Terça-feira

CLIPPING (24.04.2018)

VALOR ECONÔMICO

Spread alto reduz efeito de juro menor

Há uma decepção com o ritmo de recuperação da atividade neste começo de ano e entre as diversas hipóteses para o fenômeno está a possível perda de potência da política monetária. Por alguma razão, o estímulo dado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) estaria deixando de ser plenamente transmitido para o lado real da economia.

Sinal disso é uma inflação persistentemente abaixo do piso da meta de 3%, mesmo com o Banco Central (BC) promovendo um dos maiores ciclos de afrouxamento monetário da história do regime de metas. A Selic saiu de 14,25% ao ano em outubro de 2016 para a taxa atual de 6,5% e há perspectiva de nova redução em maio.

As ações do BC chegam à economia real por diferentes canais de transmissão, como expectativas, câmbio e crédito. Há uma defasagem de cerca de 6 a 12 meses e os efeitos são cumulativos. Um ponto razoavelmente consensual é que há algo de errado no canal de crédito. Há uma queda dos spreads bancários e dos juros ao consumidor, mas ela é menor do que a esperada e projetada por modelos econométricos que consideram a taxa Selic e a inadimplência como parâmetros para as estimativas. "Tem alguma coisa no mercado de crédito que não está fluindo como o esperado", diz o economista do Grupo de Conjuntura Econômica da UFRJ, Ricardo de Menezes Barboza.

Ele levantou a tese de perda de eficiência da política monetária em artigo publicado no Valor em janeiro deste ano. "Tem uma luz amarela que é o spread bancário, que cai, mas não como se anteciparia."

O economista-chefe do UBS Brasil, Tony Volpon, também avalia o canal de crédito como o culpado por essa percepção de crescimento abaixo do previsto da economia, tendo em vista os esperados estímulos cumulativos dos cortes de juros iniciados em outubro de 2016. Usando um modelo simples, mas estatisticamente significativo, Volpon afirma que grande parcela do crédito para pessoa física tem níveis de spreads muito acima do que deveria ser, considerando Selic e inadimplência. Não é algo dentro de um erro padrão do modelo, mas sim entre 15 pontos e 20 pontos percentuais acima de onde deveria estar.

"Sendo isso, claramente teria uma interrupção da transmissão da política monetária via canal de crédito. Isso explicaria por que a economia não está respondendo como se esperava. A previsão de crescimento considerava essa contribuição do canal de crédito", afirma Volpon.

Outra forma de avaliar a questão é trabalhar com a hipótese de que, mesmo que temporariamente, a taxa real de equilíbrio - que promove crescimento com inflação nas metas - estaria mais baixa. O que, em tese, exigiria cortes além dos acenados pelo Copom na Selic. Na avaliação do sócio e gestor da Kapitalo, Carlos Woelz, o mais provável é que a queda da taxa real de equilíbrio esteja ligada à mudança do padrão do crédito - menor fatia de recursos direcionados - e à recuperação da capacidade percebida de fazer reformas.

Woelz não descarta a ocorrência de uma sensibilidade menor da economia à política monetária no curto prazo por causa da incerteza proveniente das eleições. Entretanto, isso seria compatível com um câmbio muito mais desvalorizado. "Mas todos estes efeitos são temporários", pondera.

De fato, não há discordância de que reformas microeconômicas, notadamente a adoção da Taxa de Longo Prazo (TLP), aumentam a potência da política monetária no longo prazo, além de reduzir o juro de equilíbrio. Para Barboza, que acredita na tese de perda de potência da política monetária, há três razões por trás desse fenômeno. A primeiro é a incerteza sobre o futuro da política econômica nos próximos quatros anos. "Seja consumidor ou empresário, é natural adotar a postura de esperar para ver", afirma.

Segundo o economista, há evidências preliminares de que a incerteza deixa os agentes menos sensíveis aos estímulos monetários. Trabalhos feitos em outros países já demonstraram que em quadros de elevada incerteza os agentes respondem menos do que o estimado aos estímulos que o BC provém. "Então, a primeira hipótese é que essa incerteza gritante estaria atrapalhando o trabalho do BC de reinflacionar a economia", diz Barboza.

O segundo ponto é justamente o canal de crédito. "Tem algo acontecendo que não está derrubando o spread", afirma. O terceiro ponto da tese de Barboza é a estrutura a termo da taxa de juros, que mostra uma inclinação ainda muito forte, puxada por prêmios maiores nos contratos mais longos. "Essa inclinação da curva pode ser um entrave para a transmissão da política monetária", avalia.

Entretanto, o pesquisador pondera que podem ter outros fatores impedindo a retomada da atividade e da inflação. A política monetária pode estar fazendo o trabalho dela, mas isso é ofuscado por outros vetores que empurram a inflação para baixo, como as políticas fiscal e parafiscal. Todo ajuste nas contas, sem reforma da Previdência, está sendo feito no lado das despesas discricionárias - notadamente nos investimentos do setor público, que possuem um elevado efeito multiplicador sobre o restante da atividade.

"Esse é o lado doloroso do ajuste que se faz necessário." Há também a redução dos subsídios creditícios de diferentes naturezas. "Tinha esse crédito direcionado que se transformava em gasto. Quando se tira isso, a economia sente o golpe até que o crédito livre preencha esse espaço", explica Barbosa.

Segundo Volpon, do UBS, o BC tem trabalhado em agendas adequadas como olhar o mercado de capitais como alternativa de financiamento e dando espaço para as fintechs (empresas de tecnologia financeira). Há também a tentativa de melhorar o cadastro positivo, o que reduziria a assimetria de informações, permitindo que novos participantes achem bons riscos de crédito. "O spread brasileiro é ponto fora da curva.

O BC está trabalhando em alguns desses pontos. Agora é verdade também que temos, hoje, níveis de concentração que estão impedindo que haja concorrência para forçar o spread para baixo quando há demanda", conclui Volpon.

 

Petróleo em alta e leilões podem render R$ 56 bilhões neste ano

A alta de cerca de 42% dos preços do petróleo nos últimos 12 meses e a reorganização do setor com o fim da exclusividade da Petrobras como operadora do pré-sal devem trazer injeção considerável de recursos para a economia. As receitas devem vir não somente dos leilões como também de royalties e tributos. Segundo projeções, o petróleo pode render à União e aos governos regionais cerca de R$ 56 bilhões somente em royalties e arrecadação em leilões, além de trazer US$ 5 bilhões - o equivalente a R$ 17,3 bilhões - a mais em relação ao ano passado em receitas de exportação.

A retomada dos investimentos no setor, não somente pela Petrobras como por outras operadoras, deve dar também importante contribuição para a retomada da economia e do emprego. Mais do que nunca os royalties do petróleo devem render receita extra ao setor público. Somados às participações especiais, os royalties podem chegar a R$ 37,51 bilhões este ano.

O valor significa aumento de 23,3% em relação a 2017 e é mais que o dobro do que foi distribuído em 2016, segundo projeções do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Adriano Pires, diretor do CBIE, explica que as projeções são conservadoras porque consideram preço médio de US$ 63,36 o barril.

Nos últimos dias, o preço subiu para cerca de US$ 70 o barril, e é possível que avance ainda mais com o conflito na Síria, envolvendo EUA, França e Reino Unido de um lado e a Rússia de outro. "Há quem diga que o preço chegue a US$ 80 o barril, o que pode elevar ainda mais o valor de distribuição de royalties".

A estimativa considera ainda dólar a R$ 3,29, outra variável que pode mudar no decorrer do ano, para um nível de desvalorização maior, diz Pires, não só pelo cenário internacional como pelo período eleitoral. Isso elevaria ainda mais o valor dos royalties e participações, que são distribuídos em reais.

Para Pires, as boas perspectivas não se limitam a 2018, mas se expandem por um período de cinco anos. "Tudo leva a crer que teremos um novo boom de royalties no Brasil." Além da questão de preços, diz ele, a produção deve avançar nos campos do pré-sal, que hoje já respondem por 50% do óleo retirado no país. Isso também deve permitir a distribuição de royalties para regiões diferentes. "No Rio, por exemplo, a tendência é que a maior distribuição de royalties se desloque dos municípios de Macaé e Campos para Maricá e Niterói."

O setor também passa por um momento de volta dos investimentos. A Petrobras aumentou o orçamento com investimentos em 30%, para US$ 17 bilhões, ao mesmo tempo em que empresas com sólida posição financeira também aumentaram a aposta no país. Entre elas, a Statoil, Total, Exxon e Brookfield, que comprou a NTS, que reúne parte da rede de gasodutos da Petrobras no Sudeste, por US$ 4,23 bilhões.

O renovado interesse das empresas por ativos de petróleo e gás no Brasil explica os bônus de R$ 8 bilhões pagos na 15ª rodada de licitações da ANP, realizada em março, que teve ágio médio de 621,9%. Além de pagar o bônus, as companhias se comprometeram com investimento de no mínimo R$ 1,2 bilhão na fase de exploração das áreas adquiridas, o que também vai movimentar o setor de serviços.

A expectativa da empresa Hays, de recrutamento e seleção, é de que 87% das empresas abram novas vagas de trabalho em 2018. Por causa do resultado da 15ª rodada, acima de todas as projeções do governo, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Félix Bezerra, aumentou a expectativa de arrecadação com leilões este ano para R$ 18 bilhões, o que pode ser um volume conservador.

A arrecadação do primeiro leilão do ano - estão previstos mais dois - ficou próximo dos R$ 9,95 bilhões arrecadados em 2017. Se a previsão se confirmar, baterá o recorde de 2013, quando R$ 17,2 bilhões foram pagos ao governo, ajudado pela venda dos direitos de produção de Libra, o primeiro campo gigante vendido pelo regime de partilha de produção, que rendeu R$ 15 bilhões.

Félix afirma que, ao prever arrecadação de R$ 18 bilhões com leilões, não incluiu receita de R$ 1 bilhão da União com a venda de petróleo nos campos operados sob o sistema de partilha da produção. Ele prefere não fazer estimativa para o resultado das negociações entre a Petrobras e o governo em torno do volume de petróleo que excede os 5 bilhões adquiridos pela Petrobras sob o regime de cessão onerosa.

A consultoria Gaffney, Cline & Associates, contratada pela ANP, estima que existem entre 6 bilhões e 15 bilhões de barris de petróleo excedentes. Uma parte disso pode ser leiloada quando o governo e a Petrobras encerrarem o processo de revisão do contrato assinado em 2010. Sobre esse assunto, que está sendo tratado com confidencialidade, Félix explicou que o governo não trabalha com a entrada de dinheiro no Tesouro ainda este ano, e nem é a meta. "A motivação é destravar um investimento muito grande e significativo em uma área que já está descoberta", disse o secretário ao Valor.

O advogado Giovani Loss, especialista na área de óleo e gás do escritório Mattos Filho, destaca que diversas empresas importantes estão reforçando sua posição no país, movidas, segundo ele, pelo aumento do preço do petróleo e pela flexibilização de regras pelo governo, inclusive a que acabou com a exigência de que a Petrobras fosse a única empresa a produzir no pré- sal como operadora.

O advogado destaca a norueguesa Statoil, que investiu R$ 973,23 milhões no último leilão, a BP e a francesa Total, que já anunciou investimento anual de US$ 1 bilhão no Brasil depois das aquisições de participação nos campos de Iara e Lapa (do qual se tornou operadora) no pré-sal da Bacia de Santos, e da compra de participação em hidrelétricas e terminais de GNL da Petrobras.

"O interesse claramente se tornou maior em função do aumento do preço do petróleo, e os investimentos recentes são indicativos da importância do setor. São muito relevantes e de empresas muito sólidas", afirma Loss.

Ele chama a atenção para as novas oportunidades que surgem para pessoas físicas e prestadores de serviços para o setor. "Eles estão se tornando menos dependentes da Petrobras com a diversificação da operação no pré-sal. E o aumento da atividade por empresas que não a Petrobras gera oportunidades de emprego, particularmente nas estrangeiras que aumentaram sua presença no Brasil", avalia Loss.

Outro efeito da alta do preço do petróleo deve ser no comércio exterior. José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que, considerando o mesmo volume de exportação do ano passado, o valor exportado pode subir de US$ 16,4 bilhões embarcados em 2017 para quase US$ 21 bilhões este ano, levando em conta os novos patamares de preço como preço médio. Isso abre a possibilidade de o petróleo assumir o lugar do minério de ferro como segundo item mais importante na pauta brasileira de exportações.

Em dezembro, lembra Castro, o petróleo estava sendo comercializado a US$ 300 a tonelada e nas últimas semanas o preço ultrapassou os US$ 400 a tonelada. O preço do minério de ferro também subiu no mesmo período, mas de forma menos acelerada, de US$ 52 a tonelada para perto de US$ 60 a tonelada.

 

Caixa reduz taxa de linha de capital de giro

Depois de reduzir o juro do crédito habitacional para pessoas físicas, a Caixa Econômica Federal anuncia, nesta terçafeira, um corte em uma das principais modalidades para pessoa jurídica. A taxa da linha de capital de giro para médias e grandes empresas cai de 1,37% ao mês, ou 17,74% ao ano, para 0,85% ao mês, ou 10,69% ao ano. A redução é de 52 pontos percentuais, redução de 38%. A taxa média do mercado em fevereiro, segundo dados do BC, era de 18,7% ao ano (1,44% ao mês).

Segundo o diretor do segmento corporativo da Caixa, Roberto Luiz Bachmann, o ajuste das taxas vinha sendo estudado pela área corporativa e o banco entendeu que era o momento adequado de fazer, considerando, também, a disponibilidade de R$ 11 bilhões para essa modalidade. "Nossa movimentação se dá de forma sustentável. Temos a responsabilidade de garantir a rentabilidade da carteira e todos os marcos regulamentares como Basileia 3", explica Bachmann.

A redução de custo acontece em um momento de firme aumento na procura por crédito por parte das empresas. Segundo Bachmann, a mesa de operações corporativas da Caixa registrou crescimento de 60% nas consultas em março em comparação com a média de janeiro e fevereiro. "Estamos percebendo o mercado se movimentando na busca por recursos. Esse movimento se tornou mais pronunciado em março. E a expectativa é que se incremente ainda mais pela tendência observada agora em abril", afirma.

O capital de giro é a principal linha da carteira corporativa da Caixa. Sem destinação específica, ela é normalmente utilizada para necessidades de pagamento das empresas. Segundo Bachmann, o banco avalia a redução de taxas de outras linhas do segmento pessoa jurídica, como investimentos. Os estudos já foram feitos pela área corporativa e estão em avaliação dentro de outras áreas do banco. "Estamos vivendo um momento de recuperação da economia e é importante que empresas públicas, como a Caixa, possam contribuir para essa retomada", afirma.

Considerando os dados do BC, o crédito para as empresas não mostra reação, algo que já aconteceu nos financiamentos para as famílias no ano passado. O estoque total acumula uma queda de 6,7% nos 12 meses encerrados em fevereiro, somando R$ 1,4 trilhão. Parte disso é atribuído à redução do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no crédito direcionado.

Mas, considerando apenas os recursos livres, também há queda de 1,8% em 12 meses. Em fevereiro, no entanto, houve breve reação, com alta de 0,2% no estoque, que soma R$ 712,4 bilhões. Segundo Bachmann, a inadimplência no segmento corporativo está controlada. "Nada que nos exponha tão significativamente quando se fala em carteira, há apenas questões pontuais", diz.

As novas taxas de capital de giro se destinam a empresas com faturamento acima de R$ 30 milhões por ano. O prazo total pode chegar a 48 meses. As taxas finais variam de acordo com os indicadores financeiros de cada empresa e da relação com a Caixa.

 

Flexibilização telegrafada

O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, voltou a afirmar que o Comitê de Política Monetária (Copom) avalia como adequado um corte adicional da Selic em maio. Ilan falou em evento no Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), em São Paulo. Segundo o comandante da autoridade brasileira, após a flexibilização extra, o Copom vê como conveniente a interrupção do processo. O atual ciclo de redução começou em outubro de 2016 e, até o momento, a taxa básica recuou de 14,25% ao ano para 6,5% ao ano.

 

Mercado vê mais inflação e crescimento menor do PIB em 2018

A mediana das projeções para a inflação oficial em 2019 saiu de 4,07% para 4%, segundo a pesquisa semanal Focus, do Banco Central (BC), divulgada nesta segundafeira. Entre os economistas que mais acertam as previsões, grupo chamado Top 5, de médio prazo, o ponto médio das estimativas para a inflação em 2019 também ficou em 4%, ante os 4,05% previstos para o período no relatório anterior.

No caso de 2018, a expectativa dos economistas consultados pelo BC para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de alta de 3,49%, em vez de 3,48%. Entre os Top 5, a previsão para o avanço do IPCA em 2018 se manteve em 3,56% Em 12 meses, a mediana das apostas saiu de 4,02% para 4,06% de aumento.

As estimativas para a taxa básica de juros, Selic, permaneceram inalteradas, em 6,25% para o fim deste ano e em 8% para o do próximo calendário entre os economistas em geral e em 6,25% em 2018 e em 7,50% em 2019 entre os Top 5. As projeções para o crescimento da economia foram alteradas de 2,76% para 2,75% em 2018, quarta revisão para baixo seguida, e foram mantidas em 3% no próximo ano.

 

"Não queremos o BNDES fornecendo crédito barato", diz Guardia em NY

O papel do BNDES daqui para frente deve ser o de incentivar o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro, afirmou ontem o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, durante evento em Nova York. "Não queremos o BNDES fornecendo crédito barato para os brasileiros," disse o ministro em resposta a um investidor.

Para Guardia, o BNDES continuará tendo um papel importante no financiamento de exportações e de pequenas e médias empresas. "Acho que desenvolver o mercado de capitais é o papel-chave do BNDES daqui para frente." O ministro ressaltou o que acredita ser o uso responsável de mecanismos de subsídio. "Se você quiser ter subsídio para qualquer coisa, esse subsídio tem que estar no Orçamento Geral da União, de maneira transparente", disse ao Valor, citando como exemplos os atuais subsídios ao crédito agrícola. "Não é papel de banco dar crédito subsidiado. O papel do banco é alocar bem o seu capital com boa gestão de risco."

Questionado sobre se a afirmação sobre o crédito subsidiado do BNDES se estendia a outros bancos públicos, como Caixa e Banco do Brasil, Guardia defendeu a importância de foco na área de atuação e disciplina na alocação de capital, assim como boa gestão de risco, de acordo com as regras de Basileia adotadas pelo Banco Central. "É essa a orientação que a gente tem para os bancos públicos."

Mais cedo, durante discurso, Guardia afirmou que coibir incentivos fiscais pode ajudar o governo a cumprir o teto de gastos em 2019, assim como também o leilão das áreas do pré-sal cedidas à Petrobras na época da capitalização da estatal. O ministro admitiu que a chamada "regra de ouro" das contas públicas - que impede endividamento para pagar despesas correntes - pode se tornar um problema a partir de 2019, mas lembrou que o leilão da cessão onerosa do pré-sal - negociação que depende da Petrobras - pode incrementar as receitas.

"Estamos próximos de chegar a um acordo com a Petrobras, mas não posso comentar mais", disse a investidores. Guardia defendeu a importância das reformas para manter o Orçamento num caminho sustentável e não descartou apelar ao Congresso para aprovar mudanças que permitam maior flexibilidade orçamentária. "O país está crescendo. A discussão agora é se vai crescer 3% ou 2,8%", disse o ministro.

 

'Indústria 4.0' abre novo leque de receitas

Em busca de produtividade e competitividade no mercado internacional, o Brasil tem um grande desafio pela frente, de dar o salto tecnológico para a chamada "indústria 4.0". Mas o cenário traz oportunidade adicional para as indústrias: oferecer serviços relacionados à digitalização de máquinas e equipamentos.

A chamada indústria 4.0 ou manufatura avançada é o uso de um conjunto de tecnologias digitais como internet das coisas, computação em nuvem, realidade aumentada, "big data", manufatura aditiva, robôs colaborativos, integração de sistemas e segurança cibernética, de forma isolada ou em conjunto, nos processos produtivos ou cadeias de serviços. A adoção das tecnologias cria ambiente ciber-físico, em que máquinas e sistemas conversam entre si para tornar linhas de produção autônomas, flexíveis e customizáveis.

O problema é que, para especialistas, a maioria das indústrias brasileiras ainda sofre para chegar à terceira revolução industrial, do "toyotismo", que começou a introduzir a automação e a produção sem desperdícios. A boa notícia é que a transição pode ser feita diretamente, opinam, tornando exponenciais os ganhos de receita para as fornecedoras, de redução de custos para as fábricas e de crescimento da economia.

No Brasil, a WEG, especialista em equipamentos elétricos, já começou a usar o processo digital e agilizou o monitoramento. A empresa até criou um software proprietário para isso e hoje tem uma unidade dedicada ao assunto, chamada "WEG Manufacturing System". "Eu não ia começar a investir se não desse retorno", diz Milton Castella, diretor de engenharia da companhia, que tem atuação no país e no exterior.

"Achamos que não haverá só um modelo de negócios, será um híbrido entre venda de produtos e de serviços", afirma Sebastião Nau, gerente de pesquisa e desenvolvimento da WEG. "Se não fizermos, outro vai fazer." A consultoria McKinsey calcula que adotar práticas 4.0, como monitoramento digital em tempo real e tomada de decisões com inteligência artificial - usando dados históricos da fábrica como base - pode reduzir as despesas administrativas de quem as utiliza em até 80%.

A produtividade, por sua vez, pode subir 30%. Mas, para que isso aconteça, as fabricantes de máquinas terão de avançar no desenvolvimento de softwares e prestação de serviços para que as empresas possam se adaptar. "Isso cria inclusive um novo paradigma para a indústria, que é o tipo de mão de obra empregada. Se continuar como está, a massa trabalhadora pode estagnar em 2050 e haver um descompasso entre oferta e trabalho e mão de obra, diz Rafael Oliveira, sócio-associado da consultoria.

Björn Hagemann, sócio da McKinsey, ressalta que as empresas também precisam se preocupar com a segurança da informação e investir no conhecimento dessas tecnologias e ferramentas. Ele afirma que é essencial garantir que os incentivos governamentais anunciados recentemente, de R$ 5 bilhões a R$ 9 bilhões, sejam bem empregados. "Podemos ter três anos, por exemplo, de baixo desenvolvimento se os recursos não forem bem gerenciados e estrategicamente executados."

Lá fora, as companhias estão buscando com maior entusiasmo a digitalização do processo fabril. Estudo da consultoria mostra que, só de 2016 para 2017, o interesse por processos com tecnologia subiu consideravelmente. O Japão, por exemplo, passou de apenas 8% de executivos entrevistados que estavam otimistas para 40%. A Alemanha foi de 19% para 62%. "Temos muitos exemplos de países com incentivo, como Alemanha, Estados Unidos, Japão e China, por exemplo", diz Hagemann.

Aidan Quilligan, líder global da consultoria Accenture no assunto, explica que o maior desafio até agora é conseguir escala nesses processos. Muitas empresas adotaram unidades-piloto para guiar desde pequenos a grandes projetos, mas não descobriram como implantar a tecnologia em todas as fábricas. O processo de digitalização pode ser menos custoso e mais assertivo se iniciado pela modernização do maquinário.

"O retrofit, com a inserção de sensores ao redor das máquinas já existentes, é o melhor caminho dependendo do tamanho da indústria para ganhar eficiência e produtividade", diz. Em pesquisa global, de 2017, incluindo Brasil, com quase mil executivos de 12 indústrias, a consultoria identifica as tecnologias mais críticas na transformação digital dos setores produtivos. Os investimentos com internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) se destacam. A identificação das tecnologias prioritárias para se inserir neste cenário indústria 4.0 é algo mais tangível nas companhias de economias mais avançadas, segundo dados da pesquisa global da Deloitte, com 1.600 executivos, incluindo do Brasil, de diversos setores.

"Aqui no país, algumas empresas estão atrasadas do ponto de vista do uso dessas tecnologias para melhoria de eficiência, muito em função de falta de investimentos por conta da crise financeira", destaca Ronaldo Fragoso, sócio da consultoria Deloitte. Como a tecnologia é a principal indutora das transformações nos setores produtivos e nas cadeias de serviços, 44% dos 102 executivos brasileiros já enxergam mudanças em seus modelos de negócios. Para 39% dos executivos brasileiros, a tecnologia é vista como grande diferencial competitivo, sendo que para 29%, a tecnologia não é um determinante atual de eficiência de seus profissionais.

João Alfredo Saraiva Delgado, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), diz que o salto tecnológico para colocar os negócios no rumo da transformação digital exige, no entanto, um passo anterior para garantir a identificação correta da adoção de novas tecnologias e maquinário. "Como ganhar eficiência, produtividade e implantar novas tecnologia se os processos estão defasados ou incorretos? É preciso revê-los sob a ótica da manufatura enxuta, o lean manufacturing", diz, citando como é mais conhecida, em inglês, a filosofia de gestão empenhada em reduzir ao máximo os desperdícios da fábrica.

Para João Carlos Visetti, presidente da unidade brasileira da multinacional alemã Trumpf, é uma questão de definir se o Brasil quer ou não ter vocação industrial para competir no mundo. "As empresas vão precisar investir, mas para isso precisam começar a reduzir endividamento e enfrentar um financiamento que não é mais tão barato. Se não alcançarmos essa produtividade melhor, o país pode ficar para trás", opina.

Visetti comenta que, para acumular dados necessários e implantar os processos de integração e inteligência artificial, será essencial criar um "intercâmbio de informações" entre as fábricas, mas cuidando da segurança. "A ironia é que o que era sinônimo de sucesso no passado hoje pode não significar nada, motivo pelo qual alguns funcionários inicialmente são contra os conceitos", afirma Quilligan, da Accenture.

"A Alemanha e o Japão, por exemplo, têm um orgulho enorme de seu histórico industrial, mas isso pode acabar jogando contra pelo conhecimento adquirido de como era o processo antes. Um dos maiores fatores de sucesso é juntar profissionais de tecnologia, de internet das coisas, e os operários, com plena experiência industrial."

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

Sem MP da reforma trabalhista, volta a valer texto da lei

Sem qualquer mobilização do Congresso Nacional, a medida provisória que alterava pontos da reforma trabalhista caducou na última segunda-feira, 23. Com isso, volta a valer, por exemplo, o que a nova legislação determina para itens como o trabalho insalubre de grávidas e lactantes. A lei, que entrou em vigor em novembro, não impede que elas trabalhem sujeitas à insalubridade. Governistas dizem que o Palácio do Planalto estaria estudando ajustes, mas a percepção é de que isso deve ficar em segundo plano com a agenda eleitoral.

Fonte que acompanha o tema disse ao Estadão/Broadcast que a área jurídica do governo estuda se e como pode fazer eventual ajuste. O tema foi debatido em reunião do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, com assessores jurídicos e representantes do Congresso ontem à noite. Por enquanto, prevalece o entendimento de que é preciso um projeto de lei para alterar os pontos que já foram incorporados à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

O texto que caducou ontem foi fruto de acordo político entre Executivo e Senado. Para aprovar a reforma mais rápido e sem alteração, o governo prometeu ajustar pontos reclamados por senadores, inclusive da base governista, em uma MP. Esses tópicos davam mais proteção ao trabalhador. A pressa do Planalto era para concentrar forças na tramitação da reforma da Previdência. A MP foi editada, mas empacou no Congresso.

O fiador do acordo para a reforma foi o líder do governo no Senado, Romero Jucá (MDB-RR), que ontem lavou as mãos e culpou a Câmara pelo desfecho. “O compromisso do governo foi feito ao enviar a MP, mas, por disputas políticas, o projeto não tramitou na Câmara”, disse em nota. Segundo ele, o governo “analisa o que fará com a MP” e, ao prometer “fazer o que for necessário para que haja complementação da reforma”, não descarta decreto ou até nova MP. No Planalto, porém, a opção preferida é um projeto de lei.

A tramitação de qualquer iniciativa que requer aprovação do Congresso exige compromisso político dos parlamentares. E essa é uma hipótese que parece distante, pois o projeto teria de ser votado pelo mesmo parlamento que ignorou a MP. O relator da reforma na Câmara, Rogério Marinho (PSDB-RN), diz que “não há clima” para aprovar medida desse tipo no Congresso. Ele defende que as novas regras vigorem “em sua plenitude” e que a sociedade espere “um ou dois anos” para avaliar se é necessário ajustar pontos da lei.

Se não houver reação do Executivo ou Legislativo, a Justiça do Trabalho deve voltar a ganhar protagonismo no esclarecimento de trechos da nova lei que já são questionados no mundo jurídico e foram esclarecidos na MP que caducou. Um dos artigos deixava claro que a reforma se aplicava na integralidade a todos os contratos, novos ou antigos. Caso o Executivo e Legislativo não cheguem a um entendimento, especialistas dizem que a opinião da Justiça voltará a exercer papel importante.

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