Sexta-feira

JORNAL O GLOBO

Crédito imobiliário no Brasil cai 53,8% em outubro, para R$4,7 bi em outubro

RIO DE JANEIRO - O volume de empréstimos para aquisição e construção de imóveis recuou 53,8 por cento em outubro ante o mesmo mês do ano passado, para 4,7 bilhões de reais, informou a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário (Abecip) nesta quinta-feira.

Em relação a setembro, a queda foi de 13,1 por cento.

"Além da persistência de condições macroeconômicas adversas, a greve dos bancários estendeu-se por boa parte de outubro, afetando a abertura e o funcionamento de agências, bem como as operações de financiamento imobiliário", disse a Abecip em nota.

Os recursos financiaram a aquisição e construção de 20,4 mil imóveis em outubro, queda de 55,8 por cento ante 2014 e de 18,5 por cento frente a setembro.

No acumulado do ano, foram destinados 66,7 bilhões de reais para a aquisição e a construção de imóveis, 28,4 por cento a menos que no mesmo período do ano passado. O montante equivale a 301,5 mil unidades, volume 32,6 por cento menor frente ao mesmo período de 2014.

 

TRIBUNA DO NORTE

COLUNA DE LUIZ ANTONIO

Desequilíbrio piora

A dívida interna já é alarmante, agora vem o  rombo nas contas externas que subiu 35,44% em outubro e e, no ano, chega a US$ 53,5 bilhões. A  diferença das transações de mercadorias e serviços do Brasil com os outros países ficou negativa em US$ 4,166 bilhões em outubro, segundo dados do Banco Central. No acumulado de 12 meses, o saldo é negativo em US$ 74,2 bilhões, equivalente a 4,02% do PIB (Produto Interno Bruto). Para o ano, o BC estima que o saldo negativo será de US$ 65 bilhões, contra US$ 104,076 bilhões em 2014.

Moeda

O gasto de brasileiros nas viagens internacionais recua 30% até outubro. No mês passado os gastos somaram US$ 1 bilhão, enquanto em outubro de 2014 chegaram a US$ 2,1 bilhões. A classe média está viajando menos e as companhias aéreas suspendendo vôos.

 

VALOR ECONÔMICO

Financiamento cresce em quatro anos, mas muda de rota em 2015

Um balanço ainda parcial mostra que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desembolsou, entre janeiro e outubro de 2015, um total de R$ 23 bilhões para projetos da Economia Verde, classificação internacional para projetos que proporcionam a redução de emissões de gases de efeito-estufa no meio ambiente.

No ano passado inteiro, o banco desembolsou R$ 28 bilhões para Economia Verde, com crescimento de 50% no período de quatro anos (2011-2014). A principal fonte dos recursos é o orçamento do próprio banco, composto pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), retorno dos empréstimos e captações junto a agências internacionais como a japonesa JBIC e a alemã KfW.

José Guilherme da Rocha Cardoso, chefe de departamento da área de meio ambiente do banco, explica que os números finais ainda estão sendo calculados, mas já se sabe que os valores foram reduzidos e devem fechar 2015 abaixo de 2014.

O motivo é a alteração na política operacional anunciada em dezembro de 2014, pela qual a participação do banco nos financiamentos caiu de 80% para 70%. "Mas a área de meio ambiente foi a menos prejudicada e nos últimos doze meses os desembolsos cresceram 8%", afirma Cardoso.

Os projetos contemplados incluem energias renováveis (biocombustíveis, hidrelétrica, eólica e solar), eficiência energética, mobilidade urbana (transporte ferroviário, metroviário e navegação), gestão de água e esgoto e resíduos sólidos e melhorias agrícolas (produção agropecuária sustentável, recuperação florestal, armazenamento ambiental, reservas hídricas, entre outros).

Cardoso destaca os programas na área de reflorestamento, como o Fundo Amazônia, que realiza operações não-reembolsáveis com recursos obtidos de doações. De acordo com informações do site do banco, as doações somam atualmente R$ 2 bilhões, dos quais 96% provenientes do governo da Noruega, 3% do banco de desenvolvimento da Alemanha (KfW) e 1% da Petrobras.

Desse total, R$ 1,2 bilhão estão aprovados para uma carteira de 75 projetos. Além de conservação, combate a incêndios, controle territorial e cadastramento de imóveis rurais, o fundo tem cinco outros com foco exclusivo em populações indígenas na Amazônia Legal.

A experiência com o Fundo Amazônia será apresentada pelo banco em sua participação na CoP-21. Em um estande que o banco manterá aberto durante a conferência, serão apresentados ainda 14 projetos de restauração de três mil hectares de Mata Atlântica por instituições que atenderam a uma chamada pública realizada em 2009.

Segundo Cardoso, apesar da queda da atividade econômica, os projetos de renovação florestal despontam entre os demais com uma demanda crescente por parte de empresas. "Com o Código Florestal indicando a necessidade de cadastramento rural e recuperação de APP (Áreas de Proteção Ambiental), as empresas devem pedir mais recursos ao banco".

O BNDES participa ainda como agente do Fundo Clima, um programa do governo federal para financiar projetos, estudos e empreendimentos cujo objetivo seja a mitigação de efeitos das mudanças climáticas. O Fundo Clima é parte da Política Nacional sobre Mudança do Clima, criado pela Lei 12.114/2009, regulamentado pelo Decreto 7.343/2010 e sua dotação orçamentária é de R$ 560 milhões.

Já o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) aprovou em outubro uma nova linha de financiamento para ajudar instituições financeiras da América Latina e Caribe no enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas. Os recursos, num total de US$ 840 milhões (US$ 700 milhões do banco e US$ 140 milhões em contrapartida do país), servirão para implementar estratégias e sistemas de governança nos portfólios dessas instituições, com o desenvolvimento de produtos e serviços para abordar a mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Segundo informações disponíveis no site do BID, a linha de financiamento faz parte do programa "BeyondBanking", do Departamento de Finanças Estruturadas (SCF na sigla em inglês), que visa ampliar e aprofundar as relações do BID com essas instituições, ao mesmo tempo elevar seu conhecimento sobre os instrumentos de financiamento climático. Para acessar o programa, as instituições devem ter relacionamento com o B

 

Ibovespa tem recuperação com setor bancário, mas trégua pode ser pontual

A bolsa brasileira teve uma quinta-feira de correção nos ativos, depois das pesadas perdas registradas no dia anterior, especialmente por ações de bancos e Petrobras, por conta dos possíveis impactos políticos e financeiros dos novos desdobramentos da Operação Lava-Jato, que resultaram na prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS) e do banqueiro André Esteves.

O Ibovespa subiu 0,60%, aos 47.145 pontos, com volume de apenas R$ 3,991 bilhões, bem abaixo dos R$ 6 bilhões esperados em um pregão normal. Entre as principais ações do índice, Bradesco PN (2,19%) puxou os ganhos, acompanhada de BB ON (2,58%), Itaú PN (1,46%), Vale PNA (0,51%) e Petrobras PN (0,25%).

O feriado do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos enxugou a liquidez nos mercados globais, inclusive na Bovespa. E justamente por causa da liquidez restrita, analistas alertaram que a alta da bolsa ontem desautoriza afirmações de que o mercado tenha reagido a uma melhora na percepção de risco.

O mercado de ações ignorou inclusive a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa Selic em 14,25% ao ano, mas com placar dividido, com dois membros do Banco Central defendendo mais aperto monetário, de 0,5 ponto, o que é ruim para os ativos de renda variável.

"Houve um ajuste de posições por causa da baixa de quarta-feira. Mas a liquidez foi muito baixa. Os juros futuros subiram por causa da sinalização do Copom e a bolsa não refletiu a avaliação de que o cenário de risco ainda é elevado", afirmou o estrategista da Guide Investimentos, Luis Gustavo Pereira, referindo-se às tensões sofridas pelo mercado por causa da prisão do líder do governo no Senado e do controlador do BTG Pactual.

O economista-chefe da INVX Global, Eduardo Velho, lembra que a prisão de Delcídio compromete as perspectivas para o ajuste fiscal, já que a saída do líder do governo de cena pode travar a tramitação das medidas no Congresso.

A prisão de Esteves, por sua vez, continua causando mal-estar no setor financeiro, que teme problemas operacionais no BTG. Depois de caírem 21 % na quarta-feira, ontem as units do BTG recuaram 2,86%, para R$ 23,70, em mais um dia volátil.

O volume do papel continuou elevado ontem, somando R$ 178 milhões, quarto maior giro do dia, atrás de Itaú PN (R$ 296 milhões), Bradesco PN (R$ 243 milhões) e Kroton ON (R$ 197 milhões).

O Goldman Sachs segue com recomendação "neutra" para as units do BTG. Em relatório, o banco afirmou acreditar que uma ausência prolongada de André Esteves poderia inibir a habilidade do banco de reter clientes de private banking e gestão de recursos, afetar custo e viabilidade de funding e ferir a originação do banco de investimentos.

No topo do Ibovespa ficaram Oi ON (6,39%), Smiles ON (5,95%) e Cetip ON (4,60%). Na ponta negativa, faoton ON (-8,56%), Estácio ON (-8,37%) e Rumo ON (-2,58%).

As ações do setor de educação caíram forte diante de novas incertezas envolvendo o Financiamento Estudantil (Fies). Conforme apurou o Valor, o Ministério da Educação pagará apenas 60% do saldo

dos títulos do Fies referente a novembro. Em outubro, as instituições receberam apenas 80% do valor devido. A Kroton tem 22,5% dos alunos mantidos pelo Fies. Na Estácio, 38,3% dos alunos estudam com crédito público.

 

PIB vai encolher 8% entre 2015 e 2017, prevê Credit Suisse

Em meio a uma série de referências à Olimpíada de 2016, o Credit Suisse (CS) apresentou ontem a clientes seu 'Brasil em Números', amplo painel com as perspectivas para os próximos anos. Quando o assunto é economia, no entanto, as chances de medalhas para o Brasil se limitam ao setor externo. Na corrida para uma inflação mais próxima da meta estaremos entre os últimos colocados e a expectativa é que não se consiga vencer os obstáculos na política fiscal. A derrota mais acachapante, no entanto, virá do Produto Interno Bruto (PIB), que terá pelo menos três anos consecutivos de baixa.

No cenário traçado pela equipe liderada por Nilson Teixeira, o recuo da atividade será de cerca de 8% entre 2015 e 2017 - a maior contração em três anos desde o início da série histórica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 1901.

Após cair 3,6% neste ano, o PIB vai recuar outros 3,5% em 2016 - número bem acima das expectativas de mercado, que apontam queda de 2% para a atividade no ano que vem, segundo o boletim Focus, do Banco Central. Em 2017, haverá nova queda, mas menor, de 0,5%. "Dependendo da revisão que será publicada dia 1º, podem ser quatro anos seguidos de retração", alerta Nilson Teixeira, economista-chefe do banco, que falou com exclusividade ao Valor. Teixeira se refere à primeira revisão do PIB de 2014, a ser divulgada pelo IBGE junto com os dados do terceiro trimestre.

Em um exercício que dá a dimensão dos desafios colocados à economia brasileira, Teixeira diz que, confirmadas as suas projeções, se o PIB de 2018 tiver alta inferior a 2%, todos os ganhos obtidos com a maior expansão da atividade no período entre 2004 e 2010 terão sido perdidos, com retomo aos níveis de 2003.

Na parte do consumo das famílias, o pior deve ficar para o ano que vem: a queda de 3,5% neste ano vai ser seguida de uma contração ainda mais expressiva, de 4,4% em 2016 e nova baixa em 2017, de 1,1%. Segundo Teixeira, a trajetória de queda do consumo está associada à deterioração do mercado de crédito e, especialmente, do mercado de trabalho. Em percentual do PIB, o crédito bancário cai de 51,8% neste ano para 49,4% em 2017. Já a inadimplência, em percentual do crédito livre, subirá de 5,2% em 2015 para 6,7% em 2017.

"As linhas de crédito bancárias que tem crescido mais no país são as associadas a juros mais altos e inadimplência maior, o que é um fator desfavorável para a renda disponível das famílias", diz Teixeira.

A taxa média de desemprego esperada para 2016 é de 11,2%, após 8,3% neste ano. Em 2017, ela encostará nos 13%. Já a deterioração da massa salarial ocorrerá com força no próximo ano: a leve alta de 0,5% neste ano se transformará em uma queda de 4,7% , com mais uma baixa de 1,5% em 2017.

São negativas também as expectativas do Credit Suisse para a formação bruta de capital fixo, que é o total investido em máquinas e equipamentos, construção e propriedade intelectual, Nas contas do banco, após queda de 4,4% em 2014, os investimentos devem registrar baixa de 14,6% neste ano, seguida por outra, de 12,6%, em 2016. Em 2017, o horizonte ainda é de declínio, embora menor, de quase 3%.

Segundo Teixeira, os modelos não indicam isso, mas se o ritmo de crescimento observado em 2015 fosse mantido cm 2016, a contração do PIB no ano que vem chegaria a 5,3%. Só de carregamento estatístico, já é possível esperar para 2016 queda superior a 2%.

No caso da inflação, os preços devem passar longe do teto da meta estabelecida pelo BC, de 6,5%, pelo segundo ano seguido. Nas contas do Credit Suisse, a inflação medida pelo índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrará o próximo ano em 8%, após alta de 10,7% neste ano. Segundo Teixeira, o teto da meta não será atingido nem em 2017, quando a expectativa do banco é de inflação de 6,5%, mas como estará valendo a nova banda de flutuação, de 1,5 ponto para mais e para menos, o teto será de 6%, portanto.

Mesmo em meio a esse cenário, Teixeira avalia que a autoridade monetária deve optar por manter a taxa Selic estável em 2016 e também em 2017 - e nem mesmo a última reunião do Copom, quando dois diretores discordaram da maioria e votaram pela alta da Selic, faz o economista mudar de ideia ainda. Segundo Teixeira, o BC deve continuar argumentando que haverá convergência da inflação, embora em ritmo mais lento.

Para o economista, a estratégia do BC é arriscada. Os modelos do Credit Suisse sinalizam que, tudo o mais constante, seria necessário elevar os juros para nada menos do que 18% para que a inflação voltasse aos 4,5% apenas em 2018. Mas o que é importante, alerta o economista, é que ano após ano alcançar 4,5% ou algo próximo a isso está cada vez mais distante.

A leitura desfavorável, diz Teixeira, se explica porque os preços administrados desaceleram, mas devem se manter altos no ano que vem. Após avanço esperado de 18,2% em 2015, os preços de tarifas públicas subirão 10,9% em 2016. Já o repasse cambial à inflação tem sido mais contido, em parte em razão do ambiente recessivo, explica, mas o impacto maior deve ficar para 2016.0 dólar deve encerrar o ano em R$ 4, chegando em R$ 4,70 no fim de 2016 e em R$ 5 em 2017.

Nas contas públicas, o déficit primário inaugurado no ano passado (-0,6% do PIB) só se ampliará. Para 2015, a projeção é de um déficit primário de 1,6% do PIB - com um déficit nominal de 10,5% do PIB. Sem refresco nem da CPMF nem da Cide, o próximo ano registrará um déficit de 1,4% do PIB, com déficit nominal de 8%.

Os dois impostos não entram na conta porque o banco atribui baixa probabilidade de serem aprovados. Mais do que isso, diz Teixeira, a avaliação é que a aprovação da CPMF contribuiría para redução ainda maior dos investimentos. "Seria mais adequado reduzir renúncias tributárias exageradamente concedidas nos anos anteriores", recomenda. "Dá para reduzir muita coisa".

Nas contas do Credit Suisse esse "muita coisa" soma quase R$ 264 bilhões em renúncias de receitas tributárias em 2016.

No bolo, há coisas como o Simples, que explicará R$ 73 bilhões das renúncias no próximo ano, a desoneração da folha de salários, com R$ 14,9 bilhões, ou o desconto do Imposto de Renda com despesas médicas, com R$ 11,5 bilhões.

Segundo Teixeira, há benefícios, como por exemplo para a indústria automobilística e para o setor de aço sobre os quais "não é certo que tenham trazido benefícios de longo prazo para a sociedade brasileira". Sem fugir da polêmica, diz que outros, como o desconto no Imposto de Renda para despesas médicas deveriam ser rediscutidos. "É justo mantê-lo no atual contexto mesmo que beneficie certamente a todos nós?", questiona.

Diante desse quadro, prossegue, a dívida bruta do governo alcançará 72% do PIB em 2016, chegando a 77% do PIB em 2017. Com isso, o país perde o grau de investimento em todas as agências de risco a partir de 2016 ou 2017.

A reversão desse quadro, diz o economista, começaria com um pacote de reformas que oferecesse uma visão de sustentabilidade e solvência fiscal. Teixeira avalia que o espaço para a eficiência é grande. Em suas contas, seria possível manter o mesmo tipo de qualidade, reduzindo os gastos com saúde em 70%. "Parece absurdo", diz. Entre outras reformas, sugere medidas que reduzam custos de fazer negócio no Brasil, custos previdenciários e subsídios, além da aceleração das privatizações.

 

'Dominância fiscal impede BC de elevar Selic'

A deterioração das expectativas para os índices de preços e a disseminação da inflação corrente se mostram uma preocupação para o Banco Central e levaram a autoridade monetária a adotar um tom mais "hawkish" (inclinado ao aperto) no comunicado da última reunião do Copom. Contudo, Monica Baumgarten de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics (PIIE), diz não acreditar que o BC deve subir a taxa de juros no ano que vem, dado que o país está em um processo de dominância fiscal - cenário em que a deterioração das contas públicas limita a eficácia da política monetária no controle da inflação.

"Se você tem um problema de dominância fiscal, o regime de metas de inflação não funciona", afirma Monica. Ela foi uma das primeiras a defender essa tese, destacando que, nesse cenário, em que não se tem um regime de metas de inflação funcionando de forma efetiva, o país deveria adotar uma banda cambial flutuante temporariamente.

Na quarta-feira, o Banco Central manteve a taxa básica de juros estável em 14,25%. Mas a decisão não foi unânime e contou com dois votos a favor da elevação de 0,5 ponto percentual da taxa Selic.

Segundo Monica, embora o BC não admita que o Brasil está em um cenário de dominância fiscal, isso tem impedido a autoridade monetária de subir a taxa de juros. "O BC nunca vai admitir isso, porque poderia piorar ainda mais as expectativas de inflação. Mas, em tese, se ele acha que o Brasil tem um regime de metas de inflação operante, ele deveria elevar os juros", afirma.

Para Monica, o BC deveria ser mais transparente em relação ao cenário que enxerga em relação à economia brasileira e como vai lidar com seus dilemas.

Esse cenário pode ficar mais claro na ata do Copom, que será divulgada na próxima quinta-feira.

As expectativas de inflação têm piorado recentemente em boa parte por conta das incertezas em relação ao ajuste fiscal.

Segundo Monica, o problema fiscal é resultado das contas públicas fora de controle, que mina a capacidade do BC de combater a inflação. "Com os juros nesse patamar e o crédito diminuindo, o aumento da taxa Selic virou um instrumento inócuo para combater a inflação", afirma.

Além do impacto fiscal, com o aumento do custo da dívida pública, a alta de juros poderia agravar ainda mais o quadro de recessão econômica, que, segundo Monica, tende a se intensificar com os últimos desdobramentos da Operação Lava-Jato, que leva a uma paralisia da economia.

Segundo a economista, que já foi diretora do Instituto de Estudos de Política Econômica Casa das Garças, o problema do avanço das investigações da Lava-Jato - que tem se disseminado por vários setores, como de construção, agropecuário e financeiro - é de ter um risco de contraparte, como verificado na crise de 2008. Na época, houve uma paralisação dos empréstimos bancários porque as instituições não sabiam quais bancos tinham ativos "tóxicos".

No caso atual, Monica explica que pode haver uma paralisia dos negócios com muitas empresas evitando fechar novas operações porque não sabem quais as empresas que podem estar envolvidas nas investigações. "O problema da Lava-Jato não é de crise sistêmica, mas o fato de não se saber onde estão as empresas e pessoas veiculadas à corrupção da Petrobras ", diz.

Para a economista, isso dificulta a previsão do cenário econômico para o ano que vem, além de afetar a confiança. "O risco de termos uma recessão maior em 2016 aumentou e o cenário para a economia deve ser pior que 2015", diz. Segundo ela, em um cenário em que não há âncora fiscal, nem monetária, o ajuste forçado da economia vem via inflação. "Não vejo possibilidade de o ajuste fiscal passar pelo Congresso, vamos continuar à deriva no campo fiscal e monetário", afirma.

No entanto, a economista pondera que o enfraquecimento da atividade econômica neste ano e em 2016, por outro lado, limita uma deterioração maior da inflação. "Este ano devemos fechar com uma inflação ao redor de 10% e talvez no ano que vem ela seja menor, entre 8% e 9%, mas não vai ser mais baixo do que isso", afirma.

Enquanto a atividade tem uma contribuição desinflacionária, o câmbio, segundo Monica, pode voltar a pressionar a inflação.

Apesar da recente trégua na alta do dólar, que acomodou no patamar entre R$ 3,75 e R$ 3,80, a economista prevê um cenário de mais turbulência à frente, esperando novo corte do grau de investimento do país por uma segundo agência de classificação de risco. A Standard & Poor's rebaixou o rating do Brasil para grau especulativo em setembro, e para Monica a Moody's, que mantém a nota do país um degrau acima do grau especulativo, mas em perspectiva negativa, pode ser a próxima a fazer esse movimento.

"Sem o grau de investimento, em um primeiro momento o dinheiro vai sair do país, e ainda tem muito para sair, e isso certamente forçará uma nova desvalorização do câmbio."

 

Alta de juros continua no radar do Banco Central

Banco Central deixou de sinalizar suas possibilidades de ação no futuro após a reunião de seu Comitê de Política Monetária encerrada na quarta-feira. Dois diretores do banco não acompanharam a decisão de manter o juro básico em 14,25% e defenderam elevação maior, de 0,5 ponto percentual. A piora das projeções de inflação pelo mercado recoloca para o BC a angustiante questão da necessidade de novo aperto monetário com uma economia que caminha para o mais prolongado período recessivo desde a década de 1930.

Na pesquisa Focus, coletada pelo BC, a inflação rompe o teto da meta em 2015 e, na perspectiva das cinco instituições que mais acertam as projeções, isto já tende a ocorrer também em 2016. Essas expectativas, de certa forma, estavam contempladas pelo BC, quando em seus comunicados indicaram a necessidade de manutenção da Selic em 14,25% por um período prolongado de tempo. O período para se atingir o alvo foi alongado, como foi explicitado pelo diretor de Política Econômica, Altamir Lopes, para 2017, ano em que o índice de preços Finalmente atingiría o centro da meta, de 4,5%. Agora, esta recalibragem da política monetária está em xeque, porque há dúvidas de se mesmo em 2017 isso será possível.

Há vários fatores negativos que estão fazendo a inflação desbordar a meta por mais tempo do que se previa e há o timing de ação do BC. Como o aperto monetário age defasadamente, no início de 2016 o BC estará mirando a inflação do Fim do ano e começo de 2017. Antes da depreciação cambial forte de setembro-outubro, estimava-se que o nível de preços apontaria para baixo no primeiro trimestre de 2016. Não mais: a inflação não deverá dar trégua nesse período. Mesmo sob uma hipótese que perde força, a de que o BC consiga segurar a inflação exatamente no teto da banda no ano que vem, ainda assim ele provavelmente teria de subir o juro, pois esse teto da banda foi reduzido para 6% em 2017.

Depois de 6 anos em que a inflação Ficou acima, ou bem acima, de 4,5%, o BC perdeu parte de seu poder de orientar as expectativas. Enquanto isso, a inflação, como era esperado, subiu de patamar e, levada pela inércia, tende agora a oferecer maior resistência para baixo e maior suscetibilidade para cima a choques inesperados, ainda que temporários e de baixa magnitude. A inflação implícita nos contratos de swap-DI para cinco anos futuros chega a 6,8% e a de 3 e 4 anos, a 7,9% e 7,6%, quando em 2014, por exemplo, nos prazos mais longos já se aninhava no intervalo de tolerância, pelos cálculos do Credit Suisse.

É certo que há um forte ruído da crise política e de seus possíveis desfechos, agravados pelas ondas sísmicas constantes da Operação Lava-Jato, que trazem graus de incerteza de um tipo com que os economistas não estão acostumados a lidar e que são dificilmente mensuráveis. A deterioração aguda em todos os índices de confiança contaminou as expectativas a tal ponto que até as previsões mais pessimistas tomam-se criveis.

A realidade, por seu lado, tem sancionado o pessimismo. Apesar do ajuste fiscal, que não tem a potência com que foi concebido, o governo mostrará um déficit primário em 2015 e pode em 2016 exibir o terceiro resultado negativo consecutivo, o que piora a trajetória da dívida pública e não lhe dá ímpeto contracionista suficiente para auxiliar o trabalho da política monetária, em um momento em que isso é vital. E como a base política do governo é inefável, estima-se que o governo não tem capacidade de virar o jogo.

O BC acredita que a recessão derrubará fortemente os preços, contando a seu favor com a redução expressiva dos preços administrados. A energia retomará seu reajustes "normais", depois de subirem em média mais de 50%, mas os contratos desse e de outros preços desta categoria são indexados à inflação passada. A inflação acima de 10%, como a de 2015, não só puxa o reajuste do salário mínimo para os dois dígitos, como toma menos vigoroso o desinflar dos preços dos serviços. Intuitivamente é possível dizer, olhando os cálculos do BC, que se a inércia tinha peso importante quando a inflação Ficava dentro dos intervalos da meta, agora ganhou mais relevância.

O BC se depara assim com a difícil decisão de ter de subir juros em meio a uma recessão terrível. Ou completar três anos com a inflação maior que o teto da banda e 8 anos com ela acima de 4,5%, alvo oficial a perseguir - o que significa a mina do sistema de metas.

 

Copom indica que juro pode subir em janeiro, diz Mesquita

O Comitê de Política Monetária (Copom) demonstrou que não está confortável em manter a Selic em 14,25% ao ano após a recente deterioração das expectativas de inflação, o que toma provável uma elevação do juro em janeiro, segundo o ex-diretor de Política Econômica do Banco Central e atual sócio do banco Brasil Plural, Mário Mesquita. "Acho que a mensagem que as autoridades estão passando é que a inflação é um problema econômico, é um problema sério, que tem que ser enfrentado. E que não enfrentá-lo já significa postergar o ajuste", afirma.

Mesquita diz haver chance de o BC "calibrar" a Selic, com uma única dose de alta para, então, mantê-la até o fim do semestre. O objetivo seria colocar o juro real, que tem influência direta sobre a atividade, de volta ao nível observado antes da recente disparada das projeções de inflação. "Pode ser apenas um ajuste fino, em vez de um ciclo de aperto monetário prolongado. Mas é um cenário com grau de incerteza acima do habitual".

A alteração do comunicado da decisão, que retirou a frase de que o juro permanecería inalterado por tempo "suficientemente prolongado", demonstra que o Copom não está mais comprometido com a estratégia de manutenção da Selic. E o fato de dois membros do comitê terem votado pela alta de 0,5 ponto na Selic já no encontro desta semana mostra que a divergência era a respeito do "timing" desse movimento.

"Na minha leitura, não foram apenas os dois diretores que estavam na minoria que votaram pela retirada da frase do comunicado, foi o comitê inteiro. Isso sugere que o comitê como um todo ficou desconfortável com a postura da política monetária e preparou uma mudança. Se ela vai ou não acontecer, depende de muitos fatores", afirma. Ele lembra que, até a reunião de 19 e 20 de janeiro, o BC terá diversas oportunidades para se comunicar - além da ata, será divulgado o Relatório de Inflação do quarto trimestre, no fim de dezembro-e indicadores de peso, como o PIB do terceiro trimestre e índices de inflação. "E o próprio Banco Central vai, ao longo do tempo, revendo sua estratégia de acordo com a evolução dos dados", diz.

O guia para a definição da estratégia do BC será a evolução das projeções de inflação no seu modelo. Mas a piora dos prognósticos de mercado tem influência sobre as estimativas da autoridade. "Essa deterioração [das expectativas de mercado] que tem ocorrido de forma mais acelerada nas últimas semanas é um elemento importante para o ajuste da política monetária", diz. O alto nível de indexação da economia, que tende a aumentar diante do atual quadro de instabilidade, também deve preocupar o BC e endossar o esforço para que a inflação não permaneça em dois dígitos por muito tempo, alerta.

Outro fator que influencia o modelo do BC é a taxa de câmbio, que se moveu de maneira mais favorável desde o encontro anterior. Esse alívio foi produzido, porém, principalmente por fatores externos: a diminuição da preocupação com a desaceleração do ritmo da economia chinesa e também com os efeitos de uma elevação dos juros dos Estados Unidos. "Ninguém acha que a China esteja reacelerando, mas esses temores externos arrefeceram um pouco", afirma.

A continuidade do alívio do câmbio de agora em diante é uma dúvida. "Depende muito das variáveis fiscais, que por sua vez dependem da evolução do cenário político, independentemente do esforço e talento das autoridades envolvidas", afirma. "Essas dúvidas, a persistirem, vão contra esse cenário de calmaria."

Mesquita estima que o dólar pode chegar ao fim deste ano perto de R$ 3,90 e encerrar 2016 ao redor de R$ 4,20. Para o PIB, sua estimativa é de uma retração de 3,1% este ano e entre 1,5% e 2% em 2016 projeções que podem ser revisadas após a divulgação do resultado do PEB na semana que vem. Para o IPCA, o cenário do economista contempla uma alta entre 10% e 11% este ano e perto de 7% no próximo.

Mesmo com a atividade tão fraca, uma alta de juros é uma possibilidade porque seria um sinal de compromisso do BC com a meta de inflação. Ao argumento de uma ala do mercado de que um aperto agora seria uma postura exageradamente agressiva, Mesquita responde que a falta de confiança dos agentes, das famílias e dos empresários, sobre a trajetória da inflação está contribuindo para esse desânimo com a atividade. "O BC tem sinalizado muito enfaticamente que, depois de excedido o topo da margem em tomo da meta de 4,5% em 2015, não gostaria de repetir isso em 2016. É um sinal com o qual eu tendo a concordar. que a melhor contribuição que a política monetária pode dar é oferecer estabilidade monetária".

Para Mesquita, não há evidências de que o país esteja em situação de dominância fiscal. "É claro que, quanto mais apertada for a política fiscal, menor será o peso sobre a política monetária. Na nossa história, a nossa economia tem gerado mais situações em que a política fiscal não é tão apertada e a monetária tem que contrabalançar. Se leva em conta a parafiscal, isso é ainda mais intenso. O fiscal é, sem dúvida, relevante, mas não é um fator que impeça o BC de perseguir o seu objetivo".

BANCO DE TALENTOS

ÁREA DO ASSOCIADO

O Sinduscon/RN pensa como você, e por isso trabalha:

NOSSA MISSÃO

Representar e promover o desenvolvimento da construção civil do Rio Grande do Norte com sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental

POLÍTICA DA QUALIDADE

O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.

CONTATO

55 84 3206 5362

contato@sindusconrn.com.br

SOCIAL

LOCALIZAÇÃO

Rua Raimundo Chaves, 2182 - Sala 101 Empresarial Candelária - Candelária - Natal/RN

SINDUSCON/RN (C) 2012 - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS