Sexta-feira

TRIBUNA DO NORTE

Caderneta de poupança tem saque recorde de R$ 12 bi em janeiro

A caderneta de poupança teve saída líquida de R$ 12,032 bilhões em janeiro, pior dado mensal da série histórica do Banco Central. O resultado ocorre em meio à continuidade de um cenário de restrição orçamentária, devido à recessão, à elevação do desemprego, à inflação e a condições mais caras de financiamento.

A perda de janeiro representou o desempenho mais fraco para todos os meses da série do BC, iniciada em 1995, à frente da saída líquida de R$ 11,438 bilhões sofrida pela poupança em março do ano passado.

O saque de recursos tem consequências para o financiamento imobiliário, uma vez que as regras do SFH (Sistema Financeiro da Habitação) determinam que parte dos depósitos da caderneta de poupança seja direcionada ao crédito habitacional.

No acumulado de 2015, a poupança viu os resgates excederem os aportes em uma cifra recorde de R$ 53368 bilhões, refletindo a pressão para a retirada de recursos em meio à derrocada da economia, que deve persistir neste ano.

Em outra frente, a tradicional caderneta também perde atratividade como alternativa de investimento diante dos juros em níveis elevados, oferecendo rentabilidade inferior à de aplicações que têm retorno baseado na Selic.

A taxa básica de juros se mantém em 14,25% ao ano desde julho do ano passado. A poupança, por outro lado, entrega remuneração de 6,17% ao ano mais um pequeno acréscimo da TR (Taxa Referencial).

 

COLUNA DE LUIZ ANTONIO

Liberdade pra gastar

O governo federal quer cerca de R$ 120 bilhões, do Orçamento de 2016, para aplicar onde julgar mais adequado, sem aplicações mínimas determinadas em lei para áreas como saúde e educação. Isso é possível através da Desvinculação de Receitas da União (DRU), criado em 1994, esse mecanismo permite a flexibilização dos recursos, mas precisa ser aprovado pelo Congresso. Entre os especialistas, há defensores da medida, que alegam uma melhor gestão das verbas através desse sistema; e há quem veja nela uma piora do fluxo do dinheiro para atendimento à população.

Poupança

Nem a população brasileira tem condições de guardar mais o dinheiro que sobrava. A caderneta de poupança perde R$ 12 bilhões em janeiro – saques menos depósitos -, no pior mês desde 1995. O brasileiro tá sacando para pagar contas mais caras e para se manter.

 

O GLOBO

Créditos 'podres' chineses preocupam o mundo

O nível de inadimplência ou atraso de pagamento de empréstimos por corporações e pessoas físicas em todo mundo, os créditos "podres" vem tirando o sono de investidores, governos e analistas - inclusive o FMI. Com forte impacto na atividade econômica, a dimensão sistêmica do problema se tomou evidente após a crise global de 2008, e nos últimos meses ganhou tons alarmantes, sobretudo na China, onde especialistas estimam que o volume de empréstimos duvidosos pode ultrapassar os US$ 5 trilhões, o equivalente à metade do PIB. Não à toa, o mercado de ações chinês vem caindo com força nos últimos meses.

A origem do problema está nas políticas expansionistas, mediante a concessão de crédito fácil, usadas por vários governos para estimular o crescimento econômico. A facilidade de acesso ao crédito, porém, acaba formando bolhas. Quando estouram, os bancos param de emprestar e elevam os juros para conter sua exposição a maus pagadores, piorando a situação econômica geral.

O Brasil é exemplar. Após anos de farra no crédito para financiar a política expansionista do governo - denominada de "nova matriz econômica" - o país agora vive uma forte recessão. E quer sair dela com mais crédito.

Nos EUA, o nível de inadimplência no setor imobiliário, um dos estopins da crise global de 2008, só começou a recuar recentemente. No setor energético, após obterem acesso a dinheiro barato, as empresas que investiram na produção de gás não convencional hoje penam para quitar dívidas com a queda dos preços do petróleo. Na Europa, o volume total de empréstimos duvidosos supera US$ 1 trilhão, e a exposição dos bancos europeus à inadimplência é um dos entraves à recuperação da economia.

Mas é a China que assombra o mundo devido ao tamanho de sua economia. O país vem deslocando sua matriz econômica dos pesados investimentos em infraestrutura para o consumo interno. Isso, porém, não evitou uma forte desaceleração, com impacto na economia global, sobretudo na de emergentes dependentes do apetite chinês por matérias-primas e commodities, o Brasil entre eles. Os investidores temem que a desaceleração chinesa tenha impacto desastroso no setor bancário, que opera em parte na sombra e encontra-se inundado por empréstimos duvidosos.

Apesar das incertezas em tomo de suas estatísticas econômicas, uma analista do Autonomous Research disse ao "New York Times" que o volume total de empréstimos do mercado chinês será de US$ 30 trilhões no fim do ano. Há sete anos, esse número era de apenas US$ 9 trilhões. Segundo ela, uma expansão de tal magnitude do crédito em tão pouco tempo é inédita, com impacto no preço de ativos financeiros de todo o mundo.

Mas, apesar do fantasma chinês, o dilema continua sendo relativamente simples: a calibragem entre crescimento econômico e saúde fiscal.

 

EXAME

Inflação é de 1,27% em janeiro e chega a 10,71% em 12 meses

São Paulo - O IPCA (Índice Preços ao Consumidor Amplo) foi de 1,27% em janeiro, informou hoje o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

É a maior taxa para janeiro desde 2003, quando foi de 2,25%, e também ficou acima de dezembro, quando foi de 0,96%.

Com isso, o acumulado da inflação nos últimos 12 meses chegou a 10,71%, o mais alto desde novembro de 2003 (quando chegou a 11,02%).

A taxa anualizada também está bem acima da meta do governo, que é de 4,5% com tolerância de dois pontos percentuais para cima (6,5%) ou para baixo (2,5%).

Dos 9 grupos pesquisados, 6 tiveram alta em relação ao mês anterior e 3 tiveram queda. No grupo Vestuário foi registrada queda de preços.

Grupos

O grande responsável pela taxa de janeiro foi o grupo Alimentação e Bebidas, de maior peso relativo no índice, que pulou de 1,50% em dezembro para 2,28% em janeiro.

Não havia registro de taxa tão alta desde dezembro de 2002 (3,91%) e sozinho, o grupo contribuiu com 0,57 ponto percentual no IPCA do mês.

Os produtos para consumo em casa aumentaram 2,89% enquanto a alimentação fora de casa subiu 1,12%. Entre as maiores altas no mês destacam-se a cenoura (32%), o tomate (27%), a cebola (22%) e a batata-inglesa (14%).

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)informou ontem que o seu índice de preços de alimentos chegou em janeiro no seu nível mais baixo dos últimos sete anos.

O grupo Transportes também subiu - de 1,36% para 1,77% - e foi responsável por 0,33 de impacto no índice do mês. A alta foi puxada pelo transporte público, com aumento de 3,84%, e pelos combustíveis, que subiram 2,11%.

Janeiro teve reajuste dos ônibus urbanos em 6 das 13 regiões pesquisadas, incluindo São Paulo (8,57%), Rio de Janeiro (11,7%) e Belo Horizonte (8,82%).

Os intermunicipais também subiram em 5 regiões, assim como os táxis. Em São Paulo, também pesou o reajuste do metrô.

Nos outros grupos, chamam a atenção altas em itens como excursão (6,98%), cigarro (3,81%), TV, Som e Informática (2,12%) e Artigos de limpeza (1,86%).

 

IGP-DI sobe 1,53% em janeiro

O Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) sofreu pressão generalizada e acelerou a alta a 1,53 por cento em janeiro, contra 0,44 por cento no mês anterior, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV) nesta sexta-feira.

A leitura ficou acima da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 1,28 por cento.

De acordo com a FGV, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-DI) registrou alta de 1,63 por cento em janeiro, contra 0,33 por cento no mês anterior. O índice responde por 60 por cento do IGP-DI.

Somente os preços dos produtos industriais passaram de uma queda de 0,14 por cento em dezembro para uma alta de 1,24 por cento no mês passado.

Já o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-DI) acelerou a alta a 1,78 por cento, após 0,88 por cento em dezembro. O índice mede a evolução dos preços às famílias com renda entre um e 33 salários mínimos mensais e corresponde a 30 por cento do IGP-DI.

A maior contribuição para o resultado mensal do IPC-DI foi dada por Educação, Leitura e Recreação, cujos preços dispararam 5,08 por cento no primeiro mês do ano, após avanço de 0,80 por cento em dezembro, pressionados por cursos formais.

O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-DI), por sua vez, subiu 0,39 por cento em janeiro, após avançar 0,10 por cento O índice representa 10 por cento do IGP-DI.

O IGP-DI é usado como referência para correções de preços e valores contratuais. Também é diretamente empregado no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) e das contas nacionais em geral.

 

Afinal, o Banco Central acertou em não subir o juro?

Duas semanas após a controvertida decisão do Copom de manter a taxa Selic estável, o comportamento dos juros futuros sugere que o mercado está assimilando o fato de que o cenário externo abre espaço para uma postura mais branda do BC.

O contrato de DI para janeiro de 2017 já acumula queda de 63 pontos desde que o Copom manteve a Selic em 14,25%.

E as apostas em alta da Selic passaram de majoritárias a marginais.

 “Não dá para afirmar se foi uma medida certa. Esta ainda é uma questão em aberto”, diz o economista-chefe para América Latina do ING, Gustavo Rangel, ao comentar a decisão do Copom.

Rangel reconhece, contudo, que o aumento da turbulência externa joga a favor do argumento usado pelo BC para não elevar o juro citando o aumento da incerteza global. ”A retórica do BC se torna mais crível.”

Para Rangel, o problema maior não foi o BC ter mantido o juro, mas sim ter sinalizado a decisão abruptamente, em cima da data da reunião do Copom, contrariando sua própria indicação anterior de que as taxas poderiam subir.

“Não havia consenso sobre a alta dos juros. O consenso se formou porque o BC sinalizou”, diz o economista.

Embora a curva de juros tenha se inclinado logo depois do Copom, com o mercado antecipando uma piora da inflação futura após o BC não subir os juros, este movimento refluiu.

A queda recente dos juros futuros ocorre ao mesmo tempo em que o dólar perde força. O real tem se beneficiado do enfraquecimento da moeda americana após eventos ocorridos depois do Copom reforçarem o cenário de juros baixos no mundo desenvolvido: o BC japonês adotou juros negativos, o BC europeu acenou com mais estímulos e dados abaixo do previsto nos EUA colocaram em dúvida a alta dos juros programada pelo Federal Reserve.

A assessoria de imprensa do BC disse que o banco não comenta movimentos dos mercados e nem decisões de outros bancos centrais.

“Pela conjuntura, o mercado está aceitando a decisão do BC”, diz Paulo Henrique Gouveia, operador de câmbio da Ativa Corretora. Segundo ele, investidores externos estariam entrando no Brasil para aproveitar o nível de juros, que segue elevado mesmo após o BC contrariar as apostas de alta da Selic. Este fluxo, diz o operador, ajudaria a explicar a queda do dólar, que tem sido mais acentuada contra o real do que contra outras moedas recentemente.

Normalmente, quando um BC é questionado, a moeda do país se enfraquece. O dólar, porém, subiu contra o real no dia seguinte ao Copom, mas perdeu força nas duas semanas posteriores, caindo respectivamente 2,3% e 3,5% ante a divisa brasileira. E a queda prossegue nesta semana, levando alguns analistas e operadores a questionarem se o movimento não seria excessivo diante da conjuntura ainda complicada da economia brasileira. A possibilidade de o BNDES estar zerando operações de hedge cambial, que já teria ajudado a derrubar o dólar em janeiro, volta a ser citada por operadores.

Rangel, do ING, estima IPCA de 8% este ano e 6% em 2017 - ambas as previsões acima do objetivo do BC - e PIB de -4% em 2015 e -3% este ano. Embora espere cortes da Selic apenas para o 4º trimestre, o economista avalia que as pressões por redução do juro podem aumentar a partir do 1º trimestre, quando o pico da inflação deve passar. “A partir daí, as pressões podem crescer, pois a economia tende a piorar.”

VALOR ECONÔMICO

Juro real recua mesmo com Selic estável

Num momento em que o mercado já discute a possibilidade de corte da taxa Selic, a análise do nível do juro real do país sugere que a política monetária precisaria endurecer para levar a inflação para o centro da meta em 2017. Após a decisão do Banco Central de manter a taxa básica em 14,25% ao ano, o juro real caiu para 7,28%, e está nos menores níveis desde maio de 2015, quando a Selic estava em 13,25%. Ao mesmo tempo, economistas estimam que a taxa real de equilíbrio ¬ aquela que permite crescimento sem gerar inflação ¬ subiu por causa da deterioração dos fundamentos.

Esse quadro indica que, mesmo com a retração da atividade econômica e do aumento do chamado hiato do produto [distância entre o PIB potencial e o PIB efetivo] é preciso ter uma taxa de juros real maior para levar a inflação à meta. A taxa de juros real, obtida pela diferença entre o contrato de "swap" com prazo de 360 dias ¬ que projeta a taxa de juros um ano à frente ¬ e o IPCA projetado 12 meses à frente, vem caindo à medida que as expectativas de inflação sobem, movimento que se intensificou após o BC sinalizar que a Selic deve seguir inalterada por enquanto.

Ao mesmo tempo em que essa taxa cai, o juro real de equilíbrio avança e já está mais perto de 7%, observa o superintendente do departamento econômico do Citi Brasil, Marcelo Kfoury, dada a piora dos fundamentos macroeconômicos e da percepção de risco em relação ao Brasil. Ele lembra que o Credit Default Swap (CDS) de cinco anos do Brasil ¬ que mede o risco de calote da dívida soberana dos países ¬ passou de 235 pontos-¬base em fevereiro de 2015 para 475 pontos¬base atualmente. "Com isso, se o juro real continuar a cair, as expectativas de inflação subirem e o fiscal seguir expansionista podemos ter uma inversão da política monetária [em direção a um afrouxamento] mesmo com a manutenção dos juro em 14,25%."

Para ele, a taxa de juros real deveria subir na mesma proporção das expectativas de inflação. "O BC deveria ter subido a taxa de juros em janeiro dado o aumento da percepção de risco e o impasse na política fiscal e econômica", afirma O economista-¬chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, também concorda que a taxa de juros de equilíbrio está mais alta hoje. Economistas estimavam que esse juro de equilíbrio estava ao redor de 5% até o começo do segundo semestre de 2015, quando a percepção de risco do país piorou por causa do quadro fiscal. Assim, afirma, a taxa real deveria estar mais alta pois a piora das expectativas de inflação enfraqueceu boa parte do efeito contracionista que estava em curso.

"As expectativas estão totalmente desancoradas e o juro real não é compatível com o objetivo de buscar a convergência da inflação em 2017", diz, prevendo um IPCA de 7,2% em 2016 e de 4,70% em 2017. O professor do Departamento de Economia da PUC¬Rio, Márcio Garcia, destaca que o enfraquecimento da credibilidade do BC, que foi intensificado após a mudança da sinalização em relação à política monetária na véspera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de janeiro, faz com que seja necessário um juro real maior para conter as expectativas e levar a inflação à meta. "Quanto maior a credibilidade da política monetária menor o esforço necessário em termos de alta de juros e, nesse aspecto, o BC vem perdendo credibilidade, uma vez que desde 2010 vem descumprindo a meta de inflação [de 4,5%]", afirma.

Um dos reflexos disso, segundo ele, é a piora das expectativas de inflação para prazos mais longos. De acordo com a última pesquisa Focus, com a coleta de dados representantes do mercado, a mediana das projeções para o IPCA segue acima de 4,5% até 2020. Para Garcia, o BC deveria ter subido a taxa básica de juros em janeiro. Por outro lado, ele admite que só o aumento de juros não é suficiente para controlar a inflação, e é necessário que o governo avance no ajuste fiscal.

O ex-¬presidente do BC e sócio da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, lembra que a taxa de juros de equilíbrio vinha caindo desde a adoção do regime de câmbio flutuante, mas o "cavalo de pau", como ficou conhecida a inversão repentina da política monetária em 2011, quando o BC iniciou um ciclo de corte de juros, mudou essa trajetória, e ela passou a subir apesar da queda do PIB potencial. Em dezembro de 2012, a taxa real de juros alcançou a mínima desde 2003 a 1,39%, quando a Selic caiu para o menor nível da história, de 7,25%. "Há algum tempo, discutia-¬se que a taxa de juros de equilíbrio estava mais próxima de 5%. Mas hoje uma taxa real de 7% pode ser pouco, porque as expectativas de inflação estão piorando", afirma Loyola.

Ele afirma que a piora das expectativas de inflação decorre não só do problema de comunicação do BC, mas pelo fato disso reforçar a expectativa de um retorno da chamada "nova matriz econômica", política adotada no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, que tinha como um dos pilares o crédito subsidiado. "É uma combinação da mudança da equipe econômica, com a saída de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda, e volta de medidas fiscais expansionistas junto com a piora da credibilidade do BC", diz.

"O BC poderia até não ter subido a taxa de juros em janeiro desde que tivesse a comunicação correta". Dada a sinalização "dovish" (menos inclinada a subir juros) do BC na ata do Copom, a Tendências prevê uma queda da taxa básica de juros em 0,25 ponto a partir de junho, encerrando o ano em 13%. Isso, contudo, deve adiar a convergência da inflação à meta. A consultoria espera um IPCA a 7% em 2016 e em 6,2% ao fim de 2017. Cortar os juros em um cenário de inflação corrente alta, na visão do economista da SulAmérica, seria "o pior dos mundos" e levaria a uma desancoragem ainda maior das expectativas de inflação.

"A inflação corrente ainda está alta e deve vir acima do que se imaginava no primeiro trimestre, o quadro fiscal continua deficitário e a turbulência no mercado internacional pode aumentar a aversão a risco e trazer pressão sobre o câmbio, o que impacta a inflação", diz, prevendo um IPCA de 7,2% em 2016 e de 4,70% em 2017. Garcia, da PUC¬Rio, também não vê espaço para um corte da taxa de juros. "Cortar a taxa de juros só vai gerar mais inflação e não terá impacto sobre a economia", afirma. "O PIB caiu 4% em 2015 enquanto a inflação corrente continua alta e as expectativas vêm piorando."

 

Brasil alcançou 'câmbio ótimo' no início deste ano, aponta estudo

Após pelo menos dez anos de forte tendência à apreciação, o câmbio nominal atingiu na primeira quinzena de janeiro a sua taxa real "ótima", ou aquela que tende a acelerar o desenvolvimento econômico por conseguir realocar recursos de modo eficiente para os setores mais produtivos. Estudo dos economistas André Nassif, Carmen Feijó e Eliane Araújo estima que a taxa real ótima em dezembro de 2015 seria de R$ 4,02, média alcançada nos quinze primeiros dias de 2016.

O trabalho cobre o período de janeiro de 1999 a julho de 2015. Naquele mês, a taxa de câmbio nominal necessária para alcançar o nível ótimo era de R$ 3,88, mas ficou abaixo disso. O ajuste até janeiro deste ano foi feito pelo método de paridade de poder de compra, segundo o qual, para preservar o valor real no tempo, a taxa de câmbio nominal deve ser corrigida pela inflação acumulada no país descontada a inflação externa.

Os autores partem do pressuposto de que não só períodos prolongados de sobrevalorização da moeda local são perniciosos ao desenvolvimento econômico, como uma pequena depreciação em termos reais tende a acelerá-¬lo. Assim, a taxa ótima seria aquela levemente depreciada (cerca de 5%) em relação à taxa neutra. O valor fica bastante próximo da taxa de equilíbrio estimada pelo mercado.

Nas contas da equipe do Goldman Sachs, essa taxa está hoje em R$ 3,80, mas o ideal, diz o diretor de pesquisa econômica para América Latina do banco, Alberto Ramos, é que ela estivesse mais depreciada, entre R$ 4,25 e R$ 4,50. "Em meio a uma recessão profundíssima, o país precisaria de um câmbio abaixo do valor neutro". Segundo o estudo, entre junho de 2003 e abril de 2005, na média, foi a última vez que a taxa ótima foi alcançada. Desde então, a firme tendência de apreciação do real só se rompeu por cerca de seis meses em setembro de 2008 e, depois disso, em alguns meses de 2013 em razão da expectativa de mudança da política monetária americana.

Há toda uma literatura que indica que a sobrevalorização da moeda reduz o crescimento econômico e isso é consenso inclusive entre os ortodoxos, diz André Nassif, professor da Universidade Federal Fluminense. Ele cita o economista Dani Rodrik, de Harvard, e John Williamson, que cunhou o termo 'Consenso de Washington', cujos estudos mais recentes apontam que uma taxa real levemente abaixo da taxa neutra tende a acelerar o crescimento, desde que as demais forças estejam favoráveis.

Mas o alcance da taxa ótima sozinho, dizem os autores, não diz muita coisa. Isso até pode fazer a alegria dos exportadores ¬ assim como a tristeza dos turistas brasileiros ¬, mas o estudo alerta que a indústria brasileira regrediu tanto na última década que não é possível esperar que o câmbio faça milagre no curto prazo. "Não podemos esquecer que há uma coisa chamada histerese", diz Nassif ao se referir ao termo derivado da física segundo o qual, perdidas suas propriedades iniciais, um material teria dificuldade de restaurar a posição inicial. "Uma coisa é recuperar o saldo comercial, outra muito diferente é reconquistar grandes mercados e ganhar fatia em setores de alta produtividade, emenda o também economista da área de planejamento do BNDES.

Ramos, do Goldman Sachs, concorda. Segundo ele, técnica de regressão usada pelo banco mostra que quando se atravessa um período muito longo de apreciação do câmbio, se perde a cultura e o 'know¬how' exportador. "É um período que deixa uma cicatriz. E para readquirir esse componente tecnológico é preciso que o câmbio se mantenha competitivo por um período prolongado", diz. A concordância entre ortodoxos e heterodoxos, porém, termina aí. Para Nassif, passada a fase de instabilidade, a autoridade monetária não pode assistir impassível ao novo ciclo de apreciação.

Para isso, deve lançar mão de os todos os instrumentos disponíveis, de políticas macroprudenciais a instrumentos de controle de capital. O estudo, então, refuta o modelo teórico ortodoxo, que supõe a supremacia do mercado para gerar os valores de equilíbrio, e defende por meio de uma abordagem estruturalista-¬keynesiana que a trajetória cambial de longo prazo é resultado da combinação de forças estruturais e de curto prazo.

"Desde 1997, quando um ataque especulativo contagiou toda a Ásia o resto do mundo, os países asiáticos fazem uma combinação de políticas para evitar isso", diz Nassif. "Devíamos seguir esse exemplo". Para Ramos, no processo de transição em que a economia está debilitada, o câmbio depreciado pode criar a oportunidade de a economia se recuperar, mas competitividade se atinge por ganhos de eficiência.

"O valor neutro não é uma âncora, é uma referência. Mais para frente, quando a economia estiver mais equilibrada, o câmbio pode iniciar outro ciclo de apreciação". Pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, centro de estudos em Washington, a economista Monica de Bolle discorda que a taxa de câmbio real seja instrumento de política econômica. "A verdade inconveniente é que a produtividade no Brasil, assim como em outros países da América Latina que não sofreram apreciações como a nossa, está em declínio ou estagnada há anos, de modo que a sugestão de que a culpa é do câmbio real me parece excessivamente simplista e carente de diagnósticos alternativos que atestem sua robustez."

 

Barbosa recebe economistas em SP para debater Previdência, ajuste e retomada

O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, esteve em São Paulo, ontem, onde teve encontros com quatro economistas: Marcos Lisboa, do Insper; Márcio Pochmann, da Fundação Perseu Abramo; Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp; e Bernard Appy, do Centro de Cidadania Fiscal. A tônica das conversas girou em torno dos temas que afligem o governo. Lisboa relatou que o debate com o ministro foi em torno "particularmente da questão fiscal e da Previdência". Belluzzo contou que a conversa foi centrada em como reanimar a economia sem abandonar o reequilíbrio fiscal.

Lisboa não quis entrar em detalhes sobre as sugestões que deu no encontro. No entanto, elencou aqueles que considera os principais problemas que originaram e agravam a atual crise. "A questão do Estado como indutor do investimento, a política de conteúdo nacional da Petrobras, por exemplo. Há também a questão da reforma da Previdência. Nosso regime é muito peculiar. Em países organizados, a idade mínima de aposentadoria é 65 anos ou mais", diz. Sobre a proposta do próprio Barbosa de estabelecer uma banda para o teto fiscal, Lisboa afirmou que "já temos problemas demais" e que "temos que enfrentar as grandes questões".

Ele criticou mais de uma vez medidas que "adiem a solução do problema". "Tivemos um grande aumento dos gastos públicos nos últimos anos, muito acima do crescimento da economia." Ele citou também o descontrole de gastos dos Estados como um problema adicional. Já segundo Belluzzo, os pontos que conduziram a conversa foram a necessidade de retomada das concessões em infraestrutura para impulsionar o crescimento econômico e a ideia de impor um teto para o gasto público e de bandas para o superávit primário A CPMF e a reforma da Previdência também fizeram parte da pauta.

Barbosa, disse Belluzzo, estava tranquilo. O ministro sabe que a situação é difícil e, no decorrer do encontro, fez várias observações sobre o que seria necessário para avançar economicamente. Como prioridade, destacou a manutenção do projeto do reequilíbrio fiscal e, ao mesmo tempo, de colocar um "paradeiro" na queda da economia, condição crucial para se fazer o ajuste. Segundo Belluzzo, o ministro tem consciência de que muitas das propostas vão depender de negociações com o Congresso, o que é considerado delicado. Mas o ministro mostrou uma visão muito realista e equilibrada, sem grandes "tormentos doutrinários". "Ele sabe que isso não funciona. Política econômica é uma coisa mais de arte do que de ciência e é preciso equilibrar objetivos", afirmou o professor da Unicamp.

Barbosa abordou, disse ele, a necessidade de se retomar de maneira "muito realista" as concessões em infraestrutura. Sem dar mais detalhes, Belluzzo disse que o ministro não falou em mudanças de regra especificamente, mas que o problema da taxa interna de retorno (TIR), considerada baixa pelo mercado em alguns projetos, foi abordado. Na opinião de Belluzzo, é possível que, rapidamente, se encontre condições para emitir debêntures para financiar em condições razoáveis.

Na área fiscal, disse Belluzzo, a percepção é que o teto para os gastos do governo e a ideia de bandas para o superávit primário não devem encontrar dificuldade de ser aceitas pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e por apoiadores do governo. "Do que jeito que estava é que se provocou um agravamento da situação fiscal", disse Belluzzo, ressaltando que entre Joaquim Levy e Nelson Barbosa houve uma importante mudança na forma de se fazer o ajuste, com muito mais consideração pelas circunstâncias. Quanto à reforma da Previdência, o ministro ressaltou durante a conversa que é preciso colocar a questão na pauta, discutir com as partes interessadas e explicar o quanto a mudança é importante. "Mas ele sabe que isso não se faz no vácuo. Tem que levar em conta as posições e interesses de cada categoria social", disse Belluzzo, ressaltando os efeitos pretendidos na mudança são de longo prazo.

Novos estímulos ao crédito não entraram na conversa. Barbosa, segundo Belluzzo, estaria apostando nas concessões em infraestrutura e também na melhoria da situação da Petrobras. Com relação à CPMF, Belluzzo disse que o ministro acredita que é preciso criar uma frente de defesa da contribuição. E que muita gente, até da oposição, acha que isso seria conveniente. Eles falaram ainda sobre a expectativa de um comportamento melhor da inflação, sobretudo a partir do segundo semestre, e que seria um bom sinal se o IPCA convergisse para os 6,5%, 7%. Quanto aos juros, concordaram que a taxa elevada pode ter um efeito negativo sobre as expectativas, mas que, nesse âmbito, não é possível atuar com "voluntarismos".

 

Secovi¬SP projeta menos lançamentos e vendas

Os lançamentos e as vendas de imóveis devem cair para patamar ainda menor em 2016, na avaliação do novo presidente do Secovi-¬SP, o Sindicato da Habitação, Flavio Amary, em função do cenário político e econômico. "Não há nenhuma expectativa de elevação nem de lançamentos, nem de vendas neste ano. Quanto mais tempo demorar a crise, maior o impacto futuro", diz o novo presidente do Secovi¬-SP, no cargo desde segunda-¬feira e com mandato previsto até 31 de janeiro de 2018.

A falta de previsibilidade pode significar, segundo o administrador de empresas formado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), prazo maior para a retomada dos investimentos por parte das incorporadoras e consequente desalinhamento entre oferta e demanda, considerando--se o ciclo longo do setor. Amary ressalta que, na cidade de São Paulo, os custos de produção serão pressionados pelo fato de o novo Plano Diretor ser mais restritivo do que o anterior. "Estamos pedindo, ao executivo municipal, medidas anti¬cíclicas para evitar descasamento entre oferta e demanda e [evitar] que quem vive em São Paulo tenha de comprar imóvel fora da cidade", diz.

Entre essas medidas, o Secovi¬-SP propõe que a implantação das novas regras do Plano Diretor e da Lei do Zoneamento ocorram de forma transitória, para que não haja "forte pressão de custos que prejudique o consumidor final". Na expectativa de Amary, neste ano, os preços de imóveis terão estabilidade em relação aos valores nominais, na média. Não é possível afirmar, segundo ele, até quando as incorporadoras continuarão a conceder descontos para reduzir estoques. "Há oportunidade para quem quer realizar o sonho da casa própria e proteger o patrimônio", diz. Futuramente, segundo ele, os custos de reposição dos imóveis farão com que "os preços deem um salto".

Os números consolidados de 2015 ainda não foram divulgados. A última estimativa da entidade era de redução de 38% no volume lançado de imóveis residenciais, na capital paulista, para 21 mil unidades, e queda de 20% nas vendas, para 17,3 mil unidades. Se as projeções forem confirmadas, as atividades do mercado imobiliário paulistano terão recuado para patamar inferior ao de 2004, ano de definição dos marcos regulatórios do setor.

Dados da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp) divulgados pelo Secovi¬-SP apontam que, no acumulado de janeiro a novembro, os lançamentos caíram 35%, enquanto as vendas tiveram queda de 5,7% ante o intervalo equivalente de 2014. No entendimento do presidente do Secovi-¬SP, o aumento do desemprego é o fator macroeconômico com maior impacto para o mercado imobiliário. "Isso faz com que as pessoas não possam comprar ou honrar a aquisição de um imóvel", diz, acrescentando que a alta do desemprego contribui para os cancelamentos de vendas. Em relação aos distratos, o setor defende que haja legislação que regule o tema. "O setor tem de vender um imóvel e não uma opção que pode ser exercida ou não."

Amary ressalta que, neste momento, é difícil para qualquer setor, fazer projeções. "Olhamos para a frente, vemos uma nuvem e não conseguimos saber o que vai acontecer na economia e na política. As pessoas têm postergado decisões de compra em geral", diz. O presidente do Secovi¬-SP defende que, atualmente, a mudança mais importante e necessária a ser feita pelo governo é a redução dos gastos públicos. Questionado se acredita que a presidente Dilma Rousseff chegará ao fim do mandato, o presidente do Secovi¬-SP disse que entidades não devem ter características partidárias. "O que defendemos é uma solução para que o país tenha governabilidade. Precisamos de uma solução, no curto prazo, seja qual for", afirma.CLIPPING (05.02.2016)

TRIBUNA DO NORTE

Caderneta de poupança tem saque recorde de R$ 12 bi em janeiro

A caderneta de poupança teve saída líquida de R$ 12,032 bilhões em janeiro, pior dado mensal da série histórica do Banco Central. O resultado ocorre em meio à continuidade de um cenário de restrição orçamentária, devido à recessão, à elevação do desemprego, à inflação e a condições mais caras de financiamento.

A perda de janeiro representou o desempenho mais fraco para todos os meses da série do BC, iniciada em 1995, à frente da saída líquida de R$ 11,438 bilhões sofrida pela poupança em março do ano passado.

O saque de recursos tem consequências para o financiamento imobiliário, uma vez que as regras do SFH (Sistema Financeiro da Habitação) determinam que parte dos depósitos da caderneta de poupança seja direcionada ao crédito habitacional.

No acumulado de 2015, a poupança viu os resgates excederem os aportes em uma cifra recorde de R$ 53368 bilhões, refletindo a pressão para a retirada de recursos em meio à derrocada da economia, que deve persistir neste ano.

Em outra frente, a tradicional caderneta também perde atratividade como alternativa de investimento diante dos juros em níveis elevados, oferecendo rentabilidade inferior à de aplicações que têm retorno baseado na Selic.

A taxa básica de juros se mantém em 14,25% ao ano desde julho do ano passado. A poupança, por outro lado, entrega remuneração de 6,17% ao ano mais um pequeno acréscimo da TR (Taxa Referencial).

 

COLUNA DE LUIZ ANTONIO

Liberdade pra gastar

O governo federal quer cerca de R$ 120 bilhões, do Orçamento de 2016, para aplicar onde julgar mais adequado, sem aplicações mínimas determinadas em lei para áreas como saúde e educação. Isso é possível através da Desvinculação de Receitas da União (DRU), criado em 1994, esse mecanismo permite a flexibilização dos recursos, mas precisa ser aprovado pelo Congresso. Entre os especialistas, há defensores da medida, que alegam uma melhor gestão das verbas através desse sistema; e há quem veja nela uma piora do fluxo do dinheiro para atendimento à população.

Poupança

Nem a população brasileira tem condições de guardar mais o dinheiro que sobrava. A caderneta de poupança perde R$ 12 bilhões em janeiro – saques menos depósitos -, no pior mês desde 1995. O brasileiro tá sacando para pagar contas mais caras e para se manter.

 

O GLOBO

Créditos 'podres' chineses preocupam o mundo

O nível de inadimplência ou atraso de pagamento de empréstimos por corporações e pessoas físicas em todo mundo, os créditos "podres" vem tirando o sono de investidores, governos e analistas - inclusive o FMI. Com forte impacto na atividade econômica, a dimensão sistêmica do problema se tomou evidente após a crise global de 2008, e nos últimos meses ganhou tons alarmantes, sobretudo na China, onde especialistas estimam que o volume de empréstimos duvidosos pode ultrapassar os US$ 5 trilhões, o equivalente à metade do PIB. Não à toa, o mercado de ações chinês vem caindo com força nos últimos meses.

A origem do problema está nas políticas expansionistas, mediante a concessão de crédito fácil, usadas por vários governos para estimular o crescimento econômico. A facilidade de acesso ao crédito, porém, acaba formando bolhas. Quando estouram, os bancos param de emprestar e elevam os juros para conter sua exposição a maus pagadores, piorando a situação econômica geral.

O Brasil é exemplar. Após anos de farra no crédito para financiar a política expansionista do governo - denominada de "nova matriz econômica" - o país agora vive uma forte recessão. E quer sair dela com mais crédito.

Nos EUA, o nível de inadimplência no setor imobiliário, um dos estopins da crise global de 2008, só começou a recuar recentemente. No setor energético, após obterem acesso a dinheiro barato, as empresas que investiram na produção de gás não convencional hoje penam para quitar dívidas com a queda dos preços do petróleo. Na Europa, o volume total de empréstimos duvidosos supera US$ 1 trilhão, e a exposição dos bancos europeus à inadimplência é um dos entraves à recuperação da economia.

Mas é a China que assombra o mundo devido ao tamanho de sua economia. O país vem deslocando sua matriz econômica dos pesados investimentos em infraestrutura para o consumo interno. Isso, porém, não evitou uma forte desaceleração, com impacto na economia global, sobretudo na de emergentes dependentes do apetite chinês por matérias-primas e commodities, o Brasil entre eles. Os investidores temem que a desaceleração chinesa tenha impacto desastroso no setor bancário, que opera em parte na sombra e encontra-se inundado por empréstimos duvidosos.

Apesar das incertezas em tomo de suas estatísticas econômicas, uma analista do Autonomous Research disse ao "New York Times" que o volume total de empréstimos do mercado chinês será de US$ 30 trilhões no fim do ano. Há sete anos, esse número era de apenas US$ 9 trilhões. Segundo ela, uma expansão de tal magnitude do crédito em tão pouco tempo é inédita, com impacto no preço de ativos financeiros de todo o mundo.

Mas, apesar do fantasma chinês, o dilema continua sendo relativamente simples: a calibragem entre crescimento econômico e saúde fiscal.

 

EXAME

Inflação é de 1,27% em janeiro e chega a 10,71% em 12 meses

São Paulo - O IPCA (Índice Preços ao Consumidor Amplo) foi de 1,27% em janeiro, informou hoje o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

É a maior taxa para janeiro desde 2003, quando foi de 2,25%, e também ficou acima de dezembro, quando foi de 0,96%.

Com isso, o acumulado da inflação nos últimos 12 meses chegou a 10,71%, o mais alto desde novembro de 2003 (quando chegou a 11,02%).

A taxa anualizada também está bem acima da meta do governo, que é de 4,5% com tolerância de dois pontos percentuais para cima (6,5%) ou para baixo (2,5%).

Dos 9 grupos pesquisados, 6 tiveram alta em relação ao mês anterior e 3 tiveram queda. No grupo Vestuário foi registrada queda de preços.

Grupos

O grande responsável pela taxa de janeiro foi o grupo Alimentação e Bebidas, de maior peso relativo no índice, que pulou de 1,50% em dezembro para 2,28% em janeiro.

Não havia registro de taxa tão alta desde dezembro de 2002 (3,91%) e sozinho, o grupo contribuiu com 0,57 ponto percentual no IPCA do mês.

Os produtos para consumo em casa aumentaram 2,89% enquanto a alimentação fora de casa subiu 1,12%. Entre as maiores altas no mês destacam-se a cenoura (32%), o tomate (27%), a cebola (22%) e a batata-inglesa (14%).

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)informou ontem que o seu índice de preços de alimentos chegou em janeiro no seu nível mais baixo dos últimos sete anos.

O grupo Transportes também subiu - de 1,36% para 1,77% - e foi responsável por 0,33 de impacto no índice do mês. A alta foi puxada pelo transporte público, com aumento de 3,84%, e pelos combustíveis, que subiram 2,11%.

Janeiro teve reajuste dos ônibus urbanos em 6 das 13 regiões pesquisadas, incluindo São Paulo (8,57%), Rio de Janeiro (11,7%) e Belo Horizonte (8,82%).

Os intermunicipais também subiram em 5 regiões, assim como os táxis. Em São Paulo, também pesou o reajuste do metrô.

Nos outros grupos, chamam a atenção altas em itens como excursão (6,98%), cigarro (3,81%), TV, Som e Informática (2,12%) e Artigos de limpeza (1,86%).

 

IGP-DI sobe 1,53% em janeiro

O Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) sofreu pressão generalizada e acelerou a alta a 1,53 por cento em janeiro, contra 0,44 por cento no mês anterior, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV) nesta sexta-feira.

A leitura ficou acima da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 1,28 por cento.

De acordo com a FGV, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-DI) registrou alta de 1,63 por cento em janeiro, contra 0,33 por cento no mês anterior. O índice responde por 60 por cento do IGP-DI.

Somente os preços dos produtos industriais passaram de uma queda de 0,14 por cento em dezembro para uma alta de 1,24 por cento no mês passado.

Já o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-DI) acelerou a alta a 1,78 por cento, após 0,88 por cento em dezembro. O índice mede a evolução dos preços às famílias com renda entre um e 33 salários mínimos mensais e corresponde a 30 por cento do IGP-DI.

A maior contribuição para o resultado mensal do IPC-DI foi dada por Educação, Leitura e Recreação, cujos preços dispararam 5,08 por cento no primeiro mês do ano, após avanço de 0,80 por cento em dezembro, pressionados por cursos formais.

O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-DI), por sua vez, subiu 0,39 por cento em janeiro, após avançar 0,10 por cento O índice representa 10 por cento do IGP-DI.

O IGP-DI é usado como referência para correções de preços e valores contratuais. Também é diretamente empregado no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) e das contas nacionais em geral.

 

Afinal, o Banco Central acertou em não subir o juro?

Duas semanas após a controvertida decisão do Copom de manter a taxa Selic estável, o comportamento dos juros futuros sugere que o mercado está assimilando o fato de que o cenário externo abre espaço para uma postura mais branda do BC.

O contrato de DI para janeiro de 2017 já acumula queda de 63 pontos desde que o Copom manteve a Selic em 14,25%.

E as apostas em alta da Selic passaram de majoritárias a marginais.

 “Não dá para afirmar se foi uma medida certa. Esta ainda é uma questão em aberto”, diz o economista-chefe para América Latina do ING, Gustavo Rangel, ao comentar a decisão do Copom.

Rangel reconhece, contudo, que o aumento da turbulência externa joga a favor do argumento usado pelo BC para não elevar o juro citando o aumento da incerteza global. ”A retórica do BC se torna mais crível.”

Para Rangel, o problema maior não foi o BC ter mantido o juro, mas sim ter sinalizado a decisão abruptamente, em cima da data da reunião do Copom, contrariando sua própria indicação anterior de que as taxas poderiam subir.

“Não havia consenso sobre a alta dos juros. O consenso se formou porque o BC sinalizou”, diz o economista.

Embora a curva de juros tenha se inclinado logo depois do Copom, com o mercado antecipando uma piora da inflação futura após o BC não subir os juros, este movimento refluiu.

A queda recente dos juros futuros ocorre ao mesmo tempo em que o dólar perde força. O real tem se beneficiado do enfraquecimento da moeda americana após eventos ocorridos depois do Copom reforçarem o cenário de juros baixos no mundo desenvolvido: o BC japonês adotou juros negativos, o BC europeu acenou com mais estímulos e dados abaixo do previsto nos EUA colocaram em dúvida a alta dos juros programada pelo Federal Reserve.

A assessoria de imprensa do BC disse que o banco não comenta movimentos dos mercados e nem decisões de outros bancos centrais.

“Pela conjuntura, o mercado está aceitando a decisão do BC”, diz Paulo Henrique Gouveia, operador de câmbio da Ativa Corretora. Segundo ele, investidores externos estariam entrando no Brasil para aproveitar o nível de juros, que segue elevado mesmo após o BC contrariar as apostas de alta da Selic. Este fluxo, diz o operador, ajudaria a explicar a queda do dólar, que tem sido mais acentuada contra o real do que contra outras moedas recentemente.

Normalmente, quando um BC é questionado, a moeda do país se enfraquece. O dólar, porém, subiu contra o real no dia seguinte ao Copom, mas perdeu força nas duas semanas posteriores, caindo respectivamente 2,3% e 3,5% ante a divisa brasileira. E a queda prossegue nesta semana, levando alguns analistas e operadores a questionarem se o movimento não seria excessivo diante da conjuntura ainda complicada da economia brasileira. A possibilidade de o BNDES estar zerando operações de hedge cambial, que já teria ajudado a derrubar o dólar em janeiro, volta a ser citada por operadores.

Rangel, do ING, estima IPCA de 8% este ano e 6% em 2017 - ambas as previsões acima do objetivo do BC - e PIB de -4% em 2015 e -3% este ano. Embora espere cortes da Selic apenas para o 4º trimestre, o economista avalia que as pressões por redução do juro podem aumentar a partir do 1º trimestre, quando o pico da inflação deve passar. “A partir daí, as pressões podem crescer, pois a economia tende a piorar.”

VALOR ECONÔMICO

Juro real recua mesmo com Selic estável

Num momento em que o mercado já discute a possibilidade de corte da taxa Selic, a análise do nível do juro real do país sugere que a política monetária precisaria endurecer para levar a inflação para o centro da meta em 2017. Após a decisão do Banco Central de manter a taxa básica em 14,25% ao ano, o juro real caiu para 7,28%, e está nos menores níveis desde maio de 2015, quando a Selic estava em 13,25%. Ao mesmo tempo, economistas estimam que a taxa real de equilíbrio ¬ aquela que permite crescimento sem gerar inflação ¬ subiu por causa da deterioração dos fundamentos.

Esse quadro indica que, mesmo com a retração da atividade econômica e do aumento do chamado hiato do produto [distância entre o PIB potencial e o PIB efetivo] é preciso ter uma taxa de juros real maior para levar a inflação à meta. A taxa de juros real, obtida pela diferença entre o contrato de "swap" com prazo de 360 dias ¬ que projeta a taxa de juros um ano à frente ¬ e o IPCA projetado 12 meses à frente, vem caindo à medida que as expectativas de inflação sobem, movimento que se intensificou após o BC sinalizar que a Selic deve seguir inalterada por enquanto.

Ao mesmo tempo em que essa taxa cai, o juro real de equilíbrio avança e já está mais perto de 7%, observa o superintendente do departamento econômico do Citi Brasil, Marcelo Kfoury, dada a piora dos fundamentos macroeconômicos e da percepção de risco em relação ao Brasil. Ele lembra que o Credit Default Swap (CDS) de cinco anos do Brasil ¬ que mede o risco de calote da dívida soberana dos países ¬ passou de 235 pontos-¬base em fevereiro de 2015 para 475 pontos¬base atualmente. "Com isso, se o juro real continuar a cair, as expectativas de inflação subirem e o fiscal seguir expansionista podemos ter uma inversão da política monetária [em direção a um afrouxamento] mesmo com a manutenção dos juro em 14,25%."

Para ele, a taxa de juros real deveria subir na mesma proporção das expectativas de inflação. "O BC deveria ter subido a taxa de juros em janeiro dado o aumento da percepção de risco e o impasse na política fiscal e econômica", afirma O economista-¬chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, também concorda que a taxa de juros de equilíbrio está mais alta hoje. Economistas estimavam que esse juro de equilíbrio estava ao redor de 5% até o começo do segundo semestre de 2015, quando a percepção de risco do país piorou por causa do quadro fiscal. Assim, afirma, a taxa real deveria estar mais alta pois a piora das expectativas de inflação enfraqueceu boa parte do efeito contracionista que estava em curso.

"As expectativas estão totalmente desancoradas e o juro real não é compatível com o objetivo de buscar a convergência da inflação em 2017", diz, prevendo um IPCA de 7,2% em 2016 e de 4,70% em 2017. O professor do Departamento de Economia da PUC¬Rio, Márcio Garcia, destaca que o enfraquecimento da credibilidade do BC, que foi intensificado após a mudança da sinalização em relação à política monetária na véspera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de janeiro, faz com que seja necessário um juro real maior para conter as expectativas e levar a inflação à meta. "Quanto maior a credibilidade da política monetária menor o esforço necessário em termos de alta de juros e, nesse aspecto, o BC vem perdendo credibilidade, uma vez que desde 2010 vem descumprindo a meta de inflação [de 4,5%]", afirma.

Um dos reflexos disso, segundo ele, é a piora das expectativas de inflação para prazos mais longos. De acordo com a última pesquisa Focus, com a coleta de dados representantes do mercado, a mediana das projeções para o IPCA segue acima de 4,5% até 2020. Para Garcia, o BC deveria ter subido a taxa básica de juros em janeiro. Por outro lado, ele admite que só o aumento de juros não é suficiente para controlar a inflação, e é necessário que o governo avance no ajuste fiscal.

O ex-¬presidente do BC e sócio da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, lembra que a taxa de juros de equilíbrio vinha caindo desde a adoção do regime de câmbio flutuante, mas o "cavalo de pau", como ficou conhecida a inversão repentina da política monetária em 2011, quando o BC iniciou um ciclo de corte de juros, mudou essa trajetória, e ela passou a subir apesar da queda do PIB potencial. Em dezembro de 2012, a taxa real de juros alcançou a mínima desde 2003 a 1,39%, quando a Selic caiu para o menor nível da história, de 7,25%. "Há algum tempo, discutia-¬se que a taxa de juros de equilíbrio estava mais próxima de 5%. Mas hoje uma taxa real de 7% pode ser pouco, porque as expectativas de inflação estão piorando", afirma Loyola.

Ele afirma que a piora das expectativas de inflação decorre não só do problema de comunicação do BC, mas pelo fato disso reforçar a expectativa de um retorno da chamada "nova matriz econômica", política adotada no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, que tinha como um dos pilares o crédito subsidiado. "É uma combinação da mudança da equipe econômica, com a saída de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda, e volta de medidas fiscais expansionistas junto com a piora da credibilidade do BC", diz.

"O BC poderia até não ter subido a taxa de juros em janeiro desde que tivesse a comunicação correta". Dada a sinalização "dovish" (menos inclinada a subir juros) do BC na ata do Copom, a Tendências prevê uma queda da taxa básica de juros em 0,25 ponto a partir de junho, encerrando o ano em 13%. Isso, contudo, deve adiar a convergência da inflação à meta. A consultoria espera um IPCA a 7% em 2016 e em 6,2% ao fim de 2017. Cortar os juros em um cenário de inflação corrente alta, na visão do economista da SulAmérica, seria "o pior dos mundos" e levaria a uma desancoragem ainda maior das expectativas de inflação.

"A inflação corrente ainda está alta e deve vir acima do que se imaginava no primeiro trimestre, o quadro fiscal continua deficitário e a turbulência no mercado internacional pode aumentar a aversão a risco e trazer pressão sobre o câmbio, o que impacta a inflação", diz, prevendo um IPCA de 7,2% em 2016 e de 4,70% em 2017. Garcia, da PUC¬Rio, também não vê espaço para um corte da taxa de juros. "Cortar a taxa de juros só vai gerar mais inflação e não terá impacto sobre a economia", afirma. "O PIB caiu 4% em 2015 enquanto a inflação corrente continua alta e as expectativas vêm piorando."

 

Brasil alcançou 'câmbio ótimo' no início deste ano, aponta estudo

Após pelo menos dez anos de forte tendência à apreciação, o câmbio nominal atingiu na primeira quinzena de janeiro a sua taxa real "ótima", ou aquela que tende a acelerar o desenvolvimento econômico por conseguir realocar recursos de modo eficiente para os setores mais produtivos. Estudo dos economistas André Nassif, Carmen Feijó e Eliane Araújo estima que a taxa real ótima em dezembro de 2015 seria de R$ 4,02, média alcançada nos quinze primeiros dias de 2016.

O trabalho cobre o período de janeiro de 1999 a julho de 2015. Naquele mês, a taxa de câmbio nominal necessária para alcançar o nível ótimo era de R$ 3,88, mas ficou abaixo disso. O ajuste até janeiro deste ano foi feito pelo método de paridade de poder de compra, segundo o qual, para preservar o valor real no tempo, a taxa de câmbio nominal deve ser corrigida pela inflação acumulada no país descontada a inflação externa.

Os autores partem do pressuposto de que não só períodos prolongados de sobrevalorização da moeda local são perniciosos ao desenvolvimento econômico, como uma pequena depreciação em termos reais tende a acelerá-¬lo. Assim, a taxa ótima seria aquela levemente depreciada (cerca de 5%) em relação à taxa neutra. O valor fica bastante próximo da taxa de equilíbrio estimada pelo mercado.

Nas contas da equipe do Goldman Sachs, essa taxa está hoje em R$ 3,80, mas o ideal, diz o diretor de pesquisa econômica para América Latina do banco, Alberto Ramos, é que ela estivesse mais depreciada, entre R$ 4,25 e R$ 4,50. "Em meio a uma recessão profundíssima, o país precisaria de um câmbio abaixo do valor neutro". Segundo o estudo, entre junho de 2003 e abril de 2005, na média, foi a última vez que a taxa ótima foi alcançada. Desde então, a firme tendência de apreciação do real só se rompeu por cerca de seis meses em setembro de 2008 e, depois disso, em alguns meses de 2013 em razão da expectativa de mudança da política monetária americana.

Há toda uma literatura que indica que a sobrevalorização da moeda reduz o crescimento econômico e isso é consenso inclusive entre os ortodoxos, diz André Nassif, professor da Universidade Federal Fluminense. Ele cita o economista Dani Rodrik, de Harvard, e John Williamson, que cunhou o termo 'Consenso de Washington', cujos estudos mais recentes apontam que uma taxa real levemente abaixo da taxa neutra tende a acelerar o crescimento, desde que as demais forças estejam favoráveis.

Mas o alcance da taxa ótima sozinho, dizem os autores, não diz muita coisa. Isso até pode fazer a alegria dos exportadores ¬ assim como a tristeza dos turistas brasileiros ¬, mas o estudo alerta que a indústria brasileira regrediu tanto na última década que não é possível esperar que o câmbio faça milagre no curto prazo. "Não podemos esquecer que há uma coisa chamada histerese", diz Nassif ao se referir ao termo derivado da física segundo o qual, perdidas suas propriedades iniciais, um material teria dificuldade de restaurar a posição inicial. "Uma coisa é recuperar o saldo comercial, outra muito diferente é reconquistar grandes mercados e ganhar fatia em setores de alta produtividade, emenda o também economista da área de planejamento do BNDES.

Ramos, do Goldman Sachs, concorda. Segundo ele, técnica de regressão usada pelo banco mostra que quando se atravessa um período muito longo de apreciação do câmbio, se perde a cultura e o 'know¬how' exportador. "É um período que deixa uma cicatriz. E para readquirir esse componente tecnológico é preciso que o câmbio se mantenha competitivo por um período prolongado", diz. A concordância entre ortodoxos e heterodoxos, porém, termina aí. Para Nassif, passada a fase de instabilidade, a autoridade monetária não pode assistir impassível ao novo ciclo de apreciação.

Para isso, deve lançar mão de os todos os instrumentos disponíveis, de políticas macroprudenciais a instrumentos de controle de capital. O estudo, então, refuta o modelo teórico ortodoxo, que supõe a supremacia do mercado para gerar os valores de equilíbrio, e defende por meio de uma abordagem estruturalista-¬keynesiana que a trajetória cambial de longo prazo é resultado da combinação de forças estruturais e de curto prazo.

"Desde 1997, quando um ataque especulativo contagiou toda a Ásia o resto do mundo, os países asiáticos fazem uma combinação de políticas para evitar isso", diz Nassif. "Devíamos seguir esse exemplo". Para Ramos, no processo de transição em que a economia está debilitada, o câmbio depreciado pode criar a oportunidade de a economia se recuperar, mas competitividade se atinge por ganhos de eficiência.

"O valor neutro não é uma âncora, é uma referência. Mais para frente, quando a economia estiver mais equilibrada, o câmbio pode iniciar outro ciclo de apreciação". Pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, centro de estudos em Washington, a economista Monica de Bolle discorda que a taxa de câmbio real seja instrumento de política econômica. "A verdade inconveniente é que a produtividade no Brasil, assim como em outros países da América Latina que não sofreram apreciações como a nossa, está em declínio ou estagnada há anos, de modo que a sugestão de que a culpa é do câmbio real me parece excessivamente simplista e carente de diagnósticos alternativos que atestem sua robustez."

 

Barbosa recebe economistas em SP para debater Previdência, ajuste e retomada

O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, esteve em São Paulo, ontem, onde teve encontros com quatro economistas: Marcos Lisboa, do Insper; Márcio Pochmann, da Fundação Perseu Abramo; Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp; e Bernard Appy, do Centro de Cidadania Fiscal. A tônica das conversas girou em torno dos temas que afligem o governo. Lisboa relatou que o debate com o ministro foi em torno "particularmente da questão fiscal e da Previdência". Belluzzo contou que a conversa foi centrada em como reanimar a economia sem abandonar o reequilíbrio fiscal.

Lisboa não quis entrar em detalhes sobre as sugestões que deu no encontro. No entanto, elencou aqueles que considera os principais problemas que originaram e agravam a atual crise. "A questão do Estado como indutor do investimento, a política de conteúdo nacional da Petrobras, por exemplo. Há também a questão da reforma da Previdência. Nosso regime é muito peculiar. Em países organizados, a idade mínima de aposentadoria é 65 anos ou mais", diz. Sobre a proposta do próprio Barbosa de estabelecer uma banda para o teto fiscal, Lisboa afirmou que "já temos problemas demais" e que "temos que enfrentar as grandes questões".

Ele criticou mais de uma vez medidas que "adiem a solução do problema". "Tivemos um grande aumento dos gastos públicos nos últimos anos, muito acima do crescimento da economia." Ele citou também o descontrole de gastos dos Estados como um problema adicional. Já segundo Belluzzo, os pontos que conduziram a conversa foram a necessidade de retomada das concessões em infraestrutura para impulsionar o crescimento econômico e a ideia de impor um teto para o gasto público e de bandas para o superávit primário A CPMF e a reforma da Previdência também fizeram parte da pauta.

Barbosa, disse Belluzzo, estava tranquilo. O ministro sabe que a situação é difícil e, no decorrer do encontro, fez várias observações sobre o que seria necessário para avançar economicamente. Como prioridade, destacou a manutenção do projeto do reequilíbrio fiscal e, ao mesmo tempo, de colocar um "paradeiro" na queda da economia, condição crucial para se fazer o ajuste. Segundo Belluzzo, o ministro tem consciência de que muitas das propostas vão depender de negociações com o Congresso, o que é considerado delicado. Mas o ministro mostrou uma visão muito realista e equilibrada, sem grandes "tormentos doutrinários". "Ele sabe que isso não funciona. Política econômica é uma coisa mais de arte do que de ciência e é preciso equilibrar objetivos", afirmou o professor da Unicamp.

Barbosa abordou, disse ele, a necessidade de se retomar de maneira "muito realista" as concessões em infraestrutura. Sem dar mais detalhes, Belluzzo disse que o ministro não falou em mudanças de regra especificamente, mas que o problema da taxa interna de retorno (TIR), considerada baixa pelo mercado em alguns projetos, foi abordado. Na opinião de Belluzzo, é possível que, rapidamente, se encontre condições para emitir debêntures para financiar em condições razoáveis.

Na área fiscal, disse Belluzzo, a percepção é que o teto para os gastos do governo e a ideia de bandas para o superávit primário não devem encontrar dificuldade de ser aceitas pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e por apoiadores do governo. "Do que jeito que estava é que se provocou um agravamento da situação fiscal", disse Belluzzo, ressaltando que entre Joaquim Levy e Nelson Barbosa houve uma importante mudança na forma de se fazer o ajuste, com muito mais consideração pelas circunstâncias. Quanto à reforma da Previdência, o ministro ressaltou durante a conversa que é preciso colocar a questão na pauta, discutir com as partes interessadas e explicar o quanto a mudança é importante. "Mas ele sabe que isso não se faz no vácuo. Tem que levar em conta as posições e interesses de cada categoria social", disse Belluzzo, ressaltando os efeitos pretendidos na mudança são de longo prazo.

Novos estímulos ao crédito não entraram na conversa. Barbosa, segundo Belluzzo, estaria apostando nas concessões em infraestrutura e também na melhoria da situação da Petrobras. Com relação à CPMF, Belluzzo disse que o ministro acredita que é preciso criar uma frente de defesa da contribuição. E que muita gente, até da oposição, acha que isso seria conveniente. Eles falaram ainda sobre a expectativa de um comportamento melhor da inflação, sobretudo a partir do segundo semestre, e que seria um bom sinal se o IPCA convergisse para os 6,5%, 7%. Quanto aos juros, concordaram que a taxa elevada pode ter um efeito negativo sobre as expectativas, mas que, nesse âmbito, não é possível atuar com "voluntarismos".

 

Secovi¬SP projeta menos lançamentos e vendas

Os lançamentos e as vendas de imóveis devem cair para patamar ainda menor em 2016, na avaliação do novo presidente do Secovi-¬SP, o Sindicato da Habitação, Flavio Amary, em função do cenário político e econômico. "Não há nenhuma expectativa de elevação nem de lançamentos, nem de vendas neste ano. Quanto mais tempo demorar a crise, maior o impacto futuro", diz o novo presidente do Secovi¬-SP, no cargo desde segunda-¬feira e com mandato previsto até 31 de janeiro de 2018.

A falta de previsibilidade pode significar, segundo o administrador de empresas formado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), prazo maior para a retomada dos investimentos por parte das incorporadoras e consequente desalinhamento entre oferta e demanda, considerando--se o ciclo longo do setor. Amary ressalta que, na cidade de São Paulo, os custos de produção serão pressionados pelo fato de o novo Plano Diretor ser mais restritivo do que o anterior. "Estamos pedindo, ao executivo municipal, medidas anti¬cíclicas para evitar descasamento entre oferta e demanda e [evitar] que quem vive em São Paulo tenha de comprar imóvel fora da cidade", diz.

Entre essas medidas, o Secovi¬-SP propõe que a implantação das novas regras do Plano Diretor e da Lei do Zoneamento ocorram de forma transitória, para que não haja "forte pressão de custos que prejudique o consumidor final". Na expectativa de Amary, neste ano, os preços de imóveis terão estabilidade em relação aos valores nominais, na média. Não é possível afirmar, segundo ele, até quando as incorporadoras continuarão a conceder descontos para reduzir estoques. "Há oportunidade para quem quer realizar o sonho da casa própria e proteger o patrimônio", diz. Futuramente, segundo ele, os custos de reposição dos imóveis farão com que "os preços deem um salto".

Os números consolidados de 2015 ainda não foram divulgados. A última estimativa da entidade era de redução de 38% no volume lançado de imóveis residenciais, na capital paulista, para 21 mil unidades, e queda de 20% nas vendas, para 17,3 mil unidades. Se as projeções forem confirmadas, as atividades do mercado imobiliário paulistano terão recuado para patamar inferior ao de 2004, ano de definição dos marcos regulatórios do setor.

Dados da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp) divulgados pelo Secovi¬-SP apontam que, no acumulado de janeiro a novembro, os lançamentos caíram 35%, enquanto as vendas tiveram queda de 5,7% ante o intervalo equivalente de 2014. No entendimento do presidente do Secovi-¬SP, o aumento do desemprego é o fator macroeconômico com maior impacto para o mercado imobiliário. "Isso faz com que as pessoas não possam comprar ou honrar a aquisição de um imóvel", diz, acrescentando que a alta do desemprego contribui para os cancelamentos de vendas. Em relação aos distratos, o setor defende que haja legislação que regule o tema. "O setor tem de vender um imóvel e não uma opção que pode ser exercida ou não."

Amary ressalta que, neste momento, é difícil para qualquer setor, fazer projeções. "Olhamos para a frente, vemos uma nuvem e não conseguimos saber o que vai acontecer na economia e na política. As pessoas têm postergado decisões de compra em geral", diz. O presidente do Secovi¬-SP defende que, atualmente, a mudança mais importante e necessária a ser feita pelo governo é a redução dos gastos públicos. Questionado se acredita que a presidente Dilma Rousseff chegará ao fim do mandato, o presidente do Secovi¬-SP disse que entidades não devem ter características partidárias. "O que defendemos é uma solução para que o país tenha governabilidade. Precisamos de uma solução, no curto prazo, seja qual for", afirma.

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