Quarta-feira

CLIPPING (26.09.2018)

VALOR ECONÔMICO

BC vê piora nos riscos e reforça indicação de possível aperto no juro

A poucos dias das eleições presidenciais no Brasil e em meio a expectativas de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) volte a elevar a taxa de juros nos Estados Unidos na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) avaliou que os riscos para a trajetória da inflação se inclinam para o lado negativo e destacou a importância de ter flexibilidade para subir os juros gradualmente "quando e se houver necessidade". Ao detalhar os riscos que se colocam para a trajetória da inflação, o Copom reiterou que, do lado positivo, permanece o alto nível de ociosidade da economia.

Já o risco de a inflação baixa no período recente se propagar, em um efeito inercial, se dissipou. Do lado negativo, os riscos associados ao avanço das reformas e à deterioração do cenário para economias emergentes se elevaram. "Contemplando os dois lados do balanço de riscos, os membros do Copom concluíram que o balanço mostra-se assimétrico", afirmou o comitê na ata da sua última reunião, divulgada nesta terça-feira.

Na reunião, o Copom manteve a taxa de juros em 6,5%, como esperado de forma consensual pelo mercado mas, em comunicado divulgado logo após o encontro, afirmou pela primeira vez que os juros serão elevados caso o balanço de riscos apresente piora à frente. O recado foi reforçado na ata

Para o colegiado, a conjuntura atual ainda prescreve uma taxa de juros abaixo da estrutural, mas "esse estímulo começará a ser removido gradualmente caso o cenário prospectivo para a inflação no horizonte relevante para a política monetária e/ou seu balanço de riscos apresentem piora."

Apesar da avaliação claramente mais negativa sobre o balanço de riscos para a inflação detalhada na ata, os membros do Copom reiteraram a importância de manter flexibilidade para sua atuação à frente, sem indicar os próximos passos da política monetária, diante do nível de elevada incerteza da atual conjuntura.

No documento, eles disseram considerar importante reforçar o compromisso do Copom com manutenção de uma trajetória de inflação em linha com as metas e frisaram que isso requer flexibilidade para "ajustar gradualmente a condução da política monetária quando e se houver necessidade".

A expectativa do mercado é que a taxa Selic só comece a ser elevada no próximo ano, chegando a 8% ao ano no fim de 2019, segundo estimativas colhidas no relatório Focus, do BC. Essa projeção tem se mantido a despeito de uma gradual mudança na sinalização do colegiado para os juros nos últimos meses, em meio a uma elevação da cotação do dólar verificada a partir de abril.

Em maio, o Copom interrompeu ciclo de redução da taxa Selic e, nas reuniões seguintes, passou a afirmar que seus próximos passos dependeriam da evolução da atividade econômica. Ao discutir o grau de repasse da alta do dólar na economia na reunião da última semana, os integrantes do Copom avaliaram que ele ainda é contido, com exceção de alguns preços administrados. Mas o colegiado voltou a ponderar que a intensidade dos repasses depende de fatores como o nível de ociosidade e a ancoragem das expectativas inflacionárias. Nesse contexto, reforçou a importância da continuidade das reformas para a redução da taxa de juros estrutural da economia.

 

Análise: 'Quando e se' o Banco Central subir os juros

A remoção dos estímulos monetários injetados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central para trazer a inflação para as metas, depois de cair abaixo do piso em 2017, ainda não é uma certeza. Em ata de sua reunião da semana passada, divulgada nesta manhã, o colegiado explica que deixou de indicar seus passos futuros para garantir flexibilidade para subir os juros gradualmente “quando e se” houver necessidade.

O que chama a atenção no documento é que, no mês passado, o Copom não identificou uma piora no seu cenário básico para a inflação, apesar da forte alta do dólar e da alta das projeções de inflação. Os membros do colegiado “julgaram que a conjuntura evoluiu em linha com o seu cenário básico”. O que piorou, na visão do Banco Central, é o chamado balanço de riscos — ou seja, os fatores que, no futuro, podem fazer a trajetória da inflação ser menos favorável do que o traçado no cenário básico da inflação.

Piorou tanto que hoje o colegiado considera o balanço de riscos assimétrico, ou seja, pendendo para o lado negativo, depois da exacerbação dos riscos das eleições presidenciais e do cenário externo, em meio à alta dos juros americanos e avanço na guerra comercial desencadeada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Dessa forma, como uma eventual alta de juros depende do que pode ocorrer no futuro — uma piora no balanço de riscos — o Banco Central não é capaz, neste momento, de determinar se o aperto será mesmo necessário nem quando, nesta hipótese, seria implementado. A última vez que o Copom usou a expressão “quando e se” para se referir a uma alta de juros, ela não ocorreu. Foi um dezembro de 2015, na gestão de Alexandre Tombini, quando o BC ameaçava apertar a taxa básica depois de uma rodada de alta na cotação do dólar.

Numa coletiva para a divulgação do Relatório de Inflação, o então diretor de Política Econômica do BC, Altamir Lopes, disse que o colegiado poderia subir a taxa básica “se e quando” fosse necessário.

Na quinta-feira, o Banco Central vai divulgar o Relatório de Inflação e o seu presidente, Ilan Goldfajn, vai conceder sua entrevista trimestral para explicar a condução de política monetária — quando será possível entender com mais detalhes como a conjuntura pode ter evoluído de acordo com o cenário básico se as projeções de inflação pioraram.

Entre as reuniões do Copom de agosto e setembro, a cotação do dólar subiu de R$ 3,75 para R$ 4,15. A projeção de inflação para 2019 no cenário com câmbio e juros estáveis, que hoje é a mais importante para indicar se o nível de juros é adequado, subiu de 4,2% para 4,4%, superando o centro da meta, de 4,25%. No cenário de mercado, também subiu, passando de 3,8% para 4%. Uma possível explicação é que o Copom trabalha com uma trajetória diferente para a taxa de câmbio.

É bom lembrar que as projeções condicionais apresentadas nas atas não representam, necessariamente, a visão do Copom sobre juros e câmbio. Pode ser que, em agosto, o Copom já trabalhava com um cenário mais adverso para o câmbio. Ou que, agora, tenha esperança em um recuo na taxa de câmbio.

Também pode ser que, na visão do colegiado, a piora de 0,2 ponto percentual nas projeções não seja materialmente importante. De fato, o desvio da projeção em relação à meta parece reduzido diante dos estragos que podem ser feitos se os riscos negativos no horizonte no cenário doméstico e externo se materializarem.

O Copom deu um aviso bem claro, na semana passada, que poderá remover os estímulos monetários na economia se o cenário inflacionário ou o balanço de riscos piorarem. Na ata, o colegiado dá um destaque especial para o aviso de que, para que os estímulos se mantenham, as expectativas de inflação devem se manter ancoradas. A ameaça de subir os juros é uma forma de manter essas expectativas sob controle.

Se a ameaça não surtir o efeito desejado, o Copom certamente irá iniciar um ciclo de alta gradual dos juros. Desde fins do ano passado o colegiado vem preparando o mercado com a mensagem de que a baixa dos juros ao nível estimulativo não deveria ser vista como permanente, e que não há nada de errado em normalizá-la após ter sido cumprido o objetivo de colocar a inflação em direção às metas.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Bolsonaro quer manter Ilan Goldfajn na presidência do Banco Central

O economista Paulo Guedes quer que o atual presidente do BC (Banco Central), Ilan Goldfajn, permaneça no comando da instituição em um eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL).

Há cerca de seis meses, quando Guedes se tornou o guru econômico de Bolsonaro, o economista convenceu o presidenciável da ideia de independência do BC, segundo pessoas que atuam na campanha do capitão reformado do Exército.

Três meses depois, em uma nova rodada de debates sobre seus planos para a economia, Bolsonaro teria demonstrado simpatia à permanência de Ilan no cargo até a metade de seu mandato (até 2022).

Um convite formal não chegou a ser feito, mas Guedes já teria o sinal positivo do presidenciável para o nome de Ilan no comando do BC.

Na avaliação da equipe do candidato, Ilan poderia ajudar a neutralizar a insegurança de investidores quanto à capacidade de Bolsonaro enfrentar as dificuldades que já se apresentam para o primeiro ano de mandato.

O novo presidente assume o cargo já precisando de autorização do Congresso para cobrir R$ 285 bilhões em gastos obrigatórios, como aposentadorias e programas sociais.

Desde o fim de julho, Guedes e Ilan se encontraram duas vezes. Falaram sobre o nervosismo do mercado com a eleição e sobre a alta do dólar.

A primeira reunião ocorreu no Ministério da Fazenda, em julho, quando Ilan e o ministro Eduardo Guardia apresentaram a Guedes um panorama das contas públicas, ressaltando a dificuldade fiscal.

Quem acompanhou a conversa afirma que, preocupado com a volatilidade cambial, Ilan destacou a necessidade de as campanhas dos presidenciáveis acenarem para uma política de continuidade das reformas econômicas.

Uma segunda conversa de Ilan com Guedes ocorreu após a internação de Jair Bolsonaro.

Um observador diz que Guedes defendeu, nesta conversa, um BC independente. Procurados, os dois não quiseram comentar sobre os encontros.

Não é de hoje que o economista, cotado para ser o ministro da Economia de Bolsonaro, defende mandatos fixos de quatro anos para os dirigentes da autoridade monetária, não coincidentes com o do presidente da República.

Essa desvinculação de mandatos fez parte do projeto de autonomia do BC, que Ilan negociou neste ano com parlamentares. A discussão no Congresso acabou congelada na campanha. Apesar disso, Ilan disse a Guedes que, neste momento, não poderia se comprometer com candidato A ou B, pois isso poderia abalar a confiabilidade do BC.

A autoridade monetária é a responsável pelo cumprimento das metas de inflação e pelo regime de câmbio flutuante —pilares da política econômica em vigor no país há quase duas décadas.

Ao indicar que o BC ficará distante de interferências políticas, os candidatos à Presidência sinalizam a investidores do mercado financeiro e a empresários o comprometimento com a manutenção desse sistema. Por isso, todos os presidenciáveis tratam do assunto durante a eleição.

No caso específico de Ilan, sua gestão é bem avaliada por ter baixado a inflação de quase 11%, no início de 2016, para os atuais 4,19% (nos 12 meses encerrados em agosto).

Na semana passada, o petista Fernando Haddad fez acenos públicos à permanência de Ilan no BC. Os dois se encontraram duas vezes para falar de economia e do sistema bancário. Haddad busca um discurso mais pró mercado em um eventual segundo turno contra Bolsonaro.

Os assessores do petista acreditam que, ao demonstrar proximidade com nomes mais liberais, seria possível tomar votos do centro que flertam com Bolsonaro porque não querem a volta do "PT de esquerda".

Assessores do capitão reformado acham que ele pode ser prejudicado com um projeto "Haddad paz e amor". Defendem que Bolsonaro é o único que teria condições de bancar um BC independente com Ilan no comando —ponto pacífico entre ele e Paulo Guedes.

Para esses auxiliares, Ciro Gomes (PDT) não defende essa causa, e Marina Silva (Rede) recuou em relação à autonomia prometida na eleição de 2014.

Nem mesmo Geraldo Alckmin decidiu pisar tão fundo na ideia de deixar o BC mais independente —o tucano não considerou o assunto prioritário.

 

Eleição retarda investimentos, mas histórico de respeito a contratos tranquiliza, diz Brookfield

Presidente das operações brasileiras do fundo de investimento canadense Brookfield, Henrique Martins disse que, embora o processo eleitoral retarde a decisão de investimentos, o histórico de respeito aos contratos no Brasil tranquiliza investidores. Com 120 anos de atuação no país, o fundo tem investimentos em energia, infraestrutura, saneamento e mercado imobiliário.

"A gente não conhece no Brasil nenhuma quebra de contrato e isso traz segurança", afirmou. Ele reconhece, porém, que as volatilidades do cenário eleitoral afetam decisão de investimentos.

"Normalmente, tem retração até o investidor poder entender em que cenário vai atuar", completou.

O executivo não quis comentar propostas dos candidatos à Presidência da República, mas disse que há grande interesse estrangeiro para investimentos no país. "Se houver condições regulatórias, com contratos atrativos, vamos continuar investindo", disse ele.

Em 2017, a Brookfield estreou nos setores de saneamento, com a compra de unidade da Odebrecht, e gás natural, com a aquisição da malha de gás natural da Petrobras na região sudeste.

Martins disse que o grupo tem interesse em expandir a malha de gás, mas depende da atualização de regras do setor para permitir a entrada de novas empresas no mercado.

"O próximo passo do nosso investimento é a expansão. Tem um mercado com potencial enorme pela frente e nossa ideia é exatamente continuar com os investimentos", afirmou ele.

A operação, de US$ 5,2 bilhões, foi concluída em 2017 e consistiu na compra de 90% na NTS (Nova Transportadora do Sudeste), empresa criada para gerir os ativos - a Petrobras permaneceu com os 10% restantes.

"Mas a grande discussão hoje é a Lei do Gás, que tem restrições que inviabilizam os investimentos", ressaltou, fazendo coro com o setor por mudanças no margo regulatório para esse segmento.

A legislação atual é de 2009 e, segundo Martins, foi elaborada para um mercado com escassez de gás. Com o crescimento da produção global e as perspectivas de oferta de gás do pré-sal, o setor pede atualizações que permitam a atuação de um número maior de empresas.

O governo Michel Temer chegou a apresentar uma proposta ao Congresso, mas é consenso no setor que o tema ficará para o próximo governo - que terá ainda outras preocupações, como reformas da Previdência e Tributária, no início do mandato.

A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) anunciou na semana passada consulta pública para discutir regras de acesso de terceiros à malha de gasodutos, com o objetivo de tentar abrir a empresas privadas espaço hoje ocupado pela Petrobras.

O presidente da Brookfield defendeu, porém, que mudanças neste sentido devem respeitar períodos de transição e os contratos existentes. Hoje, a única cliente da malha de dutos da NTS é a própria Petrobras.

 

Descontinuidade de reformas é sinal ruim sobre instituições brasileiras, avalia Moody's

A descontinuidade de políticas reformistas após a eleição de outubro não só poderia comprometer perspetivas de crescimento econômico para o Brasil, mas daria um sinal ruim aos mercados sobre a força das instituições brasileira para lidarem com o quadro fiscal do país, numa situação negativa para a nota de crédito brasileira.

A avaliação é de Samar Maziad, analista sênior para o crédito soberano do Brasil da agência de classificação de risco Moody's.

Segundo Maziad, em um cenário que chama de "disrupção política", o futuro presidente teria dificuldades para trabalhar com o Congresso e enfrentaria desafios de governabilidade para dar continuidade à agenda de reformas proposta pela gestão atual.

Isso implicaria um crescimento menor do Brasil e, consequentemente, um potencial aumento do déficit.

"No topo de tudo, está o que isso diz sobre as instituições brasileiras. Vemos problemas estruturais e fiscais há alguns anos com os quais as instituições não estão sendo hábeis para lidar. Essa avaliação seria negativa para o Brasil", diz a analista.

"Olhamos para a força das instituições, ou seja, a habilidade de governos lidarem com crises e implementarem políticas e como são flexíveis para responder a choques. Se há um problema no lado da despesa há muito tempo, esperamos que os governos saibam lidar com isso. Se não conseguem, há sinais de que as instituições estão enfraquecidas", completa.

A nota atual do Brasil na Moody's é "Ba2", dois degraus abaixo do grau de investimento, espécie de selo de bom pagador dos países. Uma nova visita oficial ao Brasil acontece no próximo ano, segundo Maziad, ainda sem data definida.

A analista diz que há um movimento de fuga do centro político, com cenários mais polarizados, o que não é uma exclusividade do Brasil, mas uma tendência global.

"Isso preocupa porque para promover reformas é preciso construir consensos, o que se torna um desafio para a próxima gestão", diz Maziad.

Na sua avaliação, independentemente de quem ganhe a disputa, não será fácil obter uma maioria para aprovar reformas, o que vai requerer do futuro presidente habilidade para trabalhar com muitos partidos.

"O importante será a dinâmica entre o presidente e o Congresso. Não podemos esquecer que há uma eleição para o legislativo ocorrendo também. Essa é outra variável importante", diz.

Apesar dos riscos, a Moody's trabalha com um cenário base de continuidade de políticas reformistas. Nele, segundo Maziad, a próxima administração conseguiria construir diálogo com o Congresso e avançaria, por exemplo, na reforma da Previdência. A expectativa da agência é que alguma alteração no modelo previdenciário seja aprovada no próximo ano.

"Não é que a gente veja tudo acontecendo de forma suave e de uma única vez. Pode haver algumas revisões, mas haveria esse movimento e senso de continuidade no mesmo caminho", diz.

Com clarezas no campo político, comprometimento do governo com reformas fiscais e habilidade de cooperação com o Congresso, a nota de crédito do Brasil ficaria estável, afirma Maziad.

A Moody's projeta um crescimento da economia brasileira entre 1,5% e 1,8% neste ano e de 2% para 2019.

EXTERIOR

O quadro fiscal brasileiro é, para a Moody's, a grande fraqueza do país, que tem um déficit fiscal elevado e uma estrutura de gastos considerada rígida.

Maziad destaca que, na média dos últimos cinco anos, as transferências da União para estados e municípios no Brasil comprometerem 55% do Orçamento, contra uma média de 26% em países latinos.

"A complacência do mercado vai ser menor [com o próximo presidente]. Ele vai querer ver logo como caminham as reformas", avaliou Marcelo Peixoto, gestor de renda fixa da Santander Asset Management durante evento promovido pela Moody's nesta terça-feira (25).

Por outro lado, as contas externas do Brasil, com uma reserva internacional em dólar confortável, e a estrutura da dívida do país são vantagens, aponta Maziad.

Apesar do conturbado cenário político no Brasil, especialistas apontam que condições externas preocupam mais.

"O maior risco é global. O que mais preocupa hoje não é a eleição no Brasil, mas o cenário externo.

Percebemos que, na maioria das vezes, esse é o fator dominante para explicar o movimento de ativos no Brasil. Agora, olhamos para a política monetária nos Estados Unidos, prestamos atenção na economia da China, avaliamos riscos geopolíticos", disse Alessandro Arlant, analista de crédito da Dahlia Capital, no evento.

 

ESTADÃO

‘Vamos oferecer ao eleito uma reforma para a Previdência’, diz Arminio Fraga

O próximo presidente terá de promover, num curto espaço de tempo, um ajuste fiscal da ordem de seis pontos do PIB, e as propostas colocadas no debate eleitoral não atendem a essa premência. A conclusão é de Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso que, depois de ser mencionado em 2014 como provável ministro da Fazenda de Aécio Neves, preferiu ficar mais distante da eleição neste ano.

A decisão de não participar ativamente de nenhuma campanha não o tirou do debate público. Nesta entrevista exclusiva ao Estado, ele revela que coordena um grupo de economistas e juristas que preparam uma proposta de reforma da Previdência, segundo ele mais “ousada” que a enviada pelo governo Michel Temer ao Congresso, que permitiria uma economia de R$ 110 bilhões por ano, durante dez anos. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Jair Bolsonaro disse em entrevista que “pediu” a Paulo Guedes uma proposta tributária em que a União arrecade menos, sem explicar ao certo o que pretende fazer. Também disse que vai mexer na economia sem sacrifício para ninguém. Essa conta fecha?

Será preciso no ano que vem fazer um ajuste da ordem de 6 pontos do PIB. A relação dívida/PIB está muito alta, em torno de 80%. O resultado primário terá de ser ainda maior do que era quando a relação era de 50%, porque seria irresponsável não reduzir a dívida. Esse ajuste do saldo primário terá de ser feito num prazo razoavelmente curto, sob pena de não ser crível. Até podemos conceder que, caso o eleito faça boas propostas de ajuste, se faça algo como 4 ou 5 pontos do PIB, e o resto venha da recuperação da economia. Mas se você pensar em reduzir a carga tributária será preciso reduzir o gasto público em mais do que cinco pontos do PIB, algo bem improvável.

O que fazer então?

O colapso fiscal de seis pontos do PIB que houve com a Dilma e o PT pode ser decomposto: um quarto foi a recessão, um quarto foram desonerações e subsídios, e o resto foi aumento de gasto. As desonerações, se consegue reverter. Já cortar gastos vai ficando mais difícil. O resto da resposta teria de vir de uma reforma da Previdência mais completa do que a que está no Congresso.

Como seria essa proposta?

A reforma que está no Congresso permite fazer uma economia de R$ 40 bilhões ou R$ 45 bilhões por ano, em dez anos. Estamos falando de um ajuste necessário de R$ 350 bilhões por ano, então veja que a proposta de reforma da Previdência, como está, resolve apenas uma pequena parte. Estou coordenando um grupo, sob o comando de Paulo Tafner, que está elaborando uma proposta independente e apartidária de reforma da Previdência que permitiria uma economia bem maior. Caso essa proposta seja adotada – e ela será oferecida a quem vencer as eleições – é possível projetar uma economia de R$ 110 bilhões por ano, durante dez anos. Aí o resto do ajuste até que poderia vir da recuperação da economia. Pode até ser, mas não é isso que está no horizonte. Na verdade, há o risco de irmos para um buraco mais fundo.

E quanto à proposta de reduzir a alíquota máxima do Imposto de Renda para 20% sob alegação de que o que isso permitiria em reativação da economia compensaria a perda de arrecadação?

Não acredito no modelo (do economista francês Thomas) Piketty, de imposto sobre a renda nas alturas, mas essa é uma área que teria de ser revisitada. Hoje é preciso, no mínimo, manter a alíquota de 27,5% e eliminar o subsídio implícito na “pejotização”. O gasto tributário feito por Dilma pode ser revertido, mas fazer essa redução de alíquota com o cenário que temos esquece, é inviável.

E de onde poderia vir o resto do ajuste?

Defendo que o Orçamento seja 100% desvinculado. Em todas as áreas, tudo. É algo polêmico, mas é preciso não se esquecer de que o que viria depois não seria um ditador definindo os gastos de maneira arbitrária: seria prerrogativa conjunta do Executivo e do Legislativo, portanto eleitos pelo povo, sem essa camisa de força atual. E em outra frente seria imprescindível uma reforma do Estado, que pode até ser focada num primeiro momento no aspecto de “RH”, que torne o governo mais eficiente.

Essa reforma do Estado também incluiria venda de ativos, imagino. De que ordem?

Total. Isso sempre defendi. O Estado não tem de ter empresa. Quando se acompanha a história do Brasil, dos bancos estaduais, do petrolão, do quanto deu certo a privatização do setor de telecomunicações, do quanto deu errado não levar a cabo a privatização do setor elétrico, isso fica cristalino. Uma venda de ativos ajudaria a reduzir a dívida, além de eliminar espaços para desperdícios e corrupção. Mas pensemos em ordens de grandeza: se fosse possível, ao longo de anos, obter 10% do PIB com vendas de ativos, o saldo primário seria meio ponto do PIB a menos, o que não é desprezível, mas é pouco. E olha que seria uma dificuldade conseguir fazer isso, e, mesmo assim, estou falando em algo como um terço do que estimou o Paulo Guedes. Se começarem a excluir da lista itens grandes, como Banco do Brasil e Caixa, o que o Bolsonaro repetiu na entrevista de terça-feira, aí então é uma total impossibilidade.

 

Crise prolongada na construção civil trava expansão de investimentos no País

A crise ainda persistente na construção está impedindo uma retomada mais consistente dos investimentos no País. Após praticamente 51 meses de perdas acumuladas, a construção civil ficou estagnada em julho em relação ao mesmo período do ano anterior. Os dados compõem o cálculo do Monitor do PIB, apurado pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

Os investimentos da construção civil só registraram expansão em abril (2,7%), considerando-se um período de 4 anos e 4 meses. Já a compra de máquinas e equipamentos, que mostra recuperação desde o início de 2017, teve crescimento de 14,1% em julho de 2018 ante julho do ano passado, a 13.ª taxa positiva consecutiva.

O empresariado brasileiro vem retomando a modernização do parque produtivo, mas a recuperação da taxa de investimentos na economia não decola por conta da paralisação nas obras de infraestrutura e do receio das famílias em comprometer a renda com financiamento imobiliário diante do cenário ainda complicado do mercado de trabalho, avaliou Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB da FGV.

A Formação Bruta de Capital Fixo (indicador usado para medir investimentos na economia) subiu 4,5% em julho de 2018 ante julho de 2017. A taxa de investimento em relação ao PIB foi de 17,4% no mês de julho. Em 2013, quando atingiu o auge da série histórica, essa taxa estava próxima de 21%.

“Os empresários estão investindo em maquinário. Mas não está havendo investimento em construção”, diz Considera. “Não há obras de infraestrutura. Os governos não estão construindo. E as famílias estão preocupadas. A taxa de desemprego está elevadíssima, as pessoas ficam receosas de se comprometer com financiamento de longo prazo.”

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) espera que os investimentos tenham desempenho positivo no terceiro trimestre, ajudados por uma base de comparação fraca, apesar do aumento das incertezas no cenário doméstico e mundial.

“Vemos uma recuperação cíclica, mas num ambiente menos favorável, tanto interno quanto externo. É normal que, em alguns casos, os empresários decidam postergar a decisão de investimentos. Mas não dá para dizer que já esteja acontecendo”, diz Leonardo Mello de Carvalho, técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea. “Por mais que o ambiente tenha ficado um pouco menos benigno, os efeitos não devem ser vistos imediatamente.”

O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) projetava um crescimento de 0,5% no PIB da construção em 2018, mas agora espera uma retração de 0,6% se o PIB brasileiro crescer 1,4%, e de 1% caso o PIB suba 1,1%. “A construção civil reage a investimentos e sem isso, não há possibilidade de melhora no curto prazo. Frente às incertezas econômicas, revimos para baixo nossa projeção para o PIB da construção de 2018”, diz o vice-presidente de Economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan.

A avaliação dos empresários da construção sobre a situação atual está em 72,4 pontos, nível que indica pessimismo (abaixo de 100 pontos), 25,4 pontos aquém do patamar pré-crise, do segundo trimestre de 2013, mostrou a sondagem da FGV.

“O fundo do poço ficou para trás, mas está melhorando bem devagarzinho”, diz Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos na Superintendência de Estatística Públicas do Ibre/FGV.

Entre os fatores que empurraram o setor de construção para a atual crise estão o fim de obras de infraestrutura para os grandes eventos esportivos realizados no País, o ajuste fiscal conduzido por governos federal e regionais, as investigações da Operação Lava Jato envolvendo grandes construtoras e as dificuldades enfrentadas pelo mercado imobiliário, diz Ana Maria Castelo. “A crise econômica foi o golpe de misericórdia.”

 

Guerra comercial custará empregos, crescimento e estabilidade, diz diretor da OMC

Uma guerra comercial em escala total teria efeitos sérios sobre o crescimento econômico global e não haveria vencedores em tal cenário, afirmou nesta terça-feira o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo.

Falando em um evento da indústria em Berlim diante do cenário de crescentes tensões comerciais entre China e Estados Unidos, Azevêdo afirmou: “As luzes de alerta estão piscando. Uma contínua intensificação das tensões representará uma ameaça adicional à estabilidade, aos empregos e ao tipo de crescimento que estamos vendo hoje.”

Uma guerra comercial global em escala total com interrupção da cooperação comercial internacional reduzirá o crescimento do comércio global em torno de 70% e a expansão do PIB em 1,9%, disse Azevêdo.

“Não haverá vencedores de tal cenário e toda região será afetada”, disse Azevêdo. A própria União Europeia terá cerca de 1,7% retirado de seu crescimento do PIB, disse ele, acrescentando: “Claramente, não podemos deixar isso acontecer.”

Azevêdo citou várias propostas de reformas que lidam com práticas de distorção comercial e mecanismos existentes da OMC para resolver disputas comerciais, acrescentando que os membros precisam concordar com quais reformas querem se concentrar.

Segundo ele, a cúpula do G20 em Buenos Aires em novembro será crucial para definir os próximos passos para proteger o livre comércio com bases em regras.

 

 

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