Quarta-feira

TRIBUNA DO NORTE

COLUNA DE LUIZ ANTONIO

Recuperação já preocupa

Lideranças empresariais do País começam a se preocupar com o que vem depois do arrocho fiscal, desemprego e da desoneração das empresas, se for aprovada pela Câmara dos Deputados. Para especialistas, a capacidade de reação da economia determinará o ajuste fiscal.  Segundo alguns economistas, a execução do ajuste fiscal não depende apenas do empenho do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Para eles, apenas a capacidade de reação da economia brasileira, com a queda da inflação e a retomada gradual do crescimento, determinará se o governo conseguirá ampliar o esforço fiscal nos próximos anos até que o superávit volte a 2% do PIB em 2018. Para aliviar a situação, ontem a agência de risco S&P manteve a nota de crédito do Brasil, mas com ameaça  de corte.

Dívida

O Indicador Serasa Experian de Inadimplência das Empresas encerrou o primeiro semestre de 2015 com alta de 12,9%, na comparação com o mesmo período do ano anterior. É o maior crescimento nesta relação desde 2012, quando o índice registrou elevação de 16,5%. Na comparação mensal – junho x maio de 2015 –, o indicador teve leve alta de 0,1%. Na interanual – junho de 2015 x junho de 2014, o índice também cresceu 19,2%.

Crédito

Aumenta em 2,0% a procura do consumidor por crédito em junho, mas acumula queda de 11,6% no ano, diz a Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito).Na avaliação interanual (junho/15 contra junho/14) o recuo foi de 10,9%. A procura  por crédito nas instituições financeiras subiu 4,8% na análise mensal, enquanto para o segmento não-financeiro a alta foi de 0,2%, mantida a base de comparação.

 

DCI

Índice de custo da construção civil desacelera para 0,66%

- O Índice Nacional de Custo da Construção - Mercado (INCC-M), apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), desacelerou, ao passar de variação de 1,87% em junho para 0,66% em julho.

O grupo Mão de Obra puxou o resultado, ao reduzir o ritmo de alta de 3,16% para 1,10%. Segundo a FGV, essa taxa de variação do componente só não foi menor devido aos efeitos dos reajustes salariais concedidos em Porto Alegre, no Distrito Federal e em São Paulo, que limitaram uma desaceleração ainda mais forte.

VALOR ECONÔMICO

Incorporadoras devem ter resultado fraco

Os números que a Tecnisa divulga hoje abrem a temporada de balanços do segundo trimestre do setor. A expectativa é de resultados mais fracos do que os do mesmo período do ano passado para as incorporadoras em geral, em decorrência de menores lançamentos e vendas, da queda da confiança do consumidor, do aumento das taxas de juros, das restrições de crédito imobiliário e dos distratos. Por outro lado, há tendência de continuidade da geração de caixa.

A média das projeções do Credit Suisse, Itaú BBA e Votorantim Corretora aponta que a Tecnisa terá lucro líquido de R$ 28,62 milhões no segundo trimestre, valor 64,3% menor do que o do mesmo período do ano passado. A média para a receita líquida aponta queda de 36%, para R$ 321,88 milhões.

Há expectativa que os lançamentos e as vendas da Tecnisa no trimestre tenham caído, pois a companhia concentrou suas atenções na redução de estoques e entrega de empreendimentos. Analistas esperam geração de caixa pela companhia de abril a junho.

O lucro líquido da Cyrela, maior incorporadora de capital aberto, foi de R$ 102,34 milhões, conforme a média das projeções de BTG Pactual, Credit, Itaú BBA, J.P. Morgan e Votorantim Corretora, retração de 39,4% ante o indicador registrado um ano antes. A média para a receita líquida ficou em R$ 1,083 bilhão, queda de 20%.

O Itaú BBA espera que os resultados da Cyrela sejam, outra vez, impactados negativamente por provisões trabalhistas e entrega de unidades em atraso. O Credit Suisse prevê geração de caixa de R$ 180 milhões e o Itaú BBA, R$ 100 milhões. Considerando-se apenas a parte própria, a Cyrela lançou R$ 861 milhões no trimestre, 6% acima de um ano antes e vendeu R$ 618 milhões, queda de 42%.

Para o lucro da MRV Engenharia, a média das estimativas de Credit, Itaú BBA, J.P. Morgan e Votorantim é de R$ 113,7 milhões. O número é 15% menor do que os R$ 134 milhões do segundo trimestre de 2014 (sem considerar os resultados não recorrentes da subsidiária Log Commercial Properties). A receita líquida média projetada, de R$ 1,05 bilhão, supera a de abril a junho de 2014 em 3,6%.

O Credit cita que a Prime, subsidiária da MRV no Centro-Oeste, continuará a ter impactos negativos no resultado da incorporadora e que as despesas de vendas continuarão elevadas. Esses dois fatores devem ser compensados, na avaliação do Credit, por maior reconhecimento de receita e pelo incremento nos resultados financeiros. É esperada geração de caixa. O Itaú BBA prevê aumento nas margens ante o primeiro trimestre.

A Gafisa vai apresentar lucro líquido no trimestre, conforme BTG, Credit, Itaú BBA, J.P. Morgan e Votorantim, após o prejuízo da companhia de R$ 851 mil um ano antes. A média das projeções é de lucro líquido de R$ 21,73 milhões. O J.P Morgan avalia que a companhia terá resultados fracos, com lucro líquido de cerca de R$ 12 milhões e margem líquida de 2%.

A média das estimativas indica queda de 7,2% na receita líquida da Gafisa, para R$ 533,23 milhões. A Tenda, divisão de baixa renda, terá uma fatia maior no total da receita da companhia, o que explica a mudança do resultado líquido, de acordo com o Credit. O J.P. Morgan estima que o fluxo de caixa livre da Gafisa será levemente negativo.

Para a Even e a EZTec, as projeções do BTG, do Credit, do Itaú BBA e do J.P. Morgan indicam queda do lucro líquido e da receita. No caso da Even, a média das estimativas para o lucro é de R$ 40 milhões, 18,4% abaixo de um ano antes. A receita média projetada para a companhia é de R$ 464 milhões, queda de 19%. O J.P. Morgan espera que a Even tenha margens mais elevadas e pequena geração de caixa positiva.

De acordo com a média das projeções, o lucro líquido da EZTec terá queda de 12,3%, para R$ 107 milhões, enquanto a receita líquida cairá 6,7%, para R$ 210 milhões. O Itaú BBA espera que a companhia gere caixa entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões no segundo trimestre. O J.P. Morgan avalia que a Eztec continuará com as melhores margens do setor, apesar de pequena contração, e terá retorno sobre patrimônio (ROE) de 16%.

Já PDG Realty e Rossi Residencial devem mostrar prejuízo líquido no segundo trimestre. A média das projeções de Credit, J.P. Morgan e Votorantim indica prejuízo líquido de R$ 183,3 milhões para a PDG, 35,3% acima do mesmo período do ano passado. A receita líquida da PDG terá queda de 48,6%, conforme a média das estimativas, para R$ 475,9 milhões.

De acordo com o Credit Suisse, velocidade de vendas mais baixas e incrementos nos distratos devem pesar nos resultados da PDG. O banco de investimentos espera geração de caixa pela PDG de R$ 150 milhões e avalia que a menor disponibilidade de crédito parece estar interrompendo a capacidade da companhia de acelerar a transferência dos recebíveis dos seus clientes para os bancos.

Para a Rossi, a média das projeções indica prejuízo de R$ 92 milhões, ante o lucro líquido de R$ 300 mil no segundo trimestre do ano passado. A receita líquida média estimada, de R$ 300 milhões, é 38,3% menor do que a de um ano antes. Segundo estimativas do J.P. Morgan, o prejuízo deve resultar do baixo reconhecimento de receita, margens fracas e menor diluição de custos. O J.P. Morgan espera, porém, a continuidade da geração de caixa positiva.

 

Tucanos sinalizam apoio a Dilma para evitar 'pauta bomba' no Congresso

Preocupados com o prolongamento da crise econômica e a baixa arrecadação nos Estados, os governadores do PSDB indicaram ontem que vão apoiar o esforço do governo Dilma Rousseff para evitar que o Congresso coloque em votação a chamada "pauta bomba", que aumenta despesas e ameaça o ajuste fiscal. Os tucanos, no entanto, querem aproveitar a reunião de amanhã, em Brasília, para reivindicar a aprovação de propostas, como a reforma do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e a criação dos fundos de compensação e desenvolvimento regional.

A presidente convocou a reunião para pedir aos governadores que convençam deputados e senadores a impedir a aprovação de propostas que aumentem os gastos da máquina pública. Em linha com o Planalto, o governador do Paraná, Beto Richa, afirmou que a continuidade da crise econômica não interessa aos Estados e que os governadores devem atuar com responsabilidade, inclusive, para evitar a criação de novas despesas. "Devemos ser responsáveis o suficiente para entender o quanto isto [crise] está prejudicando o país e, consequentemente, todas as unidades da federação, tanto governos de oposição como de situação", disse.

Richa observou que rejeitar o convite da presidente poderia soar como um "boicote e um desprezo" à realidade atual do país. O governador de Goiás, Marconi Perillo, corroborou as palavras do correligionário ao ressaltar a "responsabilidade de gestão" dos governadores e classificar como "indelicado" uma eventual recusa, sobretudo no momento em que os Estados enfrentam problemas de caixa com a crise econômica. Já o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, disse que evitar a "pauta bomba" deve ser uma preocupação de todos os governantes no país diante de um cenário de recessão.

"Há algumas pautas que impõem despesas e comprometimentos sem previsão de receita, o que tem desencadeado uma série de desequilíbrios. Acho que essa pauta [evitar o aumento de despesas] deve ser comum, servindo à União e aos Estados", afirmou Azambuja, acrescentando que já foi pedido ao Senado e à Câmara que evitem aprovar projetos com aumento de despesas sem a devida previsão de receitas.

O governador paulista, Geraldo Alckmin, desconversou sobre a reunião com a presidente Dilma que foi antecipada pelo Valor na semana passada - ao declarar que não conhecia a pauta do encontro. Cotado para concorrer à Presidência em 2018, Alckmin adotou um discurso nacional ao defender a necessidade da União reduzir o chamado custo Brasil e aproveitar o câmbio para elevar as exportações. "O Brasil ficou caro antes de ficar rico. Aí não tem competitividade. Quem paga a conta é a população", declarou o governador paulista, que disse aceitar o convite de Dilma com a disposição de "preservar os empregos" no país.

Os quatro governadores tucanos participaram ontem da abertura do salão internacional de avicultura e suinocultura, na capital paulista. Hoje devem se encontrar novamente para fechar uma pauta comum para o encontro com a presidente. A reforma do ICMS é um dos temas que serão reivindicados. As declarações dos tucanos motivaram a divulgação de uma nota do senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, onde ele rejeita a possibilidade de "qualquer manifestação de apoio" dos governadores do partido ao governo Dilma, ainda que participem da reunião. Para Aécio, é "absolutamente natural" conversas sobre questões administrativas e federativas de interesse do país.

 

'Bolsa deve estabilizar em algum momento'

O potencial de queda das bolsas chinesas ainda é relevante, mas não é razão para catastrofismo. Afinal, o mercado de ações do país chegou a subir 150% em um ano, até meados de junho, enquanto a economia real continuava desacelerando. Esta é a avaliação de Claude Meyer, professor do Instituto Sciences Po, de Paris, ex-banqueiro internacional e autor de "A China, banqueiro do mundo". Para Meyer, a turbulência na bolsa, em todo caso, terá consequências.

Valor O governo chinês tem condições de controlar o estouro da bolha nas bolsas do país?

Claude Meyer É preciso colocar isso no seu contexto. Houve uma valorização muito forte da bolsa chinesa. O índice da bolsa de Xangai foi multiplicado por dois. Mas, contrariamente a outros países, os investidores nas bolsas chinesas são essencialmente pessoas físicas, cerca de 80%, que não têm conhecimento financeiro. Os investidores institucionais, como companhias de seguros, contam pouco. E o investidor pessoa física age como gado, compra na alta, vende na baixa e acentua o movimento. Essa bolha da bolsa veio no rastro da bolha dosetor imobiliário que começava a surgir há uns três anos e o governo conseguiu lidar com o tema. E o investidor particular então se desviou para a bolsa, usando suas poupanças ou se endividando para comprar ações. Isso tudo foi acentuado pelas características da situação chinesa. O poder público adotou medidas de apoio evidentemente artificiais recentemente, como interdição de vendas. O problema é que esse apoio do Estado tem limites, porque os índices continuam superavaliados.

Valor Ou seja, há mais espaço para queda das ações?

Meyer Sim, ainda há potencial de baixa. As forças para a queda são mais importantes que as medidas que o Estado pode adotar, a menos que interdite todo mundo de vender ações, o que é evidentemente absurdo. É verdade que Pequim fez falsas manobras, com avanços e recuos que não tranquilizam os investidores. Além''disso, os indicadores da economia real não são bons. Não estamos seguros sobre as cifras do crescimento econômico dadas por Pequim. Mas não sou catastrofista. A bolsa deve em algum momento se estabilizar. E a economia chinesa é, de toda maneira, potente.

Valor Quais as consequências que o sr. vê a partir da turbulência enfrentada pelas bolsas?

Meyer No curto prazo, os investidores pessoa física perderam muito dinheiro ou perderam possibilidades de enriquecimento, e isso vai ter algum impacto sobre o poder de compra e portanto sobre o consumo em seis meses a um ano. No médio prazo, é a política do Estado em relação ao mercado que é questionada. Em novembro de 2013, o plenário do Partido Comunista da China decidiu que o mercado teria, a partir de então, um papel decisivo e que as intervenções do Estado diminuiríam. Ora, toda a atitude do governo através dessa crise da bolsa está em plena contradição com isso. Pequim tomou medidas administrativas que vão contra as tendências do mercado. Isso é um pouco preocupante, quando se esperava um crescimento mais dirigido em função das forças do mercado. Acho que, na situação atual, Pequim foi ao máximo do que é possível ir no mercado de ações.

Valor Essa situação tem impacto na expansão financeira da China?

Meyer Para algumas empresas, que jogaram mal na bolsa, talvez os investimentos no exterior se reduzam por algum momento. Iniciativas como o Banco dos Brics e o Banco Asiático de Inffaestrutura, para ajudar países mais pobres, como um Banco Mundial, são importantes e não vão se modificar. Não penso que [as turbulências nas bolsas] vão ter impacto maior sobre a posição financeira da China no estrangeiro. Sem dúvida a bolsa vai cair ainda, mas a potência financeira da China não é apenas a capitalização bolsista. Suas reservas internacionais estão próximas de US$ 4 trilhões.

Valor A maior internacionalização do renminbi prosseguirá sem atrasos?

Meyer Sim. Numa parte na Ásia, mas também nos emergentes, com os acordos de swaps de moedas, a faturação do comércio será mais e mais importante em renminbi.

 

'Volpon tem ajudado muito na comunicação do BC

O fato de Tony Volpon, diretor de assuntos internacionais do Banco Central, ter afirmado abertamente que vai continuar votando a favor da alta de juros "até que a nossa projeção esteja de uma maneira satisfatória apontando para o centro da meta" não foi uma falha de comunicação e acabou tendo uma repercussão exagerada. Essa é a opinião compartilhada por Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro Nacional, e Luiz Fernando Figueiredo, sócio-diretor da Mauá Capital e ex-diretor de política monetária do BC.

Em reunião da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) realizada ontem no Valor, os dois economistas defenderam que a comunicação do BC melhorou muito nos últimos meses e que essa fala de Volpon não pode ser considerada um erro.

Em evento em São Paulo na semana passada, Volpon disse: "Eu, pessoalmente, vou votar para o aumento de juros até que a nossa projeção esteja de uma maneira satisfatória apontando para o centro da meta". Como a declaração de votos de membros do Comitê de Política Monetária (Copom) não é comum, a fala do diretor provocou ampla discussão sobre a linha de comunicação do BC.

Os economistas também comentaram a diferença de tom entre os discursos de Volpon, cuja fala foi considerada "dovish" (inclinada ao afrouxamento monetário) e de Luiz Pereira Awazu, diretor de política econômica, que se pronunciou dois dias após o corte na meta fiscal de 1,1% para 0,15% do PIB. Em seu discurso, Awazu apontou para "novos riscos" para a inflação e foi interpretado como mais "hawkish" (inclinado ao aperto monetário) pelo mercado.

Figueiredo afirma que, se há um fato novo, o BC tem que reagir a ele. "Muitas vezes o BC tem que deixar tudo aberto porque ele, inclusive, está na dúvida", disse. "Quando eu estava no BC, houve uma ocasião em que mudamos de opinião na reunião do Copom. Discutimos o que deveriamos fazer: manter o discurso e fazer uma coisa que achamos que está errada ou mudamos? Nossa conclusão foi que devíamos fazer o que achávamos que era o certo, e não ficarmos reféns de um discurso", conta ele.

Esquentando o debate sobre a fala de Volpon, o senador José Serra (PSDB-SP) afirmou que pedirá que o Senado se manifeste sobre a declaração do diretor. Serra afirmou ao Valor que isso foi um grave equívoco e argumentou que os diretores do BC

Kawail afirma que não há nada de errado nessa declaração. "Eu fiquei surpreso com a dimensão que essa questão adquiriu", afirmou. "O que ele disse é que vai cumprir a meta, que vai fazer o melhor para cumprir a meta. Não acho que foi uma grande falha de comunicação", disse.

Para Figueiredo, que já esteve no BC, é exagerado dizer que Volpon violou alguma regra. "O que ele disse, na minha opinião, não tem nada demais. Todos os diretores falam o que ele falou, mas de forma mais cifrada", explicou. Figueiredo afirma que a comunicação do banco central brasileiro mudou muito recentemente e agora está mais clara, algo que é reconhecido pelo mercado. "O Volpon tem ajudado muito na comunicação do BC."

Os economistas também comentaram a diferença de tom entre os discursos de Volpon, cuja fala foi considerada "dovish" (inclinada ao afrouxamento monetário) e de Luiz Pereira Awazu, diretor de política econômica, que se pronunciou dois dias após o corte na meta fiscal de 1,1% para 0,15% do PIB. Em seu discurso, Awazu apontou para "novos riscos" para a inflação e foi interpretado como mais "hawkish" (inclinado ao aperto monetário) pelo mercado.

Figueiredo afirma que, se há um fato novo, o BC tem que reagir a ele. "Muitas vezes o BC tem que deixar tudo aberto porque ele, inclusive, está na dúvida", disse. "Quando eu estava no BC, houve uma ocasião em que mudamos de opinião na reunião do Copom. Discutimos o que deveríamos fazer: manter o discurso e fazer uma coisa que achamos que está errada ou mudamos? Nossa conclusão foi que devíamos fazer o que achávamos que era o certo, e não ficarmos reféns de um discurso", conta ele.

Esquentando o debate sobre a fala de Volpon, o senador José Serra (PSDB-SP) afirmou que pedirá que o Senado se manifeste sobre a declaração do diretor. Serra afirmou ao Valor que isso foi um grave equívoco e argumentou que os diretores do BC devem entrar na reunião do Copom sem qualquer decisão, o que garantiría que o voto do colegiado será técnico. "Esse vazamento deve ser reprovado", afirmou.

O Copom encerra hoje sua reunião de dois dias e a expectativa de 20 entre 30 economistas ouvidos pelo Valor é que o BC eleve a Selic em 0,50 ponto percentual, para 14,25% ao ano. Outros nove entrevistados projetam elevação menor, de 0,25 ponto percentual, para 14%, e uma instituição manteve estimativa de 15%, para revisão.

 

Meta piora previsões, mas indica nova estratégia

O anúncio das novas metas de superávit primário feito pelo governo na semana passada surpreendeu pela intensidade e extensão, funcionando como um divisor de águas para os economistas que, em meio ao choque de realidade, dispararam revisões baixistas para os principais indicadores econômicos. Para quatro experientes economistas do mercado financeiro-dois deles com funções de comando no setor público no currículo -, a decisão do governo de revisar dramaticamente a meta de superávit primário neste e nos próximos dois anos teve o condão de escancarar a realidade e os limites das contas do públicas. E pode também indicar uma mudança importante de posição da equipe econômica, que busca compartilhar a estratégia de combate ao aumento dos gastos obrigatórios com o Congresso e com a sociedade.

"Não me parece que jogaram a toalha", disse o economista-chefe da Bradesco Asset Management (Bram), Fernando Honorato Barbosa, que esteve ontem no Valor, ao lado de Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro; Luiz Fernando Figueiredo, sócio-diretor da Mauá Capital e ex-diretor doBanco Central; e Marcelo Carvalho, economista-chefe do BNP Paribas para a América Latina. Os quatro integram o Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), cujas reuniões são feitas sempre antes da definição da taxa Selic pelo Copom. A edição de ontem foi realizada na sede do Valor.

Segundo Kawall, do Safra, o ajuste fiscal é condição necessária, mas não suficiente para que a confiança se recupere, pois o próprio ajuste é inviabilizado por aspectos econômicos estruturais, como o crescimento das despesas e a rigidez dos gastos. "É um volume de despesas que não cabe no tamanho do Brasil", afirmou o economista-chefe do Safra. Para Kawall, as mudanças no abono salarial e no seguro-desemprego são uma "quebra de paradigma", mas não resolvem o problema. "A questão não é de credibilidade da equipe econômica ou de erro de diagnóstico, é um problema de reação da sociedade e do Congresso", disse.

Na mesma linha, Honorato, da Bram, avaliou que, com a revisão das metas de superávit primário, o governo quis escancarar o problema e trazer a sociedade para o debate. "Mas não adianta fazer planejamento e todo mundo lá se esforçar se a sociedade não decidir que tamanho de gasto que a gente quer ter", disse Honorato, ao lembrar que o próprio ministro Nelson Barbosa declarou que o governo tinha a opção de elevar impostos regulatórios, como o IPI ou o IOF, ao invés de reduzir a meta de economia para pagar os juros da dívida.

De uma maneira taxativa, Kawall afirmou que é preciso atacar o gasto onde ele é maior, "não no cafezinho". Nessa conta, entrariam assuntos espinhosos como os gastos da Previdência, as despesas do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e a vinculação dos gastos com Saúde e Educação.

Com uma análise mais focada no curto prazo, Figueiredo, da Mauá Capital, disse que a nova meta fiscal pode ter "atrapalhado" o processo de conclusão do aperto monetário, já que o BC estava a caminho de fazer um "ajuste fino" em sua política monetária, possivelmente considerando elevar a Selic em apenas 0,25 ponto percentual na reunião de hoje, mas foi surpreendido pela magnitude do corte na meta fiscal. "É muito possível ter 50 ou 25 pontos base. Qual dos dois? É difícil saber."

Para Figueiredo, o BC teve razão ao mudar o tom do discurso na semana passada, que se tomou mais 'hawkish' (conservador) aos mercados. "Muitas vezes o BC tem que deixar tudo em aberto porque ele, inclusive, está na dúvida", disse, ao contar a história de que houve uma ocasião, quando estava no BC, em que toda a equipe do Copom mudou de opinião em uma reunião. "Discutimos o que deveríamos fazer: manter o discurso e fazer uma coisa que achamos que está errada ou mudarmos? Nossa conclusão foi que devíamos fazer o que achávamos certo, e não ficarmos reféns de um discurso."

Em um tom mais duro, Figueiredo disse que a taxa de juros brasileira é uma "jabuticaba" e só tem vantagem para quem não corre riscos e quer viver de renda. "Juro a 14% não é razoável, nenhum país precisa", disse. Segundo Figueiredo, o momento atual é propício para avaliar o que o país, no fim das contas, quer. "Se continuarmos desse jeito vamos cair no precipício mesmo", sentenciou.

Marcelo Carvalho, do BNP, disse que a revisão da meta fiscal, além da perspectiva de abatimento de frustração de receita, confirmou a mudança no "plano de voo" do governo, que apontava para um ajuste clássico da economia. Segundo ele, a revisão é uma notícia ruim porque as condições hoje são piores do que em outros momentos. Entre a reunião do comitê de acompanhamento da Anbima de junho e o último encontro realizado, conta Carvalho, houve uma forte deterioração na percepção sobre o desempenho da atividade.

O consenso de projeções de 25 entidades que fazem parte da Anbima aponta que o PIB terá recuo de 1,9% neste ano, retração mais forte do que a estimativa anterior, de 1,3%. Para 2016, a previsão mediana para a atividade ainda se mantém positiva, mas passou de expansão de 1 % para 0,3%. "A recessão será mais prolongada do que se imaginava", disse Carvalho. Já o consenso de projeções para a dívida bruta subiu de 63,5% para 64,6% em 2015. Para 2016, essa previsão aumentou de 65,1% para 67,1%.

"Nào temos projeções de longo prazo, mas o debate foi temperado pela percepção de que chegaremos a 70% do PIB em algum momento ainda neste governo", disse Carvalho. Nesse cenário, diz ele, o risco de que a nota de crédito soberana brasileira seja rebaixada é maior, algo sobre o que a decisão de alterar para negativa a nota de crédito brasileira-tomada ontem pela S&P-não deixou dúvidas.

 

Juro real muito alto é sinal de desequilíbrios, diz Figueiredo

O taxa de juros local é uma "jabuticaba" e, no fim das contas, um país que tem juro real três ou quatro vezes maior que países parecidos não está em equilíbrio, ele tem problema. Essa é a avaliação que Luiz Fernando Figueiredo, sócio-diretor da Mauá Capital e ex-diretor de Política Monetária do BC, fez ontem em debate no Valor. "Em qualquer lugar do mundo, a pessoa [que vive de renda] tem renda negativa porque a renda é menor que a inflação se ele não corre nenhum risco. No Brasil é o contrário, esse título é de menor risco, com liquidez diária". A seguir, os principais trechos da apresentação.

Selic alta

O que o juro está nos dizendo é que esse país é inviável. Estamos há tantos anos pagando juro real alto que estamos anestesiados por isso, achando que está tudo bem. Não está tudo bem se no país uma empresa que vai investir tem esse custo de capital tão alto. Esse momento que estamos vivendo é de avaliar o que o país no fim das contas quer. Se continuarmos desse jeito vamos cair no precipício mesmo.

Guinada

Vivemos alguns anos em que a política econômica como um todo passou por um enorme desgaste. Vários equívocos foram feitos até o momento em que realmente, se não houvesse guinada, não teríamos mais o grau de investimento. Essa guinada foi feita em termos de política econômica com Levy, Barbosa, toda a equipe do BC, agora podendo estar em uma posição mais razoável.

BC comprometido

O BC tinha grandes objetivos, como trazer para os agentes a convicção de que ele está lá para valer querendo trazer a inflação para a meta, para um nível razoável comparado com qualquer país do mundo. Além da necessidade de aumento de tarifas que está levando as tarifas administradas a um aumento de 13%, o que traz choque muito grande para a inflação. O que dá para dizer é que o BC teve bastante sucesso em deixar claro qual é o seu compromisso. Quando olhamos números de longo prazo, eles estão muito perto da meta, o que mostra que hoje as pessoas entendem o BC comprometido. A redução da banda [de inflação] para 2017, esse tipo de coisa, fez com que o sistema passasse a interpretar que esses caras estão falando sério e as expectativas vão para meta.

Inflação para baixo

Infelizmente a inflação surpreendeu para cima nos últimos meses, mas o BC disse que está firme até ver que a inflação vai para a meta. O momento que estamos vivendo hoje parece que o estoque de surpresas negativas em relação à inflação está acabando. A atividade não para de surpreender negativamente. Podemos até começar a ter surpresas para baixo na inflação. Parece um certo otimismo, mas se não tem comprador e quero vender meu produto, tenho que reduzir preço. A inflação tende, sim, a se acomodar em um nível mais baixo e provavelmente vai nos surpreender um pouco.

Enxugando gelo

Os gastos obrigatórios estão crescendo 14,8% neste ano e os gastos discricionários estão caindo 6,8% no período, ou seja temos um problema aqui. Se faz um esforço enorme, mas no fim das contas estamos enxugando gelo. Essa despesa obrigatória nos custa 0,5% do PIB todo ano, todo ano precisamos arrumar uma receita de 0,5% do PIB para manter o 'status quo'. É um processo inviável. Já temos dívida muito alta, não temos muito espaço para aumentar a receita. Temos que pensar um pouco mais pra valer nisso. Fazendo tudo o que dá para fazer, mesmo assim a gente não chega lá.

 

BNDES menor e venda de reservas trariam dívida a 52%

Cultivamos um Estado que requer recursos crescentes para manter o equilíbrio fiscal, o que significa necessidade de aumentos contínuos da carga tributária que comprometem o crescimento econômico e a geração de emprego. Embora não descarte uma nova alta da carga tributária no curto prazo, o economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, diz que a questão é buscar uma agenda de reformas estruturais. "Aquele longo prazo do Brasil é hoje", disse em debate no Valor.

A seguir, os principais trechos da sua apresentação.

Rigidez do gasto

Os doze anos de comportamento extraordinário da receita parecem ter entorpecido a sociedade, mas a urgência hoje é que a agenda de reformas ataque o problema da rigidez do gasto, não dá mais para adiar essa discussão. E depois todas as reformas, a parte tributária, a abertura da economia, o mercado de trabalho. E também lembrando que na infraestrutura há chance de fazer uma melhora. De repente a gente faz um "lava-jato" de todo esse modelo de governança.

Grau de investimento

As chances de perder o grau de investimento cresceram muito. Não é o meu cenário base, mas o Brasil deve ficar nas três agências de classificação de risco no limiar do investment grade com perspectiva negativa. Pode ser que alguma das agências não vá para o Outlook negativo? Pode. Mas isso para mim vai ser surpreendente.

Dívida bruta

O aumento recente da dívida bruta tem muito a ver com acúmulo de reservas internacionais e expansão dos bancos públicos. As reservas equivalem hoje a 35% da dívida bruta e os aportes aos bancos públicos, algo mais recente, totalizam cerca de 15% da dívida bruta.

Somando os dois, o custo é de R$ 70 bilhões a 80 bilhões por ano. Ou o que o governo investiu no ano passado, que foi R$ 77 bilhões.

Auxilio ao ajuste

Uma linha auxiliar ao ajuste estrutural da economia seria a troca de swaps cambiais por reservas e redução do balanço do BNDES. Se o governo trocasse os swaps cambiais por reservas, isso não afetaria o custo em nada, mas causaria uma queda da dívida bruta de cinco pontos percentuais ao longo do tempo em que isso fosse feito e teria uma redução equivalente das compromissadas. Com o BNDES, se nós imaginássemos que em 15 anos fizéssemos um cronograma de repagamento ao Tesouro, quais seriam os eventuais efeitos sobre a dívida bruta? Dentro de uma premissa de longo prazo de um primário de 2% do PIB, crescimento de 2%, Selic a 9%, isso tudo nos levaria a uma dívida bruta de 51,6% em 2030. Sem fazer nada, seria de 68,3%.

Trajetória da dívida x grau de investimento

A nossa conta [do Banco Safra] de curto prazo é que a dívida bruta iria neste ano para 64,7%; no ano que vem para 68,4%; 70,7% em 2017 e 71,1% em 2018. Esse nível de 70% é emblemático e a perda do investment grade ficaria muito mais próxima.

Pontos positivos

Há coisas positivas. A reflexão sobre a situação atual está indo na direção de expor que o rei está nu. Muitas empresas passam a olhar o Brasil de modo diferente por dois motivos: em razão do câmbio, que está indo para onde deveria, e pela expectativa de que todo o imbróglio que vivemos com a operação Lava-jato redunde em uma melhora de governança. A governança que é muito falha na infraestrutura, em que a gente viu que o problema não estava só no governo, mas envolvia também o setor privado.

 

Nos próximos meses, contas externas e inflação melhoram

Apesar do aprofundamento do quadro recessivo e do problema fiscal não ter sido equacionado, a economia pode contar com duas boas notícias nos próximos 12 a 18 meses, na avaliação de Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe da Bradesco Asset Management (Bram): um ajuste mais rápido das contas externas e a perda de fôlego da inflação. "Isso limita o tamanho da piora que podemos ter no Brasil", disse Honorato, que participou ontem da reunião do comitê de acompanhamento macroeconômico da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), realizada no Valor.

Antes de o governo reduzir a meta de superávit primário para este e para os próximos dois anos, Honorato trabalhava com expansão de 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016, impulsionada pelo afrouxamento monetário que viria após a reancoragem das contas públicas. Com um ajuste fiscal mais gradual e sem retomada da confiança, o PIB deve recuar 0,7% no próximo ano, previu ele, mas ainda existe um vetor de aceleração para a atividade no cenário.

"A queda da demanda já começou a produzir efeitos nas contas externas. A balança comercial já começou a reagir, a conta corrente começou a melhorar", comentou o economista-chefe da Bram, para quem a redução do consumo interno, a elevada ociosidade na indústria e a desvalorização cambial abrem espaço para um processo de substituição de importações por produção doméstica. Em sua opinião, esse movimento deve começar a ajudar a economia na segunda metade de 2016. "Esse é o caminho pelo qual o Brasil tradicionalmente se regenera quando há uma crise e isso está acontecendo."

A Bram estima que o déficit em transações correntes vai cair para US$ 50 bilhões em 2016, ou 3% do PIB. Até junho, esse número ficou em 4,36% no acumulado em 12 meses. Pensando "friamente", de acordo com Honorato, o ajuste mais rápido do saldo em conta corrente e o elevado nível de reservas cambiais preservam a capacidade de rolamento da dívida externa soberana, assim como mantêm o interesse de investidores estrangeiros.

Do lado da inflação, o economista avaliou que o choque de preços administrados e do câmbio não se espalhou pelos demais preços como algumas pessoas temem. "Tenho dificuldade em ver a inflação se propagar em um ambiente com política fiscal e monetária restritivas, e crédito também restritivo". Parece difícil que o índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegue ao centro da meta já no ano que vem, mas a desaceleração da demanda doméstica e o realinhamento da trajetória dos salários em relação à produtividade vão ancorar as projeções "mais para frente", afirmou.

Mesmo neste ano, Honorato observou que, ao excluir a "dívida do passado" acumulada pelos preços administrados, o IPCA encerraria 2015 entre 6,5% e 7%, nível não muito diferente do registrados no últimos anos, e não em 9,2%. O cálculo foi feito substituindo o avanço de cerca de 15% para os itens monitorados por aumento de 4,5%. Para a Bram, o IPCA vai recuar três pontos percentuais em 2016, para 6,2%.

Embora veja a descompressão inflacionária e o ajuste do setor externo como dois fatores positivos, Honorato destacou que o rebaixamento das metas de superávit primário para 2015,2016 e 2017 indicam que a trajetória de crescimento da dívida bruta em relação ao PIB não vai se estabilizar. Em algum momento, disse, o governo terá que fazer um esforço fiscal adicional, seja com redução de despesas ou aumento de receitas.

 

O GLOBO

'Pedaladas': governo deve R$ 1 bi em taxas

O governo deixou de pagar mais de R$ 1 bilhão à Caixa Econômica Federal e ao Banco do Brasil referentes a taxas de administração de programas sociais como Bolsa Família, Financiamento Estudantil (Fies), Minha Casa Minha Vida e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os bancos oficiais foram contratados pelos ministérios para executar os programas e deveríam ter sido remunerados por essa prestação de serviço.

Um parecer da Advocacia Geral da União (AGU), elaborado em março, relaciona a falta de pagamento dessas taxas de administração de programas vinculados a dois ministérios à manobra conhecida como "pedalada fiscal" que está em análise no Tribunal de Contas da União (TCU) e poderá levar à rejeição das contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff. As "pedaladas" foram manobras para segurar repasses aos bancos oficiais, que se viram obrigados a arcar com pagamentos dos programas sociais.

MAIOR PARTE DA DÍVIDA É DE 2014

No caso do Bolsa Família, a dívida remonta a 2003, primeiro ano do programa e do mandato do ex-presidente Lula. Mas a principal fatia da dívida com os bancos, de R$ 630,3 milhões, foi contraída em 2014, ano em que a presidente Dilma Rousseff foi reeleita.

No passado, deixaram de ser pagas R$ 337,3 milhões em taxas de administração do Bolsa Família e R$ 293 milhões do Fies. A falta de pagamento levou a Caixa Econômica a representar contra dois ministérios na Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal, que funciona na AGU e tem o objetivo de solucionar conflitos no governo. Mas não houve acordo.

Um processo foi instaurado em 2014 para que a Caixa tentasse receber uma dívida de R$ 93,5 milhões do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), responsável pelo Bolsa Família. O valor, informado pela AGU, é referente a taxas de administração do programa que deixaram de ser pagas pela pasta entre 2003 e 2010. Por uma divergência entre as partes quanto ao valor da dívida, o processo foi arquivado sem conciliação na Câmara. Os atrasos voltaram a ocorrer nos últimos dois anos.

Em 2013, a Câmara da AGU recebeu outro processo, em que a Caixa cobrou R$ 188,2 milhões do Ministério das Cidades pelas taxas administrativas na execução do programa Minha Casa Minha Vida e do PAC. A falta de pagamento se refere ao período de 2006 a outubro de 2014. Mais uma vez, não houve acordo entre o governo e o banco.

A AGU confirmou ao GLOBO que todos os processos foram abertos a partir de reclamações da Caixa sobre o represamento de recursos, que ficou conhecido como "pedalada fiscal"

O TCU considerou que a prática das "pedaladas" serviu para melhorar artificialmente as contas públicas e infringiu a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Na análise das contas de 2014, Dilma precisou se explicar sobre a manobra e sobre outros indícios de irregularidades fiscais. O julgamento do parecer no TCU está previsto para agosto.

O R$ 1 bilhão que deixou de ser pago a título de taxa de administração dos programas não fez parte, até agora, das auditorias do TCU. Segundo cálculo do tribunal, as "pedaladas" envolveram, ao todo, R$ 40 bilhões entre 2009 e 2014. Ontem, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, foi ao gabinete do ministro Augusto Nardes, do TCU, para reforçar a defesa da presidente Nardes é o relator das contas de 2014.

As taxas do Bolsa Família deixara ir de ser pagas à Caixa durante todo o anc de 2014. O Ministério do Desenvolvimento culpou o Tesouro pela interrupção dos repasses. Também em 2014, c governo deixou de pagar as taxas de administração do Fies devidas à Caixa c ao Banco do Brasil, agentes financeiros do programa de crédito estudantil.

O total das faturas do Fies apresenta das pelos dois bancos chega a R$ 413,3 milhões (R$ 130,9 milhões do BB e R$ 282,4 milhões da Caixa). Desse montante, R$ 293 milhões ainda não foram quitados. No caso do Ministério das Cidades, a dívida principal é de R$ 126,7 milhões, referente ao período de 2006 a outubro de 2014. A atualização monetária corresponde a mais R$ 61,4 milhões, de acordo com a AGU.

MINISTÉRIO CONTESTA OS VALORES

O Ministério do Desenvolvimento informou, por meio da assessoria de imprensa, que ainda discute com a Caixa os valores referentes à prestação de serviços de 2003 a 2010. "Não é possível fazer qualquer referência a valores neste momento" informou. "Em relação aq atual contrato de prestação de serviços, as negociações estão em andamento."

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) informou que "c pagamento das taxas de administração do Fies está previsto para ser feito no segundo semestre de 2015" O Ministério das Cidades reconheceu "restrições" para firmar um acordo: "A nova gestão solicitou o desarquivamento do processo e a dilatação dos prazos de pagamento" informou a pasta. "O ministério efetuou q primeiro pagamento à Caixa" disse.

A Caixa sustentou que "os procedimentos junto à AGU são normais e decorrem conforme previsto em lei" "Tais procedimentos foram exitosos, na medida em que propiciaram a evolução das negociações" disse o banco.

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

Mercado aposta em alta de 0,5 ponto nos juros na reunião do Copom

Pesquisa do AE Projeções mostra que últimos acontecimentos mudaram apostas dos bancos O número de instituições que acredita em um novo aumento de 0,50 ponto porcentual na taxa básica de juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de julho aumentou depois do discurso mais duro do diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Luiz Awazu Pereira, na semana passada, e após a redução da meta fiscal, mostra a nova pesquisa do AE Projeções. De um total de 70 participantes, 59 veem a Selic indo a 14,25% no encontro desta semana, enquanto 11 acreditam que o BC reduzirá o ritmo de alta para 0,25 ponto, com a Selic subindo a 14% ao ano.

No levantamento concluído dia 23, 44 casas estimavam elevação de 0,50 ponto e 27 esperavam 0,25 ponto neste encontro. No dia seguinte, em rápida consulta com o mercado, o AE Projeções constatou que os agentes que contavam com a diminuição da velocidade da alta dos juros para 0,25 ponto já estavam começando a migrar para a alta de 0,50 ponto.

Na avaliação da economista e sócia da Tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro, o Copom deverá elevar a taxa básica de juro em 0,50 ponto porcentual. "Toda essa mudança de meta fiscal, a piora de percepção com relação ao Brasil tem levado a uma pressão maior no câmbio, o que deve fazer o BC sustentar o ritmo de aumento da Selic." No cenário da consultoria, o ciclo de alta dos juros deve se estender até setembro, quando o Copom fará um novo aumento de 0,25 ponto porcentual. "Essa última decisão pode não existir, mas essa é a nossa curva para os juros porque o BC está se comprometendo com a meta de inflação de 4,5% ainda em 2016."

Vale ressaltar que há tempos não se via um mercado tão em dúvida em relação ao caminho a ser seguido pelo Banco Central. Os analistas lembram que nunca em tão curto espaço de tempo houve dissenso de forma tão categórica a partir das palavras das autoridades monetárias ao se referirem aos discursos recentes do diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, Tony Volpon, e Luiz Pereira Awazu.

Além da redução da meta de superávit primário de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) para 0,15% este ano, os economistas citam as palavras mais duras de Awazu Pereira durante evento no Rio de Janeiro, na semana passada, como fatores que sinalizam para um aperto da Selic para 14,25% agora. Também na sexta-feira, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse que a política monetária não deve reagir diretamente às revisões nas metas de superávit primário anunciadas pelo governo nesta semana. Segundo Barbosa, entretanto, pode haver um impacto indireto por meio do câmbio.

Para o Banco Fator, a elevação da Selic para 14,25% hoje ficou "inevitável". Segundo relata o economista-chefe José Francisco de Lima Gonçalves, o diretor Awazu Pereira retomou o posto de porta voz que esteve por semanas a cargo do diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, Tony Volpon. Conforme o Banco Fator, Awazu Pereira recuperou palavras de ordem (vigilante) do período mais "hawkish" da comunicação do BC e destacou que fatos recentes alteraram o balanço de riscos a partir de agora com dúvidas sobre a inflação de 2016.

"Não só o Awazu falou sobre o tema vigilância, como Nelson Barbosa falou do impacto da mudança na regra fiscal sobre a política monetária", destaca o Banco Fator. Ainda para complicar a cabeça dos agentes, na mesma semana passada, Tony Volpon disse, dentre outras afirmações, que continuará votando para a alta da Selic e que a inflação já estava começando a convergir para o centro da meta de 4,5%, em 2017.

 

'Brasil vai ter de fazer mais para ficar onde está'

O coordenador de Economia Aplicada do Ibre/FGV, Armando Castelar, diz que o risco de a economia brasileira perder o grau de investimento aumentou com a decisão da Standard & Poor's (S&P) de alterar a perspectiva da nota brasileira. "Quando as agências colocam a perspectiva negativa, é sinal de que, se não mudar, cai", diz. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estado.

Qual é a avaliação do sr. sobre a decisão da S&P?

Eu não tinha uma perspectiva positiva para 2015, mas o primeiro semestre acabou se revelando pior do que as pessoas que estavam mais preocupadas - como eu - esperavam. Em parte, porque não havia uma noção completa da parte fiscal. A situação externa também se mostrou mais difícil. Além disso, quando você está tentando atacar muitos problemas ao mesmo tempo, as políticas em cada direção acabam interagindo negativamente. O País não está apenas resolvendo a parte fiscal, mas também a questão da inflação. Isso forçou o Banco Central a subir muito os juros e aí a política monetária, por sua vez, está prejudicando o emprego. As políticas individualmente estão absolutamente corretas, mas é complicado perseguir todas ao mesmo tempo.

E a questão política, que tem dificultado parte do ajuste?

Acho que existia uma visão de que haveria um ano de queda no PIB, o que reduziria a popularidade e criaria um ambiente menos favorável do que em anos anteriores, mas ninguém imaginava que seria na magnitude que estamos vendo. Isso também reduziu muito a capacidade da equipe em dar respostas com mais força aos problemas. Se olharmos o que ocorreu em 1999 e 2003, a capacidade de resposta do governo foi muito maior. Todo esse cenário também levou à queda grande, muito grande, da confiança, que não é só reflexo conjuntural desse ciclo.

Como assim?

Acredito que as pessoas estão com um pouco de falta de horizonte com o que vai ocorrer ao fim do ajuste.

Qual é o risco de o Brasil perder o grau de investimento?

A chance aumentou. Quando as agências colocam a perspectiva negativa, é sinal de que, se não mudar, cai. Então, o País vai ter de fazer mais para ficar onde está. O governo está nadando contra a maré. É uma situação complicada, mas a resposta continua sendo a mesma de antes: aumentar o superávit primário e trazer a inflação para baixo o mais rápido possível.

O governo alterou as metas fiscais para os próximos anos. Qual o impacto dessa decisão?

É menos favorável para a evolução da dívida. Acredito que entra também a questão do crescimento. Essa mudança de postura reflete o fato de que a perspectiva de crescimento está piorando. Já existe uma visão de que, se a economia ficar parada em 2016, será para comemorar.

 

Levy tenta acalmar investidor estrangeiro

Depois do anúncio da revisão da perspectiva da nota do Brasil pela Standard & Poort, a preocupação do governo agora é com o risco de as agências Fitch e Moodys seguirem o mesmo caminho.

Em conversas ontem com investidores estrangeiros para tranquilizar o mercado, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reafirmou o compromisso do governo com o controle de gastos e da trajetória da relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB). À noite, o Ministério da Fazenda divulgou nota oficial reforçando as declarações de Levy.

Com mais uma notícia ruim para a economia, a avaliação que ganhou força no governo foi a de que a decisão da S&P pode fazer o Congresso "acordar" e aprovar as reformas necessárias o mais rápido possível. Levy reforçou nos contatos com os investidores a necessidade de apoio dos parlamentares às medidas de ajuste fiscal e de estímulo ao crescimento. O papel do Congresso será fundamental para evitar o risco de perda do grau de investimento ficou mais em evidência, diante do relatório da S&P que apontou preocupações comas turbulências políticas no País.

Embora temida pela área econômica e até certo ponto esperada por causa da crise política associada ao baixo crescimento, a revisão da perspectiva da nota do Brasil surpreendeu pelo momento do anúncio. A equipe econômica não contava com um movimento da S&P "agora". O governo recebeu a informação da S&P no fim da manhã.

O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse esperar que o viés negativo de rebaixamento não se concretize. "Trabalhamos para melhorar a situação econômica do País", disse o ministro, depois de conversas com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Levy não comentou a decisão.

Efeito contágio.

A expectativa dada como certa na equipe do governo era a de um rebaixamento pela Moodys, o que colocaria a nota do Brasil na mesma situação da S&P. Uma missão da Moodys esteve no Brasil este mês para a avaliação da nota brasileira e, agora, o movimento da S&P pode contaminar a decisão. A Fitch já esteve no Brasil este ano, quando decidiu não mudar a nota, mas pode fazer uma revisão para seguir as concorrentes. Nenhuma agência se sente confortável quando fica muito atrás na avaliação do rating, o que alimenta uma "competição" entre elas. Para integrantes do governo, a S&P não quis ficar atrás da Moodys, que ainda terá de anunciar o resultado da sua revisão. "O risco de as outras seguirem é grande", reconheceu uma fonte da área econômica. O governo vai trabalhar agora para evitar essa contaminação, buscando ampliar o diálogo ainda mais e tentando mostrar que há direção.

O que mais pesou na decisão da S&P foi a incerteza política do cenário brasileiro, que contamina as decisões do Congresso e agrava a crise de confiança na economia. A revelação de um quadro fiscal muito pior no curto e médio prazos, com a reprogramação fiscal de 2015-2018, foi a "gota d'água".

 

Analistas veem risco de rebaixamento

Analistas ouvidos ontem pelo 'Broadcast', serviço em tempo real da 'Agência Estado', afirmaram que o anúncio da piora da perspectiva do rating brasileiro feito pela agência Standard & Poor's abre caminho para que o País perca o grau de investimento e para que as outras duas importantes agências de classificação de risco tomem decisão semelhante em breve.

Para o economista do BBVA Research, Enestor dos Santos, que avalia o Brasil, a decisão da S8cP é uma "resposta clara à nova meta fiscal anunciada na semana passada pelo governo". "Não dá para dizer que essa é uma grande surpresa. Mas certamente não estava totalmente precificada nos ativos", disse o economista, em Madri.

Para Santos, a agência de classificação revelou a insatisfação com a nova meta fiscal do governo brasileiro que indica um ajuste nas contas públicas mais gradual do que o prometido inicialmente. "Acho que eles preferiram inverter o ônus da prova. Eles davam um voto de confiança de que o governo conseguiría melhorar a situação. Mas agora, depois da nova meta, mudaram de posição e querem ver resultado."

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