Quinta-feira

TRIBUNA DO NORTE

‘Reajuste aprofunda recessão’, diz CNI

O reajuste da taxa Selic – juros básicos da economia – para 14,25% ao ano deve aprofundar a recessão, criticou a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em comunicado, a entidade considera que as taxas mais altas vão ter impacto sobre o investimento, o consumo e o capital de giro das empresas.

“A elevação da taxa de juros básica da economia de 13,75% ao ano para 14,25% retrairá ainda mais a atividade industrial. Os juros altos encarecem o capital de giro das empresas, inibem os investimentos e desestimulam o consumo das famílias”, informou a entidade.

A CNI defendeu a manutenção da austeridade fiscal e a adoção de medidas que estimulem a competitividade para destravar a indústria.

“Em função da forte desaceleração da economia, a política monetária não deveria ser o único instrumento utilizado para controlar os preços. Para a CNI, é preciso combinar uma política fiscal austera com a adoção de medidas pró-competitividade para estimular o investimento e a gradual recuperação da atividade econômica”, destacou o comunicado. A Força Sindical também criticou a elevação da taxa. Para a entidade, a alta "é extremamente perversa com os trabalhadores".

De acordo com a Força Sindical, ao elevar a Selic, o Copom continua colocando uma trava no desenvolvimento e no crescimento econômico do País. "A alta é um verdadeiro balde de água fria na economia, que já está praticamente estagnada", aponta a Força Sindical, em nota.

"Avaliamos que o 'custo social e econômico' do uso da Selic no controle da inflação tem se revelado ineficiente e com um custo social muito alto para o País. Infelizmente, os dados da economia são pouco animadores. E a postura conservadora, por parte do governo, vem minando qualquer esperança de sua recuperação ainda para este ano", cita o texto.

 

COLUNA DE LUIZ ANTONIO

País da burocracia

Cerca de 77% dos brasileiros dizem que o excesso de  burocracia prejudica o crescimento econômico. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI),mostra que, na avaliação da maioria da população, a burocracia aumenta os  preços dos produtos e dos serviços e afeta mais as empresas do que os cidadãos. Cerca de 62% dizem que a redução da burocracia deve ser uma das prioridades do governo. Entre os entrevistados, 74% concordam total ou parcialmente que o excesso de burocracia desestimula os negócios, incentiva a corrupção e a informalidade e faz o governo a gastar mais do que o necessário. A pesquisa, em parceria com o Ibope, ouviu 2.002 pessoas em 142 municípios.

 

 

 

VALOR ECONÔMICO

China e você, tudo a ver

A China pode parecer distante demais para causar preocupação a um investidor brasileiro. O fato, entretanto, é que a desaceleração da economia oriental, o plano governamental de substituir investimento por consumo interno como motor de crescimento e as especulações sobre uma eventual desvalorização da moeda chinesa têm reflexos diretos sobre o portfólio deste lado do mundo. A recorrência de dias de fortes quedas nas bolsas chinesas desde o fim de junho - esta semana começou com o maior recuo diário do índice da Bolsa de Xangai em oito anos, de 8,5% - voltou a levantar a dúvida: um espirro na China é capaz de causar uma pneumonia no Brasil?

"Duas coisas tiram o nosso sono hoje: China e Estados Unidos", diz Ricardo Gaspar, superintendente de gestão de fundos do Citi. Uma preocupação da casa hoje é sempre ter proteção na carteira para riscos vindos dos dois países. A diferença, aponta Gaspar, é que a alta do juro americano já se reflete nos preços dos ativos de forma mais clara. "Já a China para todo mundo é uma incógnita", afirma. Para ele, a economia do país até começa a se estabilizar, mas em um patamar baixo.

"China é um risco tão ou até mais importante do que o de o Fed [Federal Reserve, o banco central americano] subir o juro, dado que essa alta vai ser lenta e comedida", diz também Ronaldo Patah, estrategista de gestão de fortunas do UBS. No lado chinês, considera, a dúvida é se o governo vai conseguir conduzir uma desaceleração gradual, ou seja, segurar o crescimento ao menos acima de 6% ao ano.

O fato é que não dá para desprezar movimentos no país que é hoje o maior parceiro comercial do Brasil. As ondas vindas da China são hoje vistas como capazes de sacudir ativos brasileiros, da renda fixa à renda variável, segundo os gestores, que dedicam cada vez mais neurônios ao país asiático.

O efeito mais óbvio que se tem vivido é sobre as ações dos setores de minério de ferro e siderurgia. Impossível explicar a queda de cerca de 20% nos papéis PNA (preferencial classe A) da Vale somente este ano sem citar a retração na demanda por minério de ferro na China, que derrubou os preços em todo o mundo. Paralelamente, o excesso de produção das siderúrgicas chinesas vem parar no Brasil, concorrendo com o aço local. Mais um reflexo na bolsa: as ações PNA da Usiminas, outro exemplo emblemático do reflexo chinês, também têm queda ao redor de 20% no ano.

"Para a bolsa como um todo, o efeito líquido de China é negativo. Você tem que ser bem mais seletivo", diz Rodrigo Borges, diretor de renda fixa e multimercado da gestora Franklin Templeton.

A incorporação da China ao comércio mundial, há pouco mais de uma década, vinha alimentando a alta nos preços das commodities, aponta Ennio de Moraes, diretor-executivo de investimento do Citi. Os efeitos do novo contexto sobre a bolsa local têm sido exaustivamente discutidos no banco ao longo dos últimos meses. Um pouco de alívio para o Ibovespa em si, considera Moraes, vem do fato de os segmentos de mineração e siderurgia terem perdido peso nos últimos anos no principal índice da bolsa brasileira, chegando hoje a algo próximo de 7%.

Há um entendimento de que a situação da China emperra uma das possíveis válvulas de escape para o processo de desaceleração vivido pelo Brasil, a da exportação, diz Paulo Clini, diretor de investimentos da Western Asset no Brasil. O canal de comunicação do país com o portfólio do brasileiro, aponta, é muito mais esse, o real, do que o financeiro.

O que pesa no cenário global não é tanto o fato de que a economia chinesa está desacelerando - o ritmo de um dígito é visto como mais sustentável -, mas sim o plano governamental de mudar o motor da economia dos investimentos para o consumo, considera Aquico Wen, gestor da Victoire Asia Investments, butique de investimentos com sede em Hong Kong, parceira da gestora brasileira de mesmo nome. O problema, diz, é que é exatamente no segmento de infraestrutura, via commodities, que se dá o principal link do mercado brasileiro com o chinês. "Desafortunadamente é nessa parte da economia que se vê a maior desaceleração." E, na visão de Wen, a desaceleração é estrutural e vai durar alguns anos.

O contágio na bolsa não se dá, entretanto, somente via economia real. "Quando o maior de todos os BRICs [sigla para Brasil, Rússia, Índia e China] desacelera, tem menos apetite para os mercados emergentes como um todo", diz Patah, do UBS. O fato é que esses países em geral são analisados em grupo, afirma, para o bem ou para o mal, determinando os sentidos dos fluxos.

A boa notícia, diz Wen, da Victoire, é que os brasileiros não precisam se assustar tanto com a derrocada recente nas bolsas chinesas. "A nosso ver, o contágio é limitado, porque a natureza do mercado chinês ainda é muito fechada", diz. Os estrangeiros são apenas cerca de 10% dos investidores das duas bolsas cujas apreciações exageradas nos últimos meses mais levantaram suspeitas de formação de bolhas, Xangai e Shenzhen, segundo o especialista em mercados emergentes.

"Não é que o investidor global esteja superinvestido no mercado chinês", afirma Wen, para quem parece de fato haver uma bolha no caso de Shenzhen, com uma relação média entre preço e lucro que chegou a bater 80 vezes. No caso de Xangai, o pico foi perto de 18 vezes, mais razoável, diz. A bolsa por meio da qual o investidor estrangeiro mais acessa as companhias chinesas é outra, a de Hong Kong.

Pode haver algum contágio via sentimento do investidor, mas nem os chineses estão tão expostos à bolsa de valores, defende Wen. São cerca de 90 milhões de contas abertas na bolsa, diz, ante uma população de 1,4 bilhão de pessoas. Ele aponta ainda como positiva a intervenção do governo para estabilizar o mercado, controlando também comportamentos irresponsáveis de alavancagem. "Não diria que estamos 100% confortáveis, mas estamos mais tranquilos."

O efeito pontual das últimas quedas nas bolsas locais também não tira o sono de Borges, da Franklin Templeton. "A bolsa tem uma participação muito pequena tanto como instrumento de financiamento das empresas quanto como instrumento de poupança dos indivíduos", diz. O Citi rodou um modelo econométrico para avaliar a influência das quedas nas bolsas e também da desaceleração recente do mercado imobiliário no consumo das famílias. A conclusão foi que existe uma correlação positiva, ou seja, que deve haver uma queda de consumo, mas não muito significativa.

Quando o investidor brasileiro pensa em câmbio, a China volta a ter seu peso. A própria queda do preço das commodities, a piora dos termos de troca e o consequente déficit em conta corrente levam a uma pressão de desvalorização sobre o real. "Além da perspectiva do Fed de aumentar os juros e os riscos fiscais domésticos, China sem dúvida contribuiu para o ajuste do câmbio", afirma Borges. "O câmbio é a ferramenta de amortecimento desse processo", assinala também Moraes, do Citi.

Há ainda um receio no mercado de que o governo chinês promova uma desvalorização da moeda do país a fim de dar competitividade a suas exportações. Essa atitude poderia disparar um processo em outros países do mundo. "Se a China desvalorizar a moeda, não seria de se estranhar que todas as moedas de emergentes logo em seguida se enfraquecessem. E o real iria nesse caminho", diz Clini, da Western.

O governo chinês deve, entretanto, evitar desvalorizar a moeda, considera o diretor da Western, porque isso prejudicaria outro de seus planos. O país fez um pleito ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para que o yuan seja incluído na cesta de moedas de Direitos Especiais de Saque, ou que, na prática, seja considerada oficialmente uma moeda de reserva internacional, como o dólar e o euro, por exemplo. Depreciá-la para aliviar problemas dentro de casa não ajudaria em nada na conquista do objetivo.

Via câmbio, a situação chinesa também poderia refletir-se nos juros locais, na opinião dos gestores. Pelo chamado "pass-through", uma desvalorização cambial tende a elevar os preços no mercado interno, via insumos importados mais caros, por exemplo. E, assim, acrescenta-se mais uma pressão para juros em patamares elevados. Borges, da Franklin Templeton, diz que o efeito existe, mas pondera que a curva de juros doméstica, que reflete as expectativas para a taxa, tem sido mais direcionada pela atividade doméstica.

Também para Moraes, do Citi, dependendo da magnitude da desaceleração econômica chinesa e do resultante déficit na conta corrente brasileira, os ventos vindos do oriente poderiam contaminar não só nossos mercados acionários, como o câmbio e a curva de juros.

Em termos de portfólio, o cenário volátil tem feito o Citi privilegiar cada vez mais a liquidez e aumentar a frequência de ajustes táticos em todas as classes de ativos, para refletir rapidamente as mudanças no contexto global.

 

Gasto cai, mas herança de 2014 atrapalha

Os dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do governo federal (Siafi) mostram desaceleração dos gastos da União em 2015, mas sugerem que a herança de 2014 e de outros anos anteriores estão afetando o ajuste fiscal em curso. Pelo acompanhamento da execução do orçamento feita pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) e pela ONG Contas Abertas, há um recuo expressivo em investimentos e uma desaceleração diferenciada em gastos correntes no primeiro semestre, onde algumas despesas obrigatórias sobem muito, outras estão mantendo a proporção em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) e outras apresentam queda forte. Os dados oficiais do Tesouro serão divulgados nesta quinta-feira.

Por programas, também há um comportamento diferenciado. O governo elevou os gastos com o Bolsa Família, educação superior e saneamento acima da inflação, manteve o SUS quase no mesmo patamar do ano passado, mas gastou proporcionalmente menos com educação básica e reduziu as despesas com Defesa e moradia digna (onde entra o Minha Casa, Minha Vida), de acordo com as inscrições de pagamentos no Siafi, e considerando valores nominais.

O acompanhamento Ibre-Contas Abertas mostra que o investimento da União no primeiro semestre deste ano correspondeu a 0,61% do PIB, percentual bem inferior ao 1,03% do mesmo período do ano passado. Em valores reais (corrigidos pelo IPCA), a queda é de quase 42%. Em despesas correntes, há aumento de 16,15% do PIB para 16,95%, o que representa crescimento real, em valores, de 2,6% ou R$ 12 bilhões.

Na avaliação do economista José Roberto Afonso, pesquisador do Ibre, no entanto, o dado de 2015 está muito contaminado pela base contraída do ano passado, quando o pagamento de várias despesas com o caixa do Tesouro foram atrasadas, no mecanismo que ficou conhecido como "pedalada fiscal". O gasto com pessoal, na mesma comparação, recua 1,7% em valores já corrigidos pela inflação.

Todos esses valores e comparações, salienta Afonso, consideram valores pagos do Orçamento de 2015 e restos a pagar pagos. E eles podem ser diferentes (no total) daqueles que serão divulgados pelo Tesouro hoje, porque embora a fonte primária dos dados seja a mesma (o Siafi), a tabulação feita pelo Tesouro é diferente. "Mas a tendência é de forte queda do investimento e de desaceleração no crescimento das demais despesas, com algumas quedas", pondera Afonso.

Em alguns programas, o acompanhamento do Contas Abertas-Ibre mostra claramente o efeito das despesas vindas dos anos anteriores. Nos investimentos, do total de despesas pagas de 0,61% do PIB, 0,55 ponto percentual (quase a totalidade) são de restos a pagar. "O principal são pagamentos de anos anteriores e não de obras que geraram demanda em 2015", diz Afonso. No caso de despesas correntes, do total de 16,95% do PIB pago em 2015, 2,09 ponto percentuais são de anos anteriores.

Para Afonso, é aqui que aparece a dificuldade do governo em controlar as chamadas despesas obrigatórias, pois o aumento efetivo de gastos de 2015 corresponde a um acréscimo não desprezível de 0,6 ponto do PIB em relação ao que foi gasto em 2014. Esse percentual, contudo, pode estar inflado pelo efeito das pedaladas, quando o atraso do pagamento pelo Tesouro tiver sido postergado apenas do primeiro para o segundo semestre. Ao mesmo tempo, o gasto embute maiores despesas com programas como Bolsa Família, Previdência e outros.

No caso específico da Previdência, os dados sugerem que houve atraso no pagamento pelo caixa do Tesouro. Apenas na rubrica aposentadorias da área urbana, as despesas cresceram de 2,7% do PIB para 3,4% do PIB entre o primeiro semestre de 2014 e igual período de 2015. Afonso pondera que o aumento equivale a 1,2% do PIB de um ano para outro, o que sugere que a base do ano passado pode estar subestimada.

No início do ano passado, vários economistas estranharam a evolução muito benéfica dos gastos da Previdência, que chegaram a registrar queda em relação a 2013 em algumas despesas em alguns meses. Ao longo do segundo semestre voltaram a crescer fortemente.

Afonso sugere que o Tesouro deveria fornecer uma base de dados das despesas dos últimos anos pelo regime de competência, e não pelo de gasto como é feito hoje, pois dessa forma seria possível fazer comparação mais realista das despesas que estão sendo efetivamente pagas, livres dos efeitos das pedaladas e de heranças de anos anteriores.

O desdobramento das despesas também mostra que o reconhecimento de gastos de anos anteriores está afetando o ajuste fiscal. Essa rubrica passou de peso de 0,15% do PIB em 2014 para 0,29% este ano. Nesse grupo, diz Afonso, devem estar as despesas com o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que começaram a ser pagas este ano.

 

O GLOBO

Risco maior de calote produz taxas ainda mais elevadas

Com o desemprego em alta, a tendência é que as instituições financeiras também fiquem mais cautelosas na hora de emprestar. E elas elevam os juros, como forma de compensar o risco de inadimplência mais alto quem perde o emprego tem mais probabilidade de não conseguir pagar suas dívidas.

- Enquanto os bancos não enxergarem que a economia vai crescer, que o emprego vai parar de cair, não baixarão a taxa de juros. Enquanto isso, dificultam a vida do consumidor - diz Miguel de Oliveira.

O último componente, a margem de lucro, também não tem dado trégua. Segundo Luís Santacreu, analista de bancos da Austin Rating, esse comportamento fica claro na análise do chamado spread bancário - diferença entre a taxa que os bancos pagam para captar dinheiro no mercado e os juros que cobram dos clientes. Segundo dados do Banco Central referentes a maio, o spread está em 29,8 pontos percentuais, 4,6 pontos acima do registrado em igual mês do ano passado. Considerando apenas o crédito para pessoas físicas, a diferença é ainda maior, de 7,4 pontos, e o spread chega a 44,4 pontos percentuais.

- Os bancos, para se proteger, estão precificando o crédito para cima, na expectativa de que amanhã a inadimplência vai morder um pouco do ganho deles - avalia Santacreu.

A elevação constante dos juros cria um ciclo vicioso difícil de ser rompido. Isso porque, com o crédito mais caro, empresas tendem a ter dificuldades financeiras e, com isso, demitem. O desemprego em alta reforça o temor de inadimplência, o que faz com que bancos continuem a elevar juros.

- A alta de juros acaba sendo uma bola de neve. Os bancos cobram juros mais altos. Endividadas, as famílias correm para o cheque especial, e o juro sobe ainda mais. Estamos vivendo um ciclo vicioso. A gente está caminhando para uma situação, infelizmente, de contratar um PIB negativo também para o ano que vem, não só neste ano afirma Alexandre Espírito Santo, professor do Ibmec-RJ, referindo-se ao crescimento do país.

Nicolas Tinga, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento eInvestimento (Acrefi), destaca que tem percebido uma cautela do consumidor em tomar crédito, o que, segundo ele, vem evitando uma alta maior dos juros:

- Não dá para saber, na ponta do lápis, financeira a financeira. Mas olhando os dados agregados e a dificuldade que eles estão tendo, vejo que, na financeira, a luta é por manter o mínimo de funcionamento razoável. Não vejo um momento de busca de spread.

 

BC eleva Selic a 14,25% e sinaliza fim de aperto

O Comitê de Política Monetária (Copom) reagiu aos "novos riscos" impostos ao cenário inflacionário de 2016 e dos anos subsequentes e promoveu uma nova alta de 0,50 ponto percentual na Selic, que saiu de 13,75% para 14,25% ao ano. A decisão foi unânime e sem viés, mas não contou com o voto do diretor de assuntos internacionais, Tony Volpon, que se absteve de votar, "a fim de evitar possíveis prejuízos à imagem do BC"-foi a primeira vez que um integrante do Copom se absteve de votar.

O comunicado apresentado após a reunião trouxe alterações importantes, falando que a decisão pela elevação foi tomada considerando o "atual balanço de riscos", além do cenário macroeconômico e as perspectivas de inflação. O BC também sugere que o ciclo teria sido encerrado, ao dizer que "o comitê entende que a manutenção desse patamar de taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no fim de 2016".

A manutenção dessa postura vigilante diante de "novos riscos" foi acenada pelo diretor da política econômica, Luiz Awazu Pereira, no fim da semana passada, quando reconheceu que os progressos obtidos em levar a inflaçãoàmetade4,5%em2016 precisavam ser equilibrados em face de riscos mais recentes que ameaçavam o cenário central do BC no horizonte relevante de política monetária. "É primordial ser vigilante para ter certeza que a política monetária reflita o balanço de riscos atual e permaneça adequadamente calibrada para atender nosso objetivo", disse o diretor.

O diretor não explicitou, mas um risco visível à estratégia do BC de levar a inflação para a meta foi a mudança da política fiscal, também na semana passada, para o período entre 2015 e 2018. A meta

deste ano caiu de 1,1% para 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB) e os 2% prometidos para 2016 só serão atingidos em 2018. Conforme disse o presidente Alexandre Tombini em diversas ocasiões, "quanto mais fiscal, melhor".

Junto com a redução da meta fiscal veio uma rodada de alta do dólar, que testou preços não vistos em 12 anos, na linha de R$ 3,40. Ontem, a moeda americana fechou a R$ 3,3288. No Copom de junho, estava em R$ 3,05. E quando o BC fez sua última projeção aberta de inflação no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de junho, o dólar considerado foi de R$ 3,10.

Como a decisão veio alinhada com o previsto pelo mercado, o que causou surpresa foi a decisão de Volpon de não tomar parte na reunião. Volpon enviou comunicado (e-mail) para o presidente Alexandre Tombini, antes do início da reunião desta quarta-feira, que começou às 17hl5, manifestando sua posição, que foi tomada em "caráter pessoal e irretratável".

Junto com a decisão do Copom e o comunicado no qual Volpon aponta que deixou de participar da reunião, oBanco Central também apresentou a ata de uma reunião extraordinária do Copom, realizada no dia 28 de julho, convocada pelo presidente Tombini, para "discutir o teor de manifestação pública", do diretor Volpon, que em evento no dia 20 de julho falou que, "pessoalmente, vou votar para o aumento de juros até que nossa projeção esteja de um maneira satisfatória apontando para o centro da meta".

Ao falar que "pessoalmente, vou votar pela alta de juro", Volpon foi interpretado como se estivesse antecipando ou abrindo seu voto dentro do Copom. A fala, pouco usual para padrões brasileiros, acabou gerando repercussões políticas. O senador José Serra (PSDB-SP) disse que vai levar o tema à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) e ao

Plenário do Senado, por entender que o diretor cometeu um grave equívoco ao antecipar seu voto. Nesta quarta, foi o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, que disse que o diretor precisaria "ser investigado e demitido".

Ao colegiado do Copom, Volpon disse que sua "manifestação" não representou vantagem a qualquer agente, pois foi feita em evento público com cobertura pela imprensa. Ele reafirmou que sua fala não implicou em "antecipação de voto", mas sim uma defesa do princípio operacional conhecido como "inflation forecast targeting", ou mirar a projeção de inflação na meta.

O diretor aponta que o voto está condicionado às projeções de inflação futura que são apresentadas durante as sessões técnicas das duas reuniões do Copom. Por isso, argumenta, "não é possível antecipar ou mesmo inferir o teor do voto", até que as apresentações sejam feitas.

Na ata, o colegiado do BC acolheu os esclarecimentos e "sem embargo e em linha com a governança aplicável às reuniões do Copom, recomendou a seus membros que redobrem a natural e reconhecida cautela em suas manifestações".

Com o novo aperto, a Selic iguala taxa vista em agosto de 2006 e está quase o dobro do patamar de 7,25% em que estava quando o Copom começou a subir os juros em abril de 2013. Esse pode ser visto como um dos ciclos mais intensos de aperto monetário da história do Copom. No mesmo período, o juro real, que é o que realmente importa, pois desconta a inflação projetada, saiu da linha de 2,4% para cerca de 8,4%, maior patamar desde novembro de 2008.

 

Possível término de ciclo de alta surpreende analistas

A sinalização do fim do ciclo de aperto monetário no comunicado do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) foi uma das surpresas da reunião de ontem, segundo analistas. "A expectativa era que o Banco Central repetisse o comunicado e fosse ajustando a comunicação de forma mais gradual até a próxima reunião", afirma o economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Alves de Mello.

Como a mudança na meta fiscal e a revisão na perspectiva do rating soberano pela agência Standard & Poor's foram muito próximos da reunião, havia a expectativa de que o BC mantivesse o comunicado dos encontros anteriores, segundo o economista. "Havia a sensação de que se estava próximo do fim do ciclo, mas não esperava que o comunicado já seria tão claro", diz.

Para Mello, um aumento de 0,25 ponto percentual nos juros nesta reunião era pouco para fazer frente à depreciação do câmbio. "O aumento de 0,5 ponto foi uma reação ao fiscal e ao câmbio", diz. Apesar dessa reação, o BC seguiu com a intenção de encerrar o ciclo, afirma.

O economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, avalia que a decisão do BC de sinalizar o fim do ciclo de aperto monetário foi precipitada frente às incertezas no mercado local. "O BC fechou a porta para um aumento de juros se o cenário piorar e agora vai tentar impedir que o mercado antecipe o corte de taxa básica para o começo do ano que vem", diz.

Para Weeks, a redução da meta de superávit primário, sinalizando um esforço fiscal menor até 2017, e a reação negativa dos mercados a esse evento, com a escalada do dólar frente ao real, levaram o BC a mudar de opinião e optar pela alta de 0,5 ponto da taxa básica Selic.

"Antes da meta fiscal, havia indicações de que ele estava inclinado para 0,25 ponto. Mas depois, acho que o BC decidiu subir mais do que queria e sinalizar que encerrou o ciclo de alta de juros", afirma.

O Banco Central deixou claro o fim da alta dos juros, mas dificilmente conseguirá começar a cortar a Selic já em meados do ano que vem, avalia o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEAUSP), Fabio Kanczuk. "A minha visão era que o plano de voo do BC era já começar a reduzir a taxa de juros em meados do ano que vem, algo que ele dificilmente vai conseguir, já que as expectativas para inflação não devem ceder", afirma.

A visão do professor é que o fim do ciclo se deu pelo fato de ser "muito duro" seguir subindo a taxa de juros depois da divulgação do resultado do Produto Interno Bruto (PIB), que acontecerá antes da próxima reunião do Copom. "O tempo que demorou a reunião é sinal que não foi uma decisão fácil", diz.

Para o economista-chefe do Santander, Maurício Molan, "apesar de não acreditarmos que a inflação vá convergir para a meta em 2016", o BC pode começar a cortar a taxa de juros no segundo trimestre do ano que vem, uma vez que a autoridade monetária estará visando a inflação de 2017. Sobre a decisão de Volpon de se abster de votar, Molan avalia que isso mostra que ele quis sinalizar para o mercado que a decisão não estava tomada.

 

BRASIL ECONÔMICO

Desconto na compra do imóvel nunca foi tão grande, aponta FipeZap

Os descontos obtidos pelos compradores na aquisição do imóvel atingiram o maior índice desde dezembro de 2013 e a intenção de compra caiu para o maior patamar desde o final do ano passado, aponta o Raio X FipeZap do 2º trimestre de 2015 divulgado nesta quinta-feira (30).

Os compradores entrevistados relataram um desconto médio de 7,6% obtido nas transações realizadas 12 meses encerrados em junho, o maior índice desde que o levantamento começou a ser feito, em dezembro de 2013. A taxa está quase 1 ponto percentual acima da média histórica desse período, que é de 6,9%.

No 2º trimestre de 2015, 43% dos entrevistados afirmaram ter intenção de comprar um imóvel nos próximos três meses, índice mais baixo desde o 3º trimestre de 2014, primeiro disponível para esse questionamento. A expectativa de 58% é que os preços caiam nos próximos 12 meses, e a variação média esperada é de -7,4%.

Segundo o Índice FipeZap divulgado no início do mês, os imóveis num conjunto de 7 cidades monitoradas tiveram perda real 4,5% no primeiro semestre de 2015. Em São Paulo, o recuo foi de 5,2%.

O Raio X FipeZap também aponta que os investidores continuaram a fugir do mercado imobiliário. A participação desse tipo de comprador, que chegou a atingir cerca de 45% há um ano, caiu para 37%, o menor índice desde dezembro de 2013. O índice também atingiu o mínimo histórico no caso dos que pretendem comprar para alugar - 21%.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Juros vão demorar mais para cair, avaliam economistas

O Banco Central foi absolutamente claro, em seu comunicado, que encerrou o atual ciclo de aumento nas taxas de juros, segundo economistas do mercado financeiro. Por outro lado, sinalizou que o atual patamar de 14,25% ao ano deverá perdurar por um bom tempo antes de voltar a recuar, mesmo com a fraqueza da economia.

Até então, grande parte dos economistas acreditava em mais um aumento nos juros neste ano, possivelmente, em um ritmo mais comedido de 0,25 ponto percentual. Já em 2016, quando a inflação desse sinais de que ficaria no centro da meta de 4,5%, o BC poderia começar a reduzir as taxas. E isso poderia ocorrer já no primeiro trimestre do próximo ano.

"Foi a porta de saída. O recado foi forte", disse o economista Alexandre Schwartsman, colunista da Folha.

"Difícil será manter esse discurso se acontecer alguma coisa diferente. Vai ficar feio chegar a setembro e dizer que se enganou. E a história recente mostra que o BC já se enganou outras vezes."

Para Mauricio Molan, economista-chefe do Santander, o Banco Central deixou claro que a Selic ficará estável em 14,25% "por período suficientemente prolongado", como consta no comunicado.

A expectativa do banco era de mais um aumento de 0,25 ponto, terminando o ano em 14,5%. Em 2016, o Santander esperava a redução já no primeiro trimestre. Após o comunicado, o banco passou a considerar que a Selic vai estabilizar em 14,25% e só voltará a cair no segundo trimestre de 2016.

AJUSTES NO MERCADO

A mudança no discurso do BC deverá levar a um ajuste nas taxas de juros negociadas pelos investidores para janeiro de 2016, que reflete o que acontecerá neste ano. Nos anos seguintes, pode ocorrer aumento nas taxas.

Na BM&FBovespa, os juros para janeiro de 2016 terminaram nesta quarta (29) a 14,31% --0,06 ponto acima da Selic atual. Para janeiro de 2017, os juros estavam em 13,87%, já considerando queda taxa Selic no próximo ano.

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

Antes do Copom, Tombini 'puxa orelha' de diretor

Numa ação inédita, um membro do Comitê de Política Monetária (Copom) deixou de participar de uma decisão do colegiado. Criticado por parlamentares e até alguns agentes do mercado financeiro por "falar demais", o diretor de Assuntos Econômicos do Banco Central, Tony Volpon, que é membro do colegiado desde abril, decidiu não participar da segunda parte do encontro de ontem.

Na semana passada, durante um evento para investidores, Volpon filiou a seguinte frase: "Eu, pessoalmente, vou votar para o aumento de juros até que a nossa projeção esteja de uma maneira satisfatória apontando para o centro da meta". Na terça-feira, o presidente do BC, Alexandre Tombini, convocou uma reunião extraordinária com todos os diretores para tratar do tema.

No encontro, Volpon argumentou que seu comentário ocorreu em evento aberto e com a presença da imprensa, o que não poderia justificar uma informação privilegiada a qualquer agente econômico. Ele também disse que não se tratou de uma antecipação de voto.

O desfecho da reunião do colegiado de terça-feira, foi um claro puxão de orelhas no diretor. Isso porque houve a recomendação para que os membros do Copom "redobrem a natural e reconhecida cautela em suas manifestações". Volpon esteve presente no primeiro dia da reunião do comitê.

Ontem, o diretor escreveu um e-mail a Tombini comunicando que não participaria do segundo dia de reunião, quando o rumo dos juros é revelado. O objetivo, de acordo com o comunicado, foi "evitar possíveis prejuízos à imagem do Banco Central do Brasil, sendo essa decisão em caráter pessoal e irretratável".

Esse episódio se dá no momento em que o BC tenta reconstruir sua credibilidade. Volpon recebeu de senadores ataques sobre sua atuação. As críticas vêm justamente da Casa que o aprovou após sabatina em abril. O diretor foi indicado por Tombini e aceito pela presidente Dilma Rousseff.

Ofensivas. A primeira ofensiva contra o diretor veio do senador José Serra (PSDB-SP). Em artigo na Folha de S. Paulo, o parlamentar criticou o fato de Volpon ter antecipado seu voto: "Ao alardear seu voto sobre o aumento dos juros, o diretor do Banco Central (Volpon) põe a imprensa dentro da sala do Copom e fere a independência do órgão". O tucano prometeu pedir à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado um pronunciamento sobre o episódio e também sobre a decisão de ontem do colegiado.

Essa argumentação ganhou a adesão do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). Em entrevista por telefone dos EUA ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, ele afirmou que Volpon merece ser demitido se não explicar o motivo de ter antecipado o voto. "É um absurdo um cara que vaza como vai votar antes da reunião do Copom."

A CAE não tem prerrogativa de demitir um diretor do BC. Essa tarefa cabe exclusivamente à presidente da República.

 

EXAME

Para economista do Besi, BC sinaliza fim do aperto

São Paulo - Ao mudar o teor do comunicado que acompanhou sua decisão de elevar a Selic em 0,50 ponto porcentual, para 14,25% ao ano, o Banco Centralpraticamente selou o fim do ciclo de aperto de juros.

Essa é a avaliação do economista-sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, a partir do trecho em que a autoridade monetária diz entender que é preciso manter o juro básico no patamar atual para a convergência da inflação no fim de 2016.

Com isso, os juros futuros de curto prazo devem passar por uma correção de baixa nesta quinta-feira, sobretudo entre os vencimentos para outubro de 2015 até janeiro de 2017.

"No caso dos vencimentos curtíssimos, o recuo deve ser maior, com a retirada de boa parte da precificação que indicava um aperto adicional de 0,25 ponto porcentual", afirmou Serrano. Hoje, além do aperto ratificado pelo BC, de 0,50 ponto, os juros futuros embutiam mais 22,85 pontos-base de alta para a Selic em setembro.

No seu comunicado, depois de dizer que decidiu elevar a Selic em 0,50 ponto, por unanimidade, ao avaliar "o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos", o Copom disse entender "que a manutenção desse patamar da taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no final de 2016".

Volpon

Para Serrano, o fato de o diretor de Assuntos Internacional, Tony Volpon, não ter votado, é positivo para diminuir os ruídos causados por suas recentes declarações.

"Acho que isso será bem-visto, para minimizar as críticas", afirmou o economista do Besi em referência a Volpon. Na segunda-feira da semana passada, durante evento em São Paulo, Volpon disse que voltaria pelo aumento dos juros para que a inflação atingisse a meta em 2016. A declaração foi alvo de críticas, especialmente entre alguns senadores, que prometeram pedir explicações ao diretor.

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