Sexta-feira

TRIBUNA DO NORTE

Grupo português anuncia construção de resort no RN

Para reforçar sua presença no Brasil, o grupo português Vila Galé anunciou ontem investimentos de R$ 100 milhões para construção de um resort no litoral do Rio Grande do Norte. A nova unidade, que será construída de frente para o mar de Touros, será composta por 500 quartos, três restaurantes, um SPA Satsanga, um Clube Nep para crianças, centro de convenções com cerca de 1.750 metros quadrados,  centro náutico,  campo de futebol,  campo de tênis e três piscinas exteriores.

Em comunicado à imprensa distribuído ontem, a Cunha Vaz Brasil, empresa de relações públicas,  que presta assessoria ao grupo, informa  que  a previsão é de que o resort seja inaugurado em setembro de 2017, a tempo de aproveitar a alta temporada turística daquele ano.  No dia 25 de agosto, o presidente do grupo, Jorge Rebelo de Almeida, virá a Natal.

O anúncio do  megaempreendimento, num período de turbulência na economia, fortalece o mercado turístico do Rio Grande do Norte, abre caminho para uma maior movimentação no aeroporto internacional Aluízio Alves, em São Gonçalo do Amarante, e anima a indústria da construção civil, carente de boas notícias desde que o governo puxou o freio de mão na liberação de verbas para habitação popular e aumentou os juros de financiamento do setor imobiliário.

“Estou sabendo disso agora, por vocês da Tribuna. Numa época em que os empreendimentos locais estão em fase restritiva, uma notícia dessa reforça a confiança no país e amplia as possibilidades do turismo local”, disse o presidente do Sinduscon/RN (Sindicato da Construção Civil), Arnaldo Gaspar Júnior. Ao ser questionado se o resort em Touros poderia ser o primeiro passo para ressuscitar projetos imobiliários no litoral potiguar, atropelados no passado, ele foi enfático: “Espero que desta vez o Idema e o Ibama sejam céleres e objetivos.”

O anúncio do Vila Galé ocorre quase uma década depois de Natal ter sido “invadida” por astros do cinema e do futebol que vieram ao RN como garotos-propaganda de grupos europeus, interessados em tornar as praias do litoral norte, local de veraneio de portugueses, espanhóis, italianos, alemães, holandeses.

Entre 2006 e 2008 foram anunciados pelo menos seis megaprojetos turísticos para o litoral potiguar, num total de 70 mil unidades, entre casas e apartamentos; quase uma dezena de campos de golfe; uma dúzia de campos de futebol e milhões de reais, euros e dólares desembarcando no Rio Grande do Norte.

Um desses empreendimentos, o Natal Grand Golf, trouxe o ator Antonio Banderas e a mulher dele, Melanie Griffith,  para o lançamento. O jogador Ronaldo “Fenômeno” também esteve por aqui. Um outro astro do futebol,  o  inglês David Beckham, foi  garoto-propaganda de um resort em Cabo de São Roque, litoral  de Maxaranguape. Todos eles, no entanto, foram atropelados pela crise das hipotecas gerada nos Estados Unidos em 2008 e que se espalhou pelo planeta.

EXPANSÃO

As sete unidades hoteleiras que o Grupo Vila Galé detém atualmente no Brasil - e que estão espalhadas pelos estados do Ceará, de Pernambuco, da Bahia e do Rio de Janeiro - oferecem um total de 5.000 camas em três hotéis de cidade e quatro resorts “all inclusive”. Este último segmento ainda é pouco explorado no Brasil, razão pela qual o Grupo decidiu avançar com um plano de expansão que passa por este tipo de investimentos.

“O novo resort de Touros será importante para preencher uma lacuna em Natal que, apesar de bem servida de hotéis, não tem resorts com esta dimensão, com excelentes condições tanto para férias em família como para grandes congressos ou outros eventos”, explica Jorge Rebelo de Almeida.

O grupo Vila Galé é responsável pela gestão de 27 unidades hoteleiras, sendo 20 em Portugal e 7 no Brasil, e conta hoje em dia com cerca de 2.500 funcionários. Sua missão é definida com a frase “Sempre perto de você” que, aliada aos seus valores, tem mantido a Vila Galé um dos melhores grupos hoteleiros do mundo ao longo de seus 29 anos de existência.

 

Índice que reajusta aluguéis avança 6,97% em um ano

O Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M), usado como referência para o reajuste dos aluguéis, variou 6,97% nos últimos 12 meses, de acordo com a Fundação Getulio Vargas. No acumulado de janeiro a julho, o índice variou 5,05%.

No mês de julho, a variação foi 0,69%. No mesmo mês de 2014, houve queda de 0,61%. O Índice de Preços ao Produtor Amplo apresentou taxa de variação de 0,73%. No mês anterior, a taxa foi 0,41%.

O índice dos bens finais variou 0,46% em julho. Em junho, este grupo de produtos mostrou variação de 0,6%. Contribuiu para o recuo o subgrupo alimentos in natura, cuja taxa de variação passou de 1,8% para 0,96%.

A taxa referente ao grupo bens intermediários variou 0,33%. Em junho, a taxa foi 0,36%. O principal responsável por este movimento foi o item materiais e componentes para a construção, cuja taxa passou de 0,51% para -0,51%.

O grupo matérias-primas brutas variou 1,57%, em julho. Em junho, o índice registrou variação de 0,24%. Os itens que mais contribuíram foram: soja (em grão), que passou de -0,44% para 5,26%; milho em grão, de -4,21% para 2,33%, e aves, de 0,98% para 5,18%. Em sentido oposto, destacam-se minério de ferro, 5,90% para 3,09%; bovinos, de -0,26% para -1,32%, e suínos, de 6,98% para 0,62%.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) registrou variação de 0,6%, em julho, ante 0,83%, em junho. Cinco das oito classes de despesa registraram decréscimo: despesas diversas, de (5,47% para 0,52%), educação, leitura e recreação (de 0,82% para -0,07%), transportes (de 0,28% para 0,04%), saúde e cuidados pessoais (de 0,79% para 0,56%) e vestuário (de 0,37% para 0,29%).

Apresentaram acréscimo em suas taxas de variação a habitação, de 0,70% para 0,94%; comunicação, de 0,25% para 0,37%, e alimentação, de 0,98% para 0,99%.

 

COLUNA DE LUIZ ANTONIO

RESULTADOS

Os balanços de empresas e bancos estão no “azul”, enquanto a economia está no “vermelho”. A  mineradora Vale registrou lucro de R$ 5 bilhões no trimestre de abril a junho, após três trimestres com prejuízo. O lucro do Bradesco sobe 18% em um ano, enquanto o Bradesco Seguros cresce 19,4% em faturamento e 21,5% em lucro no semestre. O banco Santander vê o seu lucro saltar para R$ 3,9 bi e o lucro da Embraer sobe 24%.

 

NOVO JORNAL

Ministro do Turismo firma parceria para atrair investidores estrangeiros

Os ministros do Turismo, Henrique Eduardo Alves, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Armando Monteiro, assinaram, em Brasília, um acordo de cooperação técnica com o objetivo de facilitar a troca de informações com investidores internacionais. O acordo com o MDlC prevê o compartilhamento de informações para ampliar investimentos, gerando oportunidades de negócios relacionados ao turismo no Brasil.

 Para Henrique Eduardo Alves, o novo acordo está alinhado com a estratégia de inserir o turismo na pauta econômica do país. “O setor passa a ter uma rede de informações qualificadas, o que facilita a ampliação de investimentos no país”, afirmou o ministro. Alves ressaltou ainda que o Brasil tem um grande potencial para atrair investidores, especialmente devido à visibilidade conquistada com a Copa do Mundo e a Olimpíada.

 O acordo permitirá o intercâmbio de informações e a articulação de ações conjuntas para facilitar a entrada de investimentos produtivos no país por meio da Rede Nacional de Informações sobre o Investimento (Renai).

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

A construção civil e o balanço do PAC

A crise da construção civil está expressa nas pesquisas recentes da Fundação Getúlio Vargas (FGV), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, do sindicato da construção (Secovi) e da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção(Abramat). Ela é reforçada pelos sucessivos cortes no orçamento do programa de habitação popular Minha Casa, Minha Vida, refletindo tanto a recessão econômica como a precariedade da execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em que despontam os investimentos da Petrobrás e em moradiaspopulares. Mas também decorre dos efeitos da corrupção na Petrobrás sobre as grandes empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato.

A construção civil é um segmento crucial da economia por sua importância para o emprego, para a renda, para a formação bruta de capital (ou seja, a taxa de investimento) e para a demanda de milhares de itens, da contratação de projetos e sua execução até para a entrega das obras, sejam elas estradas de ferro e refinarias ou edifícios e conjuntos populares.

O ânimo dos empresários do setor está em xeque. O Índice de Confiança da Construção (ICST, da FGV) chegou ao menor nível da série iniciada em 2010: 70,2 pontos, muito abaixo dos 100 pontos que separam a área positiva da negativa. Para 60% das 663 empresas consultadas, "a carteira de contratos está abaixo do normal", disse a especialista Ana Maria Castelo, da FGV.

Cenário semelhante apareceu, há alguns dias, na Sondagem Indústria da Construção, da CNI, também no piso histórico da série. Carga tributária e juros elevados, inadimplência, falta de demanda e de capital de giro, além de burocracia excessiva foram os itens mais mencionados. E, segundo a Abramat, se 41,9% das empresas demateriais de construção consideram ruim o desempenho das vendas no curto prazo, 16,1% o julgam muito ruim. A situação econômica torna mais reticentes os potenciais compradores de imóveis.

Se a condução econômica tivesse sido mais prudente nos últimos anos, os programas de investimento em obras do PAC disporiam de recursos para manter a atividade nesse segmento essencial.

Com o recuo dos investimentos, em especial, públicos, o resultado é um crescimento acelerado do desemprego naconstrução civil, com o corte, no setor, de quase 134 mil trabalhadores com carteira assinada neste ano e de mais de 329 mil em 12 meses.

 

Construtoras menores analisam concessões

Anunciado pelo governo em junho, o pacote de concessões de R$ 198,4 bilhões na área de transportes começa a movimentar uma série de pequenas e médias empresas em um contexto em que as grandes se veem envolvidas pelos reflexos da Operação Lava-Jato. Parte do interesse está direcionado aos 15 lotes de rodovias federais que o governo pretende licitar nos próximos meses, e que poderão envolver cerca de R$ 50 bilhões em investimentos ao longo de 30 anos. O mercado espera que sejam formados novos consórcios nos moldes da MGO Rodovias - concessionária que arrematou, em setembro de 2013, o trecho da BR-050 GO/MG, da terceira etapa das concessões rodoviárias federais.

O consórcio é formado por fornecedoras e construtoras pequenas, como Construtora Estrutural, Construtora Kamilos, Maqterra e Vale do Rio Novo Engenharia e Construções. Ao longo dos 30 anos de contrato, serão investidos R$ 3 bilhões no trecho de pouco mais de 400 quilômetros. "Fizemos uma reunião sobre as concessões de rodovias e 80 empresários, advogados e consultores estiveram presentes para saber mais detalhes, há empresas que faturam de R$ 50 milhões a R$ 200 milhões que têm interesse em participar das oportunidades de mercado", diz o presidente da Associação Paulista dos Empresários de Obras Públicas (Apeop), Luciano Amadio.

Para ele, as empresas agora esperam os editais das concessões que serão licitadas. "Taxa de retorno, exigência de investimentos são detalhes essenciais para que as empresas possam montar suas estruturas e participar, mas o mercado caminha para maior abertura e uma maior concorrência", diz.

"Há um conjunto de pequenas e médias empresas que poderão participar das oportunidades que se abrirão, mas é preciso facilitar essa inserção", diz o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção(Cbic), José Carlos Martins. No fim de abril, a Cbic entregou ao ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, um documento para estimular a participação de empresas de menor porte nas concessões a serem licitadas nos próximos meses.

Para aumentar o apetite do mercado, os trechos rodoviários a serem concedidos pela União nos próximos meses terão, em média, cerca de 400 km de extensão, metade dos seis lotes transferidos à iniciativa privada em 2013. "Isso é um sinal muito positivo que indica a maior concorrência e número de participantes", avalia Amadio.

A Vale do Rio Novo é uma das integrantes do consórcio da BR-050. Ademar Bellinato, sócio-fundador da construtora, diz que o crescimento nesses 30 anos de atuação no setor rodoviário permitiu a consolidação de sua participação no mercado construtor. "Partimos para um novo momento, com foco em projetos estruturados de mais longo prazo."

O consórcio foi formado a partir de afinidade com empresas do setor e pelo relacionamento de mais de 20 anos com essas empresas. "O grupo de estudos foi criado em 2012, com acionistas de quatro empresas. Em curto espaço de tempo, cerca de quatro meses, o grupo se consolidou nos atuais nove integrantes. Além da afinidade, outros aspectos, como conduta empresarial e saúde financeira foram consideradas."

Com a concessão, a empresa mudou de tamanho. "É natural que haja uma mudança, afinal se trata de um empreendimento de vulto em investimento e tecnologia, e as mudanças acontecem. Nos tornamos mais fortes e seguros para crescer", aponta.

Para ele, o modelo de concessões não dá prioridade às grandes empresas. "Acredito que o modelo exige empresas comprometidas com a tecnologia e, principalmente, com o cumprimento dos marcos regulatórios por parte do poder concedente. Outro aspecto é que esse mercado não tem espaço para aventureiros, e isso inclui empresas de todos os tamanhos."

Um dos maiores gargalos na participação de empresas menores está na apresentação de garantias para os negócios.

"A modalidade de project finance em que os recebíveis do projeto são a garantia ainda inexiste no Brasil. No restante é preciso apresentar garantias reais ou corporativas quando se participa de um projeto. Isso inviabiliza que se participe de vários projetos porque exigiria uma grande quantidade de garantias", afirma o presidente do grupo Ponte di Ferro, Carlos Zveibil.

Outro obstáculo é que, para obter empréstimos de bancos oficiais, como Caixa Econômica Federal e BNDES, com taxas de juros melhores, o tempo de aprovação do crédito nessas instituições demora de oito a doze meses, o que exige a obtenção de um empréstimo ponte em instituições financeiras. O que eleva o risco de financiamento do projeto. Outra dificuldade é fechar um contrato do seguro para cobrir o risco de construção do empreendimento.

Para Bellinato, estruturar o modelo de garantias para a participação no consórcio foi complexo, ainda mais com a participação de nove empresas, mas a unidade do grupo fez a diferença. "Hoje essa situação é exatamente contrária, somos assediados o tempo todo por empresas do setor e do mercado financeiro que querem fazer parte do nosso grupo para as novas oportunidades que vêm por aí", diz Bellinato.

Uma das novidades a partir de agora é que as empresas terão melhores condições de financiamento concedidas pelo BNDES se usarem mais o mercado de capitais, emitindo, por exemplo debêntures de infraestrutura. "Isso é um ponto de incerteza, porque as grandes já tinham dificuldades para lançar papéis e agora, com aperto fiscal e os juros em 14% ao ano, isso pode se tornar um complicador", analisa um empresário.

 

Juro futuro desaba após Copom e dólar avança com exterior

A indicação de que o Banco Central encerrou o atual ciclo de alta de juros, com a Selic (a taxa básica) em 14,25% ao ano, provocou ontem fortes ajustes no mercado de renda fixa. Ao citar no comunicado de quarta-feira "a manutenção desse patamar da taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado", o BC levou os investidores a reduzirem de cerca de 90% para 25% as apostas em um aumento adicional de 0,25 ponto porcentual no juro, em setembro. A taxa do contrato para janeiro de 2016 foi para os 14,19%, ante os 14,29% vistos na quarta-feira, antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.

Entre os vencimentos com prazos mais longos, o recuo das taxas diminuiu um pouco à tarde, em função da alta do dólar ante o real - que pressiona a inflação - e do risco fiscal. Com a sessão estendida de juros ainda em andamento, aliás, o Tesouro informou que o governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central) teve déficit primário de R$ 8,205 bilhões em junho e de R$ 1,597 bilhão no primeiro semestre. Isso ocorreu a despeito de todo o esforço do governo, no início deste ano, para colocar as contas em ordem. O contrato futuro de juros para janeiro de 2021 marcou 12,80%, ante 13,04% da véspera.

A avaliação de que o Brasil vai mal, somada ao avanço da moeda americana no exterior, fez o dólar subir ante o real durante todo o dia. A divisa foi conduzida ainda por certa disputa pela formação da ptax de fim de mês, marcada para hoje.

A ptax, calculada pelo BC com base nas cotações do dólar no mercado à vista, servirá de referência para a liquidação dos derivativos cambiais em 3 de agosto. Assim, após o recuo de mais de 1% na quarta-feira, o dólar à vista de balcão subiu 1,50% ontem, a R$ 3,3800, no maior patamar em mais de 12 anos, desde 27 de março de 2003.

No exterior, o avanço da moeda americana foi sustentado pelos números positivos da economia dos EUA, entre eles o PIB do segundo trimestre, que elevaram a percepção de que o Federal Reserve (Fed, o banco central) pode começar a subir seus juros em setembro. Essa visão garantia um sinal negativo para as Bolsas de Nova York mais cedo, mas, à tarde, os investidores passaram a reagir a alguns balanços positivos. Entre eles, o da fabricante de discos rígidos Western Digital, cujos papéis subiram 9,77% e favoreceram a alta de 0,33% do índice Nasdaq, para 5.128,79 pontos.

O Dow Jones teve leve baixa de 0,03%, aos 17.745,98 pontos, e o S&P 500 terminou estável, em 2.108,63 pontos.

No Brasil, após os avanços vistos na terça e na quarta-feira, a Bovespa voltou a cair ontem. Investidores estrangeiros conduziram as vendas de ações importantes, como as de Vale e Petrobrás. O Ibovespa cedeu 0,69%, aos 49.897,40 ponto

 

BC mostra firmeza na crise

Ao elevar para 14,25% a taxa básica de juros, o Comitê de Política Monetária (Copom) mais uma vez atraiu críticas de empresários, sindicalistas e políticos, mas deu à sociedade e aos investidores o recado necessário e mais prudente neste momento. Continua empenhado em levar a inflação à meta de 4,5% no próximo ano e atento à sua missão mais importante - defender o poder de compra do dinheiro. Essa reafirmação é especialmente importante num momento de turbulência política, escândalos cada vez mais próximos da Presidência da República e muitas dúvidas quanto à promessa governamental de arrumação das contas públicas.

A decisão do comitê, formado por diretores do Banco Central (BC), veio poucos dias depois do anúncio de redução da meta fiscal deste ano e do próximo. Com a alteração, o superávit primário buscado em 2015, para o pagamento de juros, deve ficar em 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB), mas até esse resultado é improvável. Para 2015 o alvo foi baixado para 0,7%. As metas anteriores eram 1,1% em 2015 e 2% a partir de 2016. Sem o aperto previsto anteriormente para as contas públicas, o ataque à inflação continuará a depender quase só do arrocho monetário conduzido pelo BC.

As correções introduzidas na gestão das contas públicas foram muito limitadas, em boa parte por causa da resistência dos políticos, facilitada pela fraqueza da presidente Dilma Rousseff. A redução de transferências do Tesouro aos bancos federais foi uma das poucas mudanças. Além disso, continua neste ano o realinhamento dos preços administrados, como os da eletricidade. Mas o efeito imediato mais sensível dessa correção é o reforço das pressões inflacionárias.

Não há como impedir o impacto imediato sobre o custo de vida e os custos empresariais. Mas pode-se tentar conter a contaminação dos demais preços pelo repasse dos aumentos. Os dirigentes do BC referem-se a essa tarefa, quando mencionam a contenção dos "efeitos de segunda ordem" da alta dos preços administrados. É esse um dos objetivos do aperto monetário. Com menos crédito e menos dinheiro em caixa ou no bolso, consumidores e empresas tendem a ser menos tolerantes ao repasse de aumentos.

Mas acabam sendo duplamente pressionados - pelo impacto imediato da correção daqueles preços e pelo arrocho necessário à limitação dos "efeitos de segunda ordem".

É preciso lançar essas consequências na conta da contenção voluntarista, demagógica e irresponsável de preços administrados, uma das marcas da gestão petista e, de modo especial, da atuação da presidente Dilma Rousseff. Todo governante deveria ter entendido há muito tempo os perigos do voluntarismo na política de preços. As lições do último meio século, no Brasil e em muitos outros países, são inequívocas. Mas a repetição de erros bem conhecidos parece uma praga da política, uma das maldições preferidas pelos deuses.

O arrocho monetário é visível na expansão mais lenta do crédito, na desaceleração do consumo e, naturalmente, na recessão. Os empréstimos, de toda forma, ainda têm crescido. Em junho de 2014 correspondiam a 52,8% do Produto Interno

Bruto nominal. Em junho deste ano, a 54,5%, segundo informe divulgado ontem pelo BC. A menor expansão, mais nítida no caso das pessoas físicas, tem-se refletido principalmente na menor demanda de bens duráveis de consumo.

O aumento anunciado na quarta-feira pode ter sido o último da série iniciada em abril de 2013. A nova taxa, segundo o Copom, será mantida por "período suficientemente prolongado", para garantir o alcance da meta. Os dirigentes do BC ainda prometem atingir os 4,5% no próximo ano. O mercado projetava, no fim da semana passada, 54%. Segundo analistas, a queda resultará de duas causas principais o freio imposto à demanda e a redução, em 2016, do realinhamento de preços. Seria menos arriscado apostar na acomodação dos preços num ambiente de menor incerteza econômica e, sobretudo, política.

 

Financiamento de imóveis tem reforço de R$ 22 bi

A complexa engenharia financeira que o Banco Central promoveu ao fim de maio para garantir uma fonte de financiamento para imóveis e para o setor rural já mostrou efeito. O saldo dos recolhimentos compulsórios de instituições financeiras relativos à poupança saltou de R$ 120,4 bilhões em maio para R$ 142,5 bilhões no mês passado, segundo dados da instituição divulgados ontem.

O aumento de R$ 22,1 bilhões de maio para junho está associado às mudanças feitas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 28 de maio para ampliar os recursos para financiamento da casa própria. A poupança, fonte principal para esses tipos de empréstimos, vem registrando um volume de saques maior do que o de depósitos desde o começo do ano.

Na ocasião do anúncio, o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, calculou que se todos os bancos usassem as novas prerrogativas, o sistema de financiamento imobiliário deveria receber um acréscimo de R$ 22,5 bilhões a partir de 1º de junho.

Para evitar uma injeção de recursos extras, que podería acarretar em um aumento de liquidez justamente durante um período de alta dos juros, o CMN promoveu redução e aumentos de outros depósitos compulsórios. "Temos de manter a coerência com a política monetária praticada neste momento", disse, na ocasião, o diretor. O BC vem promovendo alta da taxa básica de juros, a Selic, desde abril de 2013. Atualmente, está em 14,25% ao ano.

Por conta disso, esses recursos passam a ser retomados pelo BC por um terceiro compulsório, sobre depósitos a prazo, cuja taxa vai subir de 20% para 25%. Essa elevação, no entanto, se dará apenas a partir de 31 de agosto. "Esse é o tempo médio que as instituições vão usar para desembolsar esses recursos", explicou. Isso porque, de acordo com ele, se entrasse em vigor ao mesmo tempo que as demais medidas podería haver contração da base, da liquidez. A medida também previa um aumento de R$ 2,5 bilhões para o setor rural. O depósito compulsório é uma reserva destinada ao BC, que os bancos são obrigados a entregar de acordo com o total de captações de depósitos à vista ou outros títulos.

 

O GLOBO

Ciclo dos juros altos passa a depender do ajuste fiscal

Pela sétima vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, em sua última reunião, elevar as taxas básicas de juros, que alcançaram o patamar de 14,25% ao ano, o mais alto desde 2006. No breve comunicado ao fim da reunião, o Copom informou que o ciclo de elevação dos juros básicos se encerrava com esta alta de mais 0,5 ponto percentual. A intenção das autoridades monetárias é mantê-los nesse patamar até que os índices de preços recuem expressivamente. A inflação se acelerou este ano, chegando ao atual patamar entre 9% e 10% ao ano. A expectativa do mercado financeiro e do Banco Central é que a variação do IPCA (índice de Preços ao Consumidor Amplo) se aproxime da meta, de 4,5%, até o fim de 2016.

Trata-se de um remédio amargo, mas inevitável. A inflação beirando os dois dígitos é um sério risco, devido aos mecanismos remanescentes de indexação que persistem na economia brasileira. No início do ano que vem, por exemplo, o reajuste do salário mínimo vai incorporar a inflação ocorrida em 2015. Somente esse reajuste já será suficiente para pressionar os índices de preços dos primeiros meses de 2016. A indexação toma a inflação mais resistente à queda.

Para estancar esse processo é preciso agir com rapidez. Até porque essa dosagem de remédio amargo também produz efeitos colaterais negativos que não podem ser ignorados. A taxa real de juros alta inibe não só o consumo mas investimentos que poderiam ajudar a economia a ser mais eficiente (e, em consequência, mais resistente à inflação), além de alterar fluxos de capitais. A dívida pública cresce igualmente, porque União, estados e municípios não acumulam recursos para pagar integralmente os juros devidos, e a diferença acaba se juntando ao valor principal do endividamento.

O ciclo de taxas de juros elevadas pode ser abreviado pela política fiscal. Não é por acaso que as atenções têm sido voltadas para o esforço de acumulação do maior superávit primário possível nas finanças públicas este ano. Com a economia ainda se retraindo, a arrecadação tributária tende a recuar, de modo que o ajuste fiscal necessita de um controle redobrado das despesas. Como o piso previdenciário no Brasil está vinculado ao salário mínimo, os gastos do INSS se encontram entre os itens das despesas públicas que forçosamente aumentarão no ano que vem. Outros gastos terão de ser comprimidos para se compensar o crescimento de despesas autônomas.

O combate à inflação não pode ser tarefa exclusiva do Banco Central ou do Ministério da Fazenda. No patamar que a alta de preços atingiu no Brasil, o governo como um todo precisa estar mobilizado para estancá-la, buscando simultaneamente a colaboração do Congresso e do Poder Judiciário.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Prioridade de Dilma, PAC responde por 55% do total do corte

As obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), consideradas pela presidente Dilma como vitais para impulsionar o país, vão responder pela maior fatia do novo bloqueio de gastos de R$ 8,6 bilhões anunciado na semana passada. Os ministérios da Educação e da Saúde são os outros dois mais atingidos.

O governo disse que os projetos do PAC sofreram um bloqueio de gastos que representou 55% do corte total. Entre os ministérios que têm obras do programa, Cidades respondeu pelo maior corte, de R$ 1,322 bilhão - o maior bloqueio em valores absolutos.

Depois, aparecem Saúde, com corte de R$ 1,180 bilhão, e Educação, que perdeu R$ 1 bilhão, pasta que tem o lema do segundo mandato da presidente, "Pátria Educadora".

Como proporção do total de recursos que as pastas têm para gastar livremente do Orçamento da União, Comunicações, Integração Nacional e Secretaria da Mulher foram os mais afetados pelo bloqueio.

PRESIDÊNCIA POUPADA

O detalhamento dos cortes foi divulgado nesta quinta (30) em decreto publicado em edição extra do "Diário Oficial" da União. Ele mostra que a Presidência da República, que engloba os gastos de Dilma, foi poupada. Já a Vice-Presidência, de Michel Temer, articulador político do governo, sofreu uma redução de 15,9%, em suas despesas.

As emendas individuais dos parlamentares sofreram corte de 6,6%, caindo de R$ 4,9 bilhões para R$ 4,6 bilhões. O governo se comprometeu a liberar os recursos dessas emendas para evitar novas derrotas no Congresso.

As emendas passaram a ter liberação obrigatória, mas o governo pode bloqueá-las no mesmo percentual médio das demais áreas.

O corte faz parte das medidas divulgadas pela equipe econômica para tentar garantir o cumprimento da nova meta fiscal, de 0,15% do PIB.

Diante da queda real (descontada a inflação) na arrecadação federal, Dilma foi obrigada a reduzir a meta de superavit primário de 1,1% para 0,15% do PIB, com a possibilidade de fechar o ano até mesmo em deficit.

Do novo corte de R$ 8,6 bilhões, R$ 8,475 bilhões são de responsabilidade do Executivo. Cerca de R$ 125 milhões são dos outros Poderes.

Em maio, no primeiro corte anunciado pelo governo Dilma, quando a ideia ainda era fazer um superavit de 1,1% do PIB, o Ministério da Saúde perdeu R$ 11,7 bilhões, e a Educação, R$ 9,2 bilhões. Na época, o corte total atingiu R$ 69,9 bilhões. Cidades, Saúde e Educação foram as principais afetadas na época.

O secretário do Tesouro, Marcelo Saintive, disse que o governo procurou promover bloqueios proporcionais aos orçamentos dos ministérios e poupar os investimentos.

"Não tem nenhuma área especificamente afetada, todas sofreram corte."

A redução da meta fiscal afetou o mercado, fazendo o dólar subir e a Bolsa cair. Levou ainda a agência de classificação de risco S&P a colocar a nota brasileira em perspectiva negativa, o que sinaliza que o Brasil pode perder, em breve, o grau de investimento espécie de atestado de bom pagador.

 

Empréstimo cai em bancos privados e sobe nos estatais

O estoque de crédito nos bancos privados nacionais encolheu 0,2% no segundo trimestre de 2015 em relação aos três meses anteriores, segundo o Banco Central. Em relação a dezembro, a queda foi de 1% na carteira de empréstimos nas mãos de pessoas físicas e empresas, para R$ 944 bilhões. Nos bancos públicos, houve crescimento de 2,1% no trimestre. Nos estrangeiros, o aumento foi de 1,7%.

O arrefecimento segue o mesmo caminho do mercado de crédito nacional, que cresceu menos de 10% nos últimos 12 meses. No mesmo período de 2014, antes do início do ciclo de aperto monetário, essa expansão era próxima dos 12%. Em algumas modalidades, a queda na oferta e a procura por crédito fica mais evidente.

Na comparação entre junho de 2015 e dezembro, a contratação de crédito para aquisição de veículos recuou 8,3%. Lucro líquido Carteira de crédito Carteira por segmento – Santander Carteira por segmento – Bradesco Os financiamentos imobiliários atravessam momento semelhante. Em junho de 2015, as novas contratações para essa modalidade representaram R$ 8,8 bilhões.

No mesmo período do ano passado, as concessões superavam R$ 11 bilhões. O ciclo de alta da taxa básica de juros tem papel fundamental nessa menor expansão da carteira de crédito brasileira, segundo o BC. Como fica mais caro tomar dinheiro emprestado, tanto pessoas físicas quanto empresas evitam fazer planos que envolvam financiamentos. Na quarta-¬feira, o BC elevou a taxa Selic para 14,25% ao ano, a maior desde agosto de 2006.

 

Governo vê com alívio fim da alta dos juros

O aumento de mais 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), anunciado na quarta-feira (29) pelo Banco Central, foi visto como um certo exagero em outras áreas do governo.

A afirmação da instituição de que pretende manter agora a taxa inalterada por um período "suficientemente prolongado", no entanto, foi vista como um sinal de que a economia brasileira terá um alívio a partir de agora.

Um ministro disse à Folha que a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) é um tiro enorme em uma economia já frágil, mas deixar a taxa estacionada dará fôlego para a combalida economia brasileira neste segundo semestre de 2015.

Apesar de acharem exagerado o aumento, integrantes do governo reconhecem que o Banco Central não tinha muito o que fazer, considerando o desempenho das contas públicas até agora e a forte redução da meta fiscal anunciada na semana passada.

DECISÃO

Uma semana depois de o governo anunciar uma redução substancial na sua meta de economia para reduzir a dívida pública, o BC elevou a taxa básica para 14,25% ao ano, a maior em nove anos.

Foi o sétimo aumento consecutivo. Antes da reeleição da presidente Dilma Rousseff, a taxa estava em 11% ao ano.

No comunicado da decisão, o Copom afirmou que os juros devem permanecer nesse novo patamar "por período suficientemente prolongado" para garantir a convergência da inflação para a meta no fim de 2016.

Outro fator que contribuiu para que o BC elevasse novamente os juros foi a alta do dólar nos últimos dias.

 

VALOR ECONÔMICO

HSBC quer anunciar venda até segunda

Há um esforço em curso para concluir as negociações para a compra das operações brasileiras do HSBC pelo Bradesco ao longo do fim de semana. A expectativa do banco inglês é que o fechamento do negócio ocorra a tempo da divulgação do seu resultado, que no horário brasileiro ocorrerá por volta da 1h da madrugada de segunda-¬feira, dia 3 de agosto. Procurados, Bradesco e HSBC não comentaram o assunto.

Executivos do Bradesco estão em Londres para tratar do fechamento da aquisição dentro do prazo, mas a data do balanço seria apenas uma indicação, e não um prazo final para a conclusão da transação. A venda da unidade do banco na Turquia, que deve ser fechada para o holandês ING, também está perto de ser concluída, segundo informações da imprensa internacional.

A intenção original do HSBC era se desfazer apenas do negócio de varejo, mas o Bradesco ¬ assim como os outros bancos que demonstraram interesse na instituição ¬ quer ficar com toda a unidade. Esse ponto chegou a atrasar as negociações, mas em um sinal de que deve mesmo se desfazer de toda a subsidiária local, o HSBC repatriou recentemente os funcionários brasileiros que atuavam no exterior.

Como o banco pretende manter o atendimento a grandes empresas nacionais, deverá criar uma nova estrutura do zero no país. Uma movimentação de câmbio no valor equivalente a US$ 4 bilhões feita pelo Bradesco recentemente chamou a atenção do mercado, que ligou a operação à compra do HSBC. A contratação do câmbio, contudo, segundo apurou o Valor, foi feita em nome de clientes, e não pela mesa proprietária do banco.

Caso as conversas com o Bradesco não evoluam até a próxima semana, não se descarta a reabertura do processo a outros interessados, segundo uma fonte que acompanha a operação. O Bradesco negocia com exclusividade a compra do HSBC Brasil, mas o Santander mantém o interesse no ativo. O processo de venda conta com assessoria do Goldman Sachs. Em teleconferência ontem com a imprensa para comentar o balanço trimestral, o presidente do Santander Brasil, Jesús Zabalza, disse que fez uma "boa proposta" pelas operações do HSBC no país, tem interesse no negócio e segue na disputa.

O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, afirmou que não comentaria a possível aquisição do HSBC. "Nós não podemos, não gostaríamos nem temos condições de se manifestar sobre o tema", disse, também durante teleconferência com jornalistas sobre os resultados do banco. O HSBC Brasil registrou prejuízo de R$ 529 milhões no ano passado. O banco fechou 2014 com R$ 167 bilhões em ativos e patrimônio líquido de R$ 9,7 bilhões.

A compra ajudaria o Bradesco a encostar no Itaú Unibanco, maior banco privado do país. Para o Santander, a aquisição reforçaria a presença local e reduziria a diferença para os líderes. Em um mercado concentrado como o brasileiro, instituições com menor escala devem ter cada vez mais dificuldades para manter a rentabilidade.

 

Procura por crédito cai com retração econômica

A queda de 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre ante igual período do ano passado e a fraca perspectiva de recuperação ao menos até o último trimestre deste ano reduziram a procura das empresas por crédito. O novo ciclo de aperto monetário, que torna mais salgados os custos dos empréstimos e financiamentos, e a queda dos níveis de confiança dos empresários também explicam, em parte, esse arrefecimento.

De acordo com o "Indicador Serasa Experian de Demanda das Empresas por Crédito", a procura por recursos registrou, em junho, o terceiro recuo mensal consecutivo, mais um indício da queda da atividade econômica também no segundo semestre. No acumulado do primeiro semestre, a demanda das empresas por capital de giro e financiamentos avançou apenas 3,8% ante o mesmo período do ano passado, em um processo de desaceleração que se intensifica conforme a temporada avança.

No caso das médias, houve recuo de 16,6% na demanda. Entre as grandes, a queda foi de 10,9%. No acumulado do primeiro semestre de 2015, ante mesmo período do ano passado, a elevação na busca por crédito ocorreu apenas nas micro e pequenas: 5,2%, num viés que já é de baixa. "O aumento reflete a solicitação do crédito do desespero. As micro e pequenas são as que mais sofrem os impactos da crise, as que possuem maior desequilíbrio financeiro e, consequentemente, as que mais procuram crédito.

Pelos dados do Banco Central, vemos que as linhas que mais crescem são aquelas utilizadas para pagar dívidas e fechar o mês", diz Luiz Rabi, economista da Serasa Experian. Segundo ele, a necessidade emergencial de caixa ficou evidente no primeiro trimestre do ano. Com as vendas de Natal registrando o pior desempenho desde 2003 e com altos níveis de estoques, as pequenas empresas recorreram a empréstimos para arcar com suas dívidas.

No primeiro mês do ano, a procura por crédito entre as micro e pequenas empresas cresceu 13%. Em fevereiro, alta de 6%. Desde então, a demanda recua mês a mês. "As pequenas não estavam preparadas para a reversão do cenário econômico, não fizeram um planejamento de estoque e de caixa adequado e correram atrás dos bancos. Mas em abril, maio e junho a procura por recursos já diminuiu. Elas se ajustaram à realidade", diz Rabi.

A demanda tímida dos pequenos empresários foi captada nos balanços das principais instituições financeiras nos primeiros três meses do ano ¬ os números do segundo trimestre ainda não estão fechados. No Santander, a carteira de crédito para pequenas e médias empresas recuou 0,7% ante igual período de 2014, para R$ 31,64 bilhões. No Itaú, houve um pequeno crescimento no saldo das operações de crédito do segmento, de R$ 79,91 bilhões para R$ 81,17 bilhões de dezembro de 2014 a março de 2015.

Ao final de março de 2015, o saldo das operações de crédito para o segmento no Banco do Brasil foi de R$ 100,36 bilhões, estável em relação a um ano antes. "Diante de um cenário de maior desafio econômico, é natural que alguns setores revisem suas estratégias de investimento e de consumo e optem por adiar momentaneamente decisões sobre demanda por crédito. Esses movimentos são normais", diz o diretor de micro e pequenas empresas do BB, Ilton Schwaab.

No Bradesco, a carteira de crédito do segmento PME decresceu 1,4% ao final do primeiro trimestre de 2015, na comparação com dezembro de 2014, e cresceu 1,9% no acumulado de 12 meses até março. "Vivemos um momento de retração na economia, com uma demanda que acompanha o cenário atual.

A carteira se mantém estável, as demandas não têm crescido e temos expectativa de melhora a partir de 2016. Mas em nenhum momento o banco alterou suas políticas de crédito", diz o diretor de empréstimos e financiamentos, João Carlos Gomes da Silva. Levantamento da Serasa a partir dos balanços de Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e Santander mostra que a participação das micro e pequenas nas carteiras de crédito pessoa jurídica no primeiro trimestre foi a menor desde o final de 2011, passando de 44% para 34%.

Já a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostra que as taxas de juros das operações de crédito das pessoas jurídicas atingiram 4,03% ao mês em junho, o maior patamar desde julho de 2011.

 

Sob nova diretriz, crédito direcionado estaciona em 48% do total

Depois de ganhar espaço no estoque total de crédito da economia durante anos, o chamado crédito direcionado parece ter se estabilizado, respondendo agora por 48% do estoque total de crédito do país, que fechou o mês de junho em R$ 3,102 bilhões, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central. O percentual é praticamente o mesmo desde novembro do ano passado.

Tal movimento está alinhado com a proposta do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de reduzir a dependência da economia desse tipo de recurso, que tem fonte ou custo subsidiado pela sociedade. A ideia do ministro é ampliar a fatia de recursos livres no crédito, que hoje responde por 52% do total. Em 2008, quando o governo decidiu aumentar sua atuação no crédito, os recursos livres respondiam por 68% do total, e os direcionados, por 32%.

Um dos argumentos contrários ao elevado volume de crédito direcionado na economia é a consequente perda de potência da política monetária, que não atua sobre o custo do dinheiro nessa modalidade que tem taxas subsidiadas. Além disso, quanto maior a diferença entre as taxas livres e as direcionadas, maior é o custo fiscal dessas últimas, porque demandam maior subsídio.

O ciclo de aperto monetário iniciado em abril de 2013 e encerrado nesta quarta-feira pelo BC, com a Selic saindo da mínima histórica de 7,25% para 14,25% ao ano, ilustra bem essa discrepância.

A taxa média de juros do mercado com recursos livres bateu recorde a 43,5% ao ano agora em junho. Em abril de 2013 estava em 30,8%. Com recursos direcionados, o juro médio foi de 9,3% no mês passado, contra 7% em abril de 2013. Enquanto a taxa livre teve uma alta de 12,7 pontos percentuais no período, o juro direcionado aumentou apenas 2,3 pontos percentuais, o que evidencia o menor impacto da política monetária sobre esse mercado.

Não só pelo ciclo de alta de juros, mas também pela nova orientação dada ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ao restante dos bancos públicos, o mercado de crédito vem apresentado desaceleração. O estoque total mostra alta de 9,8% nos 12 meses encerrados em junho, desacelerando dos 10,2% vistos em maio.

E essa trajetória de moderação, conforme explicou o chefe do departamento econômico do Banco Central(BC), Tulio Maciel, hoje é puxada pelo crédito direcionado. E não por acaso. O governo vem reduzindo os aportes no BNDES e em outros bancos, ao mesmo tempo em que tem aumentado a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que baliza os empréstimos do banco de desenvolvimento.

Nos 12 meses encerrados em junho, o crédito direcionado tem taxa de crescimento de 15,6%. Em janeiro, essa taxa era de 18,3% e em junho do ano passado estava em 19,5%.

Enquanto isso, o crédito com recursos livres também desacelera, mas em ritmo menor. Nos 12 meses encerrados em junho, o avanço é de 4,9%, contra 5,1% em janeiro e 5,6% em junho do ano passado.

Também é possível atrelar a desaceleração com o ciclo de aperto monetário. Em abril de 2013, o mercado crescia a 16,3% ao ano, o crédito livre avançava 10,9% e o direcionado, 24,4%.

Apesar dessa alta expressiva de juros, da desaceleração da atividade e da piora nas métricas de emprego e renda, a inadimplência segue em patamares historicamente baixos, destacou Maciel. A média do mercado é de 2,9%. De fato, desde o fim de 2013 a taxa oscila entre 2,7% a 3%. Considerando os recursos livres para as pessoas físicas, a taxa de calote está em 5,4%, acumulando baixa de 0,2 ponto percentual em 12 meses.

Segundo Maciel, depois de forte alta em 2011 e 2012, a inadimplência mudou de dinâmica no mercado de crédito nos últimos anos. Segundo ele, houve muita exposição na mídia sobre o uso consciente do crédito e isso alterou o comportamento dos tomadores. Por parte dos bancos houve maior seleção de clientes, maior cautela, e uma das evidências disso é que para imóveis e veículos a parcela que está sendo financiada é menor do que naquele período de alta

 

Mercado vê queda da Selic após março

Após o Banco Central indicar que manterá a taxa Selic em 14,25% por um "período suficientemente prolongado", analistas já começam a apostar em um ciclo de afrouxamento monetário tendo início em março ou abril de 2016.

Esse intervalo é o que economistas consideram necessário para que o atual ciclo de elevação de juros surta efeito na inflação. Para várias instituições financeiras consultadas, a expectativa é que a Selic fique estável até lá - embora considerem que o BC deixou a porta aberta para voltar a subir a taxa básica, caso necessário.

"Ao longo do primeiro trimestre do ano que vem, a inflação corrente deve cair bastante, levando a uma revisão para baixo das expectativas de inflação", afirma Bruno Rovai, economista do Barclays especializado em Brasil, que espera que um corte da taxa Selic a partir de março de 2016.

Na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) encerrada na quarta-feira, a taxa básica foi elevada em 0,50 ponto percentual, a 14,25%, como o mercado esperava. A surpresa ficou por conta da sinalização de que o ciclo de aperto chegou ao fim.

Rovai lembrou que a última indicação da autoridade monetária sobre as condições para o corte da Selic foi dada pelo diretor de assuntos internacionais, Tony Volpon. De acordo com ele, a inflação, no modelo do BC, deveria estar abaixo da meta e as expectativas, muito bem ancoradas. Volpon se absteve de votar na reunião desta semana.

O economista-chefe do Besi Brasil, Jankiel Santos, espera que o BC mantenha a taxa básica de juros estável até abril. "Em princípio, há um tempo de três a quatro trimestres para a política monetária ter efeito na inflação, o que deve acontecer lá para março", disse. No entanto, Santos ponderou que a autoridade monetária não fechou a porta para uma nova alta de juros caso as perspectivas para a inflação voltem a piorar.

Essa também é a leitura de Rovai, do Barclays. Para ele, com a depreciação do câmbio e a redução da meta fiscal, muito provavelmente a projeção para a inflação de 2016 não chegou ainda ao centro da meta, de 4,5%, no modelo do BC. No entanto, o economista afirmou que o atual balanço de riscos dá condições para a autoridade monetária interromper agora a trajetória de alta de juros.

Para o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, a sinalização do BC sobre o término do ciclo de aperto da taxa de juros surpreendeu, mas não chega a arranhar a credibilidade da autoridade monetária. No entanto, ressaltou, é preciso que o BC se agarre a uma postura conservadora com a inflação, o que implica a manutenção da Selic no patamar atual até pelo menos o segundo trimestre de 2016. De um lado, a inflação ainda está alta e as projeções para o próximo ano ainda estão longe do centro da meta. De outro, a atividade econômica está muito fraca. "No todo, acho que o cenário inflacionário leva o BC a manter a Selic estável por mais tempo, mas não anula o espaço para cortes no ano que vem."

O estrategista do Nomura para a América Latina, João Pedro Ribeiro, aposta na estabilidade da Selic até pelo menos o fim deste ano. Na visão dele, o início de um ciclo de cortes ainda está "bem longe", já que as expectativas de mercado para a inflação em 2016 estão em tomo de 5,4%. Apesar disso, ele afirmou que continua enxergando a possibilidade de convergência para o centro da meta, mesmo com o impacto "danoso" da revisão da política fiscal e da depreciação do câmbio.

Em relatório a clientes, o UBS estimou que a taxa básica seja mantida em 14,25% até o primeiro trimestre de 2016. Depois disso, o banco prevê uma trajetória de queda da Selic, no fim da qual chegará a 12%.

Nem todo o mercado, porém, conta com uma redução da Selic já a partir do segundo trimestre. O Credit Suisse também afirmou, em nota a clientes, esperar que a taxa de juros fique estável até o fim de 2016. A sinalização do BC levou o banco a revisar seu cenário para o juro básico. Até a decisão do Copom, a instituição esperava que a Selic chegasse ao fim deste ano em 14,75% e fechasse 2016 em 14%.

Em relatório assinado pela equipe do economista Nilson Teixeira, o Credit Suisse justificou a revisão de cenário citando uma visão mais negativa para a dinâmica inflacionária, a expectativa de que a política fiscal continue expansionista e uma depreciação adicional do real. O banco projeta o IPCA em 9,4% no fim deste ano e em 6,5% para 2016. "Estimamos que a persistência inflacionária tem aumentado por vários anos e provavelmente continuará subindo nos próximos meses."

Para o Citi, o risco de rebaixamento do Brasil complica o processo de afrouxamento monetário, que não deve começar antes de dezembro de 2016. Em nota a clientes, o banco disse que os preços dos ativos refletem "maior probabilidade de o Brasil perder seu grau de investimento."

O mercado de juros futuros já reflete a chance de um corte de 0,25 ponto percentual da taxa Selic a partir de março do ano que vem. Ontem, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (Dl) recuaram na BM&F, com os investidores ajustando as apostas após o Copom. O Dl para janeiro de 2016 caiu de 14,29% para 14,18%, enquanto o Dl para janeiro de 2017 recuou de 13,84% para 13,52%.

 

'Taxa básica pode chegar a 11,25% no fim de 2016'

O Banco Central deve começar a cortar a Selic em abril, a passos de 0,50 ponto percentual, terminando 2016 com a taxa básica em 11,25% ao ano, diz o economista Caio Megale, do Itaú Unibanco. No entanto, Megale diz que o Itaú está reavaliando seu cenário base, diante dos novos riscos citados recentemente pelo BC "Esses riscos dizem respeito à mudança na meta fiscal e no câmbio mais depreciado, que podem pressionar a inflação no ano que vem, reduzindo assim o espaço para corte de juros", afirma o economista.

- Valor: Até quando a Selic vai ficar estável em 1 4,25% ao ano?

Caio Megale: Nosso cenário base sugere até abril do ano que vem. Esse seria o "período suficientemente prolongado" do BC.

- Valor: Por que abril?

Megale: Porque por volta desse mês a expectativa de inflação em 12 meses já vai estar caindo de volta para o centro da meta |4,50%], pelo menos vai voltar para o intervalo da meta [com teto de 6,50%). Até lá a economia terá tido tempo suficiente para se ajustar, o que dará conforto ao BC.

- Valor: Em que ritmo o BC começa a reduzir a Selic? Qual o patamar do juro no fim de 2016?

Megale: No nosso cenário base, vemos a Selic a 11,25% no fim do ano que vem, com cortes de 0,50 ponto percentual por reunião, a partir de abril. O problema é que o cenário está mudando. Como falou o Awazu [diretor do BC] em seu último pronunciamento, existem novos riscos no cenário.

- Valor: A decisão do diretor Tony Volpon de não participar da votação do Copom pode ser interpretada como um ruído na comunicação e credibilidade do BC?

Megale: Não acredito nisso. O BC operou como sempre opera: fez a reunião e deu suas explicações. E são explicações que fazem sentido com o cenário base. Não acho que o episódio do Volpon tenha mudando a conclusão da reunião.

 

DCI

Apesar de avanço dos juros, inadimplência estabiliza

- A inadimplência no mercado de crédito brasileiro ficou estável em junho, interrompendo dois meses consecutivos de alta, apesar dos juros médios terem mostrado novo avanço em meio ao ciclo de aperto monetário do Banco Central (BC).

Segundo dados divulgados ontem pelo BC, a taxa de inadimplência no segmento de recursos livres, que conta com taxas livremente definidas pelas instituições financeiras, repetiu em junho o percentual de 4,7% visto em maio, igualando-se ao patamar atingido pela última vez e

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