Terça-feira

FOLHA DE SÃO PAULO

Caixa reduz juros para financiar casa própria, primeiro corte desde 2016

A Caixa Econômica Federal anunciou, nesta segunda-feira (16), uma redução na taxa de juros para financiar a casa própria. É o primeiro corte anunciado pelo banco desde novembro de 2016, ou seja, em 17 meses. O banco também voltou a financiar até 70% do valor de imóveis usados; o limite estava em 50%.

O corte dos juros vale para financiamentos usando recursos do SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo). As novas taxas começam a valer a partir desta segunda-feira.

As taxas mínimas da Caixa na linha do SBPE caíram de 10,25% ao ano para 9% ao ano para imóveis de até R$ 950 mil no Distrito Federal, em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Para os demais estados, o limite é de R$ 800 mil. Já para imóveis acima desses valores, as taxas mínimas caíram de 11,25% ao ano para 10%.

O Banco do Brasil oferece, respectivamente, taxas de 9,24% ao ano e 10,15% ao ano para as categorias de empréstimo citadas acima. No Itaú, é de 9% e 9,5%.

Com a mudança, a Caixa se torna a instituição bancária com a melhor opção de taxa para o consumidor. Itaú e Bradesco empatam em segundo lugar, segundo a consultoria Melhor Taxa.

CAPITALIZAÇÃO

A redução vem com atraso em relação aos concorrentes privados, que começaram a reduzir as taxas à medida que o Banco Central cortou a Selic, taxa básica de juros da economia. Entre os maiores bancos do país, a Caixa era a única que ainda cobrava juros de dois dígitos no crédito imobiliário.

Com os níveis de capital enfraquecidos após anos de fortes desembolsos de crédito num país em recessão, a Caixa luta para elevar seus níveis de patrimônio líquido, à medida que se prepara para exigências de capitalização mais rígidas em 2019.

Como consequência, a carteira de crédito da Caixa fechou 2017 com retração de 0,4%. Para 2018, a previsão do banco é de estabilidade.

"A Caixa estava praticando as taxas mais caras do mercado. No ano passado, o banco estava se debatendo para conseguir resolver sua capitalização e não conseguiu liberar crédito para o consumidor", diz Alberto Ajzental, professor de mercado imobiliário da FGV (Fundação Getulio Vargas).

IMÓVEIS USADOS

Além da redução de juros, a Caixa aumentou o limite para financiar imóveis usados de 50% para 70%. O banco também retomou o financiamento de operações de interveniente quitante (imóveis com produção financiada por outros bancos) com cota de até 70%.

A Caixa informou, ainda, que possui R$ 82,1 bilhões para o crédito habitacional para 2018.

“O objetivo da redução é oferecer as melhores condições para os nossos clientes, além de contribuir para o aquecimento do mercado imobiliário e suas cadeias produtivas”, diz Nelson Antônio de Souza, presidente do banco, em nota.

CAIXA PERDE LIDERANÇA

Apesar de ainda concentrar 69% dos financiamentos imobiliários no país, a participação da Caixa neste segmento diminuiu, segundo dados da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança).

Em novembro de 2017, a Caixa perdeu a liderança no financiamento com recursos da poupança, que detinha até o mês anterior. A instituição que mais emprestou na linha SBPE naquele mês foi o Itaú, seguido do Santander, Bradesco e, em quarto lugar, a Caixa.

Em fevereiro deste ano, o banco ficou em segundo lugar, direcionando R$ 783 milhões para esse tipo de financiamento imobiliário, só atrás do Bradesco, com R$ 1 bilhão. Todos os empréstimos da linha somaram R$ 43,1 bilhões em 2017.

Segundo Ajzental, com o corte de juros, a Caixa deve recuperar sua posição. "Agora, o banco alinhou seus juros ao preço de mercado. Ao subir para 70% o que empresta para os imóveis usados, ajuda a movimentar o mercado, inclusive porque há quem venda um usado para comprar um novo."

Procurados, os quatro grandes bancos privados não responderam se estudam uma redução maior em suas taxas de juros de financiamento.

"O Banco do Brasil monitora constantemente os movimentos do mercado e procura sempre oferecer as melhores condições aos seus clientes", diz o Banco do Brasil em nota.

O Itaú afirma que "já oferece taxas competitivas". " O banco reforça ainda que, ao longo dos últimos anos, já realizou diversas reduções de taxas para oferecer as melhores condições aos clientes."

 

Para analistas, já não há espaço para a Fazenda avançar

A equipe econômica saiu blindada das mudanças causadas pela entrada do ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles no jogo eleitoral, mas tem condições de avançar pouco nos temas que interessam ao mercado, avaliam analistas.

Especialistas festejam a continuidade na área econômica como uma barreira importante a qualquer guinada na condução da política econômica, como uma elevação súbita do gasto público para alavancar uma candidatura governista.

Ao mesmo tempo, são cada vez mais raras as apostas de que o grupo técnico vai conseguir tirar alguma medida relevante de um Congresso que só pensa em eleições.

O próprio mercado financeiro vai, aos poucos, virando a página, reagindo mais ao sabor dos temores relacionados às eleições do que algum tipo de expectativa sobre esse governo, como visto na Bolsa nesta segunda (16).

"O governo delimitou uma área importante e sinalizou que não vai haver mudanças na política econômica, o que significa segurança para investir", diz o analista Erich Decat, analista político da XP Investimentos.

Decat se refere especialmente à trinca formada pelo novo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, a número dois do ministério, Ana Paula Vescovi, e ao secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, além de Esteves Colnago, à frente do Planejamento,

Decat reconhece, porém, de que há dúvidas com relação ao jogo de cintura do grupo para fazer avançar pautas importantes.

Daquela longa lista de quinze medidas econômicas apresentadas pelo governo no fim de fevereiro, três delas vinham sendo acompanhadas com lupa pelo mercado porque poderiam trazer um volume considerável de receita adicional: a privatização da Eletrobras, a desoneração da folha de salários e o projeto que institui um teto remuneratório para todo o funcionalismo público, coibindo os chamados "supersalários".

Mas as notícias mais recentes decepcionaram. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), tem dito a um grupo de interlocutores que está difícil votar a reoneração da folha e que o Congresso não quer debater o caso Eletrobras.

A própria equipe econômica aponta dificuldades nesse sentido. Uma fonte da área reconheceu que esse será um ano difícil no Congresso, mas que Fazenda e Planejamento estão bem alinhados para barrar qualquer retrocesso.

Em resumo, como gosta de dizer Meirelles, a equipe parece centrar mais esforços em continuar dizendo não ao que enxerga como inviável do que em conseguir um sim do Congresso para aquilo que considera relevante.

Um analista destaca que, se Meirelles, visto como um quadro com perfil mais político do que Eduardo Guardia, não tinha muito trânsito no Congresso, o que esperar do próprio Guardia. Muito pouco, diz ele.

Nas entrevistas dadas por Guardia ao longo do fim de semana, outro analista destaca a parte em que diz considerar a privatização da Eletrobras importantíssima, mas não pela questão fiscal.

Isso porque o governo não precisaria desses recursos para fechar as suas contas neste ano sobram, na verdade, mais de R$ 90 bilhões para gastos. Para essa fonte, é como se essa equipe tivesse dado o seu trabalho por encerrado. O governo praticamente acabou, diz.

 

VALOR ECONÔMICO

Retomada lenta eleva incerteza eleitoral, afirmam analistas

A atividade econômica em ritmo mais lento do que o esperado neste início de ano aumenta a incerteza em uma corrida eleitoral já bastante imprevisível. Na visão de economistas e analistas políticos ouvidos pelo Valor, a retomada aquém do previsto pode fortalecer a candidatura de nomes com baixa capacidade de tocar no Congresso as reformas que garantiriam a continuidade da política econômica atual.

Apesar dos números fracos da atividade em janeiro e fevereiro, com destaque para a desaceleração na recuperação do mercado de trabalho, os especialistas ainda resistem a alterar cenários e continuam a apostar na continuidade da retomada e eleição de um candidato comprometido com as reformas como cenário-base. Mas revisões de apostas podem acontecer ainda antes da Copa do Mundo.

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou avanço de apenas 0,09% em fevereiro, na comparação mensal ajustada, após queda de 0,65% em janeiro (dado revisado de -0,56%).

Na comparação anual, a atividade cresceu 0,66% em fevereiro, abaixo dos 2,95% de janeiro, confirmando a perda de ritmo da atividade. Em 12 meses, o crescimento acumulado é de 1,32% e no ano, de 1,8%. A expansão do mês foi menor do que a média das estimativas das instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, que sugeria variação positiva de 0,13%. As previsões variavam entre queda de 0,4% a alta de 0,5%.

O comportamento do indicador no mês de fevereiro foi influenciado pela alta de 0,2% da produção industrial, queda de 0,2% do varejo e variação positiva de 0,1% na receita de serviços no período.

Segundo Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim, o impacto da atividade no ambiente eleitoral é direto e depende de duas dimensões. A primeira delas é o ritmo da recuperação: quanto mais intenso, menor a rejeição ao sistema político, o que favorece candidatos do "establishment".

O segundo fator é a percepção da população quanto à retomada, o que depende principalmente do emprego formal, que dá maior segurança ao trabalhador, e do nível de vendas e produção, que afeta o faturamento das empresas. "O que está acontecendo é o pior dos mundos. Temos uma retomada mais lenta e que não tem sido percebida pela população. Isso reforça discursos populistas 'anti-establishment' e, portanto, torna o resultado da eleição incerto", afirma Padovani.

A fonte da incerteza é que esses nomes novos com discurso antissistema, como Jair Bolsonaro (PSL), Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede), teriam aparentemente uma menor capacidade de montar coalizões no Congresso fortes o suficiente para aprovar mudanças constitucionais. Num quadro marcado ainda por escândalos de corrupção e falência dos serviços públicos, o crescimento da incerteza eleitoral e a fraqueza da atividade se retroalimentam. "O aumento da incerteza eleitoral e sobre o cenário para 2019 tende a postergar decisões de consumo, investimento, contratação e crédito, o que fragiliza a atividade. Isso gera um ciclo vicioso", observa.

Para Rodolfo Margato, economista do Santander, a aposta do banco e do mercado em geral continua sendo a de continuidade da política econômica após as eleições de outubro, com a melhora da atividade ao longo do ano fortalecendo candidaturas ditas "centristas". No entanto, se a velocidade da retomada permanecer muito menor do que estava nas contas, como acontece neste início de ano, não haveria o reforço da economia sobre uma candidatura de centro, avalia.

"A tese geral é de que, ao longo de 2018, a economia vai se recuperar de uma forma mais consistente, isso terá impacto mais perceptível para a população na sensação de bem-estar socioeconômico, o que tende a fortalecer as candidaturas chamadas centristas, com risco menor de ruptura em relação à política econômica atual", diz.

Para ambos os economistas, o principal elemento por trás da frustração no ritmo da atividade neste início de ano é a desaceleração da retomada do mercado de trabalho, com o emprego informal crescendo menos, sem que o trabalho com carteira assinada ocupe esse espaço. "O empresariado de setores mais intensivos em mão de obra, como serviços e construção civil, ainda mostra uma demora na tomada de decisão de novas contratações, especialmente por ser um ano com grandes incertezas no quadro político", avalia Margato.

Na visão de Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores, a revisão ligeiramente para baixo das estimativas de crescimento para 2018 não afeta de maneira relevante o quadro eleitoral, que já não era bom para candidaturas do "establishment". Segundo Ribeiro, apesar da crença quase unânime do mercado na vitória de um candidato reformista em outubro, o quadro eleitoral segue muito aberto. Para o cientista político, a preocupação com a eleição e com 2019 está crescendo no mercado e a definição ou não de alianças nos campos da esquerda, centro-direita e "terceira via" pode resultar em correção das apostas eleitorais já antes da Copa.

 

'Cadastro positivo elevará competição e reduzirá o spread'

A aprovação do projeto do novo cadastro positivo é essencial para aumentar a concorrência no mercado de crédito, possibilitando que fintechs e bancos menores tenham informações hoje exclusivas dos grandes bancos, diz João Manoel Pinho de Mello, secretário de Promoção da Produtividade e Advocacia da Concorrência do Ministério da Fazenda.

Para ele, a proposta, que pode ser votada hoje pela Câmara dos Deputados, ajudará a baixar os elevados spreads bancários - a diferença entre a taxa cobrada em empréstimos e financiamentos e o custo de captação dos recursos. "Se há um problema concorrencial, temos que atacá-lo com medidas estruturais, que diminuam o custo de entrar no mercado de crédito e deem mais segurança jurídica", diz Pinho de Mello.

Segundo ele, "a insegurança jurídica beneficia os que já estão no mercado e sabem operá-la, que são os bancos estabelecidos". Em entrevista ao Valor, o secretário da Fazenda diz que o cadastro vai baixar o spread ao ajudar "a distinguir bons pagadores - que incluem os que têm dificuldades ocasionais - dos maus pagadores", reduzindo o risco de conceder crédito. Empresas de tecnologia financeira, as fintechs, e bancos de menor porte conseguirão acessar dados que atualmente são conhecidos apenas pelos grandes bancos. Isso aumentará a competição.

"Em países onde se introduziram cadastros positivos que funcionam, a inadimplência desabou, as taxas de juros caíram e a quantidade de empresas e indivíduos que relatam dificuldade de obter crédito diminuiu", diz Pinho de Mello.

"A queda das taxas de juros chega a 30% em alguns produtos, como capital de giro, crédito pessoal e empréstimo de cheque especial." Para Pinho de Mello, o cadastro positivo atual "não decolou" porque, para fazer parte dele, é necessária a autorização prévia do cliente. "O projeto de lei altera a lógica atual, desburocratizando e diminuindo custo. Todos farão parte do cadastro a não ser que expressem sua vontade de não participar, direito que a lei garantirá amplamente."

A insegurança na concessão de crédito é a razão mais importante para explicar o elevado spread no Brasil, segundo Pinho de Mello. "Isso gera alta inadimplência e altos custos de recuperação de garantias, os principais componentes do spread e dos juros ao tomador."

 A seguir, os principais trechos da entrevista com Pinho de Mello, PhD pela Universidade de Stanford, nos EUA.

Valor: A Selic caiu com força desde outubro de 2016, mas a queda do spread tem sido lenta. Por que o spread caiu pouco - e por que é tão alto?

João Manoel Pinho de Mello: Há múltiplas razões para os altos spreads. A lista é longa: depósitos compulsórios altos, que já estão sendo atacados, custos tributários, existência da meia-entrada do crédito subsidiado, no qual os spreads reais não são altos. Mas se tiver que apontar a mais importante, diria que a insegurança na concessão de crédito. Isso gera alta inadimplência e altos custos de recuperação de garantias, os principais componentes do spread e dos juros ao tomador. A atuação dos ministérios da Fazenda e do Planejamento e do Banco Central no mercado de crédito foca em dois pontos principais: diminuição da insegurança de conceder empréstimos e estímulo à concorrência. Sempre que demos segurança nas garantias, o spread caiu, porque o custo caiu e porque mais atores puderam atuar no mercado, aumentando a competição. Foi assim com a consignação em folha de pagamento para o crédito pessoal. Foi assim com a alienação fiduciária para o crédito imobiliário e para o financiamento de automóvel.

Valor: O sistema bancário brasileiro é muito concentrado. Cinco bancos, dos quais três privados e dois públicos, respondem por uma enorme fatia dos empréstimos. Em que medida isso explica o nível elevado dos spreads no país?

Pinho de Mello: Estamos há anos em busca de uma resposta convincente para essa pergunta. Por um lado, o mercado é de fato concentrado. No entanto, não é muito mais concentrado do que em alguns outros países onde o desempenho dos juros é melhor, o que mostra que concentração é apenas um indício. Os retornos dos bancos parecem altos. Mas, se ajustarmos para o risco, ficam mais em linha com países comparáveis ao Brasil. Dito isso, pouca gente está satisfeita com o estado das coisas no mercado de crédito. Se há um problema concorrencial, temos que atacá-lo com medidas estruturais, que diminuam o custo de entrar no mercado de crédito e deem mais segurança jurídica. A insegurança jurídica beneficia os que já estão no mercado e sabem operá-la, que são os bancos estabelecidos. Ela dificulta que o mercado de capitais possa competir com o mercado bancário.

Valor: Há espaço para reduzir impostos que contribuem para tornar o spread elevado ou a situação fiscal impede esse tipo de medida?

Pinho de Mello: O fato de a inadimplência representar fração significativa do spread demonstra que há muito espaço para diminuí-lo antes de mexer na carga tributária. O cadastro positivo trará diminuição significativa do spread sem colocar pressão no resultado fiscal.

Valor: Números do BC para empréstimos com taxas prefixadas do crédito livre apontam que a inadimplência respondeu por uma média de 37,2% do spread entre 2011 e 2016. Por que o peso da inadimplência é tão grande? Como reduzi-lo?

Pinho de Mello: O problema é institucional. Duas características explicam a alta inadimplência: falta de segurança nas garantias e falta de informação disponível publicamente sobre os tomadores de empréstimos. A falta de segurança das garantias desestimula os empréstimos garantidos por bens e ativos financeiros. Se não se consegue executar uma garantia ou se é muito caro fazê-lo, não há muita razão para dar empréstimos lastreados com garantias. Predominam empréstimos sem garantias, que são mais arriscados e, portanto, têm juros maiores. A falta de informação publicamente disponível também é um problema grave. Todos países cujos sistemas financeiros funcionam para servir aos consumidores e às empresas, e não os amigos do rei e aos ricos, têm sistemas de compartilhamento de informação sobre os tomadores, como birôs de crédito. No Brasil, os birôs de crédito conseguem apenas reconhecer quem está negativado. Sem conseguir distinguir os maus pagadores contumazes daqueles que sofreram dificuldades momentâneas, o risco de conceder empréstimos aumenta. E os credores cobram por esse maior risco na forma de juros altos. Assim como no caso das garantias, não tem segredo. Se aumentar a transparência quanto aos devedores, o juro cai e o crédito fica mais abundante. Por causa disso, a aprovação do novo cadastro positivo é essencial para a redução dos juros e dos spreads bancários. Os problemas institucionais prejudicam os mais pobres e as empresas pequenas. Os ricos têm um ou mais bens para dar como garantia. Têm dinheiro próprio para empreender ou para atravessar uma dificuldade. As grandes empresas têm acesso ao mercado de capitais ou ao BNDES. Sem bens para dar como garantia, o ativo mais importante dos mais frágeis é o histórico de bom pagador. Mas, na falta de informação publicamente disponível, o mais pobre acaba na mão do agiota e do atravessador, que têm meios alternativos de coleta de empréstimo e não necessitam tanto distinguir o joio do trigo.

Valor: O projeto do cadastro positivo está na iminência de ser votado pela Câmara dos Deputados. Como a nova forma do cadastro pode ajudar a baixar o spread?

Pinho de Mello: O cadastro positivo é a medida mais emblemática da estratégia de diminuição de risco e aumento de concorrência. Ele baixará os juros por duas razões. Primeira, ao ajudar a distinguir bons pagadores - que incluem os que têm dificuldades ocasionais - dos maus pagadores, o cadastro positivo diminuirá o risco de conceder crédito e, com isso, os spreads. A inadimplência é um componente significativo do spread. Segunda, com o cadastro positivo as fintechs e bancos menores terão acesso a informações que hoje são exclusivas de bancos grandes. Isso aumentará a competição, o que faz cair o spread. Em países onde se introduziram cadastros positivos que funcionam, a inadimplência desabou, as taxas de juros caíram e a quantidade de empresas e indivíduos que relatam dificuldade de obter crédito diminuiu. A queda das taxas de juros chega a 30% em alguns produtos, como capital de giro, crédito pessoal e empréstimo de cheque especial. O cadastro positivo é a incorporação de informações de bom pagamento e de dívidas abertas no cálculo da nota de crédito dos tomadores. A nota de crédito é um número, que resume o histórico de crédito do tomador. A nota informa aos bancos e fintechs sobre a chance do tomador ficar inadimplente. A nota já existe, mas, para a maioria esmagadora dos brasileiros, ela é calculada usando apenas a informação de calote (a negativação). Assim, se alguém teve uma dificuldade momentânea, mas seguiu pagando suas contas em dia, sua nota será parecida com a de quem dá calote sempre.

Valor: Por quê?

Pinho de Mello: Essa injustiça decorre do fato de que a maioria das pessoas não está no cadastro positivo. É um contrassenso, uma inversão total de valores, que a informação negativa seja mais amplamente compartilhada do que a informação de bom pagador. O cadastro positivo já existe, mas não decolou. Na forma atual, a entrada no cadastro demanda a autorização prévia do cliente. A inércia, a desinformação, a burocracia e o custo de ir até um birô de crédito para solicitar a inclusão no cadastro fazem o cliente não agir. Em um universo de mais de 100 milhões de clientes, há apenas 5 milhões cadastrados. O projeto de lei altera a lógica atual, desburocratizando e diminuindo custo. Todos farão parte do cadastro a não ser que expressem sua vontade de não participar, direito que a lei garantirá amplamente. No modelo proposto, apenas a nota de crédito do tomador estará disponível sem o consentimento prévio dos consumidores porque esse número é suficiente para a concessão de crédito. O compartilhamento do histórico de crédito - que contém informações detalhadas e, portanto, sensíveis - seguirá sujeito ao consentimento prévio.

Valor: Num país com uma concentração bancária tão grande, o cadastro positivo não terá um efeito sobre o spread? Pelos números do BC, o lucro dos bancos respondeu por um pouco mais de um terço do spread entre 2011 e 2016.

Pinho de Mello: Exatamente o contrário. Se há de fato um problema concorrencial, o cadastro positivo é parte essencial da solução. Hoje, o banco no qual o cliente tem conta possui tem uma vantagem concorrencial porque sabe o histórico de crédito do cliente. Portanto, consegue distinguir o joio do trigo e têm uma vantagem sobre os outros bancos e sobre as fintechs, que estão entrando para competir com os bancos. Com o cadastro positivo, todos os competidores terão acesso à nota de crédito do tomador e conseguirão competir em condições mais equânimes. Isso aumentará a competição e trará crédito mais barato e farto, principalmente para os mais frágeis e para as empresas pequenas. O cadastro positivo ajudará muito as fintechs, como comprova o apoio veemente da Associação Brasileira de Crédito Digital, que representa as fintechs, ao projeto. É a medida mais pró-concorrencial que já se tomou no mercado de crédito brasileiro. É por isso que me surpreende que algumas entidades de defesa do consumidor sejam contra. A quem interessa o conservadorismo? Não aos consumidores, que tomam crediário pagando juros altíssimos. Certamente não às empresas pequenas, cujo capital de giro é caro. O Brasil precisa ser menos arrogante e aprender com as experiências alheias bem sucedidas. Não tem segredo para o spread cair: dar segurança às garantias e criar um cadastro positivo que funcione.

Valor: O Banco Central promoveu recentemente uma redução expressiva dos compulsórios sobre os depósitos à vista. Isso pode ajudar a reduzir o spread ou o impacto será limitado?

Pinho de Mello: O BC e os ministérios econômicos estão trabalhando para normalizar o mercado de crédito brasileiro. A alta exigência de depósitos compulsórios é uma manifestação dessa anormalidade, que decorre de fatores históricos, como a hiperinflação e o uso do sistema bancário para financiar o desequilíbrio do setor público. A redução promovida pelo Banco Central é bem-vinda por várias razões, sendo uma delas a redução do juros para o tomador, porque o depósito compulsório é um componente do spread.

Valor: Além do cadastro positivo, que medidas adicionais implementadas recentemente ou em estudo pela Fazenda e pelo BC podem ajudar a baixar o spread?

Pinho de Mello: Várias medidas já foram ou estão sendo tomadas. Todas elas vão no sentido de dar mais segurança e de aumentar o estímulo à competição. A próxima medida que está na fila é o projeto de lei da duplicata eletrônica, que complementa o Lei do Ônus e Gravames em ativos financeiros. Assim como o novo cadastro positivo, é uma medida de iniciativa parlamentar que tem apoio do executivo e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Ela facilitará o registro de duplicatas, diminuindo o custo de dar segurança jurídica a esse recebível. Tem o potencial de ser para o mercado de desconto de duplicata o que a consignação em folha de pagamento foi para o crédito pessoal. O BC fez uma alteração importante na portabilidade da conta corrente. Agora, a iniciativa para mudar a conta de banco passa a ser do banco que receberá a conta, como é no caso de telefonia celular. É uma medida extremamente pró-competitiva. Não só estimula mais competição entre os bancos que já o operam como facilita a entrada de novos ofertantes de produtos bancários. Há várias outras medidas, mas não dá para deixar de citar a TLP [Taxa de Longo Prazo], nova taxa que baliza os empréstimos do BNDES. A TLP diminui o subsídio e começa a fechar o guichê da meiaentrada do mercado de crédito direcionado. Sobrarão mais recursos para o mercado livre, que fará diminuir os juros e os spreads.

Valor: O governo anterior tentou usar bancos públicos para induzir uma queda do spread. Esse tipo de medida pode ter alguma eficácia para baixar as taxas cobradas do consumidor de modo sustentado?

Pinho de Mello: A experiência do governo anterior mostra que os juros não caem na marra. A competição pode falhar ocasionalmente, mas é sempre a solução mais duradoura. Não dá para forçá-la artificialmente. Ela deve ser fomentada estruturalmente, e ser cuidada com muito zelo. Fomentar o aumento sustentado de competição é um dos objetivos centrais da estratégia de diminuição de spread que a equipe econômica tem seguido.

 

Crédito pode crescer até 5% neste ano, diz Moody's

O crédito deve ter uma expansão de 3% a 5% no Brasil neste ano, afirmou a Moody's. A alta vai refletir a recuperação da atividade, que ajudará a melhorar as métricas de qualidade dos ativos dos bancos, segundo a agência de classificação de risco. "A melhora na confiança dos investidores, junto com a política monetária acomodatícia e as projeções de sólido desempenho do mercado de trabalho vão aliviar as pressões sobre a qualidade dos ativos que se acumularam durante os anos de recessão", diz a agência em relatório.

Segundo a Moody's, isso vai impulsionar uma recuperação gradual na originação de crédito e nos lucros dos bancos brasileiros, à medida que o apetite por risco retornar. A mudança na perspectiva do rating soberano do Brasil pela Moody's na semana passada afetou as 23 instituições do setor financeiro analisadas pela agência no país.

Agora, 89% delas têm perspectiva estável, enquanto 11% continuam negativas, "com pressões negativas idiossincráticas relacionadas a capital, rentabilidade e qualidade dos ativos". Segundo a agência, as empresas do setor financeiro brasileiro conseguiram passar por dois anos de contração do crédito com fundamentos sólidos e estão prontas para um novo ciclo de expansão dos empréstimo, especialmente no ambiente de inflação e juros baixos. "Nós esperamos que o crédito cresça em 2018, com a desalavancagem das famílias aumentando a demanda por crédito, embora os empréstimos para empresas continuem fracos", afirmou.

Na avaliação da Moody's, a recuperação do crédito será concentrada principalmente em produtos como financiamentos imobiliários, empréstimos consignados, automotivos e, em menor escala, crédito colateralizado para empresas, especialmente de pequeno e médio portes. "Apesar da melhora na capacidade de pagamento dos tomadores, os bancos continuam cautelosos, priorizando empréstimos menores e de prazo mais curto."

Para a agência, os lucros dos bancos devem se estabilizar em cerca de 1% do total de ativos neste ano. Já a pressão dos juros em mínimas recordes vai ser compensada por volumes maiores de empréstimos, menores gastos com provisão e redução de despesas. "Enquanto isso, a significativa contração dos empréstimos de bancos públicos deve continuar a reduzir as distorções de preços do passado."

 

IBC-Br mostra economia fraca e reforça corte de projeções para o PIB

O resultado do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em fevereiro corroborou as avaliações de que a economia teve um desempenho bastante fraco no começo do ano. Com uma alta modesta de 0,09% em relação a janeiro, feito o ajuste sazonal, o indicador confirma que a retomada da atividade é bastante lenta, num cenário em que as contratações no mercado de trabalho se concentram no setor informal.

As perspectivas para o consumo das famílias não são das mais favoráveis, e o panorama para o investimento tampouco é muito animador. Nesse cenário, bancos e consultorias têm revisado para baixo as suas estimativas para o crescimento do PIB em 2018. Ontem, a A.C. Pastore & Associados reduziu a sua projeção para o avanço da economia neste ano de 3% para 2,2%. Na sexta, o Bradesco havia cortado a sua previsão de 2,8% para 2,5%.

Para o primeiro trimestre, o banco aposta numa alta de apenas 0,3% na comparação com o trimestre anterior, na série livre de influências sazonais. A estimativa anterior era de 0,5%. Em relatório, a consultoria do ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore lembra que, no começo do ano, "um grande número de indicadores sugeria um crescimento mais acelerado dos investimentos".

Entre eles, destacavam-se a queda do estoque de novos imóveis à venda e a melhora do crédito para empresas. "À queda da inadimplência e o ao renascimento do mercado de capitais se aliavam os sinais de maturação das reformas microeconômicas no mercado de crédito", notam os economistas da A.C.Pastore.

"Finalmente, devido às baixas taxas de juros reais e ao aumento da massa real de salários, a desaceleração do consumo no último trimestre de 2017 foi interpretada apenas como uma oscilação em torno de uma tendência favorável". O problema é que esse cenário benigno não se confirmou. "O setor de construção civil continua letárgico, e ainda não há sinais de retomada significativa dos investimentos em capital fixo", observa a consultoria.

Além disso, a desaceleração do consumo das famílias, que parecia temporária, tem se provado mais persistente, apesar dos juros reais (descontada a inflação) em níveis baixos. Na visão dos economistas da A.C. Pastore, o motivo está na mudança da composição do mercado de trabalho, com menor participação de empregos formais e aumento de trabalhadores por conta própria e sem carteira assinada.

A consultoria ressalta que "a propensão a consumir de um trabalhador com emprego formal é maior do que a de um com emprego informal". Nesse cenário, parece muito difícil que o consumo das famílias volte a crescer a taxas similares às verificadas no segundo e no terceiro trimestres de 2017, na casa de 1% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal.

Esse ritmo de expansão poderia fazer o PIB crescer 3% neste ano. Para que isso ocorra, contudo, "seria necessário que o número as contratações líquidas mensais no mercado de trabalho formal saltassem para 200 mil até o final do ano", aponta o relatório.

 

Juros futuros têm leve queda de olho em quadro eleitoral e exterior

As taxas dos DIs registram queda moderada na sessão desta segunda-feira (16), com alguns ajustes nas taxas mais longas, mesmo com o ambiente de cautela com o quadro político e a situação geopolítica envolvendo a Síria. No fim de semana, foi conhecida a primeira pesquisa de intenção de votos após a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os resultados da consulta ainda mostram uma corrida presidencial bastante aberta, sem destaque entre os candidatos reformistas.

De acordo com o Datafolha, quase 30% dos entrevistados preferem votar nulo, em branco ou não possuem candidato nos cenários em que o petista é retirado da disputa. “A pesquisa não animou, mostrou um quadro já esperado, mas o que fica claro é que o poder de transferência de votos do Lula diminuiu”, afirma o operador de uma corretora paulista. Amanhã, o instituto Vox Populi deve divulgar pesquisa sobre a disputa presidencial. A consulta foi encomendada pelo PT.

A questão eleitoral ainda é um dos fatores que inibe uma melhora mais consistente do mercado, mesmo com sinais positivos da inflação. Selic De acordo com o Boletim Focus, divulgado mais cedo nesta segunda, o grupo Top 5 de médio prazo estima que a taxa básica de juros (Selic) deve ficar em 7,50% no fim do ano que vem, depois de cair para 6,25% no encerramento deste ano.

No entanto, apesar do bom comportamento da inflação corrente e das expectativas dos analistas para a Selic, os investidores ainda não mostram confiança para apostar em perspectivas otimistas para prazos mais longos. A inflação projetada no mercado para os próximos anos tem aumentado nos últimos dias, em meio a persistentes incertezas que marcam o ano eleitoral com tamanha polarização política.

Lá fora, a ofensiva de países do Ocidente, incluindo os Estados Unidos, na Síria, também imprimiu um certo grau de cautela no mercado. No entanto, existe uma percepção de menor probabilidade de escalada bélica no conflito, o que gera certo alívio nos mercados financeiros.

O índice Vix de volatilidade das ações americanas caía 5,17% no fim da tarde desta segunda, a 16,51 pontos, nos menores níveis em quase quatro semanas. Às 16h, no fim da sessão regular, o DI janeiro/2019 marcava 6,225% (de 6,225% no ajuste anterior), o DI janeiro/2020 caía 6,920% (6,930% no ajuste anterior), o DI janeiro/2021 apontava 7,960% (8,010% no ajuste anterior), o DI janeiro/2023 tinha 9,150% (9,190% no ajuste anterior) e o DI janeiro/2025 apontava 9,690% (de 9,730% no ajuste anterior).

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