TRIBUNA DO NORTE
Com dificuldade em obter recursos, Caixa freia crédito
São Paulo (AE) - O volume de crédito imobiliário contratado na Caixa Econômica Federal ficou estacionado no primeiro trimestre por causa da redução dos depósitos na caderneta de poupança, principal fonte de recursos para o setor
A carteira de financiamentos de imóveis da Caixa - principal banco do País no crédito habitacional - cresceu só 0,3% em comparação ao mesmo período de 2014, segundo o vice-presidente de Habitação do banco, Teotonio Costa Rezende.
Em 2014, a Caixa desembolsou R$ 129 bilhões. Para repetir o resultado em 2015, o banco tem dois obstáculos: a falta de fontes de financiamento e o encarecimento dos recursos complementares, que subiram acompanhando a alta da taxa de juros básica da economia (Selic).
A expectativa, diz Rezende, é que a carteira de crédito imobiliário cresça entre 12% e 15% neste ano, resultado bem mais tímido que os 25,7% do ano passado. “A Selic dá duas pancadas no crédito imobiliário: torna menos atrativo o principal funding (fonte de financiamento), que é a poupança, e encarece fontes complementares como a LCI (Letra de Crédito Imobiliário)”, disse Rezende, em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, durante a abertura do 11.º Feirão Caixa da Casa Própria, em São Paulo.
Poupança
Em março, a poupança teve o pior desempenho da história. Os saques superaram os depósitos em R$ 11,438 bilhões. Apenas no 1 º trimestre, as retiradas líquidas chegaram a R$ 23,230 bilhões, de acordo com dados do Banco Central.
Os bancos têm de destinar no mínimo 65% dos depósitos da poupança para crédito imobiliário. Do total, 80% têm de ser para imóveis na linha do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e o resto para operações com taxas de mercado - Sistema Financeiro Imobiliário (SFI).
O foco para este ano, segundo o vice-presidente da Caixa, é habitação social e, em segundo lugar, os financiamentos no âmbito do SFH, que abrangem imóveis de até R$ 750 mil.
O fator decisivo para o banco voltar a apostar nos outros segmentos é o crescimento da poupança. “Este ano, o sistema está na linha d’água. Há dois bancos que ainda estão com recurso disponível, mas eles não têm tanto interesse, e os demais estão com certa limitação”, disse.
Os números da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) confirmam a desaceleração. Em fevereiro, o volume de empréstimos para a compra e construção de imóveis somou R$ 6,45 bilhões. O resultado foi 26,9% inferior ao de fevereiro de 2014 e 29,4% menor que o de janeiro de 2015.
“Com o desemprego em alta e a confiança em baixa, as pessoas ficam receosas de fazer empréstimos de grande relevância. Não me surpreenderia se o País encerrasse este ano com estabilidade no crédito imobiliário ou até redução”, afirmou Eduardo Zylberstajn, coordenador do Índice FipeZap, de preços de imóveis (*Colaborou Luiz Guilherme Gerbelli)
FOLHA DE SÃO PAULO
Feirão da Caixa tem queda de 14% em volume de negócios
O feirão de imóveis da Caixa em São Paulo negociou, durante três dias de evento, R$ 3,02 bilhões, cerca de R$ 500 milhões a menos que o valor de 2014 –queda de 14%. O valor total divulgado pela instituição computa imóveis vendidos e negócios encaminhados pelas construtoras com compromisso de serem fechados nos próximos dias.
Neste ano, 46.239 pessoas passaram pelo Parque de Exposições do Anhembi (zona norte), local onde ocorreu o evento. Em 2014, foram cerca de 64 mil visitantes. "O resultado ficou dentro de nossas expectativas, porque esperávamos um volume de negócios entre R$ 3 bilhões e R$ 3,5 bilhões", disse Paulo Galli, superintendente da Caixa em São Paulo.
O número de visitantes foi inferior, segundo explica, porque, no ano passado, o feirão aconteceu no feriado de 1º de Maio e teve três dias "inteiros" para o público visitar o local. "O primeiro dia de evento neste ano ocorreu na sexta-¬feira, dia 24, dia que não era feriado, então o volume de visitas foi bem menor [do que o primeiro dia da edição do feirão em 2014]." Não há informações disponíveis ainda sobre o número de unidades negociadas.
No total estavam à venda 82 mil imóveis na região metropolitana e na Baixada Santista, número 45% inferior ao disponibilizado em 2014. O foco do feirão da Caixa deste ano foi o financiamento de habitação popular do programa Minha Casa, Minha Vida, com recursos do FGTS, e imóveis com valor máximo de até R$ 190 mil.
"Existe uma demanda grande por unidades habitacionais nessa faixa, com famílias com renda de até R$ 5 mil mensais. Elas querem sair do aluguel e têm incentivo com juros subsidiados do programa", disse o superintendente. "Esperamos que, no final deste semestre e início do próximo, já ocorra uma recuperação no mercado." O setor neste ano enfrenta forte queda nas vendas, com nível de estoque mais elevado.
O feirão da Caixa também aconteceu nas cidades de Belém (PA) e Recife (PE), mas ainda não há balanço de como foram os negócios. Entre maio e junho, o evento deve ocorrer em outras localidades: Fortaleza (CE), Campinas (SP), Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR), Brasília (DF), Uberlândia (MG), Florianópolis (SC), Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (MG), Salvador (BA) e Goiânia (GO).
JORNAL EXTRA
Com ajuste fiscal, investimento no PAC pode encolher 31%
BRASÍLIA - Embora o governo sinalize a retomada dos investimentos, com um novo pacote de concessões, o ajuste fiscal imposto pela equipe econômica às contas públicas está afetando fortemente o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), vitrine das gestões petistas. Até o ano passado, os investimentos do programa eram preservados dos cortes no Orçamento, situação que mudou radicalmente com o ajuste imposto pela atual equipe econômica.
Balanço da execução do PAC - feito com base em informações do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), coletadas pela Consultoria de Orçamento da Câmara - mostra que até o dia 20 foram liberados R$ 12 bilhões para obras do programa, cerca de 18% do total da dotação prevista na lei orçamentária aprovada pelo Congresso. Até maio, o governo promete liberar R$ 18,9 bilhões e, se mantida essa proporção, o PAC terá cortes de 31% nas despesas do ano, que cairiam dos R$ 65,6 bilhões previstos no Orçamento, para R$ 45,3 bilhões.
- Este é um ano terrível, porque o governo está levando os investimentos públicos de volta a valores de 2013 - disse o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins.
OBRAS ATRASADAS
O empresário vem mantendo reuniões frequentes com a cúpula da área econômica para obter uma programação mais firme das despesas deste ano, de modo que as empresas possam se programar, evitando, por exemplo, a demissão de funcionários.
Nas últimas semanas, o governo federal adotou alguns procedimentos para colocar em dia pagamentos atrasados desde o ano passado, quando parte dos R$ 57 bilhões investidos no PAC não chegou na conta das empreiteiras. Mas a prorrogação do anúncio dos cortes definitivos e a edição de um decreto provisório deixaram os construtores inseguros.
O problema maior, aponta Martins, é que boa parte dos valores pagos neste ano se refere a despesas que deveriam ter sido quitadas no ano passado e que foram empurradas para 2015. Pelos dados do Siafi, só R$ 410 milhões dos valores pagos se referem a despesas do Orçamento de 2015. Em todo o país, obras do PAC tiveram os prazos dilatados, para se adequarem ao orçamento federal.
No Rio, por exemplo, o Arco Rodoviário, que deveria ter ficado pronto em setembro de 2010, só deve ser concluído no próximo ano. Os dois primeiros projetos de urbanização na favela da Rocinha, que somaram R$ 280 milhões, também tinham prazo inicial de conclusão em 2010, mas ainda estão em fase de execução. Os dados são do levantamento oficial do PAC para o estado até o fim de 2014, divulgado apenas neste mês pelo Ministério do Planejamento.
Ligações elétricas do programa Luz para Todos também estão atrasadas no estado.
Além do aperto fiscal, as obras federais também desaceleram por dificuldades financeiras de construtoras envolvidas na Operação Lava-Jato, o que coincidiu com os atrasos nos pagamentos do governo. Na transposição do Rio São Francisco, há um processo aberto pelo Ministério da Integração Nacional contra a Mendes Junior pelos atrasos na obra. Nas ferrovias, a Valec percebeu atrasos em canteiros tocados por duas empresas citadas na Lava-Jato e uma dilatação dos pagamentos, que antes eram feitos em menos de cinco dias após a medição e agora levam em média 30 dias.
PLANEJAMENTO ADMITE CORTES
O Ministério do Planejamento - que lidera a discussão sobre o lançamento do novo programa de investimentos e concessões - reconhece as dificuldades financeiras do governo.
"Haverá redução em relação ao ano passado, mas, mesmo assim, o valor disponibilizado será grande. O fato de o gasto do PAC ser menor que 2014 não quer dizer que será insignificante", informou.
"Há muitas obras em andamento e a prioridade é regularizar os pagamentos dos empreendimentos que já estão em curso, completar o que está em andamento, e iniciar novos projetos de acordo com o espaço fiscal, mas certamente haverá novas iniciativas este ano", completou, por meio de nota.
Segundo o Planejamento, as prioridades de investimento em grandes obras públicas neste ano são a integração do São Francisco e a ferrovia Norte-Sul, além do programa Minha Casa Minha Vida e obras de defesa civil e saneamento. Estas últimas por questões de segurança pública e melhoria da qualidade de vida.
A pasta informou que os cortes definitivos ainda não foram definidos porque o orçamento está em avaliação.
JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE
Mercado imobiliário do Ceará sentirá menos a alta dos juros
Na última semana, os brasileiros que estavam se organizando para adquirir um imóvel receberam uma verdadeira ducha de água fria. É que a Caixa Econômica Federal (CEF), detentora de aproximadamente 70% do crédito imobiliário do Brasil, decidiu aumentar, pela segunda vez no ano, os juros dos empréstimos para a compra da casa própria.
Apesar de a medida ter repercutido negativamente em todo o País, onde o mercado imobiliário atravessa período de forte retração, a situação é um pouco diferente no Ceará, considerando que os principais líderes do setor não acreditam numa drástica redução nas vendas de 2015.
Segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), André Montenegro, o mercado cearense será menos impactado com a nova medida da Caixa por dois motivos principais: o fato de o Estado ainda possuir um elevado déficit habitacional, e porque as construtoras já pisaram no freio desde o início deste ano no que diz respeito à quantidade de lançamentos.
"As empresas lançaram muito em 2013 e 2014 e, neste ano, estão querendo focar em construir o que venderam e acabar com os estoques. Somos mais conscientes do que o resto do País", afirma.
FGTS ainda atrativo
O novo reajuste da Caixa é válido somente nos contratos dentro do Sistema Financeiro Habitacional (SFH), voltados para imóveis de até R$ 750 mil. A taxa de balcão passou de 9,15% para 9,45% ao ano, mais a Taxa Referencial (TR), enquanto que os juros para quem já tem relacionamento com o banco subiram de 9% para 9,30% mais TR.
O fato de a instituição não ter alterado as condições para financiamentos com recursos do Minha Casa, Minha Vida e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) também foi lembrado por Montenegro como forma de explicar o menor impacto da medida no Ceará.
"Aumento de juros sempre preocupa, pois tem impacto diretamente no consumidor, mas os bons financiamentos ainda estão aí. O FGTS segue muito atrativo", comenta o presidente do Sinduscon-CE. "Notamos uma certa queda nos financiamentos durante os primeiros meses de 2015, mas nem tanto quando comparamos com outros estados. Acredito que teremos um segundo semestre de mais negócios no setor", opina André.
O que realmente preocupa
Ainda conforme o presidente do Sinduscon, uma outra medida tomada pela Caixa neste mês preocupa mais o mercado imobiliário do que a elevação dos juros propriamente dita: aredução do percentual máximo de financiamento de 90% para 80% nas operações do SFH. Dessa forma, a entrada que os consumidores terão que dar para as construtoras será dobrada.
"Considero essa mudança o maior problema promovido pela Caixa. Agora, as pessoas que pretendem adquirir um imóvel precisarão ter bem mais dinheiro guardado para anteciparem às construtoras", diz Montenegro. Ele também opina que o elevado pessimismo do mercado, puxado por diversos reajustes, dentre os quais se destacam aqueles praticados nos preços dos combustíveis e energia elétrica, também são grandes vilões para o setor em todo o País.
Justificativa
A Caixa atribuiu o novo reajuste dos juros ao aumento da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 12,75% ao ano. A justificativa não foi bem recebida pelo mercado cearense. "O fundo do financiamento imobiliário não tem nada a ver com a Selic, mas com a poupança, que atualmente está rendendo metade do fundo", critica o presidente da Cooperativa da Construção Civil do Ceará (Coopercon-CE), Marcos Novaes.
Outros representantes do setor também criticaram a medida, apontando consequências que a mesma terá ou já está tendo no mercado cearense e brasileiro. Migração para bancos privados, problemas que afetam mais as classes C e B, redução no preço total dos imóveis e maior "pechincha" por parte dos consumidores são apenas alguns exemplos citados por eles.
VALOR ECONÔMICO
Juros de longo prazo revelam ceticismo
Em fevereiro, pouco mais de um mês após ter assumido o cargo de ministro da Fazenda, Joaquim Levy afirmou que, se os ajustes propostos pelo governo fossem entregues, as taxas de juros de longo prazo, aquelas que importam ao investidor, cairiam.
Naquele momento, o juro real de longo prazo, medido pela NTN¬B 2050, estava em 6,12%. Passados dois meses, esse papel continua sendo negociado praticamente à mesma taxa, a 6,11%. Isso a despeito da melhora da perspectiva para o ajuste fiscal e das condições de liquidez global, que afetam diretamente o câmbio.
"Essa taxa é custo na veia [para o governo] e reduzi-¬la é importante em um processo de restabelecimento da credibilidade e estabilidade financeira", afirma o ex-¬diretor de Política Monetária do Banco Central e atual sócio da Mauá Sekular Luiz Fernando Figueiredo.
A NTN¬B paga ao investidor uma taxa prefixada mais a variação do IPCA. Por isso, representa o juro real esperado pelo mercado. A taxa do papel com vencimento em 2050 já caiu para baixo de 4%, no fim de 2012, e testou os 7%, quando houve um movimento internacional de desalavancagem em função da aposta em elevação de juros nos Estados Unidos.
Mas, desde a eleição da presidente Dilma Rousseff, esse rendimento não consegue recuar para menos de 6%. O que chama a atenção dos especialistas é que, desde o fim de março, o mercado passou por um ajuste de preços, seguindo uma melhora do apetite por risco global. A volatilidade do dólar diminuiu, abrindo espaço para investidores estrangeiros voltarem a aplicar nos atrativos rendimentos oferecidos por aqui.
Na cena local, o auge da instabilidade política ficou para trás e a sensação de paralisia do Congresso arrefeceu, encerrando a discussão sobre a saída de Levy do posto de escudeiro do ajuste fiscal. Com tudo isso, o juro longo resiste. "O mercado está mostrando que não tem certeza de que o governo alcançará a meta de 1,2% do PIB de superávit", diz Figueiredo.
"Esse é um governo que não cumpriu nenhum compromisso ao longo do primeiro mandato e, agora, precisa entregar alguma coisa para que os prêmios caiam de forma mais consistente." Figueiredo explica que o juro de longo prazo embute vários elementos: expectativa de política monetária, risco-país e perspectiva para inflação. "E quando se fala de risco, há um componente fiscal muito forte", diz.
A fraqueza da atividade econômica, que afeta a geração de receita do governo, e um ambiente ainda instável politicamente impõem uma dose de ceticismo sobre o tema. "Acho que houve avanços em muitas áreas, mas é fundamental que o governo insista na meta de 1,2%, aprove as medidas propostas e mostre resultados efetivos para reverter esse quadro", afirma. "Por isso, as próximas duas ou três semanas serão muito importantes".
Quando a meta fiscal foi estabelecida, o mercado a considerou ousada. Assim, assumiu o discurso de que, mesmo que o resultado ficasse abaixo de 1,2%, a reversão da tendência já seria boa notícia. Porém, a dificuldade de negociar com o Congresso e mesmo o nível de desajustes mostraram¬-se maiores. "O mercado entendeu que o esforço deste governo terá de ser muito maior e o resultado pode não vir tão cedo", afirma o gestor de um grande fundo.
Talvez por isso o Banco Central (BC) tenha mostrado recentemente uma postura muito mais firme na condução da política monetária. Desfez a expectativa do mercado de que o ciclo de alta de juros poderia terminar em abril ao dizer que o BC "foi, é e será" vigilante e reforçou o compromisso em alcançar o centro da meta de inflação em 2016. O que analistas veem é que a ajuda do aperto fiscal pode vir mais tarde do que se imaginava e que a contribuição da política monetária na conquista da credibilidade pode ser mais necessária.
A visão de que o BC pode subir mais a Selic e mantê¬la alta por tempo prolongado também ajuda a explicar a pressão sobre o juro longo, diz o diretor do UBS Wealth Management, Francisco Levy. Essa aposta justifica a inclinação negativa ao longo dos vencimentos dos contratos de juros: as taxas mais curtas estão mais altas que as longas.
A questão é que esse movimento, que sugere confiança no rumo da política monetária, ocorre com uma alta forte dos vencimentos mais imediatos e não por meio da queda dos contratos de prazo mais distentidos. Levy diz que houve algum recuo dos juros longos ¬ em meados de março, período em que as tensões políticas se agravaram e o dólar superou os R$ 3, a taxa da NTN¬B atingiu 6,54%.
Porém, boa parte do alívio teve a ver com a redução da volatilidade do câmbio, no exterior e no Brasil, e com uma retomada do apetite global por risco. "Mas como há dúvidas sobre se o mundo continuará líquido diante da perspectiva de alta de juros americanos, o fluxo é mais contido para os contratos mais longos." Até mesmo se for comparado ao Credit Swap Default (CDS), espécie de proteção contra calote, a melhora das NTNBs foi bem mais modesta.
O diretor operacional da Tullett Prebon, Christiano Clemente, lembra que, quando o papel do Tesouro pagava 6,54%, o CDS de cinco anos tinha um custo de 310 pontos base. Hoje, reduzida a ameaça de um rebaixamento da nota soberana ¬ por causa de sinais emitidos pelas agências de rating e devido à publicação do balanço da Petrobras ¬, esse contrato é negociado a 220 pontos¬base. "Está acima da média do ano, de 185 pontos, mas teve uma melhora muito mais expressiva que o título do Tesouro", afirma. "Isso mostra que, talvez, o juro real de equilíbrio esteja mais perto de 5,5% do que de 4,5%."
Para Figueiredo, da Mauá, embora haja tantas incertezas, "o juro longo é uma oportunidade". "O Brasil está em um processo de correção das políticas fiscal e para-fiscal, ajuste das tarifas públicas, política monetária apertada e câmbio mais adequado", diz. Se essas mudanças avançarem, prevê, o juro do papel de longo prazo pode cair para um nível entre 4% e 5%. "Mas isso só deve ocorrer ao longo dos próximos dois anos, se o governo entregar a meta fiscal".
Caixa cortará fatia de imóvel usado financiada
A Caixa Econômica Federal vai reduzir, a partir de 4 de maio, a fatia que pode ser financiada de um imóvel usado com recursos do Sistema Financeiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), segundo o Valor apurou. A cota máxima para imóveis residenciais e comerciais enquadrados no Sistema Financeiro da Habitação (SFH) passa a ser de até 50% no Sistema de Amortização Constante (SAC) e de até 40% na tabela Price.
Para imóveis que se encaixam no Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), a parcela a ser financiada não poderá ultrapassar 40% nas modalidades SAC e Price. A Caixa informou aos correspondentes bancários que não estão previstas regras de transição. Para as incorporadoras, a notícia é positiva, à medida que contribui para reduzir a concorrência do financiamento de imóveis usados com os novos.
Há duas semanas, o banco público anunciou o segundo aumento de juros para financiamento habitacional do ano. A fatia de imóveis financiados pela SAC caiu de 90% para 80% e pela Price, de 90% para 50%. A Caixa enfrenta escassez da sua principal fonte para financiar a habitação, a poupança e tem usado instrumentos alternativos de "funding" e por isso teve que ajustar seus preços na ponta.
Fundos buscam oportunidades em empresas em crise
A deterioração da economia brasileira nos últimos meses, com cenário macroeconômico recessivo e oferta restrita de crédito, está abrindo espaço para que gestoras de recursos nacionais explorem oportunidades de negócios neste momento mais agudo da crise.
Grupos como Peninsula Investimentos, capitaneada pelo executivo Antonio Quintella, ex-presidente do Credit Suisse; Opus e Banco Plural estão atentos a esse movimento e planejam captar recursos para injetar em empresas com situação financeira delicada. No jargão de mercado, essas operações são conhecidas como "distressed assets", ou fundos especializados em ativos problemáticos, de alto risco.
Grandes gestoras e bancos apostaram nesse filão nos Estados Unidos e na Europa, sobretudo após 2008, com a crise financeira global. No Brasil, os bancos públicos, como o BNDES, que saíam em socorro de empresas problemáticas, inibiram o avanço desses fundos por aqui. Mas, agora, com o ajuste fiscal e crédito limitado, as gestoras ganham mais espaço. Empresas de óleo e gás, mercado imobiliário, energia e construção civil estão entre as mais fragilizadas. Fábio Silveira, economista da GO Associados, acrescenta usinas de açúcar e etanol, além de indústrias de equipamentos e máquinas, na lista de segmentos mais vulneráveis.
"A tendência é clara para o risco de crédito entre 2015 e 2016, abrindo espaço para a atuação desses fundos", diz Silveira. A Peninsula Investimentos pretende levantar um fundo de R$ 500 milhões no segundo semestre para financiar empresas em crise, mas que possuam ativos considerados recuperáveis. "Esse período de atividade menos intensa, inflação relativamente elevada e juros altos nos leva a crer que está se formando um cenário oportuno para a atividade que estamos desenvolvendo", diz Quintella.
Para atuar nesse mercado, Quintella trouxe em fevereiro para a Península a equipe da gestora JGP, sediada no Rio e fundada por exsócios do BTG Pactual, para desenvolver uma área de crédito dedicada a empresas problemáticas. Rafael Fritsch, ex¬JP Morgan, que era o responsável por essa divisão na JGP, vai comandar esse negócio.
Em 2011, quando ainda estava na JGP, Fritsch coordenou a captação de R$ 200 milhões para um fundo para esse mesmo propósito. Agora esse fundo está em fase de desinvestimento sob cogestão da Peninsula. Quintella acredita que o cenário continuará desafiador nos próximos anos e avalia que a Peninsula poderá levantar mais recursos para a criação de outros fundos. A gestora começou a estudar as empresas que poderão ser investidas.
A captação deve ocorrer em seis meses, com investimentos previstos para 2016 e 2017. De acordo com Fritsch, com a captação concluída, a expectativa é investir em cerca de 10 a 15 empresas. "Não temos um viés que vai identificar oportunidades em setores A ou B. Vamos avaliar as que têm a melhor equação de risco, retorno." Parceria.
O banco Brasil Plural deve concluir em maio captação entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões para investir em empresas em crise. De acordo com Warley Pimentel, diretor do Brasil Plural, o IFC, braço do banco mundial, vai participar com R$ 50 milhões, para até 10 companhias. "O objetivo é investir em empresas com problemas, mas não necessariamente em recuperação judicial", diz.
Para Vitor Hugo Roquete, sócio da gestora Opus, a escolha por determinada empresa para esse tipo de aporte independe do desempenho do setor no qual ela atua. "Todos os setores têm campeões e empresas problemáticas", diz. A Opus, que tem um fundo de R$ 50 milhões em ativos problemáticos em fase de desinvestimento, pretende nos próximos meses captar até R$ 100 milhões.
Os alvos na crise não são necessariamente empresas em recuperação judicial, embora essa situação ofereça maior segurança aos fundos, uma vez que há a figura de um juiz para administrar esse processo, com uma garantia real, como um imóvel ou ativo, por exemplo, lembra Pimentel, do Plural.
Em março, as recuperações judiciais requeridas cresceram 78,6%, para 75 solicitações, contra 42 em fevereiro. As micro e pequenas empresas lideraram os requerimentos, com 50 pedidos, seguidos pelas médias (18), e pelas grandes empresas (7), de acordo com a Serasa Experian.
Representar e promover o desenvolvimento da construção civil do Rio Grande do Norte com sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental
O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.