Sexta-feira

TRIBUNA DO NORTE

IBGE: Serviços e investimentos na construção civil caem 16,5% em 2015

O setor da construção encolheu 16,5% em 2015, na comparação com um ano antes, de acordo com a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A atividade realizou incorporações, obras e serviços que somaram R$ 354,4 bilhões em termos reais. No ano anterior, esse valor havia correspondido a R$ 395,1 bilhões.

O tombo do setor da construção reflete a queda na demanda interna, de 3,9% em relação a 2014, o aumento da taxa de juros e o menor volume de crédito ao setor, de acordo com análise do IBGE. O Produto Interno Bruto (PIB) caiu 3,8% em 2015, a maior retração da atual série histórica iniciada em 1996.

O estudo levanta anualmente informações econômicas e financeiras sobre o segmento empresarial da construção em todo o país, com base em dados do Cadastro Geral de Empresas (Cempre).

A construção de edifícios se manteve como o setor que mais contribuiu, com R$ 165,7 bilhões, para o valor corrente das incorporações, obras e serviços, com participação de 46,7% do total em 2015. Obras de infraestrutura (R$ 119,9 bilhões) foram o segundo segmento em termos de participação, com 33,9% em 2015. O setor de serviços especializados para construção (R$ 68,7 bilhões) apresentou ganho de participação, passando de 17,9% em 2014 para 19,4% um ano depois.

Em 2015, havia 131,5 mil empresas atividades nesse setor da economia brasileira, que empregavam 2,4 milhões de pessoas, segundo o IBGE. O contingente é 17% menor que no ano anterior, quando 2,9 milhões de pessoas trabalhavam na área. "O ano foi marcado pela retração acelerada no mercado de trabalho desse setor", disse o instituto.

Segundo a pesquisa, os gastos de pessoal corresponderam, em 2015, a 33,3% do total de custos e despesas das empresas de construção no país. Em 2014, essa participação era um pouco menor, de 32,8%. O IBGE também mostrou que o salário médio mensal recuou 1,4% em termos reais, indo de R$ 1.970,05 em 2014 para R$ 1.943,43 no ano seguinte.

Em relação ao valor adicionado, a maior queda em 2015, na comparação com 2014, ocorreu nas obras de infraestrutura, que recuou 19,8%. Em geral, o valor adicionado da atividade de construção caiu 7,8% no período. Houve recuo ainda em construção de edifícios (-0,3%) e serviços especializados para construção (-2,7%).

 

VALOR ECONÔMICO

Ilan diz que BC 'quebrou a espinha dorsal' da inflação

A pronunciada queda da inflação, de 6,29% em 2016 para 3,8% neste ano, abaixo da meta de 4,5% segundo projeções do Banco Central, encorajou o presidente do BC, Ilan Goldfajn, a assegurar: "Quebramos a espinha dorsal da inflação". Ele conversou ontem com o Valor, após a divulgação do relatório trimestral de inflação com as novas projeções para o IPCA. No fim do terceiro trimestre, a inflação deve cair para 2,9% em 12 meses.

O BC, porém, avalia que haverá, no último trimestre do ano, recuperação nos preços de alimentos, os grandes responsáveis pela rápida desinflação. Não espera, portanto, que se reproduza, entre outubro e dezembro, os baixos índices registrados em igual período de 2016, quando o IPCA foi de 0,74%.

Após cinco semanas da hecatombe produzida pela delação do empresário Joesley Batista, da JBS, no dia 17 de maio, que atingiram duramente a Presidência da República, Ilan avalia que as consequências da crise política podem não ser inflacionárias nem desinflacionárias, mas neutras, levando ao cenário que o Comitê de Política Monetária (Copom) concebia até aquela data. Da Suíça, onde está, Ilan acompanhou a queda dos juros futuros no Brasil após a divulgação do relatório de inflação.

Isso significa, disse, que a maioria prevê redução de 1 ponto percentual na Selic, para 9,25% ao ano, na reunião do Copom, dias 25 e 26 de julho, e não mais corte de 0,75 ponto percentual. Ele não conta com a hipótese de a inflação ficar abaixo de 3% neste ano ¬ que é o piso do intervalo de tolerância dentro do qual pode variar a taxa de inflação e, quando rompido, obriga o BC a se explicar em carta aberta ao ministro da Fazenda.

"Isso não faz parte das nossas projeções", disse. Entre setembro de 2016 e maio deste ano, a inflação ficou 1,68 ponto percentual abaixo das projeções mensais dos relatórios de inflação. "Foi uma surpresa positiva" para todos, inclusive para o mercado, observou.

 

Crise política brasileira é maior que a econômica, diz Armirio Fraga

 O ex-¬presidente do Banco Central Armínio Fraga afirmou nesta quinta-¬feira que a crise política vivida pelo Brasil é ainda maior do que a crise econômica. Segundo ele, a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de manter o presidente Michel Temer no cargo agravou ainda mais esse cenário. “Acho que o nosso problema econômico é enorme, está numa trajetória insustentável mesmo com o que sobrou das reformas. Mas acho que o problema político é muito maior do que econômico”, disse.

“É incrível isso, porque o problema econômico é gigante.” Armínio participou de debate com a economista-¬chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, e com o presidente do Insper, Marcos Lisboa, na noite desta quinta¬feira (22) no Expert2017, evento promovido pela própria XP. Para ele, “a decisão do TSE prejudicou muito essa trajetória” de início de recuperação da crise. O economista, no entanto, não quis opinar diretamente se a saída de Temer traria alguma melhora para esse quadro. “Não é questão de ele sair. Mas as decisões do Judiciário não podem ser pautadas por causa de uma visão errada do que está acontecendo no país e na economia.”

Na visão de Arminio, a atual administração tem apresentado “boas propostas, mas que trazem benefícios daqui a 5, 10, 15 anos, quando a gente não consegue enxergar 18 meses à frente”. Esse quadro, segundo ele, traz riscos de que um candidato com propostas contrárias à agenda de reformas, “um representante do Brasil velho”, seja eleito no ano que vem. “Uma troca à la [presidente da França, Emmanuel] Macron parece pouco provável”, disse.

Mas há ainda outros riscos, ligados ao perfil dos congressistas que serão eleitos, “mesmo que se eleja um bom presidente”. Ele defendeu que, para evitar esse cenário, é necessário que o debate econômico continue, se amplie e seja aprofundado. “A mobilização necessária tem que ser bem maior do que esta que estamos vendo”, disse. “Sem sacrifícios organizados, os desorganizados vão ser muito maiores”, afirmou ele, para quem também será preciso em algum momento aumentar a carga tributária. Mesmo assim, Armínio disse que está mais otimista do que aparenta em seus discursos.

Segundo ele, caso não só a da previdência, mas outras reformas, como a tributária, sejam levadas adiante, “há um entendimento entre economistas de que a economia pode crescer 5% ao ano”. “Não é nenhum absurdo”, afirmou. “Os investidores estrangeiros, mais otimistas do que nós, parecem acreditar que estamos condenados a dar certo.”

Curto prazo

A economista¬chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, também alertou para a necessidade de uma recuperação mais consistente da economia para impedir que um candidato contrário às reformas que estão sendo implantadas seja que um candidato contrário às reformas que estão sendo implantadas seja eleito no ano que vem. “Tenho dado peso excessivo a essa questão do curto prazo, porque acho que a forma como o país chegar no ano que vem pode influenciar a campanha”, afirmou, dizendo que um mercado de trabalho em recuperação pode ajudar um “presidente conectado às reformas” se eleger.

Para Zeina, sem uma mudança de mentalidade, o país poderá ficar preso “a uma eterna mediocridade, porque tem presidente que não entendeu que precisa fazer reforma”. Mesmo assim, defendeu que o debate econômico no Brasil vem “evoluindo”, enquanto a chance de eleger um presidente com um viés “de populismo do passado” vem diminuindo. “A crise tem forçado o país a rever algumas crenças”, disse.

Outro fator que joga contra um presidente não alinhado às reformas são as restrições fiscais, segundo ela. “Acabou o dinheiro. Se você for abrir o cofre, só tem duplicata para pagar.” Para ela, o boom das commodities da década passada deixou o Brasil mal acostumado, com dificuldades para encarar um quadro que era mais grave do que aparentava. “Era como jogador de futebol que ficou rico de uma hora para a outra”, disse.

A economista afirmou que não enxerga nenhuma liderança empresarial capaz de comandar o país neste momento, mas disse que percebe uma mudança de discurso entre os empresários. “Aquele sentimento do Estado grande, que decide a alocação de recursos na economia e quais empresas serão vencedoras, ele já não tem mais apelo [entre os empresários]”, afirmou. Ela defendeu que, para superar de maneira consistente a crise, sejam apresentadas propostas em várias frentes, como na área de educação, “ainda que a questão fiscal seja urgente”. “Não dá para pensar só em uma agenda”, disse.

“Não consigo descartar o desastre, mas acho que só de a sociedade não aceitar aumento da carga tributária e inflação [é um fator positivo]”, afirmou. “Dessa maneira o governo não se sustenta. Acho que a nossa classe política, com todos os defeitos, entendeu que nesse caminho não vai dar para ir.” Ajuste fiscal Em sua intervenção, o presidente do Insper, Marcos Lisboa, afirmou que a “previdência é só metade do problema” fiscal.

“Da outra metade não estão nem tratando”, disse no debate promovido pela XP. Segundo o economista, embora a reforma da previdência seja necessária, é preciso realizar um segundo ajuste fiscal, de R$ 350 bilhões, ou 6% do Produto Interno Bruto. “Minha preocupação é outra. A gente tem uma primeira pirambeira para passar”, disse.

“E a gente precisa desses R$ 350 bilhões todo ano.” Para ilustrar a dificuldade de atingir esse número, ele citou a margem fiscal de R$ 120 bilhões que o governo tem para destinar por escolha própria no orçamento deste ano. “Se o governo parar de gastar tudo que ele pode, fechar hospital, ele tem R$ 120 bilhões. É quase três vezes menos [do que o ajuste necessário]”, afirmou.

Mesmo com essa urgência, ele defendeu que esse ajuste seja colocado em prática gradualmente, a fim de não aprofundar a crise social. “Não dá para você tirar a fábrica [construída com incentivo fiscal] de uma hora para a outra”, disse. “Essa é uma agenda pesada, que não deve ser instalada instantaneamente. São necessários ajustes longos, pequenas reformas.” Lisboa repetiu avaliação feita na semana passada em entrevista ao Valor, em que criticou “retrocessos” fiscais promovidos pelo presidente Michel Temer.

“Esse sempre foi um governo dois para cá, dois para lá”, disse nesta quintafeira. “Mas agora tudo mudou. A agenda boa que estava avançando parou.” Ele ainda criticou as administrações de Estados como o Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, acusando¬as de não encararem devidamente os seus problemas fiscais, mas disse que “tem governador fazendo o dever de casa, nos lugares mais surpreendentes”. “Se a gente começa a limpar a casa, tem espaço para crescer muito”, afirmou.

 

"O Brasil é uma ilusão de ótica"

Nos últimos anos, Luis Stuhlberger, gestor do Verde, um dos fundos mais antigos e bem-sucedidos do mercado brasileiro, vem carregando uma visão pessimista do país. Depois de afirmar em 2015 que vivíamos o "ano de Jó" e de recear no início do ano passado que após o fundo do poço o Brasil encontrasse um "alçapão", ele admite que foi pego no contrapé não apenas pelo impeachment da ex-¬presidente Dilma Rousseff mas pelo início do governo Michel Temer.

Uma equipe econômica qualificada, nomes como o de Pedro Parente na Petrobras e a forte agenda de reformas fizeram o mercado apostar forte na "intenção", como define o gestor, mascarando problemas de longo prazo. O motivo, talvez, seja o que ele chama de "ilusão de ótica" e sua aparente sensação de normalidade.

Enquanto o mercado continua a ver a situação do Brasil como "um copo meio cheio", o que Stuhlberger consegue enxergar diante da situação fiscal, econômica e do presidencialismo de coalizão adotado por aqui é um copo muito prestes a transbordar ¬ e no sentido negativo da metáfora. A gota d'água, no entanto, é difícil saber qual será e quando virá.

O gestor pondera que, apesar de ter sido surpreendido positivamente por razões políticas, o "call" econômico da gestora continua de pé: o PIB potencial do Brasil é muito baixo, um número próximo de 1,5%, ou 2% com muito otimismo. Nesse cenário, Stuhlberger diz que o fundo tende a ter "retornos pobres", e isso porque ele não consegue ter aquilo que sempre o levou aos grandes movimentos ¬ e ganhos: "Eu não tenho uma grande convicção, então prefiro não fazer muita coisa".

Praticamente metade da carteira hoje está em NTN¬Bs de prazos mais curtos, que pagam uma taxa pouco acima de 5,5% enquanto ele vê um juro real de equilíbrio na casa dos 4% para os próximos um a dois anos. Na visão do gestor, o lado bom do Brasil hoje é o cenário de juro mais baixo, ainda que por conta do ambiente fortemente recessivo. E isso mesmo em uma situação de aprovação de uma reforma trabalhista mínima.

Para Stuhlberger, o governo tem condição de reverter a derrota sofrida na votação da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais do Senado. Já em relação à reforma da Previdência, a percepção é que ela fique para 2019 na melhor hipótese, principalmente depois do episódio da delação da JBS. O Verde, com patrimônio de R$ 20,8 bilhões, e seu gestor garantiram assento no "olimpo" do mercado de fundos brasileiro com um histórico de sucesso.

Desde o início, em janeiro de 1997, até maio deste ano, o ganho acumulado foi de 14.176,66%, enquanto o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) ficou em 1.811,19%. O fundo, que completou 20 anos em janeiro, só em dois deles teve rentabilidade inferior ao CDI. Em 2008, o retorno ficou no terreno negativo. Neste ano, a rentabilidade do fundo até maio não vai bem: 2,13% contra um CDI de 4,81%. A seguir, os principais pontos da entrevista.

O alçapão e o impeachment

Uma coisa é a economia brasileira, a outra é como nós, casa de gestão, fomos nesse período, se acertamos, erramos. A gente imaginava o alçapão porque o cenário que julgava mais provável era aquele traçado pelo PSDB e pelo próprio PMDB, como "shadow government" que sempre foi, de sangrar o governo Dilma até a eleição. Achava que o risco de o impeachment [não sair] era grande. Esse medo foi dissipado em março com as manifestações e o tema relevante da falta de capacidade de governar o Brasil. Tenho que reconhecer que erramos nisso.

A pinguela

O Brasil entrou numa dinâmica sobre a capacidade de um presidente não eleito pelo povo, de um partido que nunca foi reformista, fazer um governo de transição, uma pinguela, como falou Fernando Henrique, para chegar em 2018 sem muitos planos. Não foi o que aconteceu. O que aconteceu em termos políticos e em relação à extensão da Lava¬Jato é muito surpreendente. Como a posição do Judiciário, interferindo no mundo do Executivo e do Legislativo, nessa cruzada contra a corrupção. Fomos surpreendidos de todas as formas. Positivamente. E por razões políticas: impeachment, qualidade de quem Temer colocou no governo na área econômica e dos projetos políticos. Fomos surpreendidos também pelo "black swan" [cisne negro, evento raro, imprevisível e de alto impacto, no caso, a delação da JBS que colocou o governo Temer em xeque], como todo mundo, mas isso não nos livra de termos errado [antes].

Troca de favores

Por que o governo vinha conseguindo surpreender positivamente em termos de aglutinação de forças até o evento da gravação? De olho na eleição de 2018, e num ano em que as empresas não podem dar contribuições eleitorais, quem não estivesse com a máquina do governo, estaria muito ruim politicamente. Emissários de bancos e indústrias que estiveram em Brasília em março e abril relataram que parlamentares diziam estar entre a cruz e a espada ao ter de votar uma reforma impopular, como a da Previdência. Se não vota [a favor], corre o risco de não ser reeleito e ficar à mercê da LavaJato. Perguntavam: "Até quanto posso aguar a reforma da Previdência para que o dólar não suba?". Estava sendo empurrada a fórceps.

Revés pós-¬delação

O que há agora e principalmente o revés na votação da reforma trabalhista [na Comissão de Assuntos Sociais] ¬ por mais que o governo tenha condição de reverter a derrota ¬ mostram claramente o enfraquecimento político. Se o governo tivesse o capital político de um mês atrás, esses que votaram contra jamais fariam isso, temeriam pelas consequências.

PIB potencial

No campo econômico, não mudamos de visão. Nosso "call" é que o PIB potencial do Brasil é muito baixo. Um número próximo de 1,5%, ou 2% com muito otimismo. Embora a reforma trabalhista, que a gente ainda acha que passa, seja boa no médio prazo, não tem efeito no curto. O PIB potencial se destrava com capital humano, capital físico, produtividade. O estoque de capital está baixo e vai continuar. E quando se olha a qualidade do investimento feito, e não só público, ele é de pouca utilidade. Há má alocação de capital do Estado e do setor privado, induzido por incentivos e financiamentos.

Força de trabalho menor

Se a gente está crescendo 2,2%, em qualquer métrica, de 30 anos, 15 anos, 10 anos, isso é muito parecido com o crescimento da população ocupada. Nosso PIB praticamente cresceu o que a população ativa [entre 15 e 65 anos, em idade para trabalhar] cresceu. Um pouco a mais. Só que daqui para frente nossa população ocupada não vai crescer nem 2%, nem 1,4%, nem 1,7%, mas 0,7%. Vai ser difícil. Esse é o argumento principal para o nosso não otimismo com o Brasil, mesmo levando em consideração o impeachment e as reformas. É difícil destravar esse crescimento.

E a reforma da Previdência?

A reforma da Previdência é para o Brasil não quebrar, acho que a maioria dos agentes consegue entender isso. Não fazendo agora, a margem de manobra fica mais difícil. Para nós aqui que somos parte dos 20 milhões que contribuem para o INSS urbano é tremendamente injusto ter uma reforma que não alcance o setor público. Mas o mercado ia adorar, porque o que não alcance o setor público. Mas o mercado ia adorar, porque o capitalismo não é antiético, é aético. Dê-¬me uma reforma da Previdência que o dólar vai para R$ 3 e a bolsa, para 75 mil pontos. É uma forma de o capitalismo dizer gostei. Vocês aí embaixo do Equador que se dividam para ver quem paga a conta.

Sem chance

Dou uma chance que beira a zero à aprovação da reforma da Previdência. A trabalhista, apesar do percalço, acho que passa. Talvez o governo tenha que aguar um pouco, tenha algum percalço, mas não há uma razão para não conseguir, não há reprovação da população.

Mercado complacente

Isso é um mistério. Nos anos 90, toda vez que tinha crise política os ativos brasileiros se desvalorizavam. Não importava a razão. Os gringos "panicavam", vendiam tudo. Isso acabou. Existe uma certa estatística, um manual, que diz que vender quando há pânico nos mercados por conta de crise política será sempre um erro. Hoje isso é muito forte, tem muita consultoria política no bastidor, muita troca de informação. Os gringos póscisne negro compraram enquanto os brasileiros se apavoraram e venderam.

Dólar comportado

O que se pode dizer de um país em relação à condição de servir sua dívida ¬ é o que se chama de dominância fiscal ¬, onde isso se reflete? No preço do câmbio. Hoje o câmbio justo é um número perto de R$ 3,30, R$ 3,40, onde tem girado depois do "black swan". Hoje, está ok, o R$ 3,10 de antes é que estava errado. Se o câmbio não sobe, tem menos inflação, uma noção de que o risco de solvência do Brasil é menor, logo não tem por que subir juros. O câmbio é muito relevante sob qualquer métrica para medir risco. Acho que o preço do dólar não reflete o risco que temos aqui.

Dinheiro que entra

E hoje por que esse raciocínio do dólar de certa forma encobre o real risco do Brasil? Porque, número 1, somos o celeiro do mundo ¬ isso vale muito num mundo em que quase tudo tem pressões deflacionistas, como Amazon, Google, Apple, Netflix acabando com o negócio de todo mundo. Em alimentos não tem jeito, todo mundo precisa comer. O Brasil tem área agricultável imensa, rio, clima bom, safra agrícola recorde. Temos US$ 370 bilhões de reservas. E tem coisa que se acontecer, como abrir o mercado de terras para estrangeiros, vamos ser inundados de dólares. Mesmo sabendo que a nossa situação fiscal é mais frágil que o dólar mostra, a gente tem essa situação. O preço do dólar não reflete o risco real que a gente tem aqui.

"Jobless recovery"

O Brasil é isso, um Estado grande. E tem limite. Uma das aberrações que esse sistema trouxe é: como numa crise desse tamanho os salários não caem? Uma pista é que o salário mínimo era 25% do salário médio, agora está quase 50%, é muito difícil. É muito melhor quando o ajuste é feito pelo salário do que pelo emprego. Uma empresa brasileira com 30 mil funcionários chega e fala para o sindicato: tenho que demitir 10% da força de trabalho ou não vou dar reajuste, a não ser para quem ganha, sei lá, R$ 1 mil. O que os sindicatos escolhem? Desemprego e mais salário. Então, significa o seguinte: teremos uma "jobless recovery" [retomada sem emprego], supondo que há uma recovery.

Retomada?

Será menor do que se imaginava para o ano que vem, mas acho que uns 2% cresce. Este ano ainda deve ficar algo pequeno positivo.

Bolsa não é PIB

Vender ou comprar a bolsa não é igual ao PIB. Uma parte razoável das empresas foi muito resiliente, claro que teve algumas devastadas, setores grandes, em bens de capital ou todo mundo que vende bens duráveis. Para esses, na bolsa, é tudo 80%, 90% de queda, mas eu diria que os demais, que são listados, foram bem melhor do que a gente imaginava. A resiliência das empresas grandes e listadas é bem maior do que a do resto da economia. Essas empresas não têm em geral condições de concorrência muito difíceis, não representam o PIB, que está bem pior que a bolsa.

"Overvaluation"

Sempre procuro me posicionar mais fortemente quando tenho uma grande convicção e quando acho que os ciclos são longos. Quando você pensa: no dia 29 de fevereiro do ano passado, quando bolsa estava a 42 mil pontos e o dólar, a R$ 4, quer dizer, não teve uma tendência de alta? Claro que teve e a gente perdeu. Mas acho que o mercado não olhou tanto o retrato do Brasil, olhou a boa intenção. Às vezes, a mesma empresa com um bom CEO ou um mau CEO e um mesmo resultado implica em "valuations" diferentes. A medida que o governo Temer foi indo com uma agenda positiva e colocando gente boa, o mercado acabou indo em cima da intenção e jogou, digamos, um "overvaluation" de Brasil, mascarando o seu problema de longo prazo.

Brasil, ilusão de ótica

De acordo com a PEC dos gastos, daqui a pouco não tem o que cortar. Vai ter que arrumar um jeito de dizer: hum, a PEC dos gastos não vale? Vai subindo na escadinha da dívida x PIB até que um dia... Os problemas vão enchendo o copo, uma hora está na borda, vai derramar. As pessoas acham que o copo está aqui [na metade], mas de repente todo mundo acorda: temos um problema. O Brasil é uma ilusão de ótica, você pensa que o copo está meio cheio, mas ele está quase transbordando. É como enxergo. Não sei se estou tendo uma ilusão de ótica ou se o mercado. Alguém está.

Lado bom

O que tem de muito positivo é o juro mais baixo. Não por motivos bons, mas ruins. O Brasil tem hoje a maior recessão da história e isso uma hora ia bater na inflação. O Banco Central demorou para começar a cortar, mas, mesmo em uma situação de aprovação de uma reforma trabalhista mínima, a Selic terminal pode ficar entre 8% e 8,5%. Para o Brasil, que nos últimos anos sempre andou com juros elevados, vai ser muito bom.

A grande convicção

Eu não tenho uma grande convicção. Os clientes ou concorrentes dizem: não, é que você está com 62 anos, você ficou velho e não tem mais coragem de tomar uma decisão. Pode ser. Estou querendo ter algo que é difícil, essa ilusão de ótica não me deixa enxergar exatamente onde é que nós estamos, então prefiro não fazer muita coisa.

Onde investir?

Não acho que a bolsa americana está barata, acho que o mundo não está barato, é a tal da bolha dos bancos centrais. Uma Treasury a 2,20% eu também não me animo, então a única coisa que tem no fundo hoje é uma posição grande, metade do fundo, em NTN¬B com "duration" [prazo médio] curta. De Brasil é isso, tenho CDI com NTN¬B. Nem diria que é uma aposta. A NTN tem autoproteção, se o câmbio sobe a inflação também sobe.

Juro real

O juro real no Brasil nos próximos um a dois anos não vai ser maior que 5,7%, aliás vai ser bem abaixo disso. Se você acha que o juro real de equilíbrio é 4% no momento, prefiro estar na [NTN¬B] 2022 a 5,6%, que é um ótimo investimento. Um país que tem um problema fiscal mal resolvido tem que ter prêmio, mas eu acho que esse prêmio está um pouco alto, falando da curva curta. A inflação vai continuar muito baixa, especialmente por conta do item de serviços, que rodou por muitos anos a dois dígitos e deve cair abaixo de 5% a 6%. Para 2050 concordo que tenha que ter um prêmio maior. Nosso juro real de equilíbrio caiu muito e por más razões. Não é dizer assim: a situação fiscal é ruim e o juro de equilíbrio tem que ser de 6% ou 7%, não é, e você vê isso pelo câmbio. O Brasil passou desde 1990 até 2016 subindo a despesa pública em 6% ao ano mais inflação e ainda soltando crédito, subindo salário e consumo sem ganho de produtividade, no momento em que o governo fala "acabou o dinheiro" aquilo cai em queda livre. Depois que a queda livre terminou, que é mais ou menos onde a gente está e não tendo nem dinheiro nem crédito, naturalmente a nossa economia amadureceu e o juro real de equilíbrio diminuiu.

 "Short" chinês

A única coisa que eu tenho grande e que não tem nada a ver com Brasil é o "short" [posição vendida] na moeda chinesa. Não é por achar que a China vai muito mal, mas que o câmbio da China está no lugar errado e que ela está com um modelo fiscal expansionista absurdo. Não é que a China vá parar de crescer, é mais algo com a estrutura de capital. Ninguém ganha aposta contra o PBOC [Banco Popular da China] porque é câmbio controlado. Mas acho que o PBOC vai se convencer uma hora, depois da eleição do partido este ano, que o câmbio está no lugar errado.

Carteira

Quando você não tem convicção fica dando retornos pobres. Do ano passado para este, o que mudou é que aumentei a posição de NTNs durante o processo de impeachment e reduzi bolsa internacional. Estou "net long" [comprado líquido] em bolsa brasileira em algo como 1%, estou 5% comprado e 4% vendido. Não gosto de falar o nome de ações. O que tem é [empresas ligadas a] economia local. Lá fora, tinha 20% [em ações], reduzimos e hoje acho que tem 3%.

Presidencialismo de coalizão

Desde que o Brasil se redemocratizou, entramos num presidencialismo de coalizão que, na verdade, foi se fragmentando com essa indústria de partidos políticos. Isso teve um mérito muito grande que é não termos nos tornado um misto de Argentina com Venezuela. A esquerda esteve longe de ter 51%, maioria absoluta no Congresso. O brasileiro sempre votou pelo centro. Uma coisa que eu posso dizer, e isso os gringos sabem, é que, não importa o que surja para 2018 de candidatos com plataformas mais à direita ou mais à esquerda, isso ele não vai poder fazer. Alguém pode ganhar a eleição, mas vai ter que governar com um Congresso de centro. De um lado é bom porque não vai para o extremo, isso deixa o capital que aqui está relativamente tranquilo, mas...

Sem saída

O futuro presidente terá que fazer acomodações, mesmo depois de tudo que aconteceu na Lava¬Jato. Duvido que alguma coisa tenha surpreendido: "puxa, eu não imaginei que fosse isso, que todas as indicações políticas têm um fim econômico da pior espécie". Como se livrar disso? Vamos mudar o presidencialismo de coalizão e fazer reforma política? É difícil porque todo mundo que está nesse subsistema não quer e, mesmo que os três maiores partidos do Brasil queiram, tem uns 30 partidos que não querem, não sei como resolve.

Esperança nas eleições?

Não sei falar, esse problema do presidencialismo de coalizão é tão grave, qual a solução de ter um governo bom com um Congresso de muito baixa qualidade, com incentivos de nomeações políticas que existiram desde que o país se redemocratizou? Não vejo solução para isso. Tem algumas coisas que vão tentar, como elevar muito o fundo partidário. Mas será que isso vai levar as multidões às ruas?

Nova Constituição

Acho que a gente precisa mesmo de uma Constituição nova, já vi muito debate nisso. Gente boa, tipo Modesto Carvalhosa, falando que o modelo seria ter constituintes de vários setores da sociedade e cada um não poderia concorrer a cargo público por, sei lá, dez anos.

Desconforto

O que o gringo quer do Brasil? Ganhar dinheiro, quer comprar alguma coisa, e o que vocês estão fazendo lá não me importa, vocês que moram no Brasil. O empresariado brasileiro não vê dessa forma, acho que a maioria das pessoas gostaria de ver um país bom para os seus filhos e netos. Difícil imaginar nos últimos muitos anos, com exceção talvez dos anos FHC, que se possa dizer que a gente teve um governo que, de maneira mais ampla, você tivesse orgulho de ter. Sempre teve algum desconforto, foi desconfortável com os militares, e foi a época que o PIB mais cresceu, mas era uma ditadura militar que matava pessoas.

 

A inflação está 'domada'

 "Quebramos a espinha dorsal da inflação nos últimos 12 meses", disse o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, logo após a divulgação do relatório trimestral de inflação, ontem, que trouxe a projeção de 3,8% para o IPCA deste ano, abaixo da meta de 4,5%. Depois do dia 17 de maio, quando o presidente Michel Temer foi abalado pela delação premiada de Joesley Batista, da JBS, o BC e os economistas do setor privado passaram a discutir se o cenário futuro seria mais inflacionário ¬ pelas incertezas que a nova turbulência política gera na formação dos preços ¬ ou mais desinflacionário ¬ pela interrupção da recuperação da atividade que a crise pode provocar.

Ilan adicionou uma terceira possibilidade, a de o resultado final ser neutro, com os dois movimentos (o inflacionário e o desinflacionário) se anulando. Nesse caso, volta¬se para as condições com as quais o BC trabalhava antes da crise produzida pelas delações que envolveram diretamente o presidente da República em supostos atos de corrupção. "Os dados até agora corroboram o cenário anterior e mantivemos a projeção de crescimento de 0,5% este ano", disse.

Vista pela estimativa de queda de 0,6% no consumo do governo, conforme o relatório de inflação, a política fiscal este ano será contracionista. A recuperação da economia, na visão do BC, será bem gradual. Isso, porém, não significa que o Copom volta a considerar a trajetória de queda dos juros anterior ao dia 17 do mes passado. "Temos mais um mês para observar", ponderou. A mensagem do relatório de inflação, segundo Ilan, é de que os próximos passos do Copom para o corte da Selic estão indefinidos. "Minha visão é condicional", explicou ele a esta coluna.

Ou seja, vai depender do balanço de riscos, das projeções de inflação, da probabilidade de aprovação das reformas, da evolução da taxa de juros estrutural, dentre outros. Ilan falou por telefone da Suíça, onde chegou ontem pela manhã para participar da reunião do BIS (Banco de Compensações Internacionais). Pelo comportamento dos juros futuros, que estavam em queda, ele ressaltou que a maioria do mercado estava apostando em uma queda da taxa Selic de 1 ponto percentual na próxima reunião do Copom, nos dias 25 e 26 de julho.

Poucos ainda operavam com corte de 0,75 pontos percentuais. Se isso se confirmar, a taxa básica cairá de 10,25% para 9,25% ao ano, voltando a um dígito. A chance de a inflação ficar abaixo do intervalo da meta este ano ¬ que vai de um piso de 3% a um teto de 6% ¬ é de 20%. Ou seja, essa é a probabilidade de o IPCA ficar abaixo de 3% e de o BC, portanto, ter que escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda explicando porque com a inflação tão baixa o Comitê de Política Monetária foi conservador na queda dos juros. Se isso ocorrer, terá sido a primeira vez na história do regime de metas para a inflação, em vigor desde 1999. A carta escrita até hoje decorreu da inflação ter superado o intervalo superior.

Ao contrário de alguns economistas do mercado que já consideram factível uma inflação de 2,9% para este ano, Ilan não vê chance de isso acontecer porque os preços dos alimentos ¬ que foram os grandes responsáveis pela rápida desinflação ¬ devem aumentar, devolvendo parte da queda ocorrida até agora. Soma¬-se a isso o fato de a inflação no último trimestre do ano passado ter sido muito baixa, o que dificilmente se repetirá este ano. Dessa forma, o IPCA que cai para 2,9% no terceiro trimestre, volta para 3,8% no ultimo período do ano, segundo o relatório do BC.

Os prognósticos do relatório de inflação para o IPCA deste e do próximo ano (4,5% considerando a taxa de câmbio e de juros do Focus) estão maiores do que os da mediana do mercado que na pesquisa Focus projetam inflação de 3,64% para 2017 e 4,33% para 2018. E bem maiores do que as expectativas do Top 5 ¬ as cinco instituições que mais acertam a pesquisa ¬ de 3,16% para este ano e de 4% para o próximo.

A inflação projetada pelo Banco Central de setembro de 2016 a maio deste ano ficou 1,68 ponto percentual a mais do que a taxa efetiva. Ilan explica que não foi só o BC que errou, mas todo o mercado. A inflação que vinha alta até setembro do ano passado, teve queda abrupta a partir de outubro. "Foi uma surpresa positiva dada pela queda dos preços dos alimentos e de bens industriais", comentou.

A extensão do ciclo de queda da Selic vai depender da taxa de juros estrutural e esta poderá ser menor ou maior conforme o avanço ou não das reformas (da Previdência e trabalhista). Ilan explicou que os países desenvolvidos calculam os juros neutros com base na média das taxas reais dos ultimos dez anos.

No Brasil, chega¬se a um número com base em dez anos e a um outro, muito diferente, se o período cair para cinco anos. Os juros reais, aqui, eram de 20% ao ano nos anos 1980, caíram para faixa de 10% entre os anos 1990 e 2000 e de 2010 em diante estão na casa dos 5%, considerando na conta o curto período em que a taxa real caiu para 2% ao ano, na gestão Dilma Rousseff, quando a Selic ficou em 7,25% ao ano entre outubro de 2012 e abril de 2013.

Por essa razão Ilan costuma olhar para três indicadores diferentes: os que são apurados pela pesquisa Focus, os do mercado (swap DI de um ano e a inflação projetada) e os juros das NTN¬Bs. Nestes o intervalo vai de 4,2% a 5,2%, taxas reais ainda altas, distantes das praticadas no mercado internacional para onde se pretende convergir. A desinflação de 2016 para cá é, para ele, "a prova do pudim" de que os juros derrubam os preços.

O país passou por um longo ciclo de aperto monetário, com alta da taxa de juros, patrocinado pelo então presidente do BC, Alexandre Tombini, que quase duplicou a Selic, de 7,25% em março de 2013 para 14,25% até outubro de 2016. Junto com a restrição monetária e com a deterioração fiscal no governo anterior veio uma recessão cavalar.

Mas as expectativas de inflação só começaram a ficar ancoradas com a mudança no comando do BC. "O BC trabalha para que a queda da inflação e da taxa de juros sejam sustentáveis", disse o presidente do BC. Ilan afirmou, ainda, que o esforço do BC é para colocar a inflação "na meta" e que uma taxa abaixo de 3% este ano não faz parte das suas projeções.

 

BC pode manter ritmo de corte da Selic

O Banco Central deixou em aberto, no Relatório Trimestral de Inflação divulgado ontem, o ritmo de corte de juros que adotará na reunião de julho do seu Comitê de Política Monetária (Copom), entre as opções mais prováveis de reduções de 0,75 ponto percentual ou de 1 ponto percentual.

O documento, porém, sinaliza que há espaço para a taxa Selic, atualmente em 10,25% ao ano, cair a 8,5% ao ano ao fim do ciclo de distensão monetária iniciado em outubro de 2016. "Em nenhum momento nos comprometemos com decisões futuras", disse o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Viana de Carvalho, em entrevista de divulgação do relatório.

Muitos analistas econômicos haviam entendido que, devido às incertezas políticas, o BC já havia se decidido por uma baixa mais moderada de juros. As projeções apresentadas no relatório apontam que, se os juros caírem a 8,5% ao ano e câmbio subir a R$ 3,40 até o fim de 2018, como previsto pelo mercado, a inflação ficará em 3,8% em 2017 e em 4,5% em 2018.

Nos dois casos, os percentuais são compatíveis com a meta de inflação, de 4,5% para ambos os anos. Ainda nesse mesmo cenário, a inflação acumulada em 12 meses fecharia o primeiro semestre de 2019 em 4,3%, um percentual muito próximo da meta de 4,25% que o governo se inclina a estabelecer para o ano, em reunião na próxima semana do Conselho Monetário Nacional (CMN).

Da mesma forma que esvaziou apostas de que o BC pendia para o lado mais conservador, Viana evitou se comprometer com um corte mais forte de juros, de um ponto percentual, como aposta uma parcela dos analistas. Ele enfatizou que o tamanho do corte dependerá da evolução de uma série de fatores acompanhados pelo Copom, incluindo atividade econômica, projeções, expectativas de inflação e fatores de riscos, como cenário internacional e a crise política doméstica. "Comunicamos nossa visão até o limite do que nos parece adequado comunicar", disse Viana.

"Não se deve comunicar além de uma certa zona de conforto, porque essa comunicação vai acabar sendo contraproducente", acrescentou. O diretor enfatizou que as decisões são "condicionais", ou seja, dependem da evolução de fatores. "É importante entender isso. Estamos tentando dar balizamento e explicar fatores que serão importantes para decisões futuras e as pessoas, prestando atenção, poderão também antecipar quais serão as decisões. Não tem nunca uma predeterminação da decisão que será tomada. Sempre é condicional", disse.

Analistas econômicos notaram que, no RTI, o BC colocou em tempo verbal passado a sinalização mais conservadora feita na ata do Copom de maio, o que para muitos pareceu que o colegiado se desloca para um corte mais forte na taxa básica de juros.

Na ata do Copom, o BC havia dito que "uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária deve se mostrar adequada em sua próxima reunião". Já no relatório, a mensagem foi que "em função do cenário básico e do balanço de riscos avaliados em sua última reunião, o Copom entendeu que uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária em relação ao ritmo adotado naquela ocasião deveria se mostrar adequada em sua próxima reunião, em julho". Viana destacou, porém, que não houve modificação na mensagem do Copom.

A decisão de julho, disse ele, dependerá de como os fatores listados como relevantes pelo Copom (atividade, projeções, expectativas e fatores de risco) estarão em seu próximo encontro. A avaliação sobre uma possível moderação no ritmo de corte foi feita com os elementos disponíveis naquela reunião. Caberia aos analistas econômicos, disse, avaliar se a evolução desses fatores autoriza uma decisão diferente ou não.

Viana explicou ainda que na reunião de maio o BC decidiu dar uma sinalização mais clara de suas decisões futuras para cortar avaliações mais pessimistas do mercado, que chegou a precificar uma baixa de juros de apenas 0,5 ponto percentual em julho, devido aos possíveis efeitos na inflação do acirramento da crise política. "Um corte de juros de meio ponto percentual pareceu uma reação exagerada."

O diretor foi insistentemente questionado sobre de que forma o aumento da incerteza política e as dúvidas sobre a condução da política fiscal afetam a tomada de decisões de política monetária. Viana explicou, mais de uma vez, que a incerteza por si só não preocupa, mas sim os impactos que os desenvolvimentos no campo político e fiscal podem ter sobre o mandato do BC, que é manter a inflação na meta e garantir a estabilidade do sistema financeiro.

"Não somos analistas de conjuntura política. Temos de entender como a evolução dos acontecimentos pode impactar a economia e a inflação. Se tem implicação no nosso mandato e, se for o caso, fazer os ajustes necessários." Viana reiterou que não há relação direta e mecânica entre o aumento de incerteza e a política monetária.

 

Recuo da inflação abre espaço para juro cair mais no Brasil, diz Fitch

A expectativa de crescimento econômico no Brasil e na Rússia vem acompanhada de um movimento desinflação, após dois anos de recessão, observa a Fitch Ratings. "Taxas de inflação recentes em torno de 4% no Brasil e na Rússia são muito baixas em termos históricos e estão abrindo espaço para mais relaxamento monetário em ambos os países”, afirmou Brian Coulton, economista¬chefe da Fitch, em relatório bimestral divulgado pela agência.

No Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado nesta quinta¬feira, o Banco Central brasileiro estimou a inflação deste ano em 3,8%. Os salários, estáveis em termos nominais, estão aumentando em termos reais, o que ajuda a sustentar a nascente recuperação no consumo na Rússia.

No Brasil, há uma estabilização nos gastos de consumo, diz a agência. A Rússia apresenta um crescimento mais firme na produção industrial, no crédito e no mercado de trabalho que o Brasil.

 

Relatório de Inflação muda projeção e prevê política fiscal contracionista

Em seu Relatório de Inflação divulgado ontem, o Banco Central destacou o efeito contracionista da política fiscal neste ano, estimando que o consumo do governo deve recuar 0,6%, ante uma projeção de aumento de 0,2% feita em março. Essa revisão, segundo o BC, reflete "o ajuste fiscal em curso".

É importante observar que em março, quando o BC projetou um aumento de 0,2% para o consumo do governo, a equipe econômica ainda não tinha anunciado o contingenciamento de R$ 42,1 bilhões. O corte orçamentário foi oficializado por meio do decreto 9.018, de 30 de março, que definiu a programação orçamentária e financeira do governo. Depois, houve uma redução do contingenciamento para R$ 39 bilhões.

A conclusão do BC de que a política fiscal deste ano será contracionista é a mesma feita pelo Ministério da Fazenda. Em maio, a Secretaria de Política Econômica (SPE) divulgou uma estimativa de contração da política fiscal neste ano de 0,49 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB).

Para chegar a esse número, a SPE utilizou a metodologia de cálculo do resultado fiscal estrutural, que é ajustado ao ciclo econômico e exclui as receitas e as despesas não recorrentes. O impulso fiscal obtido é função da diferença entre os resultados estruturais de dois exercícios.

Em 2016, segundo a SPE, a política fiscal foi expansionista em 0,9 ponto percentual do PIB, na comparação com o ano anterior. Já em 2015, o cálculo da SPE mostrou uma política fiscal contracionista em 1,2 pontos percentuais do PIB. Antes, apenas em 2002, 2003, 2005 e 2011 a política fiscal havia sido contracionista, segundo a SPE.

A área econômica está fazendo um grande esforço, no entanto, na busca por receitas extraordinárias que permitam uma redução do contingenciamento. O problema é que a arrecadação de tributos federais não reage, registrando seguidas quedas reais na comparação com os mesmos meses do ano passado. Em maio passado, a receita foi a pior para o mês desde 2010.

Assim, se a trajetória negativa não for revertida, as receitas extraordinárias que forem obtidas servirão apenas para compensar as frustrações da arrecadação dos tributos federais. Há dúvidas na área técnica se o governo conseguirá obter a receita extra que projeta. No relatório divulgado ontem, o BC alterou a referência que fazia à aprovação das reformas. Em seu relatório de março, por exemplo, disse que o teto para os gastos e as demais medidas de ajuste, com destaque para a reforma da Previdência Social, "mostram¬se essenciais para assegurar a sustentabilidade do processo de desinflação e reduzir a taxa de juros estrutural da economia brasileira".

Essa frase foi retirada do relatório. O BC reproduziu, no relatório divulgado ontem, as mesmas preocupações sobre as incertezas das reformas já manifestadas na última ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O relatório lembrou que o Comitê entende que o aumento recente da incerteza associada à evolução do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira "dificulta a queda mais célere das estimativas da taxa de juros estrutural e as torna mais incertas".

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

BNDES estuda ampliar linha para capital de giro

No contexto das medidas para ampliar o crédito e ajudar na recuperação da economia, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) poderá melhorar, ainda este mês, as condições para o Progeren, a linha de crédito para capital de giro, que recebeu R$ 13 bilhões a mais no início do ano.

O objetivo é impulsionar a demanda das empresas com faturamento entre R$ 90 milhões e R$ 300 milhões ao ano. A medida faz parte do conjunto de iniciativas para ampliar o crédito às empresas menores, que já vinha sendo tocado pela ex¬presidente Maria Silvia Bastos Marques, e tende a ganhar velocidade com Paulo Rabello de Castro no comando do banco.

Na segunda¬feira, o BNDES lançará, em São Paulo, um sistema na internet para facilitar a interação com clientes de menor porte e agentes financeiros repassadores, outra iniciativa da gestão de Maria Silvia.

Segundo o superintendente de Operações Indiretas do BNDES, Marcelo Porteiro, o banco analisará internamente a possibilidade de estender as melhores condições do Progeren, que hoje valem para empresas com faturamento até R$ 90 milhões por ano, para clientes que faturem até R$ 300 milhões ao ano.

O superintendente vê grande probabilidade de a medida ser adotada. “Nesse momento de crise, tem uma sensibilidade geral das áreas do banco”, disse Porteiro. Em setembro do ano passado, o Progeren já teve as condições melhoradas. Até então, somente empresas com faturamento até R$ 3,6 milhões anuais podiam pegar o empréstimo com custo na Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP, hoje em 7,0% ao ano), fora spreads do BNDES e do agente repassador.

Firmas maiores que isso pagavam 75% da Selic (a taxa básica de juros, hoje em 10,25% ao ano), além dos spreads. Em abril, o banco já havia reduzido uma exigência, nas contratações diretas do Progeren, que era considerada uma barreira por entidades de representação do empresariado. Para contratar com o BNDES, o cliente precisava ter indicador de alavancagem (dívida em relação à geração de caixa anual) menor que 4 vezes. O BNDES elevou essa exigência para 6 vezes.

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