Quinta-feira

VALOR ECONÔMICO

Crédito recua, mas BC vê sinais de melhora nas concessões

O mercado de crédito voltou a recuar em agosto e deve exibir contração em termos reais pelo terceiro ano consecutivo, mas o Banco Central vê alguns sinais de estabilização nas concessões e prevê o início de uma retomada gradual nos próximos meses, puxada pela queda dos juros básicos da economia. Em agosto, o estoque de crédito do sistema financeiro cedeu 0,1%, para R$ 3,047 trilhões, e acumula uma contração de 1,9% nos primeiros oito meses do ano.

A projeção do BC é que, neste ano, o mercado de crédito tenha crescimento zero, o que significa uma contração em termos reais, já que a inflação esperada pelo mercado é de cerca de 3%. Caso se confirme a projeção do Banco Central, será o terceiro ano seguido em que o mercado de crédito apresenta contração em termos reais.

No ano passado, houve uma queda de 9,2% e, em 2015, de 3,6%. No acumulado em três anos, a queda real do estoque de crédito chega perto de 15%. Mas o Banco Central enxerga sinais de estabilização no mercado. As concessões de operações de crédito tiveram um acréscimo de 8,9% entre julho e agosto, embora tenha havido uma leve retração - de 0,5% - quando é considerada a média das operações contratadas por dia útil.

A projeção do BC de crescimento zero no crédito em 2017 embute a perspectiva de retomada nos próximos meses. Como houve uma retração de 1,9% no período de janeiro a agosto, será preciso que o estoque de operações de crédito cresça perto de 0,5% ao mês para que, ao fim de 2017, a variação seja de 0%. "A recuperação está acontecendo, mas é gradual", disse o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha. "O mercado de crédito está mais seguindo a recuperação da economia do que liderando."

Ontem, o BC divulgou a sua pesquisa quadrimestral de condições do mercado de crédito. "No geral, as perspectivas são positivas para o quarto trimestre, sobretudo para as pessoas físicas, mas também para as grandes empresas", disse Rocha.

Os bancos têm uma perspectiva positiva para a aprovação de operações de crédito de consumo e de financiamentos habitacionais a pessoas físicas no quarto trimestre. A expectativa é positiva também para aprovações de operações com grandes empresas, mas levemente negativo para as pequenas, micro e médias. Na pesquisa, são consultadas instituições financeira que respondem por cerca de 90% do mercado.

Nos últimos meses, o mercado de crédito tem apresentado um desempenho desigual entre os segmentos de pessoas físicas e pessoas jurídicas e entre os mercados livre e direcionado. Em agosto, o crédito a pessoas físicas cresceu 0,7%, na comparação com julho, marcando o décimo mês seguido de alta. O crédito às famílias tem sido favorecido com a queda dos níveis de endividamento e com a recuperação da renda real, dado o recuo da inflação.

Já o segmento de pessoas jurídicas recuou 1% e, nos oito primeiros meses do ano, acumula retração de 7%. O desempenho no segmento tem sido prejudicado pela desalavancagem das empresas, pela retração do crédito do BNDES e pelo fraco desempenho dos investimentos. Segundo Rocha, a queda da meta da taxa Selic já está se transmitindo para os juros e o spread bancário, e apoiando a expansão do crédito. Em agosto, a taxa média de juros cobrada nas operações de crédito recuou de 29% ao ano para 28,5% ao ano. Os spreads bancários médios, que representam a diferença entre os custos de captação dos bancos e as taxas de aplicação, caíram de 21,5 pontos percentuais para 21,3 pontos.

Os bancos, porém, ainda não repassaram integralmente a queda dos juros básicos da economia aos seus clientes. De outubro de 2016 a julho de 2017, os juros básicos foram cortados em 5 pontos (em setembro, caiu mais 1 ponto), mas as taxas médias cobradas pelos bancos tiveram redução de 4,6 pontos percentuais. A taxa de inadimplência, uma das justificativas sempre lembradas pelos bancos para os juros elevados, se manteve estável em 3,7% basicamente durante todo o período.

 

Empresas têm primeiro sinal positivo em 25 meses

O mês de agosto trouxe um sinal positivo para o crédito corporativo no Brasil, o primeiro em anos. O que significa essa indicação do relatório de crédito do Banco Central, no entanto, divide os economistas consultados pelo Valor. A maioria vê motivos para ser mais otimista com o comportamento futuro dos empréstimos para empresas, mas há quem veja apenas um indício de que o pior já passou, embora a volta ainda permaneça longe. Depois de 25 meses de quedas consecutivas, as concessões de crédito às pessoas jurídicas voltaram a crescer em agosto na comparação com o mês anterior.

De acordo com os dados do BC, as concessões de financiamentos para clientes corporativos aumentaram 15,9% em agosto na comparação com julho, para R$ 119 bilhões. A alta foi puxada por um crédito específico na modalidade de recursos livres para exportação. Mas mesmo tirando essa operação, as concessões cresceriam 8,6%. Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), "ainda é cedo para falar em reversão da crise do crédito para empresas".

Nos cálculos do instituto, ao longo da crise econômica, o estoque das operações em relação ao PIB recuou mais de 6 pontos percentuais entre dezembro de 2015 e agosto deste ano. "É como se tivéssemos regredido oito anos, já que a relação crédito corporativo/PIB voltou ao nível de junho de 2009 [22,2%]", informou a equipe do Iedi em relatório. Para a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thais Zara, apesar de ainda isolado, o dado de agosto sinaliza sim uma tendência de melhora para o crédito às companhias.

"A gente enfatiza há bastante tempo que teríamos primeiro uma melhora do crédito para pessoa física, que já mostra evolução há alguns meses, e depois isso passaria para a pessoa jurídica", pondera. Conforme Thais, além da subida das concessões de crédito livre para as empresas, outros números corroboram a visão de início de uma retomada, como "a diminuição expressiva da inadimplência das pessoas jurídicas e a queda da taxa de juros para recursos livres".

A visão de Bruno Lavieri, sócio da 4E Consultoria, porém, segue uma outra linha em que o sentimento predominante seria alívio e não otimismo. O primeiro sinal positivo do crédito para empresas no Brasil em mais de dois anos pode sinalizar, conforme o consultor, apenas que a modalidade pode ter parado de cair. E a consequência natural seria entrar em um processo de acomodação antes de voltar a subir. "Minha avaliação continua sendo a de que o crédito corporativo está encontrando o fundo do poço em termos de concessões livres e aos poucos pode voltar a crescer", afirma o economista. Lavieri cita o crédito direcionado, em que o BNDES tem grande peso, "que continua em queda de dois dígitos". Segundo dados do Banco Central, as concessões de financiamento do banco de fomento recuaram 33,3% em agosto na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Para o sócio da 4E, a expectativa é de a demanda por parte das empresas se manter retraída ao longo de 2018 devido às incertezas políticas e ao ano eleitoral. "As empresas têm grande ociosidade e por isso não demandam investimentos; além disso, não faz sentido fazer grande investimento em capacidade antes das eleições."

Apesar de o cenário de crédito para pessoa jurídica ainda estar tomado de incertezas, o das pessoas físicas tem mostrado um fôlego mais sólido. Segundo o Banco Central, os empréstimos para indivíduos se mantêm em crescimento contínuo há dez meses. O saldo de crédito para pessoa física subiu 0,7% em agosto na comparação com o mês anterior, conforme os números divulgados ontem.

Para Thais, da Rosenberg, a inadimplência da pessoa física entre 15 e 90 dias, considerado um indicador antecedente, reforça a sinalização de que o crédito para famílias continuará a se fortalecer. A taxa apresentou forte queda e atingiu o menor patamar da série. Já a inadimplência acima de 90 dias está estável e tem leve tendência de queda. "Isso é um bom sinal para a retomada das concessões a juros mais baixos e reforça a nossa percepção de que continuará a normalização do mercado de crédito para pessoa física."

 

Produção industrial volta a crescer em agosto, diz CNI

A produção industrial avançou em agosto, de acordo com a Sondagem feita pela Confederação Nacional da Indústria. O índice que sintetiza a evolução do setor subiu para 54,8 pontos em agosto, de 50,5 pontos em julho. Em agosto de 2016, ele foi de 50,8 pontos. Acima da linha divisória dos 50 pontos, o indicador mostra aumento na produção na comparação com o mês anterior. O resultado "dá sequência aos bons resultados apresentados em julho e afasta algumas preocupações sugeridas pela última edição da pesquisa", avaliou, em nota, a CNI.

Já o indicador da evolução do número de empregados na indústria foi de 49,1 pontos no último mês, ante 48,2 pontos em julho, sinalizando que o emprego no setor caiu em agosto com menor intensidade do que a verificada no mês anterior, já que ambos estão abaixo dos 50 pontos.

O percentual médio de Utilização da Capacidade Instalada (UCI) subiu para 67% no mês passado ante resultado de 65% em julho. Em agosto do ano passado, ela era de 66%. O indicador relativo à utilização de capacidade efetiva-usual, que considera o UCI comum para o mês, fechou maio em 43,4 pontos, frente a 40,9 pontos em julho. Ou seja, a diferença entre a utilização da UCO em relação ao usual foi menor em agosto do que julho.

Já o índice de evolução de mercadorias estocadas foi de 49,5 pontos no último mês. Em julho, esse indicador foi de 51,1 pontos. Esse resultado fez com que o indicador de estoques planejados passasse para 50 pontos, ante 51 pontos em julho.

Resultados abaixo da linha dos 50 pontos indicam estoques menores do que os planejados "Os estoques estão no nível planejado pelas empresas. A queda reverte todo o crescimento observado ao longo do ano", pontuou a CNI. A pesquisa da CNI foi feita com 2,376 mil empresas de todo o país entre os dias 1 e 15 de setembro.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Brasil não cresce se não reduzir sua desigualdade, diz Thomas Piketty

O Brasil não voltará a crescer de forma sustentável enquanto não reduzir sua desigualdade e a extrema concentração da renda no topo da pirâmide social, diz o economista francês Thomas Piketty.

Autor de "O Capital no Século 21", em que apontou um aumento da concentração no topo da pirâmide social nos Estados Unidos e na Europa, Piketty agora se dedica a um grupo de pesquisas que investiga o que ocorreu em países em desenvolvimento como o Brasil, a China e a Índia.

Os primeiros resultados obtidos para o Brasil foram publicados no início do mês pelo irlandês Marc Morgan, estudante de doutorado da Escola de Economia de Paris que tem Piketty como orientador.

O trabalho de Morgan, que incorpora informações de declarações do Imposto de Renda e outras estatísticas, sugere que a desigualdade brasileira é maior do que pesquisas anteriores indicavam e calcula que os 10% mais ricos da população ficam com mais da metade da renda no Brasil.

Defensor de reformas que tornem o sistema tributário mais progressivo, aumentando os impostos cobrados sobre a renda e o patrimônio dos mais ricos, Piketty chegou ao país nesta quarta (27) para conferências do projeto Fronteiras do Pensamento em São Paulo e Porto Alegre.

Leia a entrevista de Piketty à Folha.

*

Folha - O estudo de Morgan mostra que a renda da metade mais pobre aumentou junto com a dos mais ricos. Por que a concentração no topo da pirâmide é tão preocupante?

Thomas Piketty - Porque, apesar dos avanços dos últimos anos, o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo. Em nossa base de dados, só encontramos grau de desigualdade semelhante na África do Sul e em países do Oriente Médio.

Houve um pequeno progresso nos segmentos inferiores da distribuição da renda, beneficiados por programas sociais e pela valorização do salário mínimo. É alguma coisa, mas os pobres ganharam às custas da classe média, não dos mais ricos, e a desigualdade continua muito grande.

Reduzir a desigualdade é só questão de justiça social ou de eficiência econômica também?

Ambos. O grau de desigualdade extrema que encontramos no Brasil não é bom para o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável.

A história dos EUA e da Europa mostra que só depois de grandes choques políticos como as duas grandes guerras do século 20 a desigualdade diminuiu e a economia cresceu com vigor, permitindo que fatias maiores da população colhessem os benefícios.

No Brasil, podemos concluir que as elites políticas e os diferentes partidos que governaram o país nos últimos anos foram incapazes de executar políticas que levassem a uma distribuição mais igualitária da renda e da riqueza. Acho que isso é precondição para o crescimento econômico.

Seus dados indicam que a fatia da renda nas mãos dos mais ricos vem se mantendo intacta no Brasil. Por quê?

Parte da explicação pode estar na história do país, o último a abolir a escravidão no século 19, como você sabe. Mas isso não é tudo. Diferentes políticas governamentais poderiam ter feito diferença.

O sistema tributário é pouco progressivo no Brasil. Há isenções para rendas de capital, como os dividendos pagos pelas empresas a seus acionistas. Impostos sobre rendas mais altas e heranças têm alíquotas muito baixas no Brasil, se comparadas com o que se vê em países mais avançados.

Alguns desses países fazem isso há um século, o que contribuiu para reduzir a concentração da riqueza. Se você olhar os Estados Unidos, a Alemanha, a França, o Japão, em todos esses países a alíquota mais alta do Imposto de Renda está entre 35 e 50%. [No Brasil, a alíquota máxima do Imposto de Renda é de 27,5%.]

Qual o risco de uma taxação maior das rendas mais elevadas provocar fuga de investidores para outras jurisdições?

A elite sempre tem um monte de desculpas para não pagar impostos, e isso também ocorre em outras partes do mundo. A questão é saber por que a elite no Brasil tem sido bem-sucedida ao evitar mudanças no sistema tributário.

Em outros países, as elites não aceitaram pacificamente pagar mais impostos. Foi um processo caótico e violento muitas vezes. Espero que o Brasil tenha mais sorte e possa fazer isso sem passar por choques traumáticos como as guerras. É deprimente ver que décadas de democracia no Brasil foram incapazes de promover mudanças nessa área.

Não sei o futuro. Mas posso dizer que é possível ter um sistema tributário mais justo, uma distribuição da renda e da riqueza mais equilibrada, e mais crescimento econômico, ao mesmo tempo. Essa foi a experiência de outros países.

Gastar energia para resolver esse problema não tiraria o foco de políticas sociais que poderiam contribuir mais para a redução da desigualdade?

Você precisa fazer as duas coisas. Morgan mostra que as políticas sociais adotadas nos últimos anos foram boas para os pobres, mas insuficientes. Você precisa melhorar as condições de vida deles e investir em educação e infraestrutura, mas precisa de um sistema tributário mais justo para financiar isso e reduzir a concentração da renda no topo.

Não estou aqui para dar lições a ninguém. Há muita hipocrisia no meu país quando se trata desse assunto. Mas acredito que no fim todos se beneficiam com um sistema tributário mais justo e uma sociedade menos desigual, mais inclusiva e mais estável.

Qual o foco do seu trabalho acadêmico no momento?

Estou procurando ampliar nossa base de dados com ajuda de outros pesquisadores, incluindo informações sobre o Brasil, a China, a Índia e outros países em desenvolvimento. Também quero examinar mais detidamente a evolução das atitudes políticas com relação à desigualdade.

Em países como os EUA e a França, temos visto a ascensão do nacionalismo e da xenofobia, e quero entender melhor o que significa. O maior risco criado pelo aumento da desigualdade é a ascensão do racismo e da xenofobia.

Se não resolvermos o problema da desigualdade de forma pacífica e democrática, vamos sempre ter políticos tentando explorar a frustração causada pela desigualdade, incentivando a xenofobia e pondo a culpa dos nossos problemas sociais em imigrantes e trabalhadores estrangeiros.

É um risco para a globalização e os fluxos de comércio. A eleição de Donald Trump nos EUA e a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia não foram uma coincidência. São os dois países ocidentais em que a desigualdade mais cresceu nos últimos anos.

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