Segunda-feira

VALOR ECONÔMICO

Mercado vê inflação maior em 2018 e 2019 e economia perder ímpeto

A mediana das projeções dos economistas do mercado para a inflação oficial em 2018 subiu de 3,65% para 3,82%, segundo a pesquisa semanal Focus divulgada nesta segunda-feira pelo Banco Central (BC). Foi a quarta elevação consecutiva para o período. Para 12 meses, as expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passaram de 4,38% para 4,49%.

No caso de 2019, a estimativa saiu de 4,01% para 4,07% de aumento. Entre os economistas que mais acertam as previsões, os chamados Top 5, de médio prazo, a previsão para a inflação de 2018 teve uma expressiva alta, de 0,39 ponto percentual, indo de 3,24% para 3,63%.

Quanto a 2019, a projeção foi de 3,75% para 4%. As estimativas para a taxa básica de juros, Selic, não sofreram alterações, ficando em 6,50% para o fim de 2018 e em 8% no encerramento de 2019 tanto entre os economistas em geral quanto entre os Top 5 de médio prazo. Com relação à atividade econômica, a projeção para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018 foi revista para baixo pela sexta semana consecutiva, agora de 2,18% para 1,94% de crescimento.

Para o ano seguinte, a estimativa também foi revista, para 2,80% de expansão, depois de 19 semanas parada em 3%. No fim de maio, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a economia brasileira cresceu apenas 0,4% entre janeiro e março, em relação aos três meses anteriores.

Embora o número tenha vindo pouco acima das estimativas do mercado — os economistas consultados pelo Valor Data, por exemplo, tinham uma expectativa média de um crescimento de 0,3% —, a diferença parece ser insuficiente para compensar as prováveis perdas provocadas pela paralisação dos caminhoneiros no PIB do segundo trimestre.

Isso, somado à desaceleração do investimento e ao fraco desempenho da indústria e dos serviços no começo do ano, vem provocando a revisão para baixo por parte de diversas casas de análise e instituições financeiras em suas projeções para o resultado do PIB brasileiro, de uma faixa de 0,8% para próximo de zero no segundo trimestre e de mais de 2% para cerca de 1,5% em 2018.

 

Artigo

Brasil não saiu da crise e 2019 será de contração

Por Angela Bittencourt - Jornalista

O ano de 2018 está perdido e o melhor que poderá sair dele é o próximo presidente da República do Brasil, a depender do escolhido pela maioria. A retomada do crescimento deverá se confirmar durante o mandato do novo presidente, mas desde que o eleito tenha compromisso com as reformas. Isso feito, em 2019 o mercado financeiro terá melhora importante e prolongada.

Algo similar ao que se viu após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e do fim da interinidade de Michel Temer no posto que passou a ocupar, de vez, em 31 de agosto de 2016 e do qual se despede em 31 de dezembro deste ano. Pesquisa Datafolha sobre intenções de voto para a Presidência da República, divulgada na edição de ontem do jornal "Folha de S. Paulo", mostra que se Lula (PT) for candidato, ele lidera a disputa e tem 30% das intenções de voto no primeiro turno.

Sem Lula, Jair Bolsonaro (PSL) tem a maioria com 19%. Em seguida aparece Marina Silva (Rede) com 14% ou 15%. No segundo turno, Lula e Marina são os nomes melhor pontuados. Lula teria 49% dos votos. Marina, com 42%, ganharia de Bolsonaro com 32%; com 41% Marina derrotaria Ciro Gomes com 29%; e, novamente com 42%, ela venceria Geraldo Alckmin (PSDB) com seus 27% dos eleitores. Na semana passada, de fortalecimento do dólar no exterior, o mercado financeiro local sofreu grande estresse também pela expectativa de que a eleição poderia ser decidida entre Bolsonaro e Ciro.

Não foi isso o que o Datafolha mostrou, mas que entre Bolsonaro e Ciro existe Marina. Dólar e juro dispararam e a bolsa afundou. Na sexta-feira, o dólar fechou em baixa de 5,5% ante o dia anterior e os juros se afastaram das máximas observadas durante os negócios. O Ibovespa caiu menos se comparado aos dias anteriores.

Porém, a virada não teria acontecido sem US$ 24,5 bilhões em swaps prometidos pelo Banco Central (BC) para venda nesta semana e sem a garantia do Tesouro Nacional de que vai manter a recompra do título público federal NTN-F. O Tesouro vai reprisar operações realizadas na semana passada para redefinir preços e dar liquidez aos fundos de investimento que tiveram prejuízos com esse papel na turbulenta semana da greve dos caminhoneiros.

A melhora do mercado financeiro, que poderá ser contratada no fim da eleição ou até mesmo no calor da campanha, a partir de agosto, se rapidamente ficar configurado que o líder na disputa é pró-reformas, não é garantia de recuperação econômica. Ao menos não de imediato.

O mercado tende a antecipar a melhora de indicadores que ocorrerá (ou não) mais adiante. Uma das funções do mercado financeiro e seus diferentes atores é trazer o futuro a valor presente. Isso ocorreu em 2016, quando a perspectiva de realização de reformas estruturais - sobretudo a da Previdência - alimentou a confiança de empresários e consumidores no governo, que tomou medidas importantes, mas não entregou as reformas como o esperado para 2017. Expectativas frustradas, o mercado passou a descontar dos preços dos ativos financeiros o bônus da confiança. Na semana passada, o dólar não chegou a R$ 3,99 sem motivo.

O risco Brasil, avaliado pelo Credit Default Swap (CDS) de cinco anos cotado no mercado internacional, também não ultrapassou 300 pontos ao acaso. A inquietação crescente quanto ao desfecho das eleições de outubro e a constatação de que o Brasil não fez as reformas necessárias para alavancar um ciclo de crescimento são razões de sobra para investidores desistirem de aplicações por aqui, especialmente se o exterior acena com maior segurança e liquidez.

Hoje o Brasil tem a seu favor a inflação baixa. Juro menor também conta. Mas não tanto quanto poderia, se as operações de crédito fechadas pelo sistema bancário replicassem a queda da taxa Selic. Isso não aconteceu. É improvável que aconteça. "A rigor, o Brasil não saiu da crise que mostrou, em 2015 e 2016, sua consequência mais grave. A recessão. A troca de governo - Dilma por Temer - colocou o Brasil no balão de oxigênio. E o comportamento dos mercados na última semana foi uma recidiva da mesma crise.

A situação do fiscal do Brasil é deplorável. Não se avançou em quase nada neste um ano e meio de governo Temer. E nada mudará até o fim do ano. Não haverá investimentos e não haverá consumo. Haverá, sim, medo de que a situação econômica piore no próximo ano", avaliou à coluna uma autoridade do governo brasileiro que prefere não ser identificada. Essa mesma autoridade não vê avanço consistente da economia em 2019 e explica: "O ajuste fiscal necessário para que o Brasil cresça e gere empregos é pesado.

Contracionista.

O próximo presidente deverá trabalhar basicamente com dois instrumentos. Corte de despesas e aumento de impostos. A Selic voltará a subir. E esse movimento também será contracionista e ocorrerá em um ambiente externo mais arriscado, com aumento de juros nas principais economias. E mais. Se o presidente eleito considerar a opinião da maioria dos brasileiros, não haverá privatizações ou reforma da Previdência", afirma o interlocutor da coluna. O próximo governante enfrentará o calendário do Congresso Nacional.

"O Congresso só abre em março. Isso quer dizer que, por melhor que sejam as intenções reformistas do presidente eleito em outubro, ele dependerá do aval dos parlamentares para as principais decisões que poderá tomar e isso sugere um processo bastante lento. Mas ainda que o ajuste da economia não seja tão arrastado, dificilmente será rápido para neutralizar o descompasso na geração de riqueza entre o Brasil e outras tantas economias", diz o entrevistado. E por que isso importa? Importa porque o brasileiro ficará mais pobre em relação ao mundo desenvolvido e também em relação às nações emergentes.

"Em termos relativos provavelmente passaremos dez anos caminhando, enquanto os demais países estarão trotando ou até correndo", diz a fonte. A evolução do Produto Interno Bruto (PIB), entre 2013 e 2017, combinada às projeções do FMI para 2018 a 2022, mostra que o mundo crescerá à taxa média anual de 3,52% na década observada. Os emergentes crescerão 5,3%. O Brasil, menos de 2% ao ano.

 

Incertezas no mercado devem interromper queda de juro bancário

A forte instabilidade nos mercados deve interromper o processo de redução das taxas de juros cobradas pelos bancos, que começava - ainda que timidamente - a ganhar corpo. As instituições anunciaram nas últimas semanas uma série de cortes nas taxas das principais linhas ao consumidor e pequenas empresas, desde o crédito imobiliário até o cheque especial.

Esse movimento agora fica comprometido pela disparada das taxas futuras de juros, uma das referências para o spread - diferença entre a taxa de captação e a cobrada pelos bancos no crédito. Com a expectativa de que o cenário permaneça incerto durante o período eleitoral, executivos das instituições veem pouco espaço para novas mudanças nas taxas no curto prazo.

Mesmo antes da piora recente nos mercados, os juros cobrados pelos bancos não vinham acompanhando a redução da taxa básica de juros (Selic) na mesma proporção. O juro médio dos financiamentos com recursos livres encerrou abril em 41% ao ano, queda de 0,4 ponto percentual em relação ao mês anterior.

No ano, porém, as taxas ainda registram alta de 0,7 ponto, de acordo com o Banco Central. Aos poucos, porém, os cinco grandes bancos de varejo - Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander - começaram a anunciar uma série de cortes nas taxas em linhas para pessoas físicas e empresas.

No crédito imobiliário, as taxas caíram para abaixo de 9% ao ano no Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que financia imóveis avaliados em até R$ 950 mil. Os bancos diminuíram também os juros em linhas como crédito consignado, financiamento de veículos, capital de giro e até no cheque especial. As condições, como de praxe, variam de acordo com o perfil do cliente, por isso a taxa anunciada muitas vezes não é a que o cliente obtém no balcão da agência ou no aplicativo do celular. "Com a melhora consistente da inadimplência, conseguimos repassar esse benefício para o consumidor com a redução das taxas", afirma Eurico Fabri, vice-presidente do Bradesco.

O banco anunciou corte nos juros do crédito consignado de 1,99% para 1,80% ao mês. A instituição também reduziu os juros no financiamento imobiliário, de 9,30% para 8,85% ao ano, e para a compra de veículos - a taxa mínima passou de 0,95% para 0,89% ao mês. O banco concentrou os cortes nas linhas nas quais pretende crescer e que contam com menor inadimplência, segundo Fabri.

Para ampliar as concessões, o banco não fez mudanças na política de crédito além da redução das taxas. "A melhora no perfil dos tomadores com a recuperação da economia tem levado ao aumento nas aprovações pelo banco", afirma. A turbulência nos mercados, que deve se estender durante o período eleitoral, limita o espaço para quedas adicionais nos juros, mas a tendência de longo prazo ainda é positiva, segundo Fabri.

Mais do que a redução da taxa em si, o Santander tem procurado oferecer opções mais baratas de crédito, afirma Eduardo Jurcevic, superintendenteexecutivo de produtos de crédito do banco. "Se o cliente é elegível ao consignado, que é a linha com menor custo, o banco não vai fazer outra oferta até que ele tome toda a margem", diz.

Dependendo do convênio, o executivo afirma que as taxas no consignado podem chegar a 1,30% ao mês. No crédito imobiliário, o banco reduziu em abril as taxas de 9,49% para 8,99% ao ano. Depois de priorizar no último ano as linhas que consomem menos capital, a Caixa Econômica Federal anunciou a redução das taxas cobradas nas linhas de crédito imobiliário do SFH (de 10,25% para 9% ao ano) e no capital de giro para micro e pequenas empresas, que passa a ter juro a partir de 0,95% ao mês.

Nos últimos 12 meses, o saldo de financiamentos do banco público para as companhias menores recuou 16,1%. A Caixa deve manter o foco no financiamento imobiliário e para infraestrutura e promover cortes nas taxas dos demais produtos de maneira prudente, segundo o presidente do banco público, Nelson Antônio de Souza. "Não reduzimos juros por reduzir", afirmou, em entrevista coletiva na divulgação do balanço do primeiro trimestre. Ele disse que o objetivo não é ser o banco com menor taxa, mas com taxas competitivas.

Banco do Brasil e Itaú Unibanco também promoveram reduções nas taxas em linhas como crédito imobiliário, consignado e capital de giro para empresas. Como era de se esperar, os bancos não estão dispostos a abrir mão de suas margens de lucro para reduzir os juros dos financiamentos. No primeiro trimestre, a margem financeira dos cinco grandes bancos, que inclui o resultado com crédito antes das despesas com provisão contra calotes, atingiu R$ 67 bilhões, queda de 1,3% em relação ao mesmo período do ano passado.

A expectativa dos executivos é que a queda da inadimplência e o aumento do volume de novos empréstimos nas linhas de pessoas físicas e pequenas empresas, que são mais lucrativas, compensem o corte recente das taxas.

Para o executivo de um grande banco, que pediu para não ser identificado, uma redução maior dos depósitos compulsórios, em particular nos depósitos a prazo, ajudaria a estimular a queda dos juros nas linhas de crédito. Mas todo esse cenário muda com a turbulência recente nos mercados. As linhas de crédito com taxas mais altas, como o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito, entraram na mira do BC. Dentro da agenda de redução dos spreads bancários, o regulador determinou o prazo máximo de 30 dias de permanência no rotativo do cartão de crédito.

Após esse prazo, as instituições passaram a ser obrigadas a migrar a dívida para um crédito parcelado, com taxas mais baixas. Antes que o BC fizesse o mesmo com o cheque especial, os bancos se anteciparam e anunciaram uma autorregulação. Pelas novas regras, que entram em vigor em julho, as instituições deverão oferecer opções mais baratas de crédito caso o cliente use mais de 15% do limite por um período superior a 30 dias. A adesão, porém, não é obrigatória, como no rotativo.

 

Indefinição eleitoral continua após semana tensa no mercado

Os mercados iniciam mais uma semana de olho na disputa eleitoral, que nos últimos dias motivou forte ajuste no câmbio, na bolsa e nas taxas futuras de juros. No domingo, nova pesquisa do Datafolha mostrou que a corrida presidencial segue indefinida a pouco menos de quatro meses do 1º turno da eleição. Foi a primeira pesquisa de intenção de votos após a greve dos caminhoneiros, que, aparentemente, não foi capitalizada por nenhum dos pré-candidatos.

Depois da instabilidade vista na semana passada, é possível que a tensão dos mercados quanto às eleições diminua um pouco. Isso porque havia uma expectativa de que a greve dos caminhoneiros tivesse favorecido candidaturas fora do chamado centro, que defende a continuidade das reformas econômicas - caso dos pré-candidatos Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL).

No entanto, a pesquisa mostrou que o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), cuja agenda econômica coincide com a dos mercados, continua fraco. Sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa, Bolsonaro lidera com 19%, seguido pela ex-senadora Marina Silva (Rede) com 14% e 15% dependendo do candidato do PT, por Ciro com 10% e Alckmin com 7%. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.

O alto número de votos brancos, nulos e indecisos chamou a atenção e também aparece como ponto de preocupação. Para Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, as incertezas no mercado financeiro continuam as mesmas e com pouca repercussão no preço dos ativos após os resultados do Datafolha. "Imaginava-se que a greve dos caminhoneiros poderia favorecer o Bolsonaro ou o Ciro Gomes.

Mas isso não aconteceu, nenhum dos dois conseguiu capitalizar esse momento político do país", disse. Para ela, os mercados poderão ter uma reação levemente positiva devido ao não crescimento das intenções de voto de Ciro Gomes, mas, em linhas gerais, não deve gerar grandes reações. Solange afirma que Bolsonaro parece estar bem posicionado para avançar, mas Marina, Ciro e Alckmin ainda disputam uma segunda vaga.

Já para Alexandre Póvoa, presidente e sócio da Canepa Asset Management, a pesquisa mostra que o ex-presidente Lula continua com bastante força junto ao eleitorado e que, até o momento, Ciro não conseguiu capturar parte dos votos do petista. "Ciro parece ter dificuldade de crescer sem o apoio do PT e do Lula", diz. "A Marina está numa posição interessante", diz Póvoa, destacando o bom desempenho da candidata nos cenários de segundo turno, em que derrota todos os possíveis adversários, exceto Lula.

Para ele, Marina atrairia os votos da esquerda, num eventual segundo turno contra Bolsonaro, e os eleitores de direita, numa disputa contra Ciro. Póvoa ainda destaca que a candidatura de maior apoio do mercado, a de Alckmin, segue demonstrando "dificuldade enorme".

Marco Tulli Siqueira, gestor da Coinvalores, chama a atenção para o nível elevado de votos brancos, nulos e indecisos. O levantamento mostra que, num cenário de primeiro turno com a participação do ex-presidente Lula, os brancos, nulos e indecisos somam 21%. Sem o petista, esse percentual salta para 34%. "Isso complica muito qualquer eleição", disse.

Para Tulli, a candidatura de Alckmin, vista com bons olhos pelo mercado pela defesa das reformas, não consegue ganhar força e capitalizar a insatisfação popular em relação ao atual governo, levantando dúvida quanto à capacidade de chegar ao segundo turno. "[A pesquisa] não trouxe nada assustador, mas, na linha do que foi divulgado, não acredito que seja positivo."

O gestor Luiz Eduardo Portella, sócio da Modal Asset, também reconhece que a disputa permanece, em linhas gerais, inalterada em relação ao levantamento de abril. Para ele, tal constatação é positiva, uma vez que, ao longo da semana passada, ganharam força as leituras de que Bolsonaro e Ciro estariam descolando dos demais. Portella lembra que a pesquisa Datafolha de abril trazia o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa entre os candidatos e que, por isso, os dois levantamentos não são comparáveis. "A eleição não começou ainda, a greve dos caminhoneiros não alterou nada. A população ainda não está de olho na eleição", disse.

Segundo o sócio da Modal, a divulgação de pesquisas telefônicas de intenção de voto na semana passada mostrando um crescimento mais forte de Bolsonaro e Ciro gerou apreensão nos mercados. "Parte dos preços começou a caminhar para um cenário de Bolsonaro contra Ciro no segundo turno. Nesta segunda, os investidores podem tirar um pouco disso dos preços", disse.

Para o gestor de um fundo de investimentos que prefere não ser identificado, a pesquisa Datafolha foi um "não-evento", mostrando apenas movimentações marginais. Para ele, o principal dado a ser aproveitado do Datafolha é a percepção de cuidado a ser tomado com pesquisas telefônicas de intenção de voto - a metodologia de tais levantamentos, segundo o gestor, é questionável. "As informações produzidas por estes levantamentos podem criar expectativas que não são confirmadas pelas pesquisas estatísticas", diz.

Na sexta, os mercados fecharam com uma maior sensação de alívio após o Banco Central (BC) anunciar a colocação de US$ 20 bilhões em contratos de swap. Mesmo assim, o estrago gerado pelos receios no campo político e econômico foi grande: as companhias do Ibovespa fecharam na sexta valendo R$ 131,5 bilhões a menos do que no começo da semana, e o índice acumulou queda de 5,56%.

Na sexta, a bolsa caiu 1,23%, aos 72.942 pontos. No câmbio, a ação do BC deu mais resultado: um dia depois de saltar mais de 3% e se aproximar de R$ 4, o dólar teve a maior desvalorização em uma década. Na sexta, caiu 5,50%, cotado a R$ 3,7074, mais de 20 centavos abaixo da véspera, quando foi a R$ 3,9233 - maior nível desde 1º de março de 2016. A atuação do BC levou o real a reverter todas as perdas da semana e do mês, valorizando 1,56% e 0,76% contra o dólar, respectivamente.

As taxas futuras de longo prazo negociadas na B3 caíram bastante logo que o Tesouro Nacional anunciou que estenderá sua intervenção na renda fixa, pelo menos, até o fim de junho. Estão cancelados os leilões tradicionais de venda de títulos públicos nesta semana, enquanto a instituição segue até sexta-feira com operações diárias de compra e venda de papéis. Daí em diante, a atuação deve ser calibrada e pode ir além de junho caso haja necessidade. Num sinal da trégua, o DI para janeiro de 2027 caiu até 12,090%, cerca de 50 pontosbase abaixo do fechamento anterior.

 

Economistas alteram projeções para juro e câmbio

A onda de vendas que assolou os mercados financeiros domésticos na semana passada começa a produzir as primeiras revisões de cenários - não por acaso, para pior. Grandes bancos privados do país já veem dólar mais alto do que antes. E outras instituições passaram a trabalhar com aumento de juros nos próximos meses, num quadro em que a depreciação cambial - que entre os extremos do ano chegou a 21% - elevará a inflação neste e no próximo ano. O Itaú Unibanco elevou de R$ 3,50 para R$ 3,70 as estimativas de taxa de câmbio tanto para o fim de 2018 quanto para o encerramento de 2019.

A equipe econômica do banco explica que a piora do cenário decorre de mudanças no quadro externo e de riscos internos. "As incertezas [...] têm se mantido elevadas e podem permanecer assim ao longo dos próximos meses", afirma a equipe. Outro ponto que desfavorece o real é o diferencial de juros, "muito baixo" para o padrão histórico.

O Bradesco aumentou a projeção para o fim deste ano de R$ 3,35 para R$ 3,60. A revisão é fruto do fortalecimento da moeda americana "em escala global", mas também das "incertezas remanescentes" quanto à agenda de reformas, além da piora do crescimento e da falta de margem fiscal para lidar com choques. "E reconhecemos que no curto prazo a relação do real com o dólar seguirá volátil", completam os profissionais do banco.

A MCM Consultores Associados foi ainda mais longe e já enxerga taxa de R$ 4,20 ao término de 2018, mas não sem antes "provavelmente" ultrapassar R$ 4,25 no momento de maior nervosismo. Em janeiro, a casa previa dólar a R$ 3,46 para dezembro. Com esse pano de fundo, a consultoria também revisou as contas para a meta Selic, que deverá agora ser elevada em 100 pontos-base em dezembro (contra previsão anterior de estabilidade em 6,50% ao ano).

A alta persistirá no começo do ano que vem, até que o juro alcance 9% em abril. Antes com estimativa de Selic de 6,50% ao término de 2018, o UBS agora trabalha com juro 200 pontos-base mais alto apenas neste ano. As altas devem ser iniciadas após a eleição: ou seja, o mais provável é que haja duas elevações de 100 pontos-base em cada uma das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) de outubro e de dezembro.

O economista-chefe da instituição, Tony Volpon, afirma que o juro mais alto será necessário porque o país ingressou num "regime de exceção", em que as rápidas mudanças da liquidez global exigem que a taxa de juros se ajuste a um prêmio de risco mais alto. Para evitar alta da meta Selic, seria preciso uma intervenção vigorosa e contínua no câmbio, como a anunciada na semana passada, e também uma melhora das condições globais.

"No entanto, mesmo que isso acontecesse, a persistência da incerteza nas eleições provavelmente acabará por levar a pressões monetárias adicionais, o que explica o fato de a alta da Selic ser hoje nosso cenário-base", diz Volpon, exdiretor do BC. Mas as revisões de cenário ainda não são compartilhadas pela maioria do mercado. A despeito de toda a volatilidade, o Citi mantém cenário de que o real se valorizará até o fim do ano, fechando 2018 em R$ 3,34 por dólar.

Isso representa ganho de 11% frente ao patamar atual. Leonardo Porto, economista-chefe do banco no Brasil, acredita que o dólar no exterior voltará a cair e que as eleições locais resultarão na vitória de um candidato pró- reformas. Com isso, o dólar terá aberto caminho para cair mais em 2019, terminando o ano que vem em R$ 3,23.

O Santander Brasil também manteve a estimativa já em vigor, de dólar a R$ 3,50 ao fim de dezembro. Em relatório, economistas do banco chamam atenção para "quão esticado" o dólar se mostrou ao se aproximar de R$ 4. "Embora alguns possam dizer que o real está 'caro' devido ao 'carry' incomumente baixo, outros podem argumentar que, em termos reais, a moeda brasileira está 'barata' como poucas vezes se viu desde 1994." E o J.P. Morgan manteve a recomendação "acima da média do mercado" para o real e sustenta projeção de R$ 3,60 ao término de dezembro.

 

Mercado deve ficar aliviado com pesquisa Datafolha, diz Atlas Político

Os resultados da pesquisa Datafolha divulgada hoje vieram dentro das expectativas do Atlas Político e devem aliviar parte das tensões do mercado, que mostrava apreensão com a perspectiva de consolidação de Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) na liderança da corrida presidencial. Segundo a instituição, o cenário eleitoral segue estável, sem grandes oscilações para nenhum dos candidatos.

"A pesquisa Datafolha justifica a nossa visão de que, sem o apoio do PT, o Ciro Gomes ainda enfrenta um caminho difícil para consolidar sua candidatura e chegar no segundo turno da eleição", diz a instituição, em comentário assinado pelo analista Andrei Roman, diretor executivo da Atlas Político.

De acordo com o levantamento, divulgado hoje pelo jornal "Folha de S. Paulo", num cenário de primeiro turno em que o ex-presidente Lula é incluído entre as opções, o petista lidera com 30% das intenções de voto, seguido por Jair Bolsonaro (PSL), com 17%; Marina Silva (Rede), com 10%; e Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB), cada um com 6%. Brancos, nulos e indecisos somam 21%.

No entanto, sem nenhum candidato do PT na disputa, os brancos, nulos e indecisos saltam para 34%. Jair Bolsonaro aparece com 19%, seguido por Marina Silva (15%), Ciro Gomes (11%) e Geraldo Alckmin (7%). "O resultado relativamente fraco do Jair Bolsonaro e Ciro Gomes em relação as pesquisas divulgadas publicamente nas últimas semanas reforça a nossa expectativa de que a pesquisa Datafolha deve trazer um alívio temporário para o mercado", diz, ressaltando que a diferença entre o Datafolha e as pesquisas telefônicas irá reabrir a polêmica sobre as metodologias de pesquisa.

 

Pesquisa mantém indefinição eleitoral, mas pode aliviar mercado

Os mercados iniciam mais uma semana de olho na disputa eleitoral, que nos últimos dias motivou forte ajuste no câmbio, na bolsa e nas taxas futuras de juros. No domingo, nova pesquisa do Datafolha mostrou que a corrida para o Planalto segue indefinida a pouco menos de quatro meses do 1 turno da eleição. Foi a primeira pesquisa de intenção de votos feita após a greve dos caminhoneiros, que, aparentemente, não teve impacto significativo entre os pré-candidatos.

Depois da instabilidade vista na semana passada, é possível que a tensão dos mercados quanto às eleições diminua um pouco. Isso porque havia uma expectativa de que a greve dos caminhoneiros tivesse favorecido candidaturas fora do chamado centro, que defende a continuidade das reformas econômicas — caso dos pré-candidatos Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL). No entanto, a pesquisa mostra que o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), cuja agenda econômica coincide com a dos mercados, continua fraco.

O Datafolha mostrou que, sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa, Bolsonaro lidera com 19%, seguido pela ex-senadora Marina Silva (Rede) com 14% e 15% dependendo do candidato do PT, por Ciro com 10% e Alckmin com 7%. A margem de erro é de 2 pontos percentuais. O alto número de votos brancos, nulos e indecisos chamou a atenção e também aparece como ponto de preocupação.

Para Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, as incertezas no mercado financeiro continuam as mesmas e com pouca repercussão no preço dos ativos após os resultados do Datafolha. "Imaginava-se no mercado financeiro que a greve dos caminhoneiros poderia favorecer o Bolsonaro ou o Ciro Gomes. Mas isso não aconteceu, nenhum dos dois conseguiu capitalizar esse momento político do país”, disse.

Para ela, os mercados poderão ter uma reação levemente positiva à pesquisa, reagindo ao não crescimento das intenções de voto de Ciro Gomes, mas, em linhas gerais, o levantamento não deve gerar grandes reações por parte dos investidores. Para Solange, Bolsonaro parece estar bem posicionado para avançar, mas Marina, Ciro e Alckmin ainda disputam uma segunda vaga.

"A campanha ainda não começou. Não tem por que o mercado melhorar ou estressar muito." Já para Alexandre Póvoa, presidente e sócio da Canepa Asset Management, a pesquisa mostra que o ex-presidente Lula continua com bastante força junto ao eleitorado e que, até o momento, Ciro Gomes não conseguiu capturar parte dos votos do petista. “Ciro parece ter dificuldade de crescer sem o apoio do PT e do Lula”, diz, ressaltando, no entanto, que essa percepção não deve ser capaz de mudar os preços nos mercados financeiros.

“A Marina está numa posição interessante", diz Póvoa, ressaltando o bom desempenho da candidata nos cenários de segundo turno, em que a ex-ministra derrota todos os possíveis adversários, exceto Lula. Para ele, Marina atrairia os votos da esquerda, num eventual segundo turno contra Bolsonaro, e os eleitores de direita, numa disputa contra Ciro. O presidente da Canepa ainda destaca que a candidatura de maior apoio do mercado financeiro, a de Geraldo Alckmin, segue demonstrando “dificuldade enorme”.

Marco Tulli Siqueira, gestor de operações da Coinvalores, chama a atenção para o nível elevado de votos brancos, nulos e indecisos apontado pelo Datafolha. O levantamento mostra que, num cenário de primeiro turno com a participação do ex-presidente Lula, os brancos, nulos e indecisos somam 21%. Sem o petista, esse percentual salta para 34%. “Isso complica muito qualquer eleição.

A pesquisa não trouxe nada muito fora do esperado, mas a preocupação continua". Para Tulli, a candidatura de Alckmin, vista com bons olhos pelo mercado pela defesa das reformas, não consegue ganhar força e capitalizar a insatisfação popular em relação ao atual governo, levantando dúvidas quanto à capacidade de avançar ao segundo turno. "[A pesquisa] não trouxe nada assustador, mas, na linha do que foi divulgado, não acredito que seja positivo ao mercado".

O gestor Luiz Eduardo Portella, sócio da Modal Asset, também reconhece que a disputa eleitoral permanece, em linhas gerais, inalterada em relação ao levantamento de abril . Para ele, tal constatação é positiva, uma vez que, ao longo da semana passada, ganharam força as leituras de que Bolsonaro e Ciro estariam descolando dos demais candidatos.

Portella lembra que a pesquisa Datafolha de abril trazia o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa entre os candidatos e que, por isso, os dois levantamentos não são diretamente comparáveis. No entanto, destaca que, apesar da exclusão de Barbosa, os principais candidatos não mostraram grandes variações no período. “A eleição não começou ainda, a greve dos caminhoneiros não alterou nada. A população ainda não está de olho na eleição”, disse.

Segundo o sócio-gestor da Modal Asset, a divulgação de pesquisas telefônicas de intenção de voto ao longo da semana passada mostrando um crescimento mais forte de Bolsonaro e Ciro, além de um percentual elevado de Fernando Haddad (PT) num cenário em que ele seja o candidato petista, gerou apreensão nos mercados financeiros. “Parte dos preços no mercado começou a caminhar para um cenário de Bolsonaro contra Ciro no segundo turno.

Nesta segunda, os investidores podem começar a tirar um pouco disso dos preços, pouca coisa mudou de abril para cá”, disse. Na avaliação do Atlas Político, plataforma independente de acompanhamento do cenário eleitoral, os resultados da pesquisa Datafolha devem aliviar parte das tensões do mercado, que mostrava apreensão com a perspectiva de consolidação de Bolsonaro e Ciro Gomes na liderança da corrida presidencial. Segundo a instituição, o cenário eleitoral segue estável, sem grandes oscilações para nenhum dos candidatos.

“A pesquisa Datafolha justifica a nossa visão de que, sem o apoio do PT, o Ciro Gomes ainda enfrenta um caminho difícil para consolidar sua candidatura e chegar no segundo turno”, diz a instituição, em comentário assinado pelo analista Andrei Roman. Para o gestor de um fundo de investimentos que prefere não ser identificado, a pesquisa Datafolha foi um “não-evento”, mostrando apenas movimentações marginais dos candidatos. Ele analisa que o mercado continuará sob influência das perspectivas eleitorais, mas sem mostrar grandes oscilações em função do levantamento.

“Nesta semana, será muito mais relevante a atuação do BC do que essa pesquisa", diz, ressaltando que o principal dado a ser aproveitado do Datafolha é a percepção de cuidado a ser tomado com os resultados de pesquisas telefônicas de intenção de voto — a metodologia de tais levantamentos, segundo o gestor, é questionável. “As informações produzidas por estes levantamentos podem criar expectativas que não são confirmadas pelas pesquisas com fundamentação estatística”, diz.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Artigo

Crise com ciclo longo

Por Cristina Frias - Jornalista

O período de sobe e desce do dólar, de diferentes expectativas sobre o juro futuro e de volatilidade da Bolsa pode ser um dos mais longos da história, segundo economistas que acompanham dados de incertezas econômicas.

Se essa fase, que começou após o carnaval, só acabar depois das eleições, terão se completado nove meses, diz Pedro Guilherme Ferreira, um dos responsáveis pelo índice que o Ibre, da FGV, publica mensalmente sobre o tema.

“Em 2015, começou em fevereiro e subiu até agosto. Se o período atual for até depois do pleito presidencial, certamente será o mais longo, ainda que menos intenso.”

Para mensurar a incerteza, ele utiliza indicadores como reportagens de jornais, dispersão de previsões de especialistas para o câmbio e para a inflação e, por último, a volatilidade da Bolsa.

Dúvidas cíclicas, como as referentes às eleições, elevariam o patamar do índice dentro de uma faixa normal, mas têm tido um efeito potencializado pela situação fiscal frágil do país desde o segundo semestre de 2014, segundo Ferreira.

Existe, portanto, mais incerteza em períodos de altas seguidas de baixas que só de resultados ruins, explica o economista Guilherme Ribeiro de Macêdo, professor da UFRGS.

“Os indicadores estão muito acima do normal. Subiram na paralisação dos caminhoneiros, se agravaram com a saída do Pedro Parente [da Petrobras] e, na última semana, o mercado testou as vendas de swap do Banco Central.”

Esses acontecimentos anteciparam movimentações que ele aguardava para depois da Copa —foi o que aconteceu nas eleições em 2014, diz ele.

 Economia real

Os efeitos de volatilidade na Bolsa, alta do dólar e dificuldade para tomar decisões são maiores na indústria, diz uma pesquisa publicada na Revista Brasileira de Economia.

A expansão da incerteza doméstica no segundo semestre de 2014 impactou a produção industrial de 2015, que foi até 3,9% menor por causa da impossibilidade de tomar decisões com alguma previsibilidade, afirmam os autores.

“Investimentos são adiados, e a indústria é a que mais depende deles para obter receita, em comparação com agricultura ou serviços”, diz Ricardo Barboza, do grupo de conjuntura econômica da UFRJ.

 

Dívida e rombo nas contas expõem o Brasil

A explosão do endividamento bruto do governo e o rombo das contas públicas colocam o Brasil no mesmo time de outros países emergentes muito mais vulneráveis às turbulências globais recentes.

O país nunca foi tão pouco dependente de fluxos de capital externo —tem um déficit em conta-corrente de apenas 0,4% do PIB (Produto Interno Bruto), e uma grande parcela das contas externas é financiada por investimentos estrangeiros diretos, pouco voláteis.

A Argentina e a Turquia, ao contrário, ultrapassam o nível considerado seguro para esse déficit, de 4% do PIB.

Além disso, enquanto o Brasil tem um gordo colchão de reservas, de US$ 382 bilhões, a Argentina tem apenas US$ 51,9 bilhões e teve de recorrer a um pacote de US$ 50 bilhões do FMI (Fundo Monetário Internacional), assinado na semana passada.

No entanto, agora que o humor global azedou, muitos investidores não estão diferenciando o Brasil de outros emergentes mais frágeis e levaram o dólar a bater em R$ 3,925 na semana passada.

Com a perspectiva de o dólar se manter forte e os juros americanos subirem, aliada a tensões causadas pelo protecionismo e alta do petróleo, houve uma redução da liquidez global e os investidores ficaram mais seletivos.

Há três meses, o dólar estava em R$ 3,20: os investidores não pareciam se incomodar tanto com a alta da dívida bruta do governo brasileiro —de 56% do PIB em 2014 para 74% (nas contas do BC; para o FMI, são 87,3%).

No atual ambiente de aversão a risco, o endividamento e o déficit do Orçamento, em 7% do PIB, passaram a ser examinados com lupa.

“Fomos pegos na mudança de fase global com várias más notícias domésticas”, diz Tony Volpon, economista-chefe do UBS. “Quando o ambiente externo está positivo, há um desconto para fatores domésticos de vulnerabilidade. Quando está negativo, esses fatores são amplificados.”

Além disso, explica Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do Bradesco, o Brasil é um mercado muito mais líquido do que outros emergentes, então, quando há um aperto nas condições externas, é mais fácil vender os ativos brasileiros do que os de outros mercados menores.

Outro motivo para o real ser relativamente mais afetado é a redução na remuneração a investidores estrangeiros —com os juros brasileiros em 6,5%, a diferença entre as taxas do Brasil e do resto do mundo nunca foi tão baixa.

No ano, o peso da Argentina acumula queda de 26,9%, e a lira turca, de 15,31%. O real vem logo depois, com 10,8% de desvalorização. A rupia indiana teve recuo de 5,39%, o rand sul-africano caiu 5,35%, e a rupia da Indonésia, 2,78%.

Todos esses países, menos o Brasil e a África do Sul, elevaram os juros nos últimos dias, e crescem as pressões para que o Banco Central aumente as taxas para conter a desvalorização do real, hipótese já rejeitada pelo presidente da instituição, Ilan Goldfajn.

Ilan já deixou claro que não pretende usar a política monetária para controlar o câmbio.

 “A Argentina e a Turquia fizeram um choque de juros porque precisavam atrair o investidor estrangeiro e a inflação deles estava muito acima da meta. No Brasil, a inflação está bem abaixo da meta e não precisamos aumentar os atrativos para investidores estrangeiros”, diz Barbosa.

“É um contrassenso elevar juros sem inflação e sem vulnerabilidade externa. O BC pode continuar a usar os swaps e, eventualmente, as reservas.”

Para Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, não faz o menor sentido falar em aumento de juros no Brasil neste momento.

“Primeiro, porque o objetivo da política monetária do BC é manter a inflação dentro da meta e deixar as expectativas ancoradas. Não temos regime de meta de câmbio, nem copiamos a política monetária do país A, B ou C”, diz.

Bancos como o Itaú e o Bradesco reduziram a previsão de alta do PIB neste ano para menos de 2%, diante da recuperação mais lenta da economia, principalmente do mercado de trabalho. A grande ociosidade reduz a probabilidade de a alta do câmbio contaminar a inflação. Kawall continua prevendo inflação abaixo da meta neste ano, sem alta de juros.

“Comparar o Brasil com esses países é comparar laranja com banana”, diz. A Argentina estava com juro real em quase zero, por causa da inflação alta, e a Turquia tem grande exposição a dívidas em moeda estrangeira. A dívida externa bruta brasileira é de cerca de 25% do PIB e o país não tem dívida interna indexada ao dólar, ao contrário da Argentina.

 

O GLOBO

‘Os mercados se comportaram de forma disfuncional, entraram em modo pânico’ , diz Carlos Kawall

 Para Carlos Kawall, economista-chefe do banco Safra e exsecretário do Tesouro (2006), “lógica perversa” dominou comportamento de juros e dólar nos últimos dias, quando os dois dispararam. Mas ele destaca que país tem ‘reservas e caixa expressivos’ e que atuação do BC na sexta-feira conseguiu fazer o mercado retomar a “serenidade”. Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

O que justifica a turbulência do câmbio na última semana?

Parte da tendência de valorização do dólar tem a ver com o cenário internacional, enquanto outra parte está relacionada com as eleições. Daqui para frente, essas duas variáveis continuarão em jogo. Só que o movimento que tivemos na última semana não foi baseado em nenhuma das duas nem, tampouco, em fundamentos econômicos. O que houve foi que os mercados se comportaram de forma disfuncional, entraram em modo pânico, ajudados por falhas de comunicação do Banco Central (BC).

Quais falhas?

Um movimento de forte valorização do dólar requer ação do BC e do Tesouro associada a muita comunicação. Até a tarde de quinta-feira, havia um déficit de comunicação do BC. O problema começou ainda na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em meados de maio (quando o BC surpreendeu o mercado ao manter os juros em 6,5%, após ter indicado que cortaria a taxa Selic). Aquela falha foi corrigida. Mas, quando o dólar começou a subir muito rapidamente nos últimos dias, o mercado começou a achar que haveria elevação de juros. O raciocínio era: se ele deixou de cortar a Selic com o dólar a R$ 3,60, certamente ele subirá a taxa com o câmbio em R$ 3,80. Aí, a comunicação demorou a entrar, alimentando toda a perversidade da relação entre dólar e juros.

Que perversidade é essa?

Desde a greve dos caminhoneiros, o mercado entrou em uma lógica perversa entre o juro e o dólar. Quando os juros começam a subir, muita gente compra dólar para se proteger, e isso faz os juros subirem mais. A alta de um alimenta a do outro. Essa relação foi incrementada pelo ruído causado pela comunicação do BC na última reunião do Copom e com o próprio BC sugerindo que existe hoje uma ligação mais próxima entre câmbio e inflação. O ápice da preocupação com essa dinâmica se deu na quinta-feira, com a percepção de que a forte alta do dólar levaria o BC a subir juros.

Mas a comunicação do BC, enfim, conseguiu corrigir os erros?

Sim, tanto que na sexta-feira o dólar caiu 5%. Pelo menos terminamos a semana de forma positiva. Temos reservas internacionais e caixa expressivos. E eles servem justamente para ajudar o mercado a ganhar serenidade e deixar de se comportar de maneira disfuncional. Mas é claro que não dá para voltarmos para os níveis que tínhamos em abril, porque houve, sim, uma “reprecificação” dos ativos por causa daqueles fatores originais: valorização global do dólar e maior incerteza eleitoral.

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

FMI não vê vulnerabilidade externa no Brasil, mas incerteza política

Apesar da volatilidade recente do câmbio, o Brasil não tem vulnerabilidades externas, mas enfrenta incerteza política doméstica e um "desafio fiscal importante", cuja solução dependerá do resultado das eleições presidenciais, avaliou nesta sexta-feira o diretor para as Américas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner.

"Esse desafio é muito grande e já está presente no debate político, com as discussões sobre a Reforma da Previdência", observou Werner em entrevista coletiva em Washington. "Neste sentido, a agenda do Brasil para os próximos anos, para poder consolidar sua situação econômica, está muito clara e isso estará presente no processo eleitoral. O próximo governo dará os sinais importantes para vermos se esses pontos avançam ou não."

+ Fundo Monetário Internacional libera US$ 50 bi para a Argentina

Em sua avaliação, as incertezas internas contribuíram para a recente volatilidade na cotação do dólar, que chegou a quase R$ 4,00 na quinta-feira. Outro fator da turbulência cambial é o aperto das condições financeiras internacionais, com a elevação da taxa de juros nos Estados Unidos, disse.

"Quando olhamos as vulnerabilidades externas, o Brasil é um país que não tem esse tipo de questão. É um país que tem uma economia que não enfrenta uma questão de conta corrente importante, é uma economia que não tem uma necessidade de financiamento externo grande", ressaltou Werner. "Sabemos que o Brasil possui uma posição muito sólida quanto às reservas e à força do Banco Central, que está bem posicionado para enfrentar a volatilidade."

O diretor do FMI observou que há mercados emergentes vulneráveis, que sofrem de maneira mais aguda os efeitos da valorização das moedas dos países desenvolvidos. Mas ele observou que há um "grupo muito importante" de emergentes que tem um setor financeiro, um balanço de pagamentos e um Banco Central com posições sólidas, que poderão enfrentar sem problemas a volatilidade internacional.

Questionado se o Brasil estava entre os vulneráveis, ele disse não ver problemas no setor externo, mas sim no doméstico.

Werner elogiou a decisão de Argentina de recorrer ao FMI no mês passado, quando as autoridades elevaram a taxa de juros a 40% para conter a depreciação do peso. "Obviamente estamos preocupados com outros países da região e esse foi um dos motivos pelos quais a Argentina buscou de maneira antecipada o Fundo, sabendo que este será um ano de volatilidade", afirmou.

Nesta quinta-feira, a instituição anunciou empréstimo stand-by de US$ 50 bilhões para ajudar o país a cumprir seus compromissos externos. A Argentina pretende sacar 30% do valor e manter os recursos restantes como um seguro preventivo contra eventuais agravamentos da situação internacional.

 

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