Segunda-feira

VALOR ECONÔMICO

Economia dá sinais de estagnação, com fraqueza da demanda

A economia brasileira teve um desempenho fraco no segundo trimestre, influenciada especialmente pela greve dos caminhoneiros, mas a perda de dinamismo da atividade antecede a paralisação do fim de maio. O Produto Interno Bruto (PIB) mal saiu do lugar nos últimos três trimestres, crescendo a uma média de apenas 0,1% em relação aos três meses anteriores, apesar do nível baixo dos juros básicos para padrões brasileiros.

Além das incertezas relacionadas às eleições, uma combinação de fatores contribui para a lentidão da retomada, como as taxas muito elevadas cobradas em empréstimos, o fato de que muitas empresas e famílias ainda precisam reduzir o nível de endividamento e a fraqueza do mercado de trabalho, com desemprego alto e criação de vagas de baixa qualidade.

No segundo trimestre, o PIB cresceu 0,2% na comparação com o primeiro, feito o ajuste sazonal. Diretor de pesquisa para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos diz que a composição foi ainda mais fraca do que a sugerida por esse número.

Ele destaca a desaceleração da chamada demanda doméstica final, o conjunto formado por investimento, consumo das famílias e consumo do governo, excluindo a variação de estoques. Segundo Ramos, essa medida da demanda encolheu 0,2% no segundo trimestre, um desempenho pior que a alta de 0,3% no quarto trimestre de 2017 e de 0,2% no primeiro trimestre deste ano.

No período de abril a junho, o resultado ruim se deveu especialmente ao investimento, que recuou 1,8% na comparação com os três primeiros meses do ano. O consumo das famílias cresceu 0,1%. Um número próximo de zero para o PIB no no segundo trimestre já era esperado pelos analistas, dado o efeito negativo da greve dos caminhoneiros.

O Itaú Unibanco, por exemplo, estima que a paralisação tirou 0,3 ponto percentual do PIB no período de abril a junho. Uma questão decepcionante é que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revisou para baixo o resultado do PIB dos dois trimestres anteriores. A variação do quarto trimestre de 2017 caiu de 0,1% para estabilidade e, no caso do primeiro trimestre deste ano, houve redução de 0,4% para 0,1%.

A atividade vinha ainda mais fraca do que se imaginava. "A economia brasileira está virtualmente estagnada desde o terceiro trimestre de 2017", afirma Ramos. Segundo ele, durante os últimos 20 trimestres, a média de variação do PIB foi negativa em 0,25%, Em apenas um deles o crescimento excedeu 1%. Isso ocorreu no primeiro trimestre de 2017, quando a expansão alcançou 1,05% sobre os três meses anteriores, devido à supersafra.

Cálculos do economista-sênior da LCA Consultores, Bráulio Borges, evidenciam a lentidão da atual retomada. Entre o primeiro trimestre de 2017 e o segundo trimestre de 2018, a alta acumulada pelo PIB na recuperação em curso é de apenas 2,5%, bem abaixo das taxas em torno de 7% dos seis trimestres seguintes à saída das recessões de 1981-1983 e de 1989-1992. Segundo a LCA, foram retrações "profundas e duradouras" como a registrada entre o segundo trimestre de 2014 e o quarto trimestre de 2016.

Pela oferta, o pior desempenho no segundo trimestre ficou com a indústria, que recuou 0,6% em relação ao primeiro. A indústria de transformação e a construção puxaram o número para baixo - os dois setores caíram 0,8%. A agropecuária ficou estável, depois de subir 1,3% no primeiro trimestre.

O resultado menos pior ficou com serviços, com alta de 0,3%, impulsionado pelos segmentos de informação e comunicação, atividades financeiras e atividades imobiliárias. Para Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), a recusa dos políticos em resolver o problema fiscal e os efeitos do excesso de intervencionismo do governo entre 2006 e 2014 explicam a lentidão da retomada.

Pessôa destaca a fraqueza do investimento, que recuou 30% no período entre o quarto trimestre de 2014 e o primeiro trimestre de 2017, e mostra um desempenho muito fraco pósrecessão. Com a divulgação do resultado do PIB de abril a junho, o Ibre reduziu as projeções para a expansão da economia em 2018 de 1,7% para 1,5%.

A previsão para a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação) foi cortada de 3,9% para 3,4%. No caso do consumo das famílias, a estimativa caiu de 2,2% para 2%. Ramos também baixou a sua estimativa para o crescimento do PIB de 2018, de 1,5% para 1,2%.

Na visão do pesquisador do Ibre, o investimento estaria mais forte se a reforma da Previdência tivesse sido aprovada e as incertezas políticas fossem menores. O problema é que, depois da denúncia da JBS, o governo do presidente Michel Temer se enfraqueceu e perdeu a capacidade de liderar a agenda política, o que se agravou mais depois da greve dos caminhoneiros.

Pessôa diz que, pelo menos desde 2012, o regime fiscal entrou em trajetória insustentável, com os gastos públicos crescendo mais do que as receitas. Esse problema precisa ser arbitrado pelo Congresso, mas os políticos têm se recusado a fazê-lo, segundo ele. Não cortam gastos, o que deveria ser a opção prioritária, nem aumentam impostos.

Além disso, Pessôa diz que o intervencionismo excessivo, em especial a partir de 2009, cobra o seu preço. Osefeitos ainda estão sendo digeridos, retardando a retomada. Houve um boom de investimentos em muitas atividades não rentáveis, como no caso do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), na refinaria de Abreu e Lima e nos estaleiros, segundo Pessôa, também sócio da consultoria de investimento Reliance.

No caso da indústria automotiva, o sobre-investimento levou a uma imensa capacidade ociosa. Pessôa diz que os "excessos do intervencionismo têm uma dimensão real", induzindo a uma má alocação do investimento, e uma "dimensão financeira", levando a uma crise de endividamento de muitas empresas. Além disso, Pessôa afirma que muitas famílias entraram na crise com muitos débitos.

A expectativa para a atividade na segunda metade do ano não é animadora, ainda que a aposta dominante é de que o PIB terá um crescimento mais forte no terceiro trimestre. O ponto é que isso se deve à base fraca de comparação do trimestre anterior, como dizem os economistas do Itaú Unibanco. Eles esperam uma alta de 0,6% em relação aos três meses anteriores, enquanto o Ibre aposta em 0 9%.

Para o Itaú Unibanco, "o crescimento subjacente da atividade econômica segue perdendo força", avaliação que se baseia na "evolução recente dos níveis dos índices de confiança, do mercado de trabalho e da difusão dos principais indicadores mensais". O banco projeta um crescimento de 1,3% neste ano.

Os economistas do Banco Safra chamam a atenção para "o aperto considerável que vem ocorrendo nas condições financeiras, o que pode se refletir em uma diminuição ainda maior do apetite para os investimentos e para o consumo em geral". Nas últimas semanas, o câmbio se desvalorizou com força, o risco Brasil subiu e houve alta dos juros futuros. "Com isso, nosso índice de condições financeiras aprofundou-se ainda mais no território contracionista, sugerindo um crescimento do PIB abaixo de 1% caso mantida a situação atual". Por enquanto, o Safra projeta expansão de 1,5%, mas não descarta um número menor.

 

Agenda conjunta será levada a presidenciáveis

Aumentar o número de emissores e investidores no mercado de capitais com simplificação de regras e diminuição de custos tem sido uma bandeira tanto da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) quanto da B3 ao longo de quase duas décadas. Porém, o cenário macroeconômico sempre jogou contra.

Para representantes da organização e da bolsa brasileira, o momento do país, finalmente, abre uma janela mais que favorável para fazer avançar essa agenda de aperfeiçoamento de uma das principais fontes de financiamento de longo prazo às empresas.

Diante de um ambiente de juros baixos, com a taxa básica Selic na mínima histórica, inflação controlada, expectativas ancoradas, perspectiva de retomada de crescimento mais forte a partir de 2019 e uma mudança de posicionamento do BNDES, a Anbima e a B3 passaram a intensificar o trabalho de detalhamento de uma agenda conjunta de sugestões para o crescimento do mercado de capitais no Brasil.

A lista engloba ajustes regulatórios e institucionais, que possam facilitar o acesso das empresas de vários tamanhos a fontes de recursos privados e contribuir para a ampliação do mercado. A agenda será apresentada aos assessores econômicos dos candidatos a presidente.

O objetivo é assegurar o avanço nas reformas microeconômicas, seja quem for o vencedor do pleito neste ano, diz José Carlos Doherty, superintendente geral da Anbima. Uma das principais propostas em discussão é alterar as regras para as ofertas públicas de ativos mobiliários.

Anbima e B3 têm conversado com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o mercado de capitais no Brasil, sobre sugestões de mudanças no arcabouço normativo básico definido por duas instruções: a CVM 400, que abrange as ofertas públicas, e a CVM 476, que se destina às operações de distribuição com esforços restritos.

Segundo o presidente do Comitê de Finanças Corporativas da Anbima, Sérgio Goldstein, a ideia é que no futuro essas duas instruções sejam unificadas e as exigências para as ofertas sejam determinadas pelo tipo de emissor - se de capital aberto, fechado ou sociedade limitada - e de investidor, com perfil profissional, qualificado ou de varejo.

Hoje as chamadas ofertas 476, que dispensam o registro na CVM, só podem ser apresentadas a, no máximo, 75 investidores profissionais, com mais de R$ 10 milhões em investimentos aplicados, mas subscritas apenas por 50 deles. A proposta em discussão pelas entidades é que não exista uma limitação do número de participantes nessas ofertas, desde que estejam enquadrados no perfil.

A maior parte das emissões de renda fixa já acontecem via instrução 476, que representam cerca de 95% das operações realizadas neste ano até julho. A preferência pelo modelo, apesar da restrição de quantidade e perfil de investidores, vem da simplicidade regulatória e da maior rapidez com a qual a emissão chega ao mercado. "Uma oferta pela 400 demora de três a quatro meses, enquanto pela 476 são cerca de 20 dias", afirma o diretor da Anbima, José Eduardo Laloni.

Por serem destinadas a investidores profissionais, com capacidade de avaliar melhor os riscos, as ofertas 476 não contam com prospecto de distribuição ou obrigatoriedade de registro prévio na CVM. A ideia da agenda é tornar as operações, principalmente as realizadas no âmbito da instrução 400, ainda mais rápidas, para que as empresas não percam oportunidades do mercado devido, por exemplo, a um excesso de volatilidade em um determinado período.

O nível de exigências de informações tanto sobre a operação quanto da companhia já é maior para as ofertas destinadas a investidores de varejo, mas Anbima e B3 acreditam ser possível simplificar essa operação. Para isso, bastaria reduzir o volume de dados no prospecto das ofertas e simplificar o formulário de referências, que traz todas as informações sobre a empresa.

A Anbima e a CVM já vêm tomando iniciativas nesse sentido. Recentemente a CVM publicou a instrução 601, que faz alterações nas instruções 400 e 476. Já a Anbima deve incluir no código de autorregulação de ofertas públicas a emissão de debêntures pela 476.

Outro pleito das entidades junto ao regulador é possibilitar a sociedades limitadas emitir debêntures. Hoje essas companhias só podem lançar notas promissórias, que são títulos de dívida com prazos mais curtos. A medida facilitaria o acesso de empresas de menor porte ao mercado de dívida.

Segundo o presidente da B3, Gilson Finkelsztain, ajudar companhias menores a se financiar por meio de títulos de dívida seria um primeiro passo para melhorar a governança corporativa e poder, no futuro, fazer uma oferta de ações. "Existe um conjunto grande de pequenas e médias empresas que poderiam acessar o mercado de ações e emitir dívida pode ser o primeiro passo de governança para isso."

O passo seguinte, que seria facilitar o acesso de empresas de menor porte ao mercado de ações, também está na mira da Anbima e B3. Uma das discussões, segundo Goldstein, é reduzir a documentação para empresas desse segmento, além da dispensa de registro ou registro simplificado de emissor. "Não se pode pedir para essas organizações as mesmas exigências feitas para companhias grandes."

As sugestões na agenda da B3 e Anbima para aumentar o número de empresas listadas na bolsa brasileira também passam pela revisão das regras de Brazilian Depositary Receipts (BDRs), que são os recibos de ações estrangeiras, além da possibilidade de listagem direta no Brasil de ações negociadas em mercado no exterior.

As entidades também defendem o fim da restrição do investimento em BDRs. Hoje apenas investidores que sejam enquadrados no mínimo como qualificados, que possuem aplicações a partir de R$ 1 milhão, podem acessar esses ativos. Como as ofertas de ações chegam a ficar muito tempo em andamento até serem concluídas, há ainda uma discussão sobre a possibilidade de tornar os protocolos das emissões confidenciais na CVM até que seja aprovada. Essa prática já é adotada no exterior e seria uma forma de não expor os dados das companhias se a operação não for para frente.

As entidades não fizeram propostas específicas sobre a questão tributária, mas entendem que ela é importante para o mercado e deve ser discutida no âmbito maior do sistema financeiro, de modo a buscar simetria e simplificação de regras. Outras medidas no arcabouço regulatório e jurídico seriam a aprovação da Lei de Falências e do Cadastro Positivo, além da implementação da duplicata eletrônica. "Seria interessante se criar uma secretaria especial no Ministério da Fazenda para discutir as microrreformas", diz Laloni, da Anbima.

 

Recuperação é lenta e ficou mais frágil, alerta economista

Mesmo tendo crescido em média apenas 0,1% nos últimos três trimestres, na comparação com os trimestres imediatamente anteriores, a economia brasileira não atravessa um quadro de estagnação. A avaliação é de Margarida Gutierrez, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para quem, no entanto, os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre deste ano não podem ser comemorados. "Estamos em uma recuperação lentíssima que se tornou mais frágil ainda", disse Margarida, em entrevista ao Valor.

Integrante do grupo de conjuntura econômica do Instituto de Economia da UFRJ, ela é uma das economistas que veem características de uma "recessão de balanço" - que ocorre após ciclos de endividamento de famílias e empresas - na crise dos anos de 2015 e 2016. Hoje, o comprometimento de renda dos consumidores com empréstimos e financiamentos está um pouco menor, em 20%, mas o custo do crédito continua alto, o que tem impacto negativo sobre a demanda, avalia. Não é possível esperar que a atividade ganhe muito fôlego no segundo semestre, mesmo passados os efeitos da greve dos caminhoneiros, afirma Margarida.

"Vamos entrar em uma etapa decisiva das eleições, com um ambiente internacional conturbado". Diante desse cenário, 0,8% a 1% seria um "número razoável" para o crescimento a ser registrado neste ano. Para 2019, todas as condições estão dadas para o país crescer mais do que 3%, mas tudo vai depender do resultado do pleito presidencial, de acordo com a professora, que não descarta uma nova recessão a partir do próximo ano. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: Como a senhora avalia o resultado do PIB do segundo trimestre?

Margarida Gutierrez: Ele mostra que a economia não ganhou fôlego. O PIB cresceu uma "coisinha de nada" em relação ao primeiro trimestre deste ano, o que é uma notícia boa. A notícia ruim é que perdeu a aceleração que vinha desde o terceiro trimestre do ano passado, e vários fatores respondem por isso. Todo mundo está falando da greve dos caminhoneiros, mas o ambiente macro não é nada bom. Temos um nível de incerteza grande na economia. Os juros futuros estão crescendo muito. A taxa para três anos está sendo projetada em 11% ao ano, e a de um ano, em 8%. Esses indicadores são importantes porque antecedem a atividade, espelham o risco que há em relação à economia e são balizadores do custo do crédito. Estamos com a taxa Selic mais baixa da história, mas o custo do crédito está subindo.

Valor: Este seria um dos motivos para o desempenho fraco do consumo das famílias, que cresceu apenas 0,1% no segundo trimestre?

Margarida: Há outros motivos. Temos um mercado de trabalho muito ruim, o que tira fôlego do consumo. Tivemos aumento da inflação nos últimos dois meses com o desabastecimento provocado pela greve, o que reduziu os salários reais. Além disso, o comprometimento mensal de renda das famílias com o sistema financeiro está em torno de 20%; menor do que há seis meses, quando estava em 23%, mas ainda alto para padrões internacionais. A queda do comprometimento sugeria que as famílias poderiam voltar a se endividar, mas as condições macro não permitem. O consumidor que tem emprego está com medo de perdê-lo, a taxa de câmbio subiu, existe incerteza em relação às eleições. Tudo isso faz com que o consumidor não contrate crédito.

Valor: No segundo trimestre, o setor externo "tirou" 0,5 ponto do PIB. A alta do dólar tem efeito mais negativo do que positivo sobre a atividade?

Margarida: Sim. O exportador sabe que a taxa de câmbio está fora do lugar e não vai se sentir encorajado a exportar. Estamos em um momento muito difícil de incertezas, que também não estimula as exportações. As empresas que têm dívida em moeda internacional e não fizeram hedge para se proteger terão deterioração em seus balanços, com piora das condições financeiras. No segundo trimestre, o comércio exterior foi prejudicado pela greve dos caminhoneiros, mas de qualquer forma o ambiente internacional mudou por causa das medidas protecionistas do governo Donald Trump. Daqui para frente essa veia de crescimento que usávamos eventualmente dará menos ajuda.

Valor: Os investimentos ensaiaram uma reação no primeiro trimestre, que não vingou, e voltaram a recuar com força no segundo trimestre. Em que medida a longa trajetória negativa da formação bruta de capital fixo [FBCF] nos últimos anos afeta o crescimento daqui em diante?

Margarida: Isso é o pior da história, porque o investimento é fundamental pra aumentar a capacidade produtiva da economia. O crescimento de médio e longo prazo está seriamente danificado pela queda enorme dos investimentos nos últimos quatro anos.

Valor: Nos últimos três trimestres, o crescimento médio foi de apenas 0,1% na comparação com ajuste sazonal. Estamos diante de um quadro de estagnação da economia brasileira?

Margarida: Não diria de estagnação, porque o PIB e seus principais setores ainda mostraram crescimento em relação ao segundo trimestre de 2017. Mas estamos em uma recuperação lentíssima que se tornou mais frágil ainda.

Valor: Qual deve ser o novo teto para projeções de crescimento deste ano?

Margarida: Pensar em algo em torno de 0,8% a 1% é um número razoável. Até entendo economistas colocando impacto positivo de um "efeito rebote" da greve em suas estimativas para o terceiro trimestre, mas há outros fatores puxando para baixo. Vamos entrar em uma etapa decisiva das eleições, com um ambiente internacional conturbado. Tudo isso trava decisões de gastos, principalmente de investimentos. Esse cenário vai permanecer até que o quadro eleitoral esteja mais bem definido.

Valor: A economia brasileira frustrou expectativas em 2017 e 2018. É possível esperar um cenário mais otimista para 2019?

Margarida: Nós, do grupo de conjuntura da UFRJ, não fizemos estimativas para o próximo ano. Ou o crescimento vai ser maior do que o mercado está esperando no ano que vem [o consenso do Boletim Focus prevê alta de 2,5%], ou próximo de zero, podendo até ser negativo.

Valor: Existe o risco de entrarmos novamente em recessão?

Margarida: Tudo pode acontecer no ano que vem. Temos todas as condições para crescer mais do que 3% em 2018. Elevada ociosidade na economia, Selic baixa, inflação comportada... Mas temos um enorme problema fiscal pela frente.

Valor: O que o novo governo precisa fazer para o país voltar a crescer?

Margarida: Mesmo que o novo presidente não faça um ajuste fiscal no curto prazo, se for sinalizado que reforma da Previdência, mudança na regra de reajuste do salário mínimo e desvinculações dos gastos obrigatórios estão em andamento, já vai acalmar todo mundo. Tem ainda a agenda do PIB potencial. Precisamos recuperar a capacidade produtiva perdida da nossa economia, que não é pouca, e aí entra tudo: a reforma trabalhista será revertida ou ficará como está? Vai ser feita uma reforma tributária? E as agências reguladoras, como vão atuar? Isso é fundamental para investimentos em concessões de infraestrutura, que estão paralisados.

 

Com recuperação lenta, PIB só deve voltar ao nível pré-crise em 2020

O IBGE divulgou que o PIB do segundo trimestre cresceu 0,2% em relação ao trimestre anterior. Pelo lado da demanda, o destaque foi o consumo das famílias e o do governo, que cresceram 0,1% e 0,5%, respectivamente. O destaque negativo foi a forte queda do investimento (-1,8%), que permanece no mesmo nível de 2009.

Pela oferta, os destaques positivos foram os serviços e a extração mineral enquanto a construção civil continua em queda. A construção apresentou queda em 10 dos últimos 14 trimestres. A indústria de transformação acelerou a queda na margem de -0,4% para -0,8%. De certa forma, os números de atividade confirmam tendências observadas em trimestres anteriores. Uma parte da economia se recupera da recessão, e a outra parte ainda sofre com suas sequelas e não dá sinais de retomada. De acordo com a SPE/MF, o crescimento brasileiro foi o pior em relação aos principais países comparados.

A greve dos caminhoneiros produziu uma queda substancial da atividade no trimestre. Outros fatores refletem questões mais permanentes e também afetarão o terceiro trimestre. O primeiro é a percepção de que o governo se fragilizou demais. O segundo fator é a incerteza eleitoral que produz dúvidas sobre a condução da política econômica e de que forma a agenda do reequilíbrio fiscal será conduzida.

O terceiro decorre da reversão do cenário externo, que resultou em um aperto das condições financeiras. Enquanto os dois primeiros fatores podem ser eliminados após as eleições, não é possível prever quando as condições financeiras internacionais serão revertidas. A atuação do Banco Central será importante para atenuar os efeitos dessas incertezas. O saque dos saldos do PIS tende a produzir efeitos positivos no terceiro trimestre.

Essa medida tem efeito semelhante ao que observamos no caso do FGTS por atuar na direção de expandir a demanda agregada, mas de magnitude inferior pelo menor montante liberado para as famílias. A expectativa é que o crescimento se acelere para 2,5% no próximo ano. De todo o modo, a recuperação econômica é bastante lenta. De acordo com as projeções do Ibre, só em 2020 devemos recuperar o nível do PIB anterior à crise.

A principal explicação está na lentidão da retomada do emprego e do crédito. Os dados referentes ao mercado de trabalho são bastante preocupantes. O emprego formal continua em queda. O subemprego e o desalento aumentam. A massa salarial real tem apresentado queda em 2018. O mercado de crédito, por sua vez, apresenta recuperação bastante gradual.

A agenda governamental não conseguiu corrigir os principais entraves à expansão desse mercado. O cadastro positivo e nova lei de falências, que só produziriam efeitos de longo prazo, não foram aprovados.

A agenda de redução do spread bancário ainda não surtiu os efeitos desejados, e o BNDES continua se desalavancando de forma exagerada, voltando a desembolsos nos níveis dos anos 1990. O governo acena com medidas de potencial mais imediato como o consignado do FGTS e a ampliação dos limites de operação de financiamento imobiliário com recursos desse fundo.

A construção civil possui elevado potencial de geração de empregos, mas ainda sofre com as consequências da crise. Avançar na agenda desse setor retomando obras públicas, acelerando as concessões de infraestrutura, aperfeiçoando a regulação seguem sendo iniciativas importantes para a retomada do crescimento.

É necessário reduzir a insegurança jurídica causada pelo distrato e reorganizar a legislação sobre acordos de leniência. Muito tem se falado sobre a importância das reformas: Previdência, tributação, regras fiscais, funcionamento do Estado e do mercado de crédito e juros. As condições econômicas parecem favoráveis a um ciclo reformista mesmo no momento que as finanças públicas mais parecem um campo minado a ser desbravado pelo próximo governo. Veremos o que a política permitirá fazer.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

PIB indica estagnação econômica na eleição

A economia brasileira perdeu o ritmo de crescimento às vésperas da eleição.

O ambiente pode comprometer o ânimo dos candidatos para defender reformas, que levam a ajuste considerados mais duros, e ainda abrir espaço para discursos populistas que pregam saídas fáceis para a complexa crise na qual o país se encontra, avaliam economistas.

Dados divulgados nesta sexta-feira (31) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a atividade está girando em um ritmo baixo desde meados do ano passado.

No segundo trimestre, drenado pelos 11 dias da paralisação dos caminhoneiros, o PIB cresceu apenas 0,2% em relação ao número já fraco do primeiro trimestre (0,1%).Nas próximas semanas até o início de outubro, a expectativa de economistas é que haja alguma melhora na atividade. Mas insuficiente para afetar a sensação de estagnação.

"Vamos ficar girando em torno desse patamar baixo de crescimento, não vamos acelerar, nem descer a ladeira, vamos ficar por aí", afirma Silvia Matos, economista do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Ela diz fazer parte do grupo de economistas otimistas, que esperam um crescimento ao redor de 1,5% neste ano. Com os números divulgados, as revisões de baixa nas projeções (ao redor de 1,47%) deverão acelerar.

No segundo trimestre, a paralisação dos caminhoneiros drenou a atividade de setores relevantes, como a indústria, e abateu o investimento, que caiu 1,8% ante o resultado do primeiro trimestre.

Além dos dias parados, economistas observam que a reação do governo, cedendo aos manifestantes com mais gastos públicos em meio a uma grave crise fiscal, adicionou incertezas ao futuro.

Somada à indefinição eleitoral, o efeito é um clima de "esperar para ver" em boa parte do setor produtivo.

A principal dúvida é se o presidente eleito será capaz de conduzir reformas econômicas necessárias para dar sustentabilidade às contas do governo sem um forte aumento de impostos.

Já entre as famílias, os números do mercado de trabalho têm mais apelo do que os do PIB, apostam os analistas.

Na quinta (30), o IBGE mostrou que 12,9 milhões de pessoas seguem desempregadas e que um recorde de 4,8 milhões sofriam de desalento entre maio e julho --ou seja, desistiram de procurar trabalho.

"O povão não está nem aí para as reformas. A Previdência não chama tanto a atenção deles quanto a segurança pública, por exemplo", afirma Murillo de Aragão, da consultoria política Arko Advice.

Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, afirma que, neste contexto de crescimento fraco, outras pautas ganham destaque, e reformas econômicas positivas, como as feitas durante a gestão Michel Temer, perdem relevância na retórica política.

"A economia teria de estar bombando para as pessoas esquecerem os casos de corrupção, como o envolvimento de Temer com Joesley Batista", afirma.

Para Juan Jensen, professor do Insper e sócio da consultoria 4E, o eleitor é mais sensível ao emprego e ao salário. "A renda está caindo e as classes de rendimento mais baixo estão sofrendo, com a queda do valor real do salário mínimo. Não é um bom cenário para o consumidor, distante do verificado nos anos Lula", diz Juan Jensen.

No segundo trimestre, o que se viu foi o efeito negativo do repique inflacionário da paralisação dos caminhoneiros negativamente sobre o consumo --a conta oscilou 0,1% após ter crescido 0,4% nos três primeiros meses do ano.

Zeina afirma que, se estivéssemos crescendo mais, o movimento não teria feito tanto estrago, e o dólar não teria subido com tamanha velocidade, na esteira da incerteza criada pela paralisação e pelo cenário externo mais conturbado.

"Esse é o problema de se crescer pouco, há mais vulnerabilidade a choques adversos, como uma greve ou uma quebra de safra, por exemplo", disse.

Ela e Silvia Matos observam que o risco de uma economia estagnada durante a campanha eleitoral é dar força a discursos extremistas ou de cunho populista, com soluções fáceis para problemas complexos.

"Se o próximo presidente entender a missão que tem pela frente e tiver a capacidade política de fazer as reformas, vamos nos surpreender com a capacidade de crescimento rápido da economia", afirmou Zeina.

Segundo o analista Thiago Xavier, da consultoria Tendências, mais do que a economia real, o que vale na campanha é a interpretação do momento econômico.

Se o país estivesse indo bem, disse, talvez candidatos mais alinhados com a política econômica do governo de Michel Temer fariam o uso político desse discurso. Com o marasmo, é provável que os candidatos busquem identificar o "pai da crise".

"Se estivéssemos com dinâmica econômica diferente, a discussão seria não quem colocou o país na crise, mas quem o tirou dela", disse.

p(inter). Queda da construção puxa retração de 1,8% dos investimentos

São Paulo, Rio de Janeiro e Franca (SP)"O recuo da construção contaminou os números da indústria e também os dos investimentos, que responde por mais da metade desse item dentro do cálculo do PIB. Assim, depois de quatro trimestres seguidos no positivo, o investimento voltou a cair de abril a junho deste ano.

O IBGE informou que o investimento caiu 1,8% no segundo trimestre, em comparação com os primeiros três meses do ano. Em relação ao mesmo período de 2019, quando o país começava a sair da recessão, houve uma alta de 3,7%, em razão da baixa base de comparação.

O investimento é uma variável volátil, pois depende da disposição do empresário e de sua confiança no futuro.

A paralisação dos caminhoneiros, porém, derrubou os indicadores de confiança tanto de empresários quanto de consumidores.

Em julho, houve até uma leve melhora, mas o baque teve efeito determinante no potencial de crescimento da economia brasileira neste ano, segundo os economistas Aloísio Campelo e Viviane Seda, do Ibre/FGV, afetando investimentos e de contratações.

Um dos retratos da retração da indústria está em Franca (a 400 km de São Paulo).

Denominada capital nacional do calçado, o município viu as vagas nessa indústria cair de 30 mil há cinco anos para 19.727 em julho. É o pior quadro para o mês desde 2002. Só entre maio e julho, foram fechadas 1.302 vagas.

A produção das indústrias, desde então, também só despenca: dos 39,5 milhões de pares fabricados em 2013, a previsão é que neste ano sejam feitos apenas 28 milhões.

A empresa de Téti Brigagão, diretor das marcas Sândalo/Clave de Fá, chegou a produzir 600 pares de calçados por dia, mas agora tem feito 400, dos quais 20% para exportação.

"Não tem como tapar o sol com peneira. Estaríamos nadando em braçadas maiores se a economia ajudasse", disse ele, cuja família foi uma das primeiras a exportar para os EUA, nos anos 1970.

A fábrica não consegue manter o quadro ideal de funcionários. Emprega cem de dezembro a maio, quando há mais pedidos. No resto do ano, são apenas 80.

Psicóloga e coordenadora de RH da Agiliza, empresa que atua em recrutamento, Rosângela Baldini Silva disse que em 19 anos na atividade nunca viu um cenário tão ruim. Recebe de 60 a 70 currículos por dia, ao menos 80% para o setor que não tem vagas.

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

ARTIGO

A irritação de um economista diante das mentiras

AFFONSO CELSO PASTORI

Apesar da depreciação do real, que indica crescimento da percepção de riscos, ainda há no mercado financeiro quem acredite que a vitória da direita ou da esquerda não impede a solução do problema fiscal. O argumento é pseudo-dialético: a gravidade da situação gera a semente de sua resolução.

O problema não é tão simples. A situação fiscal do Brasil é insustentável, mas a crise ainda está em estado latente, podendo ou não ser evitada antes que nos leve à dominância fiscal e à inflação impeditiva do crescimento. Para evitá-la é preciso que seja extirpado o déficit primário, transformando-o em superávits, o que requer no mínimo a reforma da Previdência, sem o que o teto de gastos não se sustenta.

A equipe de Alckmin reconhece a gravidade da situação e propõe, entre outras, uma reforma da Previdência que considere o problema demográfico, e elimine privilégios. Porém, seus oponentes dizem aos eleitores que a solução prejudica os pobres, e para não desagradar os eleitores, economistas ligados ao PT chegam a negar a sua necessidade, bastando acelerar o crescimento, e consequentemente elevar as receitas. É a mesma “fórmula mágica” usada por Dilma Rousseff, com o crédito barato aos empresários que se alinham com os “donos do poder”. Já o economista ligado a Bolsonaro nos ilude (ou ilude a si mesmo) com um sistema de capitalização inviável diante dos custos da transição, que ele irresponsavelmente supera admitindo que criará um “fundo” cuja natureza nunca foi explicada. Em magnífico artigo publicado na edição do dia 29, na Folha de S. Paulo, Alexandre Schwartsman destrói os argumentos da esquerda e da direita, deixando a nu a mentira que é contada aos leitores.

Não tenhamos ilusões. Na transição de FHC para Lula vivíamos uma crise fiscal já manifesta, mas fácil de resolver, enquanto a atual ainda está em estado latente, mas de solução difícil e politicamente custosa. Na transição de FHC para Lula a maior parte da dívida pública era dolarizada, e a relação dívida/PIB se elevava com a depreciação cambial. Quando o real se depreciava eram necessários superávits primários maiores para reduzir a dívida em relação ao PIB, e como o PT alardeava que não pagaria a dívida gerava-se uma fuga de capitais que depreciava o real, elevando a dívida e requerendo superávits primários ainda maiores. Vivíamos, assim, uma crise com uma componente de profecia autorrealizável, sem que existisse sequer uma pálida sombra dos problemas atuais dos gastos da previdência e dos gastos primários como um todo.

Não saímos daquela crise somente com uma “carta aos brasileiros”, que foi apenas a fórmula encontrada para pelo PT para capitalizar os louros da solução. A equipe de FHC – Pedro Malan e Armínio Fraga - tomou a iniciativa de negociar um acordo com o FMI que, entre outras, estabelecia metas para os superávits primários. O já ungido futuro ministro da Fazenda – Antonio Palocci – foi consultado, achando providencial a iniciativa do governo que saía, levando a proposta a Lula. Palocci convenceu-se sobre o caminho a ser seguido convencendo Lula e o PT, e por mais de três anos repetiu a frase canônica:

“Faremos o superávit primário que for necessário para reduzir a relação dívida/PIB”. O início do ciclo de commodities facilitou ainda mais o ajuste, que se transformou em um caminho sem lágrimas.

Lembro-me que por essa ocasião fui convidado a jantar no apartamento de um empresário simpático ao PT, encontrando pessoas ligadas ao partido para discutir com Palocci, que não apareceu. O propósito era conhecer o que eu pensava sobre o ajuste fiscal. Expus os argumentos a quem se dispôs a ouvi-los, e ouvi de um indivíduo ligado ao partido a frase: “Vocês nos convenceram: faremos os superávits primários para conquistar a credibilidade, mas fiquem seguros que quando a obtivermos, governaremos como nós sempre quisermos”. Foi exatamente o que ocorreu do segundo mandato de Lula em diante. Dilma levou ao extremo o voluntarismo que destruiu instituições construídas por FHC, jogando o País na crise.

Desta vez não há nenhum “passe de mágica”: nem acordo com o FMI; nem carta aos brasileiros. Não estamos diante de uma crise que se desarme sem custos políticos. São necessárias reformas impopulares, a começar pela da Previdência, o que requer apoio político. A solução está nas mãos dos eleitores.

 

 

 

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