Quinta-feira

VALOR ECONÔMICO

Risco supera o de 2002, diz Arminio

O economista Arminio Fraga diz que os riscos para os mercados durante o período eleitoral são mais graves do que ele mesmo vivenciou à frente do Banco Central em 2002, quando o dólar chegou a uma cotação que, em valores atuais, corresponderia a R$ 7,00. Ontem, a moeda americana fechou em R$ 4,0529, no sexto dia de alta. Ele antevê um período de bastante turbulência. "Os mercados vão reagir ao que é dito, a como as coisas são ditas e a quem vai, ao longo do tempo, conquistar a posição de favoritismo no pleito", afirma.

"Não é o mais provável que o câmbio vá a R$ 7,00, esse seria um cenário extremo, que exigiria um governo comprometido com o erro." Arminio afirma que, ao contrário de 2002, não basta o vencedor recuperar a confiança. Naquela época, lembra, o governo Lula precisou fazer um ajuste fiscal de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Agora, seria preciso um ajuste de 6% do PIB para assegurar a queda da dívida/PIB.

Para Arminio, o BC faz bem em apenas intervir em momentos de baixa liquidez. Ele diz que o governo tem mostrado capacidade de liderança quando se reúne com assessores econômicos dos candidatos. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

 Valor: A alta do dólar se deve a fatores domésticos ou globais?

Arminio Fraga: Como sempre, é mais uma coisa nossa, mas sem dúvida há aspectos globais também. Do lado de fora, citaria dois grandes vetores. Primeiro, o fim de um longo período de juros baixos que começou há mais de 30 anos como tendência, que se junta a uma mudança cíclica. Podemos incluir também o tema maior do protecionismo. E temos o vetor mais político, do nacionalismo, em vários casos com características autoritárias.

Valor: Quais os fatores domésticos que pressionam o dólar?

Arminio: Diz respeito a essa combinação muito complicada de crise econômica, incerteza e com crise política latu sensu. Vejo um quadro muito difícil, porque temos um Estado fragilizado do ponto de vista financeiro e uma economia muito machucada do ponto de vista da produtividade, depois de políticas incrivelmente mal desenhadas e regressivas, como a chamada Nova Matriz Macroeconômica. Houve um progresso recentemente, algumas reformas importantes passaram, mas o quadro geral é ainda extremamente preocupante. É preciso reverter a tendência de crescimento da dívida.

Valor: E como esse quadro afeta os mercados?

Arminio: O que hoje conta mais é o que vai acontecer em outubro. Diria mais, o que vai acontecer até lá: qual vai ser a qualidade do debate, o posicionamento dos candidatos e a expectativa sobre quem vai ganhar. Imagino um período de bastante turbulência. Tipicamente, os mercados vão reagir ao que é dito, a como as coisas são ditas e a quem vai, ao longo do tempo, conquistar a posição de favoritismo no pleito.

Valor: Há uma semelhança com a situação de 2002?

Arminio: Em alguns aspectos, lembra 2002, quando o mercado entrou em pânico, com medo de que o PT fosse de fato executar o seu programa econômico histórico. O medo foi aos poucos debelado pelo próprio PT. Naquela altura do jogo, estávamos ali com o dedo no pulso do paciente. Eu estava no Banco Central, talvez a posição mais conectada com essas vibrações. Tínhamos plena consciência de que aquilo que poderíamos fazer tinha limites, de que seria preciso um comprometimento dos candidatos. Houve um esforço na direção de tentar construir pontes e, através dessas pontes, deixar claro a todos que a situação seria administrável sem grandes esforços. O que não é o caso hoje.

Valor: Por que?

Arminio: Em 2002 e 2003, quando você olhar o que aconteceu com a política fiscal, foi pouquíssimo. Houve um pequeno ajuste adicional. Foi um grande ajuste quando comparado com o que se esperava, mas na prática foi mais ou menos 0,5% do PIB de aperto adicional. Na política monetária também, nós já tínhamos feito um aperto enorme no ano anterior. Hoje, a situação é bem diferente porque o Brasil precisa passar por um processo de reformas importantes, em particular nas duas grandes frentes, na frente fiscal e também no que podemos chamar de forma mais genérica de máquina de crescimento, que está ainda bem escangalhada. É um quadro diferente do que existe hoje, por exemplo, no México.

Valor: O México está melhor?

Arminio: Lá, o presidente eleito herda uma situação macro estável. A economia mexicana não tem crescido muito, mas vem dando alguns sinais recentemente. Ele, portanto, não vai ter que fazer grandes mudanças, salvo na máquina de crescimento. Tem os seus problemas também e, claro, nem eles, nem ninguém, têm muito espaço para fazer grandes bobagens na área fiscal. No nosso caso, é uma reconstrução de uma responsabilidade fiscal que foi perdida.

Valor: Em 2002, a cotação do dólar chegou a R$ 7, em valores atualizados. Podemos chegar lá de novo?

Arminio: Do mesmo jeito que o câmbio disparou lá atrás, ele poderia, inclusive em função do que acabo de dizer. A situação aqui, a situação de risco, considero mais grave do que era naquela época. Na época, havia um pedaço da dívida dolarizada. O câmbio disparou e a relação dívida/PIB piorou. Mas era claro que aquilo era uma posição de câmbio que não se sustentaria. Das duas, uma: ou teria inflação ou o câmbio iria voltar. Acabou voltando. Não era uma taxa de câmbio real permanente. Hoje, não. É um quadro que mostra, ao meu ver, um desafio maior. Não basta recuperar a confiança, como por exemplo foi feito àquela época pelo governo que chegou.

Valor: O Brasil não tem fundamentos externos mais sólidos que em 2002, com um déficit em conta corrente de 0,5% do PIB?

Arminio: Ter, tem. O que normalmente provoca esses grandes movimentos no câmbio é o que está acontecendo na conta de capital. É verdade que há uma situação de déficit em conta corrente mais confortável. Infelizmente, ela ocorre de um colapso das importações. É a mesma coisa que uma pessoa que emagrece porque está doente. Mas o fato é que essa parte é melhor, embora por uma razão não muito nobre. Mas a conta de capitais é quem domina. Não é o mais provável que o câmbio vá a R$ 7,00, esse seria um cenário extremo, que exigiria um governo comprometido com o erro. Espera-se que não seja o caso, mas poderemos ter um caminho de alta turbulência daqui para frente, é inegável. E hoje você ainda vê muita gente, especialmente fora do Brasil, que acha que qualquer um que ganhar as eleições vai ter que fazer isso ou aquilo.

Valor: E não terá que fazer?

Arminio: Não tem que fazer coisa nenhuma. As pessoas podem até se sentir pressionadas pelo mercado em algum momento, mas para construir as bases para se promover as reformas e ajustes necessários vai um bom caminho. Precisa de um ajuste fiscal de 6% do PIB. Discordo totalmente de quem acha que bastaria estabilizar a relação dívida/ PIB. Isso seria uma política meio irresponsável. É preciso que entre em declínio. Isso poderia ser feito em três anos, mais do que isso não seria crível. Fazer o ajuste de 2% do PIB por ano seria o mínimo. Mas teria que ficar muito claro como exatamente esse ajuste vai ser feito e precisa ficar claro que essa trajetória é factível. Inclusive do ponto de vista político.

Valor: Com US$ 370 bilhões em reservas, o BC não poderia estar fazendo mais para reduzir a adrenalina do mercado?

Arminio: Temos bastante, é inegável. O Brasil é um país grande. Se olhar as reservas internacionais como proporção do PIB, o número não é tão grande assim. Uma parte ainda tem como espelho os swaps cambiais, então as reservas líquidas são um pouco menores. O BC pode e deve ter uma política de intervir em momentos de baixa liquidez, em um mercado que não funcione. No mais, não há Banco Central que segure se houver um país com uma política no geral mal desenhada. Seria um erro o BC exagerar em amortecer os eventuais sinais que o mercado vai dar. O BC, na verdade, não pode nem agir na direção de mascarar o sintoma nem de agravar o sintoma. Deve ter uma posição mais ou menos neutra, que me parece que é a posição que o BC tem definido.

Valor: Seria suficiente?

Arminio: Em 2002, fizemos alguma intervenção, mas, em um determinado momento, dei uma entrevista coletiva dizendo que o comportamento dos mercados e do câmbio, em particular, espelhavam incertezas com relação ao futuro do Brasil. Na época fui acusado de estar fazendo terrorismo, de estar fazendo campanha em favor do candidato do governo, coisas do gênero. Garanto que não foi o caso. Estava vivendo aquilo por dentro.

Valor: Você vê capacidade de liderança para repetir 2002, quando o governo FHC se reuniu com os candidatos?

Arminio: Sim, vejo. De certa maneira, o Banco Central e o Ministério da Fazenda já estão fazendo isso. É público que tiveram conversas com os principais assessores econômicos dos principais candidatos. Isso foi uma ótima iniciativa. O presidente FHC, em 2002, conversou, acompanhado de alguns assessores. Estamos hoje em um momento parecido com o de agosto de 2002.

Valor: Será que os candidatos estão assimilando algo?

Arminio: Nem sempre. É no fundo a tradicional tentação populista de pintar o quadro melhor do que na realidade é e, com isso, prometer mais do que é possível no curto praz. Outros tem procurado apresentar diagnósticos e propostas. Por aí, alguma solução pode aparecer. Mas é curioso, porque já se veem ali contradições dentro de grupos, de equipes de candidatos. Vai demorar ainda para focar em sinais mais importantes. Tenho alguma esperança de que possa ter um final feliz nessa história.

 

Investidor eleva busca por proteção

Com a proximidade da disputa presidencial, os investidores brasileiros intensificaram a demanda por dólares no mercado de derivativos. Em três semanas, foram adquiridos mais de US$ 4,4 bilhões nesses contratos. Isso explica boa parte do salto da moeda americana no mês de agosto, quando saiu da casa de R$ 3,75 para mais de R$ 4.

As operações foram feitas por meio de contratos de dólar futuro e de cupom cambial (DDI) negociados na B3. Na prática, essa busca por proteção teve como efeito a redução do saldo de posições vendidas (que ganham com a queda da moeda americana) por parte dos investidores institucionais.

O montante caiu de US$ 18,5 bilhões para pouco mais de US$ 14 bilhões. O volume de posição vendida pelo investidor institucional vai ao menor nível desde junho, período em que o mercado ainda estava sob efeito da forte instabilidade gerada pela alta do dólar no exterior e também pela greve dos caminhoneiros no Brasil.

Para fazer frente ao quadro de forte nervosismo que se viu a partir de maio, o Banco Central fez vendas bilionárias de swaps cambiais ao mercado e atender, assim, a necessidade de proteção e de zeragem de posições favoráveis à moeda brasileira. O montante de swaps adquiridos pelo investidor local naquele momento se mantém até agora, o que representa um importante escudo de defesa para encarar a volatilidade da eleição.

Foi justamente a turbulência de três meses atrás que antecipou ajustes de carteiras, deixando os investidores mais resguardados contra novos solavancos no mercado. A postura defensiva fica mais clara quando são somadas as posições em todos os derivativos (dólar futuro, cupom cambial e swaps).

Os investidores institucionais detêm uma posição comprada (que ganha com a alta do dólar) de US$ 19,6 bilhões, nível próximo ao de 2016. Esse volume demonstra uma cautela muito maior que em maio, quando a posição era vendida em US$ 1,1 bilhão. E essa forte reversão serve agora para amenizar os efeitos da alta do dólar sobre as carteiras dos "players".

O investidor estrangeiro, por sua vez, mantém uma posição consolidada de mais de US$ 35 bilhões na ponta compradora, o que também representa um reforço desde maio. Essa posição estava em pouco mais de US$ 20 bilhões naquela época. O fato de as carteiras estarem mais robustas agora ajuda a coibir a sensação de pânico no mercado, mesmo com o dólar a R$ 4. Além disso, dá um pouco mais de margem de manobra para o Banco Central observar o vaivém dos ativos antes de retomar as intervenções no câmbio. Para o professor do Departamento de Economia da PUC-Rio Márcio Garcia, a autoridade monetária só deve voltar a atuar no mercado cambial caso observe sinais de "disfuncionalidade" - ou seja, se houver um quadro de falta de liquidez, em que haja apenas compradores no mercado à vista ou no futuro, gerando uma espiral negativa dos preços.

Ele explica que o fato de o real estar operando nesta semana completamente descolado de seus pares não é razão, por si só, para que o BC volte a ofertar swaps ou reservas ao mercado. "A variação do real superou a de seus pares por uma razão que se identifica: as pesquisas eleitorais, que elevam a preocupação sobre para onde vai o Brasil", afirma.

As pesquisas eleitorais mostram grande vantagem do ex-presidente Lula em relação a seus adversários, e também uma posição forte do candidato do PSL, Jair Bolsonaro. Nos dois casos, a confiança no avanço das reformas é reduzida. "Há todas as razões do mundo para o mercado piorar", diz Garcia.

Para Roberto Serra, sócio e gestor da Absolute Investimentos, a volatilidade é um fator esperado para um período eleitoral. A rodada de pessimismo foi agressiva no mercado, mas ainda há espaço para o BC ser "tolerante", diz Serra. "O ambiente de eleição é algo que muda muito, numa velocidade rápida, e pode mudar novamente daqui para frente", diz o especialista. "Tem motivos para o BC entrar no mercado, mas uma eventual decisão de esperar mais não é algo fora do radar", diz.

Por mais elevada que esteja, a instabilidade do dólar no período próximo da campanha eleitoral ainda é bem menor do que em 2002, de acordo com estudo da Anbima. A volatilidade estava em 19,6% entre julho e 20 de agosto em 2018, ante uma disparada de 57,3% no mesmo período 16 anos atrás.

Ontem, o dólar cravou a sexta alta consecutiva e terminou a sessão em alta de 0,42%, cotado a R$ 4,0529, maior nível desde 16 de fevereiro de 2016 (R$ 4,0684). Na máxima do dia, a divisa chegou a bater R$ 4,0908. Apesar desse salto, os juros futuros fecharam em baixa, indicando que, a despeito de prêmios elevados, não há pânico no mercado. A taxa do contrato de DI para janeiro de 2025 caiu de 12,17% para 11,9%.

 

S&P vai esperar eleição para avaliar rating

A S&P Global vai esperar o resultado das eleições para voltar a avaliar o rating do Brasil e não deve fazer nenhuma alteração no médio prazo, a não ser que aconteça algo inesperado, afirmou Sebastian Briozzo, gerente analítico de ratings soberanos e de finanças públicas para América Latina da agência, durante evento ontem em São Paulo.

A agência de classificação de risco afirmou, em agosto, a nota de crédito do Brasil em "BB-" e manteve a perspectiva estável. Para Briozzo, no curto prazo, a S&P vai esperar para ver quem será o próximo presidente, sua equipe e plano econômico. "Para nós é importante não só quem será o novo presidente, mas a capacidade de coalizão para aprovar reformas."

No médio prazo, a agência vai observar se o novo presidente terá um plano consistente para a questão fiscal e também como ficará o encaminhamento para aprovação da reforma da Previdência. Apesar de sofrer junto com outros emergentes em função do aumento do risco provocado pela crise na Turquia, o analista da S&P destaca que o problema do Brasil é concentrado no lado doméstico, especialmente ligado à incerteza com o resultado das eleições.

Ele lembra, contudo, que diferentemente do passado, o câmbio flutuante ajuda a absorver os choques externos. Os analistas da S&P afirmam que não há grande preocupação com o impacto da alta do dólar sobre a dívida das empresas brasileiras porque a exposição à dívida na moeda americana é pequena e a maioria das empresas estão protegidas com hedge.

O impacto da incerteza política sobre a recuperação da economia, contudo, deve fazer com que o crescimento das carteiras de crédito dos bancos brasileiros seja menor que o esperado neste ano, afirma Cynthia Chen-Freue, especialista setorial de instituições financeiras para América Latina da S&P. A analista prevê uma estabilização da inadimplência nas carteiras dos bancos brasileiros neste ano.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Processos trabalhistas contra bancos despencam 62% após reforma da CLT

O número de ações trabalhistas contra bancos despencou 62% após a reforma trabalhista. O setor financeiro foi o que registrou a maior queda percentual de novos processos depois das mudanças na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), em novembro do ano passado.

Entre janeiro e julho deste ano, de acordo com informações do TST (Tribunal Superior do Trabalho) obtidas pela Folha, foram ajuizadas 15,6 mil ações contra instituições financeiras em varas trabalhistas de todo o país.

No mesmo período de 2017, o total chegou a 40,8 mil.

O grande volume de ações é apresentado pelas instituições como um dos fatores que limitam a queda na taxa de juros porque sustentam os altos spreads bancários —a diferença entre a taxa que o banco capta dinheiro no mercado e quanto cobra para emprestar para o cliente.

O litígio trabalhista entra na conta das despesas administrativas das instituições financeiras que, segundo relatório do Banco Central, representavam 16% do ICC (Indicador de Custo do Crédito) em 2017.

"Em tese, a taxa de serviço seria para equilibrar essas despesas, mas, na prática, ela não cobre tudo e sobra para o spread", diz Ricardo José de Almeida, professor do Insper.

Especialistas apontam, assim, que a queda nas ações trabalhistas teria de contribuir para uma redução no spread e, consequentemente, dos juros cobrados dos clientes.

"Como são muitos fatores que o compõem, cada um pode contribuir para a redução", diz Vitor Velho, economista da LCA.

Ele ressalta, no entanto, que o alívio na Justiça precisa ser acompanhado de outras mudanças estruturais, como a aprovação do cadastro positivo. Segundo Velho, a medida reduziria o risco do crédito e a inadimplência, responsável por 24% do ICC.

A Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) e a Confraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) não se posicionaram sobre o assunto.

Os bancos estão entre os campeões em reclamações trabalhistas, por exemplo, no TST, a última instância da Justiça do Trabalho.

Na corte, as cinco maiores instituições do país figuram entre os 20 principais acionados pelos trabalhadores em recursos que sobem para a análise de ministros.

Segundo o advogado trabalhista Pedro Mahin, sócio do escritório Mauro Menezes Advogados, a reforma trabalhista inibiu o ajuizamento de novas ações por causa da limitação da justiça gratuita.

Antes da mudança da lei, qualquer trabalhador podia solicitar o benefício, que passava apenas pelo crivo da Justiça na chamada presunção da gratuidade.

 

Mudança fiscal no curto prazo não garante nota de crédito após eleição, diz S&P

Após rebaixar a nota de crédito do Brasil em janeiro, a agência de risco S&P Global está de olho no resultado das eleições e, mais especificamente, na capacidade do futuro presidente de formar coalizões e promover reformas fiscais para reavaliar a classificação brasileira.

"A fraqueza fiscal é a chave para a avaliação do Brasil. Há muito espaço para volatilidade, qualquer eleição é assim. Mas nada vai acontecer com a nota de crédito do país até sabermos qual é o plano da administração", diz Sebastian Briozzo, analista de ratings soberanos para a América Latina.

Em janeiro, a S&P rebaixou a nota de crédito da dívida do Brasil de "BB" para "BB-", --três degraus abaixo do grau de investimento, concedido a países considerados bons pagadores--, argumentando lentidão no progresso de medidas para corrigir em tempo a piora fiscal.

Segundo Briozzo, para a nota de crédito brasileira permanecer no patamar em que está após as eleições ou até subir, o futuro presidente deverá apresentar um plano consistente para a questão fiscal, e isso passa, necessariamente, por uma reforma da Previdência, diz o analista.

"Para nós, é menos importante quem vai ganhar, mas qual é a capacidade que terá de criar coalizões e mudar essa estrutura no longo prazo", afirma.

Briozzo ressalta que mudanças mais brandas na condição fiscal e no sistema de aposentadorias podem sustentar a classificação do Brasil no curto prazo, mas, no médio prazo, serão necessárias medidas mais profundas.

"Estamos incorporando agora na nossa avaliação que mudanças fiscais vão acontecer. Temos a consciência da sensibilidade em se promover esse tipo de reforma, mas se nada mais estrutural for feito, vai ser muito difícil o Brasil manter o rating de hoje", diz, acrescentando que um sucesso em promover mudanças vai depender da vontade do novo presidente de "gastar capital político" com isso.

"Faremos reuniões com mais frequência. Se algo inesperado acontecer, vamos reagir. Mas não é a tendência. Após as eleições, será preciso observar as medidas da nova administração, o nível de suporte, como será a implementação, tudo isso toma um tempo para avaliar", afirma Briozzo.

MERCADO FINANCEIRO

Sobre a volatilidade nos mercados financeiros no Brasil --seja pela instabilidade pré-eleição, seja pela contaminação por crises em outros emergentes--, a equipe da S&P para a América Latina explica que observa fundamentos mais estruturais para definir suas notas e reforça que o Brasil tem particularidades.

"A depreciação do câmbio aconteceu mais rápido do que esperávamos inicialmente, mas fatores estruturas são mais importantes para compor o rating. Não é problemático, a não ser que o Brasil de torne mais dependente de financiamento externo no longo prazo, como é o caso da Turquia ou da Argentina, que precisam ir ao mercado para se financiar. O Brasil tem um capital doméstico maior que outros emergentes e, por isso, não está sofrendo tanto", diz Briozzo.

Julyana Yokota, especialista de infraestrutura, destaca, no entanto, que as companhias que estão expostas à flutuação do dólar --em geral, exportadoras-- estão fazendo hedge (seguro cambial).

Em relação às empresas brasileiras de forma geral, Diego Ocampo, especialista em corporações, diz que a nota de crédito no Brasil não difere tanto de pares como o México, mas destaca que as companhias brasileiras também sofrem com incertezas políticas.

"Elas não sabem como agir ao se orientar para um mercado doméstico em que não conseguimos prever as principais variáveis. As empresas estão muito mais cautelosas no uso do capital e nas finanças dos negócios", afirma.

Comentando sobre a proposta do candidato Ciro Gomes (PDT) de tirar 63 milhões de brasileiros do SPC, Cynthia Cohen-Freue, especialista em instituições financeiras, diz que a medida não seria boa para a avaliação dos bancos.

"Algo parecido foi feito no Chile há alguns anos e não foi positivo para os bancos. É uma medida popular, com a ideia de dar uma nova oportunidade aos devedores, mas o que acabou acontecendo é que eles voltaram a se endividar. Não houve uma deterioração do setor por isso e não chegamos a baixar a nota dos bancos chilenos, mas é preciso lembrar que o risco dos tomadores de crédito no Brasil não é tão bom quanto no Chile", afirma.

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

BNDES vai lançar financiamento de energia renovável para empresas

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) quer dobrar a aposta no financiamento a projetos de microgeração de energia renovável. No fim do mês, o banco lançará a linha Finame Energias Renováveis, voltada para empresas, com orçamento inicial de R$ 1 bilhão. Paralelamente, negocia a liberação de mais R$ 208 milhões do Fundo Clima, para pessoas físicas. "Vamos dobrar a aposta na área solar", disse o diretor de Infraestrutura do BNDES, Marcos Ferrari.

Com o barateamento das placas fotovoltaicas, a energia solar responde pela maioria dos sistemas de geração distribuída, em que o cliente da distribuidora de eletricidade produz parte da energia que consome, ganhando desconto na conta de luz. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de junho de 2013 a junho deste ano, o número de conexões de microgeração de energia subiu de 23 para 30.900, 99% com tecnologia solar.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, o crédito é fundamental para o aumento do número de conexões, pois o elevado investimento inicial na instalação inibe a demanda por parte de pessoas físicas e pequenas empresas. Como os sistemas de geração distribuída reduzem o gasto com a conta de luz, quem tem acesso a crédito pode pagar as parcelas do financiamento com o dinheiro economizado.

Por isso, a Absolar comemorou quando o BNDES anunciou, no início de junho, que havia mudado as regras do subprograma Máquinas e Equipamentos Eficientes do Fundo Clima, para aceitar também pedidos de pessoas físicas. Só que, em 45 dias, o banco de fomento recebeu 130 pedidos e foi obrigado a suspender a chegada de novos projetos, como mostrou o Broadcast na segunda-feira.

O Fundo Clima é vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). Os recursos concedidos por empréstimos são geridos pelo BNDES, mas o orçamento é definido pelo ministério. Segundo Ferrari, os valores destinados ao subprograma Máquinas e Equipamentos Eficientes do Fundo Clima são de sobras do orçamento de 2017 e de anos anteriores. Por isso, o BNDES negocia a liberação de R$ 208 milhões do orçamento do Fundo Clima deste ano. As negociações com o ministério estão avançadas e os novos recursos poderão estar disponíveis antes do fim do ano, disse o diretor.

Desta vez, a linha do Fundo Clima será destinada exclusivamente a pessoas físicas. As condições seguem as mesmas, com taxa de juros final, já incluindo a remuneração do agente repassador, de 4,03% a 4,55% ao ano, carência de três a 24 meses e prazo total de pagamento de 12 anos.

Com a exclusividade às pessoas físicas, o BNDES quer evitar a competição com empresas. Dos 130 pedidos para a linha do Fundo Clima desde as mudanças do início de junho, 26 foram de pessoas físicas. Dos 89 empréstimos aprovados, no valor total de R$ 85 milhões, 15 foram para pessoas físicas.

Por isso, a Finame Energias Renováveis atenderá apenas as empresas, de qualquer porte. Segundo Ferrari, o orçamento inicial de R$ 1 bilhão poderá ser ampliado caso a demanda fique acima disso. Sem o subsídio do Fundo Clima, o custo básico será a Taxa de Longo Prazo (TLP), com o juro final em torno de 10% ao ano, sem contar o spread do banco repassador. O prazo total chega a dez anos, com carência de dois.

Para Ferrari, as condições são vantajosas para as empresas. Nas contas do BNDES, se todo o R$ 1 bilhão disponível for tomado, o crédito será suficiente para instalar de 320 a 350 megawatts de capacidade em sistemas de microgeração, o que seria suficiente para abastecer 300 mil domicílios.

Segundo a Absolar, um estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) aponta que, no Brasil como um todo, seria possível instalar 164 gigawatts em sistemas de microgeração solar, capacidade equivalente à totalidade do sistema elétrico nacional.

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