Quinta-feira

VALOR ECONÔMICO

Eleito deve enfrentar crise energética e pressão tarifária

O próximo presidente da República deve se deparar com uma crise energética já em seu início de mandato, em janeiro de 2019. O baixo nível previsto para os reservatórios das hidrelétricas do país, devido ao cenário ruim para as chuvas, indica que será necessário o acionamento de térmicas mais caras para poupar água. Por enquanto, o quadro, dizem especialistas, não mostra riscos de desabastecimento de energia em 2019, mas o acionamento das térmicas só agrava o cenário de um "tarifaço".

Ou seja, repasse para o consumidor de vários custos que se acumulam por pendências do setor. É consenso que a situação hídrica é grave e exigirá despacho de termelétricas mais caras para evitar um esvaziamento dos reservatórios. O problema é a remuneração das térmicas.

Para a Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), os reservatórios hidrelétricos do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, responsável por 70% da capacidade de armazenamento de água para geração de energia do país, não vão se recuperar no próximo verão a ponto de permitir operação confortável do sistema elétrico no período seco (entre abril e novembro).

Para a entidade, que reúne pequenos e médios consumidores, o cenário hidrológico desfavorável terá impacto no custo da energia de 2019. "Que recuperação você pode ter a partir de novembro com o período úmido? Para nós, certamente não voltaremos, no fim de março do ano que vem, a um nível confortável de 50%, 55% [de armazenamento no Sudeste/CentroOeste], que seria o ideal para enfrentar mais um período seco", afirmou Carlos Faria, presidente da Anace. "Com isso, você tem a geração térmica que vai continuar em patamares elevados, como está hoje. Hoje temos cerca de 13 mil MW médios sendo gerados de térmicas e vamos continuar com isso."

Pelos cálculos da Anace, os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste chegarão ao fim de novembro com cerca de 22% de armazenamento. Para o fim do próximo período chuvoso, em abril, a entidade projeta um estoque de apenas 45%: "É muito ruim para enfrentar um período seco. Vamos ter a repetição do que está acontecendo neste ano". Os reservatórios do Sudeste/CentroOeste estão com 22,7% da capacidade. A última previsão oficial do operador para o fim de outubro é de 17,9%.

Em meio a este cenário e a uma sucessão presidencial, o Ministério de Minas e Energia (MME) surpreendeu ao abrir nesta semana duas polêmicas consultas públicas para viabilizar o funcionamento de termelétricas a gás natural sem contrato, com potencial de repasse de custos milionários aos consumidores. As consultas foram abertas com prazo de apenas quatro dias para contribuições, diante da alegada urgência de uma solução para o problema.

As consultas envolvem propostas de repasse ao consumidor dos custos necessários para viabilizar a operação de quatro térmicas a gás que estão com problemas na oferta do combustível: Termofortaleza (da Enel), Araucária (da Copel, com participação da Petrobras), Uruguaiana (AES Tietê) e Cuiabá (JBS). As propostas, que implicam aumento de tarifa via encargos, surgem justamente no momento em que o ministro Moreira Franco defende a redução tarifária e a adoção de um modelo mais simples para a cobrança da energia, para que o consumidor entenda mais facilmente o que está pagando.

Na segunda-feira, o MME abriu consulta para viabilizar a geração da Termofortaleza, parada desde fevereiro por conflito entre a Enel e a Petrobras. A estatal prefere pagar multa a entregar o gás ao preço estabelecido pelo Plano Prioritário de Termelétricas (PPT), criado em 2000 às vésperas do racionamento de energia do ano seguinte.

A consulta propõe que a diferença entre a tarifa do contrato da termelétrica e o novo preço cobrado pela Petrobras seria pago via encargo pelos consumidores. No dia seguinte, foi lançada outra consulta, para viabilizar a operação das outras três térmicas que hoje estão indisponíveis por falta de gás.

Nesse caso, a consulta propõe ajustar o custo variável unitário das usinas, que seria acrescido de parcela fixa referente à remuneração dos investimentos (que normalmente seriam remunerados por contrato de venda de energia de longo prazo, inexistente no caso das usinas que operam em regime de "merchant").

Além disso, o governo propõe a liquidação da energia das quatro térmicas em separado, para evitar que a inadimplência atual no mercado de curto prazo afete essas usinas. A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) deve se posicionar contra a proposta do MME de liquidação em separado por entender que a medida é contrária ao princípio de isonomia dos agentes, segundo Talita Porto, conselheira da CCEE. A câmara estuda fazer uma contribuição às consultas públicas abertas pelo MME.

O problema é que, devido ao prazo curto para o envio de contribuições, o material pode não ser concluído a tempo. O presidente da Associação de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Edvaldo Santana, criticou a abertura das consultas públicas com pouco tempo para o envio de contribuições, o que limita a transparência e a participação dos agentes do setor.

Segundo ele, o quadro energético atual apresentado pelo governo não justifica um aumento de custos para o consumidor para suportar a operação dessas térmicas. "Se tudo está sob controle, não justifica o consumidor pagar esse impacto. Preocupa-me, além dos custos, o que pode estar acontecendo do ponto de vista energético e que nós não estejamos sabendo", disse.

Questionado sobre o assunto, Rodrigo Limp, diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), disse que a agência é favorável à solução para despacho dessas usinas, que poderiam operar no lugar de outras termelétricas mais caras, a óleo combustível e diesel. Para o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, considerando o cenário de acionamento de térmicas fora da ordem de mérito, a proposta de acionamento da Termofortaleza, com remuneração por ESS, seria mais barata para o consumidor do que despachar térmicas com custo ainda mais alto.

Para justificar as propostas, o MME anexou ao material da consulta pública uma carta enviada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) com simulações feitas em agosto e que projetavam um nível de estoque dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste entre 14,6% e 12,2% no fim de novembro. De acordo com Leonardo Calabró, vice-presidente de operações da consultoria Thymos Energia, as projeções anexadas pelo MME estão defasadas, já que foram feitas em agosto.

Pelos cálculos da Thymos, os reservatórios de todo o país chegariam a 22% ao fim do período seco, no início de dezembro, considerando o despacho fora da ordem de mérito de termelétricas. "Excluindo o despacho das termelétricas, podemos chegar ao fim de novembro com um volume próximo de 18% dos reservatórios de todo o país", disse Calabró. Esse nível é muito baixo, mas o que se comenta no setor é que não exigiria uma proposta feita via consulta com tal açodamento.

Na última semana, a hidrologia teve leve melhora, que permitiu o desligamento de termelétricas fora da ordem de mérito (com custo superior ao preço de energia no mercado à vista). Essas oscilações de curto, no entanto, não mudam a visão dos especialistas, de que o acionamento das usinas será inevitável, assim como a alta do custo.

 

'Brasil não aprendeu absolutamente nada com a crise econômica'

O Brasil não aprendeu "absolutamente nada" com a grave crise econômica que fez o PIB encolher 3,5% em 2015 e outros 3,5% em 2016, diz o economista-chefe da Verde Asset Management, Daniel Leichsenring. "Nós desperdiçamos uma crise e não conseguimos nem sequer tirar lições dela", afirma ele, ao comentar as dificuldades que o próximo presidente deverá ter para tentar resolver o conflito distributivo. A sensação dominante parece ser a de que "o Estado vai prover tudo", segundo Leichsenring.

O economista cita o caso da greve dos caminhoneiros, ocorrida em maio, que provocou desabastecimento, afetando a produção e o comércio. O que mais lhe chamou a atenção não foi a paralisação em si, mas o apoio de uma fatia enorme da população ao movimento - 87% dos entrevistados por pesquisa do Datafolha disseram concordar com a greve.

"Isso é absolutamente inacreditável. As pessoas foram afetadas no seu dia a dia, não conseguiram se locomover, tiveram desabastecimento, houve uma série de problemas e ainda assim a população apoia", afirma ele. "O ambiente no país está tão inóspito que as pessoas aprovam qualquer coisa que na cabeça delas signifique algum tipo de demonstração contra o governo, contra o establishment."

Leichsenring afirma que "o país tem um problema fiscal muito grande", sendo necessário dar conta "urgentemente" de reduzir o déficit público. "Nós não temos muito tempo", resume ele, ao se referir aos déficits primários elevados e à trajetória explosiva de crescimento da dívida bruta em relação ao PIB. Mas Leichsenring destaca também os problemas que dificultam a economia avançar a taxas mais robustas. Segundo ele, "o financiamento de todos os direitos da Constituição criou um ambiente econômico em que os incentivos não estão alinhados para o crescimento".

Na visão de Leichsenring, passados 30 anos da Constituição de 1988, o país não conseguiu se desenvolver e crescer nem resolver o problema fiscal. "Nós continuamos com problema de dívida", afirma ele. "É uma sociedade que falhou retumbantemente em melhorar a perspectiva econômica. Muito avanço foi feito nas áreas em que a Constituição mais se propôs a agir, nas liberdades, nos direitos. Houve algum avanço em relação à distribuição de renda."

No entanto, a Constituição criou disfuncionalidades, ainda que de maneira não intencional, avalia ele, citando a liberdade para a criação de partidos e de sindicatos. "Vamos pegar a questão dos partidos. Ficou claro que abrir um partido era a melhor coisa que alguém poderia fazer. Instantaneamente, tinha acesso a fundo partidário, a tempo de televisão. Virou um negócio."

O objetivo, diz ele, era garantir organização ampla em partidos, numa época de clamor por abertura e por maior representatividade, mas acabou por se criar "uma estrutura de incentivos muito perversa". Segundo Leichsenring, isso leva a uma situação "absolutamente indesejável": diversos "grupos de interesse que se beneficiam enormemente dos incentivos criados", brigando "até o fim da vida para manter os privilégios".

Nesse ambiente, várias corporações foram criadas e estimuladas ao longo do tempo, tendo capturado vários braços do Estado para interesse próprio. "A nossa Previdência do setor público deve ser o maior programa de concentração de renda do universo", afirma Leichsenring. "Eu nunca estudei esse assunto comparativamente, mas muito provavelmente a Previdência pública brasileira deve ser um dos maiores programas de concentração de renda do mundo", diz o economista da Verde, a gestora comandada por Luis Stuhlberger.

 O valor das aposentadorias de quem trabalhou no setor público é muito superior às dos empregados do setor privado, por exemplo. "A sociedade inteira está financiando isso", afirma ele. "São aquelas instituições criadas ao longo do tempo que nós não conseguimos reformar e hoje impõem um custo do ponto de vista de crescimento e um custo enorme do ponto de vista da confiança no sistema político e no sistema econômico."

Ao falar das perspectivas para o próximo governo, Leichsenring diz que gostaria de ver ao longo de 2019 "um conjunto de políticas que fossem desenhadas para, em primeiro lugar, resolver o problema fiscal de modo urgente, tentando de toda maneira evitar aumento de carga tributária". Para isso, é preciso conter o gasto, "o que significa rever Previdência e benefícios de modo geral, tirar privilégios e tentar fazer alguma reforma tributária que dê um pouco de racionalidade ao nosso sistema".

O economista da Verde reitera a gravidade do problema fiscal do país, avaliando que o país não tem tempo de errar. Nesse cenário, seria melhor tentar aprovar o projeto da reforma da Previdência apresentada pelo governo Michel Temer. "[A proposta] Não é uma maravilha, mas já é um avanço."

Segundo ele, se vierem no próximo governo propostas "muito diferentes das que já foram debatidas", há o risco de se perder um tempo importante. O período de lua de mel após as eleições seria desperdiçado, em vez de ser usado para aprovar reformas importantes. Isso pode ocorrer se houver a tentativa de aprovar uma mudança no sistema de aposentadorias introduzindo o regime de capitalização (com contas individuais), afirma Leichsenring.

Segundo ele, a proposta não resolve o problema agora, gerando ainda um custo adicional relevante no curto prazo. Economistas de candidatos como Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) têm falado no regime de capitalização ao tratar da reforma da Previdência. "Esse é talvez o meu maior receio. Uma combinação de qual é o tipo de maioria que se consegue no Congresso, do tipo de negociação que vai levar a essa maioria e do tipo de proposta [apresentada]."

Sobre o cenário político, marcado atualmente pela polarização entre Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), Leichsenring afirma não estar muito esperançoso de que o melhor conjunto de políticas vá vingar, embora ao mesmo tempo diga ter dúvidas de que o pior conjunto de propostas vai prevalecer. "O extremo mesmo, voltar à agenda Dilma, de total desprezo por qualquer responsabilidade fiscal, isso eu acho que não volta mais."

O problema, ressalta, é que o meio do caminho não resolve o problema fiscal brasileiro, e, portanto, é negativo para dívida pública e para o crescimento, colocando riscos importantes no horizonte. Em caso de vitória de Bolsonaro, uma preocupação para ele é como será a relação com o Congresso, mesmo que as eventuais divergências entre o deputado e o seu conselheiro econômico, Paulo Guedes sejam superadas e prevaleçam as melhores diretrizes de política econômica.

"No fim das contas, a campanha dele é toda em cima do discurso anti-establishment, contra o político tradicional." "Acho que boa parte do Centrão tende a compor com o governo, mas o problema é o establishment político, a elite política, e aí acho que a composição é um pouco mais difícil", pondera ele, lembrando que isso pode dificultar a formação de maiorias para aprovar reformas constitucionais.

No caso de Haddad, Leichsenring diz esperar que o petista faça uma convergência para o centro, mas considera que a proposta tende a ser insuficiente para dar conta do problema fiscal. Além disso, há riscos grandes de retrocesso em algumas áreas, como a trabalhista e institucional, com o enfraquecimento das instituições, afirma ele. A situação fiscal precisa ser resolvida para evitar que a dívida bruta, hoje em 77,3% do PIB, continue a avançar, diz ele.

 É necessário "um programa de ajuste minimamente decente" para impedir que o indicador siga em alta para 100%, 120% do PIB, de acordo com Leichsenring. Se o país não for capaz de fazer isso, chegará um momento em que restarão duas opções. A primeira é um calote explícito, com o governo dizendo que não pagará o que deve. "Nós já vimos isso no passado", lembra ele.

"É um negócio brutal sobre a economia. Você desestrutura todo o sistema financeiro, desestrutura todas as famílias e as empresas." A outra alternativa é deixar que o valor real da dívida do governo diminua, pelo aumento da inflação - o calote implícito. "Se você não consertar a origem do problema, você vai para algum tipo de calote, seja explícito, seja implícito."

Para aumentar a capacidade de crescimento do país, Leichsenring considera fundamental a implementação de uma agenda de competitividade que inclua medidas como a abertura da economia e a melhora da qualidade do sistema tributário. Na área política, vê como crucial uma reforma que ataque o problema do "abismo" entre o representante e o representado. "Tem que reduzir gasto de campanha. Avançar no sentido de caminhar para um voto distrital reduziria muito o custo."

Leichsenring espera um crescimento próximo de 1,5% neste ano, estimando uma expansão entre 2% e 2,5% no ano que vem. Um ponto favorável, segundo ele, é que a economia está numa situação muito tranquila para crescer. Ele desenvolveu um índice de vulnerabilidade da economia, que perto de meados do ano estava num dos menores níveis desde o observado nos anos 1990. A ideia é avaliar qual é a probabilidade de que o ciclo de crescimento seja abortado devido a algum desequilíbrio.

O indicador leva em conta variáveis mais cíclicas, como a inflação em relação à meta perseguida pelo Banco Central (BC), o ritmo de crescimento comparado ao PIB potencial (aquele que não causa pressões inflacionárias) e o nível de ociosidade na economia, além de outros fatores como a relação dívida/PIB, o nível de reservas como proporção do PIB e o resultado em conta corrente. A única grande vulnerabilidade era a fiscal, diz Leichsenring.

Havia tranquilidade no front inflacionário, o déficit em conta corrente era muito baixo e havia bastante ociosidade na economia, uma combinação propícia para a continuidade do ciclo de crescimento. "O problema é que, ao longo do tempo, se você não consertar a situação fiscal, há o risco de isso contaminar as outras coisas", afirma ele, indicando mais uma vez a urgência de se enfrentar o desequilíbrio das contas públicas.

 

Exterior neutro leva juros futuros a fecharem em baixa

Apesar de o mercado creditar o rali dos ativos brasileiros nos últimos dois pregões em parte à virada inesperada do cenário político, com pesquisas de intenção de voto mostrando Jair Bolsonaro (PSL) mais forte na corrida pela Presidência da República, o movimento só teve tamanha intensidade por conta de questões técnicas e porque o contexto internacional para países emergentes permitiu a melhora. A primeira grande influência vem do ajuste das posições das carteiras.

Os investidores estavam excessivamente conservadores e com baixíssimo risco em seus portfólios para ultrapassar a turbulência eleitoral, conforme explica Paulo Clini, responsável pela área de investimentos da Western Asset.

Recentemente, os fundos começaram a perceber que o ambiente político poderia não ser tão tumultuado, com os candidatos podendo caminhar para o centro, e neste contexto a exposição estava abaixo do razoável na busca pelo retorno desejado. “Há dois meses, o investidor estava com menor exposição à bolsa, juros longos, e com muito seguro. Agora, eles estão recompondo as carteiras para que a exposição ao risco saia de um patamar baixíssimo e vá para a média observada no restante do ano”, diz.

Ao observar o preço dos ativos, segundo ele, fica evidente o desmonte de operações de proteção, com gestores se desfazendo dos seguros contratados para passar o período eleitoral. “Uma posição excessivamente conservadora pode custar muito caro”, completa. Esse movimento começou de maneira gradual antes do avanço de Bolsonaro nas pesquisas. Por trás disso está a mudança do pessimismo global para uma visão neutra para países em desenvolvimento.

O receio de colapso dos emergentes saiu da pauta, o Federal Reserve não sinalizou nenhuma mudança no ritmo de normalização monetária e a China, que poderia representar alguma ameaça, vem buscando estímulos para a sua economia. Com esse cenário, os investidores estrangeiros começaram a recomendar Brasil e assim teve início o movimento recente. “Ciclos políticos como este são inerentes em investimentos em países emergentes, para o investidor estrangeiro. Os preços dos ativos chegaram a um nível que seria possível correr o risco local”, diz Clini.

De acordo com o executivo de um banco de investimentos, foi possível observar a melhora da dinâmica externa influenciando os títulos de renda fixa que são negociados lá fora. O volume em títulos em circulação vinha caindo com o vencimento de papéis sem novas emissões e, recentemente, boas oportunidades começaram a surgir com a abertura dos “yields”. “Os bancos começaram a recomendar os papéis”, diz essa fonte.

Para se ter ideia da melhora dos contratos de juros futuros desde a segundafeira (1º de outubro), o DI janeiro/2025, que reflete a percepção de risco país, recuou 0,29 ponto percentual nos dois dias e fechou cotado em 11,35%. E a melhora pode continuar ao longo da semana, ainda que em menor intensidade, de acordo com a Rogério Braga, gestor de renda fixa e multimercados da Quantitas. “Ainda que não seja o cenário majoritário, a probabilidade de Bolsonaro vencer no primeiro turno deve aumentar até a sexta-feira.”

Ao fim da sessão regular, às 16h, o DI janeiro/2020 fechou a 8,15% (de 8,18% no ajuste anterior), o DI janeiro/2021 anotou taxa de 9,32% (de 9,39% no ajuste anterior) e o DI janeiro/2025 encerrou a 11,35% (de 11,43% no ajuste anterior).

 

Bancos veem alta no risco político, segundo pesquisa do BC

Na mais recente Pesquisa de Estabilidade Financeira (PEF ), realizada pelo Banco Central em agosto, as instituições financeiras apontaram aumento nos riscos no cenário prospectivo e destacaram o risco político como o de maior probabilidade e impacto. “Os riscos políticos apontados pelas instituições referem-se basicamente às incertezas associadas às eleições presidenciais, como o resultado das eleições, o programa do candidato eleito e as condições de governabilidade”, afirmou o BC em seu Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado na manhã desta quarta-feira.

Segundo o Banco Central, as instituições financeiras consideram os riscos políticos os mais difíceis de mitigar com adoção de estratégias internas. “O risco político é relacionado à confiança que vem para frente”, em termos de condução da política fiscal, disse o diretor de fiscalização do Banco Central, Paulo Souza. Ele explicou que o modelo de reforma fiscal a ser adotada pelo futuro governo “terá impacto na taxa estrutural de juro e, com isso, o sistema financeiro fica mais apreensivo”. “As instituições se perguntam: ‘vou ser mais agressivo no crédito agora, sem saber comportamento do juro?’ É isso que gera esse ambiente”, acrescentou Souza.

De acordo com o diretor, “o mais importante é o BC manter a sua isenção e nosso esforço é, independentemente de quem venha a ganhar, entregar o país com inflação dentro da meta, juros em níveis baixos e sistema financeiro apto a suportar o crescimento, independentemente do cenário”.

A pesquisa trimestral mostrou que, no entendimento dos bancos, os riscos à estabilidade financeira associados ao cenário internacional também ganharam impulso. Nesse caso, a citação de riscos, antes mais limitada ao aumento da taxa de juros pelos Estados Unidos, passou a englobar também preocupações com a escalada das tensões comerciais. De maneira geral, os canais de transmissão de eventos mais relevantes apontados pelos bancos foram queda expressiva de preços de ativos, aumento da aversão ao risco e de incerteza, fuga de capitais, depreciação cambial e rebaixamento da nota de crédito.

Choques

Segundo o documento, porém, os resultados da pesquisa reforçam a confiança do mercado na capacidade de o sistema financeiro absorver choques. O relatório destaca que, no primeiro semestre deste ano, a atividade econômica cresceu em ritmo mais lento que no segundo semestre de 2017. A recuperação gradual da economia, combinada às quedas da inflação e da taxa básica de juros, permitiu o avanço nominal de 1,3% no crédito bancário, com efeitos distintos nos portfólios: aumento de 2,7% no crédito às famílias e recuo de 0,4% no crédito às empresas.

“A melhora nos indicadores de risco de crédito – com diminuição do nível dos ativos problemáticos – propiciou significativa redução nas despesas de provisão, aumentando a rentabilidade e a resiliência do sistema bancário frente a cenários de estresse”, destaca o documento. Crédito O relatório destaca que é esperada que a recuperação do crédito às pessoas físicas permaneça ao longo do segundo semestre de 2018, com a continuidade das melhorias das condições econômicas.

Segundo o documento, o crédito bancário às famílias avança desde o início de 2017, com concomitante percepção de redução do risco da carteira. A avaliação é que a redução do nível de desocupação e a melhora na renda das famílias, aliadas às quedas da inflação e das taxas de juros, influenciaram positivamente para menores níveis de comprometimento de renda e de endividamento ao longo dos últimos anos, com impactos mais pronunciados nas modalidades voltadas ao consumo, como financiamento de veículos, crédito consignado e cartão de crédito.

“A retomada do crescimento neste portfólio ocorre sem indícios, até o momento, de aumento no risco de crédito incorrido pelas instituições financeiras. Houve manutenção ou queda dos ativos problemáticos ao longo do primeiro semestre de 2018 em todas as modalidades de crédito”, ressalta o documento. Segundo o relatório, ocorreu manutenção ou queda dos ativos problemáticos ao longo do primeiro semestre de 2018 em todas as modalidades de crédito. Provisão

O texto aponta também que a queda nas despesas com provisão dos bancos elevou a rentabilidade dessas instituições. “O nível de provisionamento da carteira de crédito permanece adequado ao seu perfil de risco. Apesar do ligeiro crescimento da carteira de crédito, ocorreu redução da taxa bruta de retorno de 12,7% para 11,7% no semestre, em decorrência da contínua redução das taxas de juros auferidas na carteira de títulos e valores mobiliários (TVM) e nas novas concessões de crédito.

No entanto, a redução do risco de crédito, com consequente queda das despesas de provisão, e os ganhos de eficiência propiciaram melhora da rentabilidade dos bancos”, explica o BC. A autoridade monetária considera que o nível de provisões comparado à carteira de ativos problemáticos mantém-se confortável, em linha com o perfil de risco da carteira de crédito, sem riscos para a estabilidade financeira.

“A perspectiva é de estabilização das despesas de provisão e de desaceleração da trajetória de aumento da rentabilidade nos próximos semestres, mas ainda em condições favoráveis para a evolução do Retorno sobre o Patrimônio (RoE)”, relata o sumário executivo. “O número de instituições com resultados negativos reduziu no semestre. Instituições de menor porte com modelos de negócio mais dependente de tesouraria e de crédito corporativo enfrentam maiores desafios para restabelecer a rentabilidade aos níveis anteriores à crise”, diz o texto.

Basileia

O Índice de Basileia do sistema financeiro caiu de 18,1% em dezembro de 2017 para 17,2% em junho deste ano, informou o BC. Segundo o relatório, esse recuo reflete principalmente a retomada gradual do crédito no período e os ajustes prudenciais feitos pelos bancos. “O sistema bancário dispõe de capital robusto, em nível e qualidade, estando plenamente aderente às regras de Basileia III e com capacidade de suportar a tendência de crescimento da carteira de crédito”, afirmou o BC no documento.

A autoridade monetária disse, ainda, que simulação feita pela autarquia indica que a transição para a plena implementação de Basileia III será “serena”. Instituições que representam 99,9% dos ativos do sistema bancário têm Índice de Capital Principal (ICP) projetado acima do requerimento mínimo de 7%, que vigorará a partir de 2019.

Liquidez

De acordo com o BC, o risco de liquidez de curto e de longo prazo no sistema financeiro é baixo e assim tende a continuar neste segundo semestre. “Houve aumento do custo das captações no exterior. Os efeitos da gradual retomada das concessões de crédito foram compensados pela redução das alíquotas de compulsório para depósitos à vista e de poupança a partir de abril de 2018, contribuindo para a estabilidade no nível de ativos líquidos no semestre”, diz o texto.

A autoridade monetária aponta que todos os conglomerados bancários sujeitos ao cumprimento do indicador de Liquidez de Curto Prazo (Liquidity Coverage Ratio – LCR) apresentam índices superiores a 100%, nível a ser exigido somente a partir de janeiro de 2019. “No que tange ao Índice de Liquidez Estrutural (ILE), bancos que representam 96% dos ativos do sistema mantinham, em junho de 2018, estruturas de balanço que mitigam o risco de liquidez no longo prazo”, relata. “Embora tenha ocorrido elevação do custo de captação no exterior em razão da conjuntura internacional, a dependência de funding externo é baixa e as instituições financeiras têm acessado o crédito externo em volume suficiente para atender às necessidades domésticas”, completa o BC.

 

BNDES, IFC e BID Invest criam fundo de crédito de R$ 1,2 bi

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fechou, em parceria com outros bancos de fomento, fundos de pensão e investidores privados, aporte de R$ 1,2 bilhão em um fundo de investimento em direitos creditórios (FDIC) na área de crédito corporativo. O objetivo do fundo, cujo gestor é o Pátria, é conceder crédito de longo prazo, de até sete anos, para empresas de médio porte (faturamento anual de até R$ 1,5 bilhão) que ainda não têm acesso ao mercado de capitais.

As empresas poderão usar esses recursos para investimento ou capital de giro. “Não vamos determinar a alocação [dos recursos] pelas empresas”, disse Olimpio Matarazzo Neto, sócio do Patria. A subscrição no fundo, chamado de Pátria Crédito Estruturado FDIC, superou a expectativa inicial, que era de R$ 800 milhões, disse Matarazzo. O BNDES vai aportar até 20% do patrimônio do fundo que terá, no total, 19 cotistas, incluindo fundos de pensão estatais, investidores institucionais e family offices.

A International Finance Corporation (IFC), do Banco Mundial, vai aportar R$ 188 milhões no fundo, enquanto o BID Invest, braço de investimento para o setor privado do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), subscreveu R$ 160 milhões. A expectativa é fechar as primeiras operações do fundo nos próximos três a quatro meses, previu Matarazzo. Ele disse que o Pátria, especializado em private equity, investe com foco em alguns setores como infraestrutura, educação, alimentos e bebidas e agronegócio. A tendência, portanto, é que o FDIC de crédito corporativo comece investindo em empresas desses setores, mas Matarazzo reconheceu que podem aparecer outras oportunidades.

O executivo também enfatizou que o fundo não vai investir em companhias em que o Pátria já participa. “Mas como conhecemos esses setores, nos sentimos confortáveis de entrar com instrumento de dívida privada nesses setores também”, afirmou. Eliane Lustosa, diretora da área de mercado de capitais do BNDES, disse que a escolha do Pátria como gestor do fundo atendeu a um processo rápido de escolha (fast-track) aprovado pelo banco em suas políticas de investimento para FDICS.

Nesse processo, o BNDES comunicou aos gestores no mercado que o banco pode apoiar, em determinadas condições, projetos que estiverem em processo de captação. Eliane disse que o FDIC do Pátria é o primeiro investimento em um fundo de crédito corporativo aprovado pelo banco na modalidade “fast-track”. Ela afirmou que os três bancos de fomento que participam da iniciativa (BNDES, IFC e BID Invest) têm perfil e objetivos semelhantes. As três instituições buscam desenvolver o mercado de capitais e têm processos “diligentes” de auditoria (due dilligence) e de governança corporativa, disse Eliane.

“O objetivo [dos três bancos] foi não replicar esforços.” Buscou-se ainda, segundo ela, contar com um gestor experiente para identificar bons projetos que possam ser levados ao mercado de capitais. A ideia do fundo é permitir que empresas de médio porte possam melhorar suas condições de crédito e acessar o mercado de capitais no futuro. “Poucas vezes se tem esse alinhamento de estrelas [de interesses]”, disse Hector Gomez, diretor da IFC no Brasil, referindo-se à parceria entre BNDES, BID Invest, IFC e Pátria.

O BID Invest vê, por sua vez, uma oportunidade no fundo de reforçar sua presença no Brasil, disse Fabio Fagundes, do BID Invest. Sandro Marcondes, diretor de operações estruturadas e dívida de mercado de capitais do Santander, disse que o fundo permite atender à base de clientes de pessoas-jurídicas do banco, que terão acesso a um novo “bolso” de funding para fazer frente às duas demandas de crédito. O Santander atuou como coordenador, estruturador e distribuidor da oferta do FDIC, fazendo, junto com o Pátria, a captação dos investidores que aportaram recursos no fundo.

Rodrigo Rocha, da área de distribuição de renda fixa do Santander, disse que o FDIC do Pátria terá rating estabelecido pela agência Fitch, embora a análise de crédito seja feita pelo Pátria. O pré-requisito para que o fundo possa fazer a operação de crédito é rating mínimo “BB”. O fundo, disse Rocha, dará “fôlego” para que empresas, com funding alongado, possam estruturar investimentos, e buscar o mercado de capitais.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Nem Bolsonaro nem Haddad terão apoio do Congresso, diz banqueiro

Os mercados financeiros acabarão abraçando até mesmo o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, se ele ganhar a eleição, e a Bolsa pode ter uma alta de mais 10%, segundo o banqueiro Ricardo Lacerda.

"Hoje, evidentemente, existe uma histeria contra o PT no meio empresarial e financeiro", disse Larcerda, fundador e presidente do BR Partners, uma butique de banco de investimento.

"Mas em determinado momento você tem de viver e jogar o jogo com as cartas que estão na mesa."

Lacerda, que já dirigiu a área de banco de investimento no Brasil do Citigroup e do Goldman Sachs, disse que vê uma chance de 70% de que Haddad e Jair Bolsonaro (PSL) cheguem ao segundo turno.

Os mercados financeiros já estão mostrando otimismo desde meados do mês passado porque nem Haddad nem Bolsonaro "vão representar essa ruptura que se imaginou", apesar de não serem os preferidos do mercado, segundo Lacerda, que apoia João Amoêdo (Novo).

"Se você olhar para as taxas de juros, os mercados de ações ou de câmbio, esse rali de alívio já é muito claro, mesmo com algumas pesquisas mostrando Haddad como vencedor no segundo turno."

A mais recente pesquisa Ibope mostra Bolsonaro com 32% dos votos. Haddad fica em segundo lugar, com 23%. Amoêdo, o candidato apoiado por Lacerda, tem 3%.

O dólar poderia cair para R$ 3,80, depois de atingir R$ 4,21 em 13 de setembro, disse Lacerda.

O Ibovespa teria um potencial de alta de mais 10% depois do avanço de mais de 8% desde meados do mês passado.

Os mercados ainda estão apoiando Bolsonaro, afirmou.

Uma pesquisa informal feita pela Bloomberg no mês passado revelou que muitos banqueiros consideram a vitória de Haddad como o pior cenário para os mercados, porque seu partido apoia mais impostos para os ricos e para os bancos que não cortarem os juros cobrados nos empréstimos.

Mas Lacerda disse que, embora Haddad seja do mesmo partido que a ex-presidente Dilma Rousseff —que sofreu impeachment em 2016—, ele é "uma pessoa ponderada, mais aberta ao diálogo e um político experiente".

O PT, no entanto, é um partido "desgastado, responsável pelo caos econômico em que vivemos hoje no Brasil".

Como prefeito da maior cidade do país, Haddad manteve orçamentos equilibrados, adotou medidas impopulares de aumento de tarifas de ônibus e obteve o grau de investimento para São Paulo.

Seu partido, porém, representa mais intervenção do Estado na economia, disse.

"É preciso conter esse movimento estatista no Brasil, e eu acho que o partido mais limpo, mais propositivo, mais objetivo que tem feito isso é o Partido Novo, na figura do João Amoêdo," disse Lacerda.

O banqueiro rejeita a pressão de partidários de Bolsonaro para que os eleitores do Novo pratiquem o voto útil no capitão reformado no primeiro turno a fim de evitar um retorno do PT.

"Eu não vejo nenhuma possibilidade de votar útil e acho que esse bullying é muito deselegante e típico de quem está acostumado com posições autoritárias," afirmou.

Bolsonaro não tem "a experiência ou o equilíbrio emocional necessários a um presidente", disse.

Seu assessor econômico, Paulo Guedes, é "um economista brilhante, uma pessoa com uma visão muito lúcida, mas sem experiência nenhuma com execução".

Segundo Lacerda, Guedes "não é uma pessoa que participou de governos, ou que conduziu grandes corporações, e, portanto, não tem ideia dos desafios de costurar um acordo no Congresso, de implementar uma política econômica adequada".

Algumas das propostas de Guedes são também "muito superficiais", afirmou Lacerda.

Mas, se eleitos, nem Bolsonaro nem Haddad trariam uma ruptura institucional, disse Lacerda.

"O PT governou o país por 13 anos, sofreu um processo de impeachment e não representou nenhuma ameaça à democracia ou às suas instituições," disse.

"Espero que Haddad governe com clareza, e então poderemos ter uma acomodação com o mercado," disse, ao acrescentar: "Espero que ele não faça as mesmas viradas de mesa como fez a Dilma".

A escolha de um ministro da Fazenda correto seria crucial para Haddad e poderia trazer alívio aos mercados, disse Lacerda, ao citar Marcos Lisboa, presidente da escola de economia e negócios Insper, e Henrique Meirelles, que ficou no cargo de maio de 2016 a abril último. Os dois já participaram de governos do PT.

Para Lacerda, a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi justa.

"Não tenho dúvida de que não foi um processo de conotação política, inclusive porque muitos dos juízes que participaram da decisão foram nomeados pelo próprio PT."

Ele disse, no entanto, que entende a desconfiança da população, "quando você olha que entre todos os corruptos só o Lula está preso".

Bolsonaro, "apesar das barbaridades que diz, de que vai fuzilar petistas ou que vai pagar menos para mulheres do que para homens", também não iria romper o processo democrático.

"Não podemos esquecer que ele mesmo é parlamentar há quase 30 anos, é uma pessoa que vai precisar de apoio", disse Lacerda. "A ligação militar de Bolsonaro não representa nenhum risco de ruptura."

Lacerda, que deixou de ser filiado ao PSDB há dois anos, disse que o partido recebeu "o beijo da morte" no governo Michael Temer.

"Eles jamais poderiam ter apoiado o governo Temer da forma como apoiaram, indicando pessoas que sabidamente tinham reputação muito questionável, mergulhando em um governo que já não era de saída legítimo e que se deslegitimou ainda mais por meio da corrupção."

Apesar de seu otimismo com o mercado após as eleições, Lacerda está pessimista quanto às perspectivas de longo prazo da economia, em parte porque nem Bolsonaro nem Haddad terão o apoio necessário no Congresso para promover reformas duradouras.

"Teremos mais da velha política de negociatas no Congresso", disse.

Para ele, as reformas necessárias para acabar com o déficit público não serão feitas, ou serão reformas pífias, "talvez uma versão mutilada dessa reforma da Previdência que está tramitando no Congresso, incluindo pequenos aspectos como idade mínima".

"Será a solução típica brasileira, de acomodação e de empurrar com a barriga."

 

ESTADÃO

‘Mercado erra ao subestimar riscos com Bolsonaro’

Ao preferir o candidato Jair Bolsonaro (PSL) ao petista Fernando Haddad (PT), o mercado financeiro está “grosseiramente subestimando os riscos futuros”, diz o economista Paulo Leme, professor visitante na Universidade de Miami.

Para ele, os investidores estão desconsiderando a falta de habilidade política de Bolsonaro, que deverá pesar na hora de aprovar reformas no Congresso. O economista, ex-presidente do Goldman Sachs no Brasil, afirma que ambos os candidatos são “péssimos” e a tendência é de deterioração ainda maior do cenário econômico e político brasileiro.

“Em resumo, eu vendo”, diz, o economista, usando um jargão do mercado financeiro, que faz referência à aposta de que os ativos vão se desvalorizar. A seguir, trechos da entrevista.

Em abril, o sr. disse que a probabilidade de um candidato do establishment ser eleito era de 60%. O que ocorreu que os 40% prevaleceram?

O mesmo fenômeno que vimos nos EUA e no mundo inteiro. Os formadores de opinião e de preços de mercado não estão conectados com a realidade do País. O Brasil está dividido mais para a esquerda e para a direita do que no centro. E foi nessa leitura que errei grosseiramente. Eu achava que dois terços (da população) estavam no centro. Mas, na realidade, não passa de 20%.

Não houve também uma confusão no mercado entre desejo e realidade?

Acho que sim. Uma coisa é o que você gostaria e outra é a realidade. Mas houve um viés. Esse foi o passado. E o futuro será igual. O mercado está precificando o Haddad como o cenário ruim e, goste ou não goste do Bolsonaro, acha que ele não é tao ruim. Novamente o mercado está grosseiramente subestimando os riscos futuros. O que tem de ser feito no País de ajuste fiscal e reformas para retomar crescimento e distribuição de renda precisa de habilidade política, o que não vejo nesse candidato. Espero estar errado. O mercado está recaindo em um novo erro ao subestimar a dificuldade de governar, da mesma maneira que superestimou o PIB no começo do ano, superestimou a chance do centro ganhar as eleições e de ter um candidato reformista.

Haddad seria uma opção melhor? Teria capacidade política e interesse em reformas?

Não estou dizendo que seria melhor. O mercado está achando que Bolsonaro seria melhor que Haddad. Eles são péssimos, cada um por suas razões.

Há quem veja o Haddad como um petista moderado...

Acho difícil. Acho que serão as mesmas pessoas (dos governos petistas anteriores) fazendo as mesmas coisas e com resultados piores, porque o País está em condições piores.

Há então uma responsabilidade dos políticos de centro, que não se uniram para lançar uma candidatura competitiva?

Acho que uma desconexão. As lideranças não fizeram as escolhas acertadas, não só de candidato como também de coalizões. Há também a questão de que a correia de transmissão está quebrada. Não há formações de novos líderes na velocidade suficiente para preencher esse vácuo deixado penosamente pela Operação Lava Jato.

O sr. está pessimista com os dois candidatos com maior intenção de votos. Acha que a situação vai se deteriorar ainda mais?

Em resumo, eu vendo. Dados os desafios, que são enormes, e que existe uma dificuldade de representatividade política, vai ser uma surpresa para mim, se der certo.

O sr. já falou da necessidade de se fazer ajuste fiscal, mas cuidando do crescimento. Como o novo governo pode fazer isso?

O equilíbrio fiscal tem de ser (buscado) muito rápido e com corte de gastos. Não tem mais ajuste gradual viável.

Com aumento de imposto também?

Tem de ser muito mais na parte de corte de gastos, de subsídios, de transferências. Você vai preencher o outro lado (de receitas) via crescimento da economia. Tem de cuidar de toda a parte estrutural para aumentar a produtividade, o investimento e o consumo privado. Pelo lado da produtividade, você pode fazer no dia zero: cortar barreiras alfandegárias. Isso barateia importação de máquinas. Tem de ter uma reforma bancária abrangente para aumentar o volume de crédito e reduzir o seu custo. Vai ter de atacar um problema grave de falta de concorrência do setor privado brasileiro. Por último, tem de ter um esforço em mecanismos que atraiam segurança jurídica, regulatória, investimento privado estrangeiro para um grande aumento de obras de infraestrutura, para poder estimular investimento.

Na Argentina, quando Macri chegou ao poder, o mercado comemorou. O projeto dele era estabilizar a economia para atrair investimento estrangeiro, que não chegou. Isso pode ocorrer aqui?

A Argentina é um excelente exemplo de que só papo não cola. Lá, não teve ajuste fiscal nenhum. Ele não fez absolutamente nada do que prometeu. O setor privado, o investidor estrangeiro, vai querer ver para crer, não o contrário.

 

Para investidores, Guedes garante verniz liberal

As esquivas de Paulo Guedes quando perguntado sobre sua determinação para comandar a equipe econômica de Jair Bolsonaro alimentam a desconfiança de operadores do mercado financeiro sobre o sucesso de um eventual governo do candidato do PSL. Para investidores e gestores ouvidos pelo Estado, é justamente a figura de Guedes que dá o verniz liberal que os cativa.

Esses operadores dizem que mantém reservas sobre o projeto apresentado pelo deputado até agora, que carece de detalhamentos e peca pela falta de pragmatismo, mas que o risco do retorno do PT ao poder os assusta muito mais por ora.

Guedes empenha-se há meses na campanha de Bolsonaro, de quem diz ter se tornado amigo. Visitou-o no hospital e posou para fotos ao seu lado para dirimir rumores sobre desentendimentos entre os dois.

Ele mantém subentendido seu papel de futuro ministro da Fazenda, mas costuma expressar condicionantes para sua presença em Brasília no ano que vem: a “mídia” apoiar o futuro presidente, partidos darem governabilidade e Bolsonaro apoiar as reformas liberais.

Ao Estado, em abril, ao ser questionado se desejava participar do governo, disse que ele e Bolsonaro estavam “em conversa”. Durante a entrevista, disse que, não fosse seu projeto de reformas abraçado de fato pelo candidato, estaria “fora”.

Desde então, manteve a postura. Permite que o considerem como futuro “superministro” de Bolsonaro, mas segue deixando no ar seu efetivo papel. “Não sou suicida nem idiota”, disse à Veja em agosto, explicando que está “lutando por uma grande visão”, mas caso ninguém a entenda, “paciência”. À Piauí de setembro fez discurso parecido: “Se não der para fazer o negócio bem feito, que valha a pena, para quê eu vou?”. Pressionado sobre se desistiria, afirmou: “Esse prazer eu não dou. Só depois que ele for eleito”.

Um dos aliados mais próximos de Bolsonaro, o deputado Major Olímpio (PSL-SP) afirmou que “é óbvio para quem quiser ver” que Guedes irá para o governo. “Ele só não confirma isso por pura humildade.”

Um executivo que já trabalhou com Guedes e conversou com a reportagem sob reserva faz a mesma aposta, mas pondera que a relação dele com Bolsonaro pode se desgastar rapidamente caso as propostas liberais não prosperem. A pessoas próximas, quando questionado sobre isso, Guedes costuma brincar dizendo que, se conseguir levar Bolsonaro alguns passos rumo ao liberalismo econômico, sua participação já terá valido a pena. Procurado, Guedes não quis conceder entrevista.

 

Mercado financeiro dá benefício da dúvida a Bolsonaro, dizem analistas

O comportamento do mercado financeiro nos últimos dias, com a valorização do real e a alta da Bolsa diante do fortalecimento do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) nas pesquisas eleitorais, reflete a preferência dos investidores pelas incertezas que ele representa ao projeto já conhecido do PT, segundo economistas e analistas financeiros.

“O mercado dá o benefício da dúvida para o Bolsonaro muito por causa do discurso econômico liberal, de redução do tamanho do Estado e de ajuste, do Paulo Guedes(responsável pelo programa econômico de Bolsonaro). Para o Fernando Haddad (PT), não existe esse benefício”, diz o estrategista-chefe e sócio da XP Investimento, Celson Plácido. “O mercado está se apegando ao candidato mais liberal. É isso que o mercado, na sua grande maioria, deseja”, acrescenta.

Segundo o economista Silvio Campos, da Tendências Consultoria, trata-se de comparar as opções com maiores chances de chegar ao segundo turno. “De um lado, há a volta do PT, cujos governos foram extremamente mal avaliados. Do outro, pode ser que não seja tão ruim. Há a visão central de que Paulo Guedes é liberalizante”, diz.

No mercado de ações, os papéis de empresas estatais, como os da Petrobrás e do Banco do Brasil, estão entre os que mais têm avançado desde segunda-feira, 1º. O programa econômico de Jair Bolsonaro defende a privatização dessas empresas. “O discurso do Bolsonaro, de privatização, tem ajudado e puxado (a alta das ações de) empresas mais ligadas ao governo”, acrescenta o estrategista da XP.

Sobre a possibilidade de o candidato do PSL não ter base no Congresso para aprovar reformas como a da Previdência, Plácido lembra que Bolsonaro começou a ganhar apoio nos últimos dias. Na terça-feira, 2, a bancada ruralista anunciou oficialmente seu apoio. “Mas é óbvio que pode acontecer de ele ganhar e não conseguir governabilidade. Aí tudo voltaria: o dólar subiria e a Bolsa cairia”, pondera Plácido.

 

 

 

 

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