Sexta-feira

VALOR ECONÔMICO

Caixa e BB concentram MCMV em faixas que misturam financiamento e subsídio

O programa Minha Casa, Minha Vida contratou, de janeiro até o fim de agosto, 381 mil unidades habitacionais no país. A meta do governo para o ano varia de 600 mil a 700 mil unidades habitacionais. O ministro das Cidades, Alexandre Baldy, explicou ao Valor que em setembro, fechamento de trimestre, foi um número recorde de contratações. Mas, os últimos três meses do ano costumam ser aquecidos para contratações, principalmente, de linhas do programa que contemplam uma mescla de subsídio e financiamento.

Por instituição financeira, balanço divulgado pelo Ministério das Cidades, um pouco defasado em relação aos dados do ministro, mostra que a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil contrataram mais de 319 mil unidades habitacionais no âmbito do MCMV, sendo que 78% das operações contam com algum tipo de financiamento, ou seja, com menos subsídios do governo federal. O grosso do negócio (97,5%) continua sendo realizado pela Caixa, que opera com famílias com renda de até R$ 7 mil, apesar de o programa permitir transações com limite de rendimento de até R$ 9 mil.

O restante das operações (7.873) foi feita pelo BB para famílias da faixa 2 e 3. Apenas o BB, atende as famílias com renda de até R$ 9 mil. Apesar de os números não estarem abertos, o BB contratou 998 moradias na faixa de maior renda do programa. Mesmo que não exista uma divisão oficial, segundo fontes ouvidas pelo Valor, a Caixa opera com as famílias de menor renda até porque tem mais expertise para isso, e o BB, com o público com um rendimento mensal mais alto.

Segundo o balanço do Ministério das Cidades, foram contratadas neste ano por estes bancos 70.008 unidades habitacionais na faixa 1 do programa (renda até R$ 1,8 mil); 47.038 na faixa 1,5 (entre R$ 1,8 mil e R$ 2,6 mil); 175.273 (de R$ 2,6 mil a R$ 4 mil) e 27.089 na faixa 3 (de R$ 4 mil a R$ 9 mil). No decorrer dos anos, o perfil do programa está se alterando gradualmente para se ajustar à realidade de forte restrição fiscal no país.

Antes, as operações eram concentradas no público de menor renda, ou seja, na chamada faixa 1, que atende famílias com orçamento mensal de até R$ 1,8 mil. Para 2018, a proposta de orçamento previa R$ 5,27 bilhões para a execução do programa, sendo que foi autorizado para o gasto R$ 4,06 bilhões. Já a proposta para o primeiro ano de mandato do próximo presidente prevê orçamento de R$ 4,6 bilhões, o menor já encaminhado desde que o MCMV foi criado em 2009.

No ano passado, o presidente Michel Temer anunciou a ampliação de R$ 6,5 mil para até R$ 9 mil do valor da renda da chamada faixa 3 (que agora varia de R$ 4 mil a R$ 9 mil) do programa. O objetivo na ocasião era dar um estímulo para a construção civil. Nessa faixa de renda, o subsídio é baixo e o incentivo maior são nas condições da linha de crédito, que tem juros inferiores do que outras modalidades de financiamento oferecidas pelo mercado.

Porém, os dados do BB (único que opera com famílias com renda de até R$ 9 mil), divulgados pelo Ministério das Cidades, mostram uma fraca contratação para essa faixa de renda. O Programa Minha Casa, Minha Vida foi lançado em 2009 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi utilizado como vitrine eleitoral dos governos petistas.

 

MCM: Benefício de eleição de Bolsonaro ao mercado pode ter vida curta

Os benefícios de uma eventual vitória do candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, para a conjuntura econômica e o preço dos ativos podem ter vida curta, de acordo com a MCM Consultores. “Para o médio prazo, nosso cenário principal é o cenário de estagnação, mesmo com a eventual vitória de Jair Messias Bolsonaro” diz a consultoria em relatório divulgado na tarde desta quinta-feira. “Se Bolsonaro for eleito e o movimento de valorização de ativos financeiros tiver continuidade, a conjuntura econômica será, naturalmente, beneficiada no curto prazo”, afirma a MCM.

Para a consultoria, uma eventual “valorização substantiva” do real causada pela vitória do candidato do PSL levaria a inflação deste ano a fechar mais perto de 4% do que de 4,5%. Em relação ao ano que vem, diminuiria também as expectativas inflacionárias e permitiria ao Comitê de Política Monetária (Copom) manter a Selic em 6,5% nas “próximas reuniões”. “Portanto, se tomarmos a taxa de câmbio e a Selic como referência, é possível que a eventual eleição de Bolsonaro leve a conjuntura econômica a evoluir” em um primeiro momento e se aproximar de um “cenário de retomada” descrito pela consultoria.

“Em princípio, porém, tal coincidência deverá ter vida relativamente curta”, diz a MCM. “Não vemos no momento o desenvolvimento das condições necessárias para a materialização deste cenário.” Isso porque o cenário positivo da MCM leva em conta a eleição de um candidato “familiarizado e comprometido com uma ampla agenda de reformas econômicas - essenciais para a sustentabilidade fiscal e para a melhora do ambiente de negócios no país”.

Mas, até aqui, os candidatos têm apresentado “soluções simplistas e em alguns casos irreais para os intrincados desafios econômicos a serem enfrentados pelo país”. Outro pressuposto desse cenário é que o vencedor maximizará “as chances de aprovação de reformas complexas e/ou impopulares no Congresso”.

No entanto, mesmo contando com a legitimidade gerada pela eleição, o próximo presidente terá dificuldade para promover “mudanças relevantes na gestão pública” e aprovar reformas “sem repartir o poder”. Outro empecilho é que, “a despeito das condições favoráveis que tendem a cercar o início de novos governos, a escolha das prioridades e da estratégia de votação das reformas exigirá habilidade política que poucos políticos possuem”.

Por fim, “a própria melhora das condições financeiras no início de um governo ‘abençoado pelo benefício da dúvida’ poderá enfraquecer o já incerto grau de convicção do novo presidente em relação a diversos temas controversos”. Assim, resume a MCM, apesar da recente melhora do ambiente financeiro, “o país segue distante do nosso ‘cenário de retomada’”.

 

Inflação e reação de BCs em emergentes dependem de fatores internos, diz FMI

Desde o início dos anos 2000, a inflação nos mercados emergentes tem sido, em média, baixa e estável. O Fundo Monetário Internacional (FMI) discute no capítulo 3 de seu "Global Economic Outlook", cuja íntegra será publicada na semana que vem, se esses ganhos no comportamento da inflação são sustentáveis. A resposta é crucial à medida que os mercados emergentes preparam suas políticas monetárias para navegar na futura mudança nas condições financeiras globais, especialmente a normalização da política monetária nos EUA, já em curso.

Dessa forma, a capacidade dos mercados emergentes de se defender das pressões inflacionárias está sendo testada novamente. Após grandes oscilações nos preços das commodities nesse período, a inflação na maioria dos emergentes se estabilizou rapidamente, e os efeitos de curto prazo dos choques inflacionários, por sua vez, permitiram que os BCs desses países cortassem as taxas de juros para combater as recessões. Mas, apesar da estabilidade geral, há um ponto crucial a ser levado em conta, que é a heterogeneidade considerável no desempenho da inflação e na variabilidade das expectativas de inflação de longo prazo entre os mercados emergentes.

Em segundo lugar, as mudanças nas expectativas são os principais determinantes da inflação, enquanto as condições externas exercem um papel mais limitado, sugerindo que fatores internos - e não globais - são os principais a explicar os ganhos recentes. Em terceiro, melhoras na extensão da ancoragem das expectativas podem incrementar significativamente a resiliência econômica a choques externos nos emergentes.

A ancoragem reduz a persistência da inflação e limita o repasse das depreciações das moedas ("pass-through") para os preços domésticos, permitindo que a política monetária se concentre mais em suavizar as flutuações no PIB. Há duas vertentes de visões para o comportamento benigno dos preços neste período, segundo o FMI.

Os otimistas podem apontar para mudanças substanciais de apoio nas estruturas institucionais e políticas, por exemplo, a adoção de metas de inflação pelos bancos centrais após a crise asiática do final da década de 1990. Isso conteve os preços gerais a despeito das fortes oscilações nos preços das commodities, da crise financeira global e dos períodos de forte e sustentada valorização do dólar.

Já os pessimistas podem argumentar que a integração da China no comércio mundial e a globalização mais ampla do comércio criaram um ambiente desinflacionário beneficiando os emergentes. Estes argumentam também que o período após a crise financeira global foi caracterizado por condições financeiras externas historicamente benignas - que se manifestaram em baixos "yields" dos Treasuries e spreads contidos nos mercados emergentes.

Este cenário limitou o número de eventos de crise e a elevação da inflação numa amostra de 19 economias: Argentina, Brasil, Bulgária, Chile, China, Colômbia, Hungria, Índia, Indonésia, Malásia, México, Peru, Filipinas, Polônia, Romênia, Rússia, África do Sul, Tailândia e Turquia.

 

Datafolha: Bolsonaro lidera 1º turno com 35%; Haddad tem 22%

Pesquisa presidencial do Datafolha realizada na quarta-feira (3) e nesta quinta (4) mostra Jair Bolsonaro (PSL) na liderança isolada do primeiro turno com 35% das intenções totais de voto. Em relação ao levantamento anterior do mesmo instituto, ele avançou 3 pontos. Fernando Haddad (PT) marca 22%, depois de oscilar 1 ponto para cima. Em votos válidos (descontando votos em branco e nulo), Bolsonaro tem 39% da intenções de voto e Haddad tem 25%.

Para encerrar a eleição no primeiro turno, um candidato precisa de mais de 50% dos votos. Num segundo pelotão da disputa, conforme o Datafolha, estão Ciro Gomes (PDT), com 11%, e Geraldo Alckmin (PSDB), com 8%. Como a margem de erro do levantamento, que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, trata-se de uma situação de empate técnico. O terceiro pelotão reúne os candidatos com menos de 5%.

Marina Silva (Rede) tem 4%; João Amoêdo (Novo), 3%; Alvaro Dias (Podemos) e Henrique Meirelles (MDB), 2% cada. Cabo Daciolo (Patriota) tem 1%. Os demais candidatos não pontuaram. Segundo turno Num eventual segundo turno entre os dois primeiros colocados, o levantamento mostra empate técnico entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), com ligeira vantagem para o primeiro.

Segundo o instituto, Bolsonaro tem 44% ante 43% de Haddad. Num eventual segundo turno com Ciro Gomes (PDT), o candidato do PSL perde. O placar seria 48% a 42% para o pedetista. Contra Alckmin, a situação também seria de empate técnico. Nesse caso, porém, com vantagem mínima para o tucano: 43% a 42%. O Datafolha simulou ainda um segundo turno entre Alckmin e Haddad.

Deu empate técnico no limite da margem de erro: 42% a 38% a favor do tucano. Rejeição As taxas de rejeição dos dois principais concorrentes permaneceram estáveis. Bolsonaro voltou a marcar 45%. Haddad oscilou de 41% para 40%. São os dois nomes mais rejeitados da disputa. Marina Silva tem 28% de rejeição, Alckmin, 24%, e, Ciro Gomes, 21%. O Datafolha fez 10.930 entrevistas. Os contratantes foram a "Folha de S.Paulo" e a TV Globo. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral com o código BR-02581/2018.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

PT e Bolsonaro são autoritários, afirma Delfim Netto

O economista Antonio Delfim Netto, 90, considera "inconsistentes" os programas dos dois candidatos com mais chances de passar ao segundo turno na eleição e diz que eles "se equivalem" pela falta de um projeto que eleve a produtividade e o crescimento.

Delfim diz que tanto Jair Bolsonaro (PSL) quanto o PT de Fernando Haddad têm visões autoritárias. "Em matéria de autoritarismo, eles empatam. É uma coisa dramática."

O ex-ministro da Fazenda e do Planejamento no regime militar (1964-1985) defende que o eleito mantenha parte da equipe técnica que hoje comanda a economia e diz que mais gastos não trarão o crescimento de volta.

"É a mesma coisa do sujeito cabeludo que não sabe nadar e que puxa os próprios cabelos para sair da água. É uma alavanca sem ponto de apoio."

Em termos econômicos, o que explica, depois de anos de altos e baixos, mais uma eleição tão polarizada?

Esse é um processo que vem nascendo há algum tempo e é uma resposta a um sistema político que não atendeu às necessidades da sociedade.

Há uma incompreensão grande sobre as limitações físicas que envolvem qualquer sociedade.

As pessoas ignoram o fato de que o desenvolvimento econômico é apenas o aumento da produtividade do trabalho.

Se não aumenta a produtividade, não se tem recursos para fazer nada.

Nos últimos anos, violamos uma regra fundamental: em vez de nos concentrarmos em uma distribuição harmoniosa entre o consumo e o investimento, demos preferência ao consumo. E fomos reduzindo o investimento.

Faz 40 anos que o Brasil cresce menos que o mundo. Cresce a metade. Esse é o resultado que estamos colhendo, um sentimento de frustração geral.

Em relação à governabilidade e às reformas, temos, de um lado, Bolsonaro e um partido pequeno, o PSL. De outro, Haddad e o PT, que tende a jogar contra mudanças como a da Previdência. Qual o risco?

Tenho um grande respeito pelo Haddad. É um intelectual. Mas não creio que consiga controlar o partido.

O programa do PT neste ano é absolutamente inconsistente. Não é gastando mais que vamos resolver os problemas.

O programa do Bolsonaro também não tem nenhuma consistência. Eu diria que se equivalem.

Os dois teriam alguma condição de encontrar no Congresso o tipo de acomodação para fazer o que precisa ser feito, pois não há nenhuma dúvida de que o problema da Previdência é dramático. Mas, no fundo, o PT nega isso.

Não há como resolver aumentando o gasto do governo em razão da dívida que já temos.

É a mesma coisa do sujeito cabeludo que não sabe nadar e que puxa os próprios cabelos para sair da água. É uma alavanca sem ponto de apoio.

E os programas de cada um?

Não conhecemos de verdade os dois programas. Há uma lista de propostas, mas não sabemos como vão colocar isso em prática.

Eu duvido que o Congresso deixe de aprovar uma reforma da Previdência no início do governo se ela for razoável.

Ninguém pode ignorar que a situação fiscal é muito grave. Muito mais grave do que a maioria pensa.

Eu espero que, haja o que houver, depois haverá alguma solidariedade tribal, pois se trata do Brasil.

O senhor enxerga o PT considerando isso?

A minha convicção é que o PT hoje parasita o Lula, que é um animal político muito maior do que o PT e muito mais democrata que o partido.

O PT é constitucionalmente um partido autoritário, porque defende a ideia de que só ele tem razão.

Em outro sentido, Bolsonaro também não é autoritário?

Em matéria de autoritarismo, eles empatam. É uma coisa dramática.

Como chegamos a esse ponto?

Pela incompetência do centro de apresentar uma solução mais razoável. Não há ninguém no centro que possa se esquivar disso.

Talvez o único sujeito que tinha um programa para atender esse negócio seja o Ciro [Gomes, do PDT], mas ele foi chacinado pelo PT.

Com todas as suas extravagâncias, o Ciro é um sujeito experimentado e com uma ideia de que precisamos de uma mudança muito profunda.

O programa dele tinha problemas, mas apontou na direção certa.

Já o PSDB foi um desastre, com todo o seu comportamento, do início ao fim. Ele está recebendo o prêmio que mereceu.

Como avalia o fracasso dos candidatos de centro que entraram com esse discurso mais racional, pelas reformas, e falharam?

Ainda não conseguimos convencer a sociedade de que existem limites físicos. Esse pessoal do centro nunca se preocupou muito com esse problema.

Mas o governo Temer começou a encaminhar as coisas na direção certa.

Não houve, nos últimos anos, uma equipe tão competente na Fazenda e no Banco Central.

Por uma infelicidade enorme, o Temer teve um problema político insolúvel, a delação da JBS. Mas, se [o candidato vencedor] tiver um mínimo de inteligência, vai aproveitar essa experiência.

A administração fiscal é muito complicada e não há dúvida de que hoje estamos na mão de uma equipe competente, onde muitos são funcionários públicos.

Não tem nada a ver com ideologia.

Eles poderiam perfeitamente ser aproveitados, não na Fazenda, mas no Tesouro, no Banco Central. Não deveríamos jogar fora essa experiência que acumularam nos últimos dois anos.

Temos de compreender que nada estava mais esculhambado do que a contabilidade pública.

As violências cometidas foram brutais, os números todos eram falsos.

E essas pessoas puseram as coisas em ordem.

Fazer ajuste fiscal é escolher perdedores. Como o senhor avalia as chances de o país encaminhar isso? 

A forma de resolver é por meio do crescimento, e isso só ocorrerá com o aumento da produtividade do trabalho.

Não tem nenhuma forma de resolver isso pela via monetária, com o aumento de gastos.

Precisamos aumentar nossa produtividade, mas nenhum dos dois candidatos está preocupado com isso.

É muito difícil fazer um programa para convencer as pessoas de que todos vão ter de dar sua cota de sacrifício.

No caso do Haddad, creio que ele não tenha uma noção clara das restrições orçamentárias.

O que estão exigindo dele é dizer quem vai ser o ministro da Fazenda, mas isso é ilusão. Porque o ministro pode tomar um pé a qualquer tempo.

O senhor foi deputado federal por 20 anos e conviveu com Bolsonaro na Câmara, em Brasília. Ele votou a favor de medidas corporativistas e nunca foi um liberal. O que aconteceu?

Nada. É a conversão mágica. No fundo, é outra inteligência animal.

Ele está onde está porque percebeu muito antes dos outros onde estava o grave problema do Brasil.

A gente só fica inteligente quando o futuro virou passado.

Hoje vemos que ele percebeu isso quatro anos atrás e vem explorando isso sistematicamente, o sentimento do risco que tomou conta de todo o brasileiro.

 

Crise fiscal do governo barra medidas pró-inovação que melhorariam economia

O encontro de verão do Fórum Econômico Mundial no hemisfério norte levou um público recorde à China na terceira semana de setembro. Dos 2.500 representantes de mais de 100 nações que estiveram no evento, apenas 9 eram brasileiros.

Enquanto os rápidos avanços da tecnologia e seus impactos eram discutidos no país asiático, o debate econômico da campanha presidencial no Brasil girava em torno de medidas para reduzir o rombo das contas públicas e simplificar o sistema tributário.

A atual pauta eleitoral explica, em grande medida, a baixa participação do país em encontros como o realizado na China. Com o estrangulamento fiscal do governo e a asfixia do setor privado, tem faltado espaço para a discussão, o desenho e a implementação de medidas que impulsionem a inovação e aumentem a eficiência da economia.

A demora em encarar questões como os limites dos gastos públicos, a baixa eficácia de algumas políticas de subsídio e os efeitos nocivos da burocracia excessiva ajudou a mergulhar o Brasil na severa recessão que se estendeu entre 2014 e 2016 e contribui para que a atual recuperação seja a mais lenta da nossa história.

Especialistas acreditam que a gravidade da situação forçou a maioria dos candidatos a reconhecer que reformas estruturais são essenciais para que o país volte a crescer de forma sustentada.

“No passado, a preocupação com esses assuntos era restrita a um pequeno grupo de economistas. Não reverberava”, diz Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos.

Para Zeina, as discussões atuais são um avanço e foram impulsionadas, em certa medida, pela transparência com que a equipe econômica do atual governo tem tratado certos temas.

“Gostando ou não do [Michel] Temer, houve uma coragem política, impulsionada pelo time econômico, de colocar a previdência no debate público”, afirma.

O perfil demográfico da população brasileira tem mudado rapidamente na esteira do aumento da longevidade e da desaceleração da natalidade. A expansão do número de aposentados em um contexto de ingresso mais lento de jovens contribuintes no mercado de trabalho contribui para o déficit da seguridade social. A crise do mercado de trabalho —com alta do desemprego e da informalidade —pioraram a situação.

Ainda que divirjam sobre a melhor forma de resolver o rombo galopante, a maior parte dos postulantes à presidência defende algum tipo de mudança.

“A elite da classe política já entendeu que não há como não ter uma reforma da Previdência”, diz Zeina.

Outro sinal de amadurecimento do debate público, segundo especialistas, é o reconhecimento da necessidade de reforma do intrincado regime tributário brasileiro.

Embora todos os aspectos do ambiente de negócios do país apresentem sérios problemas, em decorrência da burocracia excessiva, o quesito em que o Brasil aparece pior colocado em um ranking do Banco Mundial é o tributário, na 184ª posição entre 190 países.

Mudanças para simplificar o regime brasileiro são defendidas por alguns economistas há muito tempo e já foram alvo de tentativas fracassadas de reforma. Mas a atual campanha imprimiu pela primeira vez um tom de urgência ao tema, com um consenso em torno, por exemplo, da substituição de alguns impostos por um único tributo nacional sobre o valor agregado a cada etapa de produção ou comercialização.

Para o economista Mauro Boianovsky, o pano de fundo dos pontos de convergência é a constatação de que o país precisa criar condições para crescer, interrompendo a trajetória de voos insustentáveis das últimas décadas.

“O debate atual sobre os limites da capacidade de gasto público e as dificuldades para a retomada do investimento privado tem se dado no contexto do crescimento de longo prazo. Isso é positivo”, diz o pesquisador de história do pensamento econômico da Universidade de Brasília.

Segundo Boianovsky, algumas campanhas passadas foram dominadas por temas de curto prazo, o que nem sempre denotava compromisso com a estabilidade macroeconômica.

“Parece haver agora, por exemplo, um consenso maior de que a inflação é inaceitável”, afirma.

O problema, segundo economistas, é que ainda faltam clareza e realismo a muitas propostas, o que cria incertezas em relação à estabilidade e à retomada do crescimento.

“O que preocupa é que todos estão no palanque. Algumas propostas são só metas, outras são ingênuas. O diabo mora nos detalhes”, diz Zeina.

Entre os líderes das pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) afirmam – ainda que com propostas diferentes – que irão eliminar o déficit fiscal em pouco tempo. Mas o prazo de um ou dois anos que prometem é considerado pouco factível, já que muitas das medidas dependem de mudanças na legislação e amplo apoio político.

O programa do PT de Fernando Haddad é vago ao reconhecer a existência do problema fiscal, e propor – sem maiores detalhes – um novo modelo para garantir o equilíbrio das contas públicas e retomar o crescimento.

Especialistas acreditam que a forte polarização política que marca a atual campanha presidencial pode estar impedindo que as propostas avancem além do debate genérico. Mas ressaltam que o início do próximo do governo – seja quem for o presidente eleito – precisará ser marcado pelo anúncio rápido de medidas comprometidas com reformas.

“Não existem milagres em economia. É uma fantasia achar que você vai conseguir manter a inflação baixa sem sinalizar com clareza como vai tratar a tendência explosiva da dívida pública”, diz Otaviano Canuto, diretor executivo do Banco Mundial.

Para o economista, o setor privado não voltará a aumentar investimentos no Brasil se não houver a apresentação de um programa de ajuste fiscal detalhado e crível.

“Nosso potencial de crescimento no futuro imediato é reduzido pela anemia de produtividade”, afirma Canuto.

Desde a década de 1980, a eficiência da economia brasileira cresce a um ritmo pífio. Segundo dados da organização The Conference Board, a produtividade do trabalho no país ficou praticamente estagnada nas últimas 4 décadas, resultado que contrasta com o desempenho de muitos outros países. No mesmo período, por exemplo, o indicador teve expansão média anual de 2% no Chile, 4% na Coreia e 1% na Austrália.

“Os países que saíram do nível de renda média e se tornaram mais ricos foram os que conseguiram diminuir o hiato de produtividade com os Estados Unidos, que é, em média, o país mais produtivo”, diz o economista José Alexandre Scheinkman, da Universidade Columbia.

Parte da receita desse processo de convergência nem entrou para valer no debate eleitoral. Ela passaria, segundo especialistas, por uma maior abertura comercial e a adoção de medidas para recuperar a defasada infraestrutura do país, sofisticar a pauta de exportações e estimular a inovação.

A ausência dessa agenda nas discussões domésticas é simbolicamente ilustrada pela baixa presença brasileira do país em reuniões internacionais como a que acaba de ocorrer na China, batizada de Encontro Anual dos Novos Campeões.

“Por mais relevante que seja a questão fiscal, quando acompanhamos os debates em fóruns como esse, fica claro que estamos discutindo, ainda muito mal, uma agenda do passado”, afirma Jorge Arbache, secretário de relações internacionais do Ministério do Planejamento e único palestrante brasileiro no encontro recente do Fórum Econômico Mundial.

Para o economista, é importante equacionar o problema fiscal sem perder de vista que a política pública tem um papel importante no desenho de soluções para aumentar a competitividade.

Erros de desenho e implementação de iniciativas desse tipo no passado não deveriam, segundo ele, ser motivo para uma redução do governo a um papel minimalista na economia.

“Vivemos em uma economia global de altíssima interdependência, muito mais complexa do que em qualquer outra era. Para termos sucesso, é fundamental a combinação entre políticas públicas e privadas”, diz Arbache.

O economista ressalta que a demora do país em solucionar os problemas que hoje sufocam o país elimina a possibilidade de que eles sejam tratados de forma sequencial.

 “Não há mais tempo para isso. Precisamos atacar os problemas do passado e do presente ao mesmo tempo”, conclui.

A expectativa de especialistas, agora, é que, nas discussões do segundo turno, as discussões genéricas se tornem mais detalhadas e amplas.

 

ESTADÃO

IIF corta projeção do PIB do Brasil para 1,1% com incerteza eleitoral

O Instituto Internacional de Finanças (IIF), formado pelos 500 maiores bancos do mundo, com sede em Washington, cortou a projeção de crescimento do Produto Interno do Brasil em 2018, de 2,7%, previstos em relatório divulgado em abril, para 1,1%. Em 2019, a estimativa baixou de 2,8% para 2,2%. A elevada incerteza com as eleições e acrise na Argentina são os dois principais fatores que justificam o corte da estimativa, de acordo com relatório divulgado nesta quinta-feira, 4.

"A eleição muito disputada tem gerado dúvidas nos investidores sobre continuidade das reformas", afirma o chefe da área de análise da América Latina do IIF, Martín Castellano, no relatório. A crescente chance de um segundo turno polarizado, entre o candidato de esquerda Fernando Haddad (PT) e de direita, Jair Bolsonaro (PSL), contribui para aumentar ainda mais a incerteza sobre o cenário brasileiro para os próximos meses.

O IIF destaca que os temores dos agentes sobre as reformas, sobretudo a fiscal, aumentam quando se considera que o sistema político brasileiro é muito fragmentado, o amplo descontentamento com os partidos políticos mais tradicionais e uma economia enfraquecida. Se houver continuidade de política, o PIB deve se acelerar em 2019, ressalta o documento.

Não se pode descartar um cenário em que o próximo presidente seja incapaz de implementar as reformas, sobretudo as mais impopulares, como a da Previdência, alerta o IIF. O fracasso em estabilizar a expansão da dívida pública pode rapidamente deteriorar a confiança de investidores, empresários e consumidores e levar a alta de juros, prejudicando o crescimento.

Pelo lado positivo, o IIF destaca que o Brasil tem inflação sob controle, baixo déficit na conta corrente e patamar pequeno de dívida do governo em moeda estrangeira, além de elevado volume de reservas internacionais. "A fragilidade das contas públicas fornece espaço limitado para escorregões na política econômica e é o principal risco para o cenário", afirma Castellano no relatório.

Guerra comercial ameaça crescimento global

O maior risco à perspectiva de crescimento global é a escalada das tensões comerciais entre os EUA e a China, também apontou o Instituto para Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), em seu relatório.

No entanto, foram os ventos contrários provenientes de emergentes que levaram o IIF a reduzir a perspectiva de crescimento em 2018 em relação às estimativas feitas em abril. "Os mercados emergentes estão sofrendo vários choques, entre eles, os aumentos das taxas de juros globais, tensões comerciais e episódios de estresse na Argentina e na Turquia", destacou o Instituto.

Diante disso, a previsão de crescimento global para 2018 diminuiu em 0,3 ponto porcentual, para 3,2%. Para 2019, a estimativa é de 3,1%, 0,3 p.p abaixo da previsão de abril.

Enquanto a previsão de crescimento dos Estados Unidos em 2018 permaneceu inalterada em 2,9%, "nós rebaixamos nossas projeções para a zona do euro para 2,1% (-0,4 p.p) e no Japão para 1,2% (-0,2 p,.p.)". "A dessincronização do crescimento global aprofundou-se desde abril".

 

 

 

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