeiro] é muito boa para prevenir as crises passadas, não para prevenir crises futuras, que nem sabemos de onde virão. Uma das políticas exauridas é a política monetária para enfrentar uma próxima crise. As taxas de juros não podem ser mais baixas. A política fiscal foi útil na crise de 2007. Nas crises seguintes, vamos precisar realmente de políticas globais, porque aquelas que se aplicaram em 2008 e 2009 foram políticas com perspectivas nacionais. Mas para a próxima crise falta uma coordenação internacional que agora não existe.

Valor: Ou seja, o risco pode ser maior, porque o espaço para cooperação internacional diminuiu.

Bris: É certo que há menos possibilidade de cooperação internacional agora, porque estamos nos fechando, subindo muros entre os países e nos focamos muito mais em políticas locais. Esse é um grande problema. No caso de um ataque cibernético que afete as redes de comunicação digital em nível global, para responder a uma crise dessas de nada serve aos gigantes digitais uma legislação local. E não temos uma regulação global.

Valor: Para o novo governo no Brasil, como reagir à próxima recessão?

Bris: É meio difícil dizer, mas o que não se deve fazer nunca antes de uma crise é fixar a taxa de câmbio. É algo absurdo em meio a expectativa de uma crise. É preciso ver o que ocorreu na Ásia em 1997, exatamente no mesmo contexto. Países da região fixaram a taxa de câmbio e sofreram desvalorizações maciças e crises financeiras e sociais fortes. Os países que não tinham câmbio fixo não sofreram assim. Na minha visão, o Brasil já tocou o fundo do poço. No curto prazo precisa mesmo é tentar resolver a crise atual e não se preocupar muito com uma crise global possível. O Brasil continua em crise no momento. O novo governo terá grande oportunidade para adotar medidas como reforma da Previdência e na área de segurança e de combate à corrupção, mas também medidas de longo prazo. O Brasil já perdeu uma grande oportunidade há dez anos com Lula, quando não fez as reformas necessárias. Agora tem a segunda oportunidade para realmente fazê-las.

Valor: O sr. é também diretor do Centro de Competitividade Mundial do IMD. Seu último relatório coloca a competitividade da economia brasileira em 60ª posição entre 63 países. Isso persistirá até quando?

Bris: O Brasil não podia estar pior. Por exemplo: no indicador de eficiência do governo, o Brasil está no último lugar, pior que a Venezuela. Isso faz alusão a deficiência do setor público, corrupção, finanças públicas, transparência, excesso de regulação. O bom para o Brasil é que daqui para a frente só pode melhorar.

Valor: Em cenário de guerra comercial, como o sr. vê a situação para o Brasil?

Bris: Pode ser afetado, mas pode ser também beneficiado. Pode converter-se em sócio prioritário de qualquer um dos dois nessa batalha. Mas numa guerra comercial, os mais beneficiados são mesmo os que exportam mais valor agregado, como Noruega, Suécia, Holanda. Já o Brasil exporta commodities. Com relação à China [maior parceiro comercial do Brasil], algo importante de mencionar é que se trata da economia mais protecionista do mundo. A estratégia da China é se expandir no mundo o máximo que puder, mas proteger o mercado interno. E só se abre ao exterior depois que dominou realmente o mercado. Nesse sentido, o protecionismo de Trump é a resposta natural ao protecionismo chinês. Os europeus abrem suas portas aos chineses, mas tampouco eles têm a reciprocidade para operar da mesma forma na China.

Valor: No período 2019-2022, que coincide com o mandato de Jair Bolsonaro, que questões deverão prosperar na economia global, a seu ver?

Bris: Um objetivo fundamental na economia mundial é reduzir as desigualdades sociais. O populismo europeu, Bolsonaro no Brasil, Maduro na Venezuela, Trump nos EUA, são respostas a essa desigualdade que aumentou desde a crise [de 2008]. E temos agora também a desigualdade causada pela tecnologia. Os monopólios tecnológicos como Apple, Google, Facebook, Amazon, estão criando desigualdades enormes entre os países e dentro dos países. O fosso digital vai aumentar, e isso também necessita respostas políticas, fiscais, de regulação. Eu sou muito favorável à taxação dos gigantes da internet. Isso é necessário, pela desigualdade e porque fiscalmente é muito justo. O imposto que pagam é mínimo. Além disso, eles são monopolistas, extraem renda do consumidor porque a tecnologia é cara, e ainda não pagam imposto. Na Europa, só o Reino Unido e a Espanha têm proposta para impor taxa tecnológica. [O Brasil propôs à OMC a cobrança de imposto local sobre gigantes da internet].

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Banqueiros pedem união para que o país possa 'virar a página'

Há dez anos, em 3 de novembro de 2008, o Itaú Unibanco escrevia a página mais importante de sua história, ao anunciar a união dos negócios do clã Moreira Salles aos das famílias Setubal e Villela.

A fusão entre o Unibanco, criado em 1924, e o Itaú, de 1944, deu origem ao maior banco privado do país.

Uma década depois, as cabeças à frente dessa delicada operação afirmam que, mais uma vez, é hora de virar a página. Agora, porém, falam do Brasil.

“Passada a eleição, é virar essa página. Unir o país. Precisamos de um país que ande para a frente, com crescimento”, disse Roberto Setubal, hoje copresidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco Holding, em entrevista à Folha na quinta-feira (1º).

Acompanhado do também copresidente Pedro Moreira Salles, os executivos relembraram desafios e desconfianças a respeito da fusão.

“As pessoas perguntavam: ‘Mas será uma fusão mesmo? Se for, não vai dar certo. Não pode ser 50-50. Tem algum acordo que ninguém conhece’”, lembrou Moreira Salles.

E dizem que, com limitações para novas aquisições no Brasil, o plano é retomar o horizonte de internacionalização traçado já em 2008, mas que esbarrou em questões regulatórias e tributárias.

“É a peça faltante”, afirmou Moreira Salles.

Em retrospecto, qual o balanço da fusão após dez anos? 

Roberto Setubal O primeiro ponto relevante é que deu muito certo entre a gente: a minha relação com o Pedro, dos controladores, da família Villela. Esse foi um elemento fundamental para o banco atingir a posição que tem hoje. Esse ponto passa meio despercebido, mas pessoas que têm sócios entendem.

Estamos cheios de sociedades que dão errado por falta disso.

Uma fusão é meio como um casamento; vocês vão ficar juntos para sempre. É preciso ter uma visão de futuro muito igual, as mesmas ambições, espaço para todo o mundo. É delicado. Pedro gosta de falar que a gente nem sempre concorda, mas só entre a gente.

Pedro Moreira Salles Para fora, a gente sempre concorda.

RS Estamos sempre alinhados (risos).

PMS Se os dois concordassem sempre, não precisava de um dos dois. O que a gente se comprometeu a fazer —com altos e baixos, claro— está feito. Poucas fusões dão certo, e acho que a gente virou um case, várias universidades acompanharam. Se olhar outras integrações, vai ver que, passados dez anos, essas organizações ainda têm problemas tribais, por assim dizer.

A nossa foi possível por causa da honestidade intelectual do Roberto, que estava com a mão no manche.

No início todo mundo achava: ‘Bom, isso aqui acabou. O Roberto vai selecionar os caras dele’.

Se a gente voltar atrás, havia muitas dúvidas. As pessoas perguntavam: ‘Mas será uma fusão mesmo? Se for, não vai dar certo. Não pode ser 50-50. Eles disseram que concordaram em concordar, mas não podem. Deve ter um desempate. Tem algum acordo que ninguém conhece.’

Existiu mesmo essa visão. Todo o mundo disse que o Unibanco seria engolido. 

PMS O que eu ouvi disso... Eu ia lá no Roberto e falava: ‘As pessoas estão dizendo isso, isso e isso’. E o Roberto dizia: ‘Olha aqui a minha lista. É a mesma coisa do meu lado’. E era compreensível. As pessoas tinham escolhido a empresa A ou a empresa B. Eram concorrentes antes.

Quando isso se tranquilizou? 

RS Em dois, três anos.

PMS  Criou-se, logo no segundo ano, um evento em que nós dois íamos não para falar de resultados, mas de cultura; dedicamos um tempo relevante para comunicar isso. Fazer a seleção de quem representava a nova cultura. Pessoas importantes que não queriam aceitar o novo status quo deixaram a organização. A cultura expulsa quem de alguma maneira não se adéqua.

Quem entendeu que não tinha jogo de cartas marcadas, que se criaria uma coisa nova e embarcou nisso, olha para trás e diz: ‘Que coisa bacana eu fiz’. Se você anda pelos corredores do banco hoje e vê a descontração das pessoas, sabe. Não é Itaú ou Unibanco. É uma cultura nova.

RS E vamos lembrar que estávamos há seis anos da incorporação do BBA. Teve um pouco do sangue do BBA nisso. Depois, adquirimos uma parcela relevante de 30% da Porto Seguro. Fechamos o capital da Rede, o maior já feito no Brasil. Fizemos a aquisição do Citibank Brasil e do Citi Uruguai, do CorpBanca [Chile] e, agora, da XP. Ganhamos mercado nesse período. Os números são muito sólidos. E o banco continua olhando oportunidades. Temos capital e interesse para crescer.

Na época, em entrevista à Folha, Moreira Salles disse que uma das metas da fusão era dar musculatura a uma instituição brasileira para que fosse global, mas a internacionalização não ocorreu na dimensão projetada. O que houve?

PMS É a peça faltante.

RS Era, e continua sendo, o sonho. A gente não conseguiu cumprir por algumas questões. A primeira delas é regulatória, tributária. Temos um total desincentivo para expansão no exterior. A nossa tributação de rendimento no exterior nos torna pouco competitivos.

PMS Pouco competitivo na hora em que você vai concorrer para fazer a aquisição.

RS E para operar também, né, Pedro?

PMS Em geral os concorrentes pagam uma alíquota que é 10 ou 20 pontos percentuais menor. Na hora que você coloca no papel, a diferença é brutal.

RS O Brasil é o único país com essa situação atípica, que precisamos saber como superar. Mas a intenção continua sendo uma expansão externa.

No Chile, tivemos alguma dificuldade de integração, de incorporar um banco que tinha problemas e transformá-lo para operar nos padrões de qualidade, risco e rentabilidade que queremos. Não é fácil. Mandamos uma equipe de primeira para lá. Olhando os resultados, estamos nos provando que somos capazes. Isso nos dá coragem para coisas mais ambiciosas.

Vocês já estão olhando alguma coisa? 

RS Sempre olhamos.

PMS É preciso entender o contexto. Quando a gente começou a conversar, em 2007, não tinha acontecido ainda a crise de 2008. Os bancos estavam globalizando; aliás, a razão que nos levou a conversar foi a história do Santander com o Real aqui no Brasil. Pela primeira vez ia ter um banco não apenas global —logo muito competitivo—, mas com uma escala local que um banco estrangeiro jamais havia tido. Certamente maior que o Unibanco à época e colado no Itaú. Essa era uma ameaça. E a conversa era: se nos juntarmos, podemos fazer isso na outra ponta.

Veio 2008, a crise, o mundo regulatório mudou, e reguladores não gostam de bancos globais. Com isso, uma série de bancos bateu em retirada. No Brasil, o HSBC e o Citi. O HSBC saiu de vários países. O movimento na direção de bancos globais entrou num processo de reversão. Que, eu acho, agora, passados dez anos, está se sedimentando.

O relator da fusão no Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] disse à Folha que a fusão Itaú Unibanco poderia não ser aprovada hoje. Qual a sua avaliação? 

RS Difícil dizer. Na época foi aprovada com tranquilidade. Há uma percepção de que falta concorrência no Brasil. Agora, o mercado aqui não é muito diferente de outros. Canadá, Austrália, França, Espanha, Inglaterra têm quatro, cinco grandes bancos e alguns pequenos. Acho que a questão de juro alto, spread alto, tem uma série de pontos técnicos que precisam ser endereçados para que a gente resolva.

Elementos dessa equação melhoraram. A Selic [taxa básica de juros] caiu. Veio a reforma trabalhista, que está mudando o ambiente e custos e tira pressão. O que hoje está faltando para a gente ter um spread melhor e o juro cair?

RS A reforma terá impacto, mas é muito recente. Todo o ambiente regulatório precisa melhorar. Há uma série de questões, como a tributação da intermediação financeira, que é muito alta comparada à de outros países, a tributação sobre lucros de bancos.

Quando se tributa banco, está se tributando a atividade de intermediação financeira e isso, infelizmente, acaba indo para o valor do empréstimo. Se você aumenta o tributo da gasolina, quem paga esse imposto não é a Petrobras, mas quem compra a gasolina.

PMS Tem uma série de medidas que estão sendo debatidas e que, se fossem implementadas, levariam a essa revisão da estrutura de custo. Mas veja a briga que é o Cadastro Positivo. Ficam dizendo que os bancos não querem. Os bancos querem para ontem, porque você vai poder dar um crédito melhor.

Ninguém gosta de inadimplência.

Agora, voltando ao Cade. Tem que lembrar o que era 2008. Demos uma demonstração de força ao fazer a fusão. Não estávamos em nenhuma lista de destaque e, quando nos juntamos, passamos a ser o 16º banco do mundo. Se para aprovar a XP teve essa dificuldade, acho que é uma obviedade dizer que hoje não seria aprovada [a fusão Itaú Unibanco].

Agora, o problema não é esse, é que tem que colocar o chapéu de 2008 e as circunstâncias de 2008. E o que aconteceu de lá para cá.

Na XP, o BC foi duro? 

RS Muito. Ficou patente. Não vou esconder. Foi duro, sim. A gente não esperava isso. Até porque a gente imaginava, como sempre foi, que o Cade seria mais difícil.

Onde as exigências pegaram?

RS Tivemos de abrir mão de muitas coisas. A mais relevante é que o contrato original previa o direito de adquirir o controle [da XP] em 2033. Isso abria uma perspectiva muito diferente. O Banco Central impediu isso. Impuseram também uma série de limitações de participar da gestão.

Pensam na internacionalização agora, porque o ambiente aqui está ficando mais apertado? 

RS É, nossa possibilidade de crescimento está muito limitada, ela é basicamente orgânica. Praticamente, não temos mais possibilidade de fazer aquisições [no Brasil].

No meio do caminho teve Operação Lava Jato e recessão. Como foi isso para o banco?

PMS Ainda bem que já estávamos juntos.

RS Começou-se a perceber que a economia não ia tão bem já em 2012. Lembro de a gente discutir num conselho que precisávamos estar mais afinados no crédito. A gente já começou a tomar certo cuidado porque percebíamos que a economia estava reduzindo o crescimento. O momento que veio foi muito pior do que a gente imaginava. Uma recessão de 7% em dois anos não é um negócio que acontece com frequência.

A Lava Jato nos preocupou. Muitos clientes estavam envolvidos com problemas graves e isso teve consequências do ponto de vista de crédito. Algumas empresas estão em recuperação judicial e outras com muitas dificuldades de cumprir seus compromissos.

Atravessamos esse momento. Não estamos envolvidos em nenhuma atividade que pudesse causar preocupação. Nunca estivemos nos jornais pelas razões erradas.

A retomada tem sido lenta. Ainda há risco? 

RS Ainda tem problemas. Empresas grandes ainda estão em dificuldades, endividadas. Mas, de forma geral, estamos num caminho para crescer 2% ou 3% nos próximos anos. Mas o Brasil há 30 anos cresce menos que a média do mundo, que gira em torno de 3% a 3,5%. A gente precisa ter como ambição crescer 3,5%, 4% [ao ano].

PMS Por isso se fala tanto em reformas. Parece um disco quebrado.

RS Acho que, de uma forma geral, o brasileiro não tem noção de como o Brasil perdeu competitividade no mundo, como está perdendo importância econômica.

Numa reunião com investidores em setembro, Setubal disse que não era o momento para tomar risco. Passada a eleição, isso já começa a ser reavaliado?

RS Sim, o cenário fica mais claro. A pior situação é a incerteza.

Estamos no quarto dia após a eleição. Alguns anúncios já estão sendo feitos... 

PMS Está muito cedo para dizer. Precisamos esperar o cenário inteiro, saber qual é o programa. Não se discutiu programa nessa eleição. Foram inferências.

Essa foi uma eleição diferente, em que forças políticas trocaram de lugar. Como fica o ambiente de negócios? 

RS A incerteza é, sem dúvida, o elemento que pega diretamente. Passada a eleição, é virar essa página. Unir o país. Precisamos de um país que ande para a frente, com crescimento. O banco não tem posição política. Isso tem que ficar muito claro. A posição do banco é contribuir para o desenvolvimento do país, em qualquer governo. Sempre estaremos dispostos a colaborar e a fazer nosso papel. Não queremos entrar em avaliações e julgamentos de pessoas e situações.

PMS Saímos de uma coisa muito inusitada, com muito mais oposição —esse eu não quero— do que adesão. Foi a primeira vez, que eu me lembre, que o processo se deu assim. Mas o Brasil só dará certo se conseguir virar essa página. Se ficar dividido vai ser muito difícil, porque tudo se torna politizado. Todos viram torcedores. Isso é ruim para o país. Compete a quem está assumindo saber dar esse passo.

É muito importante que isso aconteça porque agora está definido. A Bolsa sobe, o dólar cai. É o investidor se posicionando. Falta entender qual é o projeto. Temos apenas especulações.

Mas, independentemente do cenário, existem desafios enormes para as instituições financeiras. A gente se preocupa muito mais com isso do que com a questão imediata da política. Que tipo de nova concorrência vem aí, como que você atrai o novo cliente, são as nossas questões.

As fintechs [empresas de tecnologia da área financeira]mudaram a concorrência? 

RS Sem dúvida. No sistema financeiro hoje, para o bem e para o mal, temos a seguinte situação: se alguém está fazendo uma coisa diferente, você pode copiar no dia seguinte. Não tem carta patente, não tem nada que te impeça de fazer igual.

Tenho certeza de que, em 20 anos, estaremos aqui. Pode ser como um banco completamente diferente. Pode ser digital. Mas estaremos aqui.

 

Setor se surpreende com fim de isenção do Minha Casa Minha Vida e busca saída

O fim de um benefício tributário para empreendimentos do Minha Casa Minha Vida passou despercebido pelo setor de construção que tenta, agora, postergar a política.

A legislação prevê que o RET (Regime Especial de Tributação), que limita a alíquota de tributos federais a 1% da receita dos empreendimentos residenciais de até R$ 100 mil, termina em 31 de dezembro.

A expiração só foi notada há algumas semanas —até então, todas as negociações consideravam que o regime seria prolongado, segundo José Carlos Martins, presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).

“Quem contrata e paga os prédios da faixa 1 é um fundo da Caixa Econômica. Tanto faz se a alíquota de imposto é 1% ou 7%. No fim é zero a zero, ou seja, o que a empresa paga de um lado, ela recebe do banco do outro”, afirma ele.

“O mais problemático é que a última portaria para contratar 50 mil unidades na faixa 1 tinha obrigatoriamente o limite de 1%. E, em 1º de janeiro de 2019, ao emitir a nota fiscal, terá que ser pago 6% ou 7%. Vai haver judicialização.”

Um ofício enviado pela entidade à Receita Federal e a ministérios no último dia 30 solicita que a redução seja estendida por mais quatro anos.

A prioridade, porém, é que pelo menos os contratos assinados neste ano sigam o RET.

O Ministério das Cidades afirma, em nota, que o regime expirará em 31 de dezembro, que as faturas do Minha Casa Minha Vida não terão isenção fiscal a partir de janeiro e que a competência para prorrogação cabe à Fazenda.

Procurada, a pasta não quis se manifestar, assim como a Receita Federal. A Casa Civil não respondeu.

 

ESTADÃO

llan diz que emergentes devem manter reformas

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse que a resposta dos países emergentes a choques externos começa no front doméstico, incluindo a continuidade de reformas e ajustes, além de amortecedores dos impactos de tais choques como reservas internacionais e expectativas inflacionárias ancoradas.

“A economia global continua crescendo, mas o horizonte se tornou mais desafiador para os países emergentes”, disse Goldfajn em apresentação, ontem, durante um painel de economistas em evento de despedida da presidente do Banco Central de Israel, Karnit Flug, em Jerusalém, Israel.

Segundo Goldfajn, dois choques recentes vêm afetando os países emergentes: a normalização da política monetária em economias avançadas e os conflitos comerciais. Quanto à normalização da política monetária, como a que vem acontecendo nos Estados Unidos, Goldfajn disse que isso não deveria ser uma fonte de estresse. “A normalização [da política monetária] é algo normal”, afirmou.

Já em relação aos conflitos comerciais, como se tem visto nas disputas entre Estados Unidos e a China, o presidente do Banco Central disse que o impacto desses conflitos em cada economia dependerá dos seus fundamentos e amortecedores (buffers, em inglês).

Para o presidente do Banco Central, as economias avançadas deveriam reagir a tais choques comunicando bem o processo de normalização monetária e resolvendo os conflitos comerciais.

Já as economias emergentes devem ter como resposta a esses choques a continuidade de reformas e ajustes macroeconômicos necessários. Ele citou também a necessidade de haver credibilidade e flexibilidade de políticas como um regime de câmbio flutuante e de meta de inflação.

Meta de inflação. Em sua apresentação em Jerusalém, Goldfajn fez um breve histórico do regime de meta de inflação em vigor no Brasil desde 1999 e observou que crises de confiança sempre levam o Banco Central a enfrentar depreciação cambial e alta da inflação. Ele destacou, contudo, que recentemente, apesar da depreciação cambial observada ao longo deste ano, as expectativas de inflação seguem ancoradas.

Em um dos gráficos da sua apresentação, Goldfajn mostrou que a tendência da taxa de juros tem sido declinante neste ano, com a taxa Selic parada agora em 6,5% e a taxa real de juros ex-ante (taxa de 360 dias descontada da projeção do IPCA para os próximos 12 meses na pesquisa Focus) caindo para um patamar atual ao redor de 3,11% ao ano.

 

 

 

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