TRIBUNA DO NORTE
Índice que reajusta contratos de aluguel tem alta de 5,59% em 12 meses
O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) apresentou taxa de variação de 0,41%. No mês anterior, a taxa foi 0,3%. O índice relativo aos bens finais variou 0,6%, em junho. Em maio, esse grupo de produtos teve variação de 0,5%.
O índice referente ao grupo Bens Intermediários variou 0,36%. Em maio, a taxa havia sido 0,81%. O principal responsável por esse movimento foi o subgrupo materiais e componentes para a manufatura, cuja taxa de variação passou de 0,92% para 0,3%.
O grupo matérias-primas brutas variou 0,24% em junho. Em maio, esse índice registrou variação de -0,6%. Os itens que mais se destacaram foram: soja (-4,07% para -0,44%), aves (-3,6% para 0,98%) e suínos (-6,18% para 6,98%).
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) registrou variação de 0,83% em junho, ante 0,68% em maio. Cinco das oito classes de despesa mostraram acréscimo em suas taxas. A principal contribuição partiu do grupo despesas diversas (0,87% para 5,47%). Tiveram também variação positiva alimentação (0,67% para 0,98%), transportes (0,14% para 0,28%), educação (0,44% para 0,82%) e comunicação (-0,04% para 0,25%). Apresentaram decréscimo os grupos saúde e cuidados pessoais (1,48% para 0,79%), vestuário (1,17% para 0,37%) e habitação (0,75% para 0,7%).
AGÊNCIA ESTADO
A recessão será mais forte, avalia a FGV
Se o Banco Central prevê queda de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, como consta do Relatório de Inflação divulgado na semana passada, o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, estima um recuo de 1,8%, segundo o Boletim Macro Ibre de junho. "Para quem esperava razão para otimismo nessa virada de semestre, é melhor não procurar apoio nos resultados dos indicadores conjunturais recém-divulgados", afirmam os economistas Regis Bonelli, Armando Castelar Pinheiro e Silvia Matos, responsáveis pelo boletim - um estudo dividido em capítulos escritos por especialistas conhecidos.
Além da redução do PIB, as previsões para este ano são de uma inflação de 8,9%, perda de renda dos trabalhadores, déficit na conta corrente do balanço de pagamentos de 4,5% do PIB, pressão dos juros reais elevados sobre o endividamento público e, afinal, um desempenho econômico medíocre também em 2016.
A contração do PIB estimada para o trimestre abril/junho é de 1,6%, mas o ritmo da queda cairá para 0,1%, no terceiro trimestre, e, "mantidas as tendências atuais, o PIB só voltará a crescer no último trimestre deste ano (0,2%)".
Nas projeções do Ibre, o consumo das famílias cairá 1,1% neste ano; o consumo do governo, 1,2%; a formação bruta de capital fixo cederá 7,1%; a importação será 6,1% menor; e a exportação crescerá apenas 1,2%. Só o PIB da agropecuária deverá crescer (2,8%), prevendo-se queda de 6,7% da indústria de transformação (e alta de 7,4% da extrativa), recuo de 2,9% da construção civil e de 1,1% dos serviços. A taxa média de desemprego de 2015 deverá ser de 8,1% (+1,3 ponto porcentual em relação a 2014) e a estimativa de queda da renda real é de 3%.
Cai a renda e também o consumo, afetando setores que pesam muito no PIB: a crise no setor automotivo deverá contribuir, isoladamente, para 0,5 ponto porcentual da queda do PIB neste ano, segundo reportagem recente do Estado.
No boletim da FGV, Silvia Matos nota que "as perspectivas para a economia mundial ainda continuam muito incertas" e que a economia doméstica, "nos últimos meses", continuou "em processo de deterioração". A demanda interna deverá se contrair mais que o PIB, devido ao ajuste macroeconômico. E há "um grande desafio no curto e no médio prazos na área fiscal". O cumprimento da meta de superávit primário de 1,2% neste ano e de 2% em 2016 "é missão quase impossível".
VALOR ECONÔMICO
Convergência de expectativas é gradual no IPCA
A inércia inflacionária e a incerteza em relação à trajetória dos preços administrados ainda impedem que o mercado veja o índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no centro da meta em 2016, mas a convergência para os anos seguintes tem se tomado mais factível no cenário dos economistas. Nesta semana, a mediana de projeções do boletim Focus para a alta do IPCA no próximo ano seguiu em 5,5%, mas caiu ligeiramente para 2017, de 4,75% a 4,70%. Em 2018, o consenso já prevê inflação em 4,5% desde o dia 15 deste mês.
O grupo de cinco instituições que mais acertam previsões no longo prazo, o chamado "Top 5", passou a trabalhar com o IPCA na meta em 2017 e 2018 nesta semana, ao mudar suas previsões para os dois anos de 5% para 4,5%. Para 2019, a revisão foi mais modesta, de 5% para 4,75%. As estimativas de médio prazo já indicavam o IPCA em 4,5% entre 2017 e 2019 na semana anterior e seguiram assim.
Para Leonardo França, da Rosenberg Associados, o conjunto de esforços feito pelo Banco Central desde outubro do ano passado, quando deu início ao ciclo de aumento dos juros ainda em curso, está começando a render frutos agora. "Dependendo de como a inflação correr nos próximos meses, existem chances de as estimativas para 2017 chegarem mais perto de 4,5%", diz França, expectativa já contemplada pela Rosenberg.
Segundo ele, é difícil que o consenso de mercado passe a ver um cenário de convergência mais rápida já para 2016 - ano para o qual estima aumento de 5% do IPCA-mas somente o fato de as expectativas para o ano que vem não terem sido contaminados pela piora do quadro inflacionário deste ano já pode ser considerado algo positivo. Entre a semana passada e a atual, a previsão mediana para a inflação de 2015 subiu de 8,97% para 9%.
O que inibe um recuo maior nas expectativas para o ano que vem, na avaliação de André Muller, da AZ Quest Investimentos, é o nível muito elevado da inflação corrente, que contrata um grau também alto de influência da inércia em 2016, e as dúvidas em relação ao aumento de preços monitorados por contrato no período, como gasolina e energia elétrica. "Se passarmos pelo segundo semestre com a inflação corrente um pouco mais baixa, ao mesmo tempo em que o desemprego aumenta e os salários são ajustados para baixo, é possível que as expectativas para 2016 passem a ceder", diz.
Embora seja pouco provável que o IPCA desacelere para 4,5% já no próximo ano, está ficando cada vez mais dar o que a autoridade monetária tem como objetivo consolidado levar a inflação ao centro da meta, afirma Muller, percepção reforçada após a última decisão do Conselho Monetário Nacional. Na quinta-feira, o CMN manteve em 4,5% o alvo a ser perseguido em 2017, mas reduziu a margem de tolerância do sistema de metas inflacionárias, de 2 pontos percentuais para 13 ponto.
Pessimismo contamina e já piora previsões para 2016
Sem sinais de recuperação, a economia pode amargar até quatro trimestres consecutivos de queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, na comparação trimestral, avaliam economistas, tornando a crise atual mais longa do que a de 2009. O crescente pessimismo com a atividade econômica está contaminando também as expectativas para 2016. O boletim Focus, do Banco Central, que reúne as projeções de mais de 100 instituições, aponta avanço de 0,5% do PIB no ano que vem, 0,2 ponto percentual a menos do que na semana passada. Alguns analistas, porém, já preveem desempenho negativo no próximo ano.
Para economistas ouvidos pelo Valor, a necessidade de aumentar o esforço fiscal no próximo ano, a manutenção da confiança de empresários e consumidores em patamar deprimido e a piora do mercado de trabalho comprometeram a recuperação esperada para 2016, cenário agravado pelo ciclo mais longo de aperto monetário.
"Não necessariamente estamos no fundo do poço", diz Rodrigo Alves de Melo, economista-chefe da Icatu Vanguarda, já que o terceiro trimestre ainda pode ser de queda do PIB. "O ajuste está começando, não está no fim. Ainda teremos alguns trimestres com queda da demanda interna em ritmo mais rápido do que a do PIB total". Segundo Melo, a piora da economia acontece em ritmo superior ao esperado por alguns fatores, entre eles os ajustes fiscal e monetário, mas o ruído gerado pela dificuldade de aprovação das medidas no Congresso aumenta a incerteza, "um veneno para quem quer investir."
Esse entrave toma mais lento o processo de retomada da confiança, o que diminui as perspectivas para 2016. A necessidade de reduzir os estoques acumulados nos últimos meses também tende a postergar a recuperação. "Sem demanda, a saída é reduzir a produção, e isso não leva dois ou três meses, é um processo que pode adentrar 2016", afirma Melo, que prevê queda de 2% do PIB neste ano e alta de 0,4% no ano que vem.
A MCM Consultores reviu seu cenário para 2016 há três semanas, quando diminuiu sua estimativa de crescimento de 1,5% para 0,5%. O economista Leandro Padulla destaca que a herança estatística deixada por 2015 será fortemente negativa, o que já impede expectativas de reação expressiva da atividade no ano seguinte. Em seus cálculos, o "cany over" para 2016 é negativo em 0,6 ponto percentual, o que significa que, se a economia não crescer no próximo ano, terá encerrado o período com retração de 0,6% sobre o ano anterior.
Além desse fator estatístico e da queda adicional dos índices de confiança, comenta Padulla, o desaquecimento do mercado de trabalho, que deve continuar em 2016, também dificulta um crescimento mais expressivo. Nas projeções da MCM, a taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas vai aumentar mais de um ponto entre 2015 e 2016, de 6,5% para 7,6%.
Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), também trabalha com expansão de 0,5% para o PIB no ano que vem, mas diz que esse desempenho não pode ser chamado de recuperação, tendo em vista a fraca base de comparação de 2015 - quando a economia deve encolher 1,8%. "Os números de 2016 ainda são muito ruins e existem riscos que precisam ser amenizados", com destaque para a avaliação das agências de classificação de risco sobre a nota de crédito brasileira.
Para José Mareio Camargo, economista-chefe da Opus Investimentos, mesmo que a atividade volte a crescer no último trimestre deste ano, o cenário para 2016 não é animador. Camargo, que também é professor da PUCRio, reduziu sua projeção para o PIB deste ano, de -1,5% para recuo próximo de 2%. Para 2016, ele começou o ano com estabilidade da economia, mas agora projeta queda de 0,5%.
"O governo só vai fazer parte do ajuste fiscal neste ano, então ainda vai ter contração significativa nessa área em 2016". A segunda influência negativa para a atividade no próximo ano, afirma, é a necessidade de ajustar o déficit em conta corrente diante da alta de juros nos Estados Unidos, o que vai resultar em câmbio mais desvalorizado. Isso significa que o Banco Central deve lançar mão de uma política monetária mais dura para combater esses eventos, elevando a Selic a 14,5% até setembro, com manutenção desse nível ao longo de todo o ano que vem. Mais pessimista do que a média do mercado, Camargo projeta IPCA em 6,3% no período.
Um pouco mais otimista, Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, avalia que a recuperação foi adiada para 2016, mas estima que a retomada será muito gradual. Para ele, a recessão atual pode se estender por um período mais prolongado do que observado durante a crise de 2008. Considerando dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) para datação dos ciclos econômicos, do pico ao vale, a economia ficou seis meses em processo de desaceleração entre o fim de 2008 e início de 2009, quando a reação foi bastante rápida. Agora, diz Velho, o ciclo de piora da atividade deve ser mais extenso, de dez meses, e a retomada será muito gradual, com crescimento inferior a 1,5% até 2017.
Já Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, vê possibilidade elevada de que o baixo dinamismo da economia permaneça até 2018, não somente devido a fatores internos. Até lá, é bastante provável que os EUA, a Europa ou a China iniciem um ciclo mais fraco de crescimento, eventualmente entrando em recessão. "É impossível prever isso, claro, mas os riscos ficam ainda mais próximos quanto mais tempo sem recessão se encontra a economia americana", diz.
Do lado doméstico, afirma Vale, o quadro de instabilidade política tende a continuar, devido ao enfraquecimento do governo, o que atrapalha o crescimento e pode levar as agências de classificação de risco a reavaliarem o rating brasileiro. Passados 2016ano para o qual Vale espera recuo de 0,1 % do PIB, estimativa que deve ser revista para baixo-e 2017, 2018 poderá ser um ano de alta incerteza eleitoral, o que também é negativo para a atividade.
Banco Mundial em alerta sobre contágio de crise grega no Leste Europeu
O Banco Mundial está especialmente atento a um possível contágio da crise da Grécia aos países do leste da Europa, sinalizou o presidente da instituição, Jim Yong Kim, ao ser questionado hoje em Genebra sobre as turbulências originadas em Atenas. Milhões de pessoas na Bulgária, Macedônia, Albânia, Sérvia e Romênia têm depósitos em bancos controlados por instituições gregas e, por isso, cresce o temor de contágio da crise nesses países.
Em alguns casos, os bancos gregos controlam 20% do setor bancário nos vizinhos do Leste, de forma que a exposição é real na região já fragilizada. Bancos centrais na Macedônia e na Sérvia introduziam novas restrições no movimento de capital entre filiais de bancos locais e suas matrizes na Grécia, como precaução contra o impacto da situação.
Conforme analistas, o potencial de um contágio a partir da Grécia já freou o apetite de investidores por ativos nos vizinhos. A moeda da Romênia e da Sérvia desvalorizaram-¬se ligeiramente. Títulos de dívidas locais também tiveram que pagar um pouco mais a investidores. “Espero que eles encontrem uma solução”, disse o presidente do Banco Mundial, ao ser indagado sobre o que aconselharia aos gregos para votar no referendo do dia 5 de julho, ou seja, se aprovam ou não o acordo com os credores. “Estamos olhando a situação com muito cuidado, especialmente o que está acontecendo nos países vizinhos na Europa do Leste”, reiterou Jim Yong Kim.
Evitar colapso dos bancos é desafio para a Grécia
O caminho da Grécia rumo à salvação econômica passa pelos seus bancos. Seu sistema financeiro está à beira do colapso, fechado para a maioria das operações e limitando saques a € 60 por dia. A permanência da Grécia na zona do euro dependerá do que vai ser necessário para que suas instituições de crédito reabram suas portas.
Para aliviar os controles de capital e voltar aos negócios normalmente, os bancos precisam de financiamento crível. Isso depende de um acordo para a Grécia receber auxílio financeiro da zona do euro, que inclua uma recapitalização para curar o dano causado por uma corrida aos bancos que já dura seis meses.
Uma vitória do "sim" no referendo de domingo fortaleceria as chances desse acordo. Nas semanas ou meses necessários até um acordo, os bancos ainda precisarão encontrar uma forma de sobreviver ¬ por meio de algum tipo criativo de empréstimo-¬ponte.
Analistas dizem que as incertezas políticas e a economia precária significam que os controles de capital chegaram para ficar. Ainda assim, técnicos da zona do euro dizem que alguns bancos não vão conseguir sobreviver. Se a Grécia não acertar algum pacote de ajuda com os seus credores internacionais, as opções são gravemente escassas: o país precisará urgentemente resgatar os bancos, mas não terá fundos para isso.
A necessidade de reabrir os bancos pode ser o gatilho inevitável para que o país deixe o euro. Período pré¬-referendo O sistema bancário grego está em estado de hibernação forçada. Desde fevereiro, os bancos sobrevivem graças ao programa de Assistência Emergencial de Liquidez (ELA, na sigla em inglês), de € 89 bilhões. A decisão do fim de semana de limitar esse canal levou ao feriado bancário de uma semana e a controles rigorosos de capital para restringir uma fuga de depósitos.
Outro teste virá hoje, quando acredita-¬se que a Grécia não pagará € 1,6 bilhão ao Fundo Monetário Internacional (FMI), ao mesmo tempo em que vence o pacote da zona do euro de ajuda ao país. O Banco Central Europeu (BCE) ¬ que é tanto supervisor bancário quanto instituição de crédito de última instância dos bancos gregos ¬ terá de decidir se vai passar a exigir mais garantias em troca dos empréstimos emergenciais.
Nessa decisão, o equilíbrio é frágil. As autoridades sabem que isso poderia atingir gravemente alguns bancos gregos com dificuldade para conseguir garantias suficientes para honrar o programa ELA atual. Fontes, contudo, dizem que ainda assim é provável que o BCE exija garantia mais rigorosas.
Caso de vitória do sim Um voto a favor de um acordo em troca de ajuda financeira abriria caminho para um socorro bancário, mas o risco político permaneceria. "Controles de capital são difíceis de reverter, com base em exemplos anteriores, como o da Islândia", disse Eleni Papoula, analista do Berenberg Bank. "Mesmo se os gregos votarem em favor de medidas de socorro [...], é de se esperar um período prolongado de instabilidade política e financeira." O BCE provavelmente manteria seu apoio ao ELA.
Mas fontes não esperam nenhum financiamento adicional. Mesmo uma extensão da ELA pode não ser suficiente: alguns bancos poderiam ter dificuldades para honrar saques, se não dispuserem de acesso a empréstimos emergenciais adicionais. A economia da Grécia se deterioraria. E os chamados créditos fiscais diferidos (que constituem quase um quinto do capital bancário grego) passariam a depender de garantia estatal, mais duvidosa.
Os bancos gregos perderam perto de € 48 bilhões, ou 27% de seus depósitos domésticos, desde novembro, segundo estimativa de Pawel Dziedzic, do Goldman Sachs. O Mecanismo Único de Supervisão do BCE, como fiscalizador, teria de reavaliá¬los para determinar se estão viáveis e solventes.
Se os bancos revelarem¬se tecnicamente insolventes, uma opção seria uma recapitalização direta de € 500 bilhões provenientes do fundo de socorro da zona do euro: o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM, em inglês). Os bancos gregos, em tese, têm direito a essa ajuda, depois de passarem por um exame de saúde feito pelo BCE no ano passado. Nicolas Véron, do think¬tank Bruegel, disse que, se o ESM viesse a assumir o controle de bancos gregos, isso representaria um "enorme gesto de generosidade auto-interessada", que demonstraria a vontade política de manter a zona do euro intacta.
Tal intervenção, entretanto, viria associada à imposição de condições ¬ potencialmente semelhantes às que o governo grego já rejeitou. Caso de vitória do não Uma vitória do "não" seria terrível para os bancos gregos. A expectativa é que o BCE retire totalmente o ELA, segundo autoridades envolvidas no planejamento da saída da Grécia da zona do euro. "O 'não' no referendo poderia implicar uma iniciativa rumo a uma eventual saída da Grécia", disse Ronit Ghose, do Citi.
"Nesse processo, o risco de os bancos gregos serem estatizados é alto." Os bancos gregos seriam considerados insolventes ou inviáveis. Sem empréstimos emergenciais nem financiamento externo para socorrê-¬los, a Grécia teria poucas alternativas senão criar a sua própria moeda e financiar os bancos por meio de impressão de moeda.
Nesse cenário, apenas a saída da Grécia da zona do euro permitiria a reabertura dos bancos. Provavelmente seriam oferecidos bônus aos depositantes segurados, ou eles teriam sua poupança convertida para dracma. "Então a situação vira um inferno, de briga generalizada", disse Véron.
Grécia representa risco maior para emergentes
E lá vamos nós de novo. Uma fuga para ativos mais seguros teve início com o mergulho da economia da Grécia, com os investidores temendo que calotes e colapsos de bancos possam se espalhar para outras nações da Europa e provocar um impacto global. Desta vez, porém, a Europa e os Estados Unidos enfrentam o risco de contágio com ferramentas de política reforçadas ¬ incluindo novos mecanismos de monitoramento e apoio aos bancos e um sistema de linhas de "swap" para injetar liquidez no mercado.
No Japão, o banco central é comandado por um presidente que já vinha implementando um estímulo monetário sem precedentes. Se os mercados desenvolvidos podem encarar o risco de "Grexit" (termo usado para se referir à saída da Grécia da zona do euro) com menos solavancos do que no turbilhão de 2008, para os mercados emergentes parte do cenário mudou para um direção indesejável.
A taxa combinada de crescimento desses mercados é hoje menos da metade do ritmo de 2007. Alguns, como a Indonésia e a Malásia, estão com dívidas denominadas em dólares maiores, enquanto suas moedas perdem força, aumentando sua vulnerabilidade em uma eventual fuga em massa do risco. "Psicologicamente, quase todo mundo está preparado para algum tipo de Grexit", diz Andrew Sheng, sócio do Fung Global Institute, que já trabalhou na autoridade monetária de Hong Kong e no banco central da Malásia.
"O que não sabemos é se há por aí algum problema inesperado e desconhecido, que ninguém percebeu." As moedas dos mercados emergentes, do forinte húngaro à rupia indonésia, recuaram depois da decisão da Grécia de suspender as negociações de socorro financeiro com as autoridades europeias e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
As ações chinesas caíram na segunda, mesmo depois de o banco central local cortar as taxas de juros e aliviar as restrições à liquidez no fim de semana. "Quem vai determinar a extensão e duração da queda" dos ativos de risco no âmbito global é o Banco Central Europeu (BCE), afirma Mohamed El¬Erian, principal consultor econômico da Allianz SE.
Se o BCE aumentar as compras de ativos e criar uma proteção em torno dos membros periféricos da zona do euro, incluindo a Espanha e a Itália, isso "poderá limitar bastante o contágio". Um evento especialmente preocupante para os mercados emergentes é o referendo grego sobre as negociações das dívidas que deverá ser realizado em 5 de julho. Se a população rejeitar a proposta, as consequências deverão ser limitadas, segundo afirmaram ontem analistas do Autralia & New Zealand Bank Group, em nota.
Se o "não" vencer, "esperamos ver uma aversão ao risco e um impacto negativos sobre os mercados emergentes asiáticos, embora longe da intensidade provocada pelo colapso do Lehman Brothers". O impacto direto do que deverá ser um agravamento da recessão grega pode ser limitado para as economias distantes ¬ por exemplo, as exportações da China para a Grécia representam apenas 0,18% de suas vendas ao exterior.
Um golpe ao crescimento europeu como um todo imporia um desafio maior: quase 16% das exportações chinesas vão para a União Europeia. Em um cenário mais grave, com outros países membros da zona do euro, como a Itália e a Espanha, sendo abalados pela alta do custo dos empréstimos, até mesmo a Ásia, líder no crescimento da economia mundial, seria prejudicada, segundo afirma Rajiv Biswas, economista-¬chefe da IHS Global Insight para a Ásia¬Pacífico.
"O impacto da saída da Grécia da zona do euro com um contágio significativo reduziria o crescimento do PIB da região da Ásia¬Pacífico em 0,3% em 2016, principalmente em razão dos efeitos sobre o comércio e as turbulências que seriam provocadas nos mercados financeiros", diz Biswas.
Algumas das maiores economias emergentes do mundo, como a Rússia e o Brasil, já estão sofrendo com a queda dos preços das commodities e as exportações fracas. O Brasil enfrenta sua pior recessão em 25 anos e a economia da Rússia vem sofrendo com os preços mais baixos do petróleo e com as sanções impostas por causa do conflito na Ucrânia.
Enquanto grupo, as nações emergentes e em desenvolvimento deverão crescer cerca de 4,3% este ano, em comparação a 8,7% em 2007, segundo prevê o FMI. A Europa tem alguns escudos de proteção contra o contágio, incluindo o Mecanismo Europeu de Estabilidade, iniciado em 2012 como uma linha de crédito de resgate permanente, sustentada por € 80 bilhões em capital.
Nos Estados Unidos, o estabelecimento em 2010 do Conselho de Supervisão da Estabilidade Financeira, liderado pelo secretário do Tesouro, proporciona um sistema único de monitoramento sistêmico, inclusive não bancário. O Federal Reserve (Fed, banco central americano) também reforçou a supervisão ao financiamento no mercado "overnight" para corretoras de valores.
Além disso, o BCE e o Banco do Japão estão no momento conduzindo programas de afrouxamento quantitativo em grande escala, ajudando a sustentar as recuperações econômicas. "Há motivos para não se esperar um contágio tão grande quanto o que se poderia esperar dois anos atrás", diz Daniel Martin, economista sênior da Capital Economics Ásia, em Cingapura. "Mas ainda assim seria ingenuidade achar que a Grécia poderia sair da zona do euro sem provocar nenhum efeito."
Caixa volta a vender créditos 'podres'
A Caixa Econômica Federal fez duas novas rodadas de vendas de carteiras de créditos inadimplentes para fundos especializados nesses ativos em 2015 e prepara terreno para novas ofertas. Até agora, o banco público vendeu R$ 1,1 bilhão em empréstimos "podres" para a Ativos, empresa de recuperação de crédito do Banco do Brasil, e outros R$ 2,7 bilhões para a Recovery, do BTG Pactual.
O programa completo para o ano pode chegar a R$ 6 bilhões, segundo executivos ouvidos pelo Valor. As carteiras vendidas incluem operações de crédito à pessoa física, como rotativo do cartão e crédito direto ao consumidor (CDC), e empréstimos para pessoas jurídicas. Fundos que compram esse tipo de operação esperam nova rodada de vendas já em julho. Procurados, a Recovery e o BB não comentaram.
No primeiro trimestre de 2015, o banco público havia vendido R$ 1,34 bilhão em créditos à Renova, veículo usado pela Recovery para compra de operações. A maior parte desses créditos (R$ 1,32 bilhão) estava já baixada para prejuízo, portanto não tinha mais efeito no cálculo de inadimplência. A operação gerou um resultado de R$ 34 milhões para a Caixa.
O movimento de venda de crédito inadimplentes pela Caixa foi iniciado ano passado, quando o banco público vendeu para a Recovery R$ 1,05 bilhão em operações. A instituição chegou a oferecer R$ 3,17 bilhões em créditos de alto risco voltados para o consumo aos fundos especializados em ativos podres, conforme noticiou o Valor na época. A notícia de que a Caixa voltou a vender ativos foi dada ontem pela agência "Reuters".
Além das vendas disputadas pelos fundos, a Caixa também transferiu no ano passado R$ 7,23 bilhões em créditos à Empresa Gestora de Ativos (Emgea), vinculada ao Ministério da Fazenda. Desse total, R$ 4,81 bilhões estavam baixados para prejuízo.
Em nota, a Caixa disse que "mantém sua estratégia de cessão de créditos não performados iniciada em 2014, em linha com as práticas adotadas pelo mercado". "As cessões ocorrerão de acordo com as janelas de oportunidade, existindo negociações em andamento cujos valores e condições ainda não foram fechados com as empresas interessadas."
A Caixa encerrou o primeiro trimestre com uma carteira de crédito ampliada, incluindo avais e fianças, de R$ 624,43 bilhões. A inadimplência total do banco foi de 2,86%, avanço de 0,23 ponto em 12 meses.
Juros e dólar caem apesar de tensão externa
A reação dos mercados locais de juros e câmbio ao agravamento da crise na Grécia foi relativamente modesta, com os fatores locais ainda tendo peso maior sobre esses ativos. Embora o governo grego esteja cada vez mais perto de um calote, o fato de parte desse evento já estar refletido nos preços e a expectativa de que isso possa levar o banco central americano a adiar a alta dos juros nos Estados Unidos fizeram com que a reação do mercado de câmbio fosse moderada, com o dólar recuando frente às principais divisas no exterior.
No mercado local, a moeda americana caiu 0,32%, para encerrar a R$ 3,117. Além do enfraquecimento do dólar no exterior, a aproximação do vencimento dos contratos de swap cambial em julho limita uma alta maior da moeda americana no mercado local, diante da disputa entre os investidores com posições "compradas" (apostando na alta) e "vendidas" (apostando na queda) em dólar.
Essa "briga" deve ganhar força hoje com a definição da taxa Ptax que será utilizada para a liquidação dos contratos que vencem no fim do mês. "A crise da Grécia já era algo esperado e acho que o mercado assimilou bem. Uma saída do país da zona do euro deve provocar um movimento de aversão a risco em um primeiro momento, mas seria positivo porque tiraria uma incerteza do cenário", afirma Paulo Petrassi, sócio¬gestor da Leme Investimentos.
No mercado local, a taxa de juros alta é um fator que também ajuda a amortecer o impacto dos efeitos da crise na Grécia, limitando as vendas da moeda brasileira. Ontem, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) recuaram na BM&F, com os investidores corrigindo parte do aumento dos prêmios, principalmente na ponta mais curta da curva de juros. O DI para janeiro de 2016 caiu de 14,3% para 14,27%, enquanto o DI para 2017 recuou de 14,05% para 14,02%.
O Boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central, mostrou que a mediana das projeções aponta para mais uma alta de 0,75 ponto percentual da taxa Selic, com a taxa básica de juros devendo encerrar o ano em 14,50%. Apesar do aumento da projeção de inflação para este ano, cuja mediana das projeções passou de 8,97% para 9%, a mediana do IPCA para 2016 ficou estável em 5,50%. Já a projeção para o PIB para este ano piorou, indo de uma retração de 1,45% para um recuo de 1,49%.
O aperto da política monetária e a menor pressão de alta do dólar têm permitido ao Banco Central reduzir o volume da rolagem dos contratos de swap cambial que estão vencendo e diminuir o estoque de US$ 110,819 bilhões nesses instrumentos cambiais. Ontem, a autoridade monetária anunciou que iniciará nesta quarta-¬feira a rolagem do lote de US$ 10,675 bilhões em swaps cambiais que vence em agosto. O BC vai rolar 6.800 contratos no leilão diário. Se mantiver o mesmo ritmo, a autoridade monetária renovará 66,89% do lote que expira em agosto.
Em junho, o BC renovou 69,84% do lote de US$ 8,742 bilhões em swaps cambiais que vence hoje. Os mercados têm se preparado para um calote do governo grego, embora isso não necessariamente implique na saída do país da zona do euro. Sem um acordo com os credores, aumentam as chances de o governo grego não pagar a dívida de € 1,6 bilhão ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que vence hoje, o que poderia levar à saída do país da zona do euro e trazer mais turbulência aos ativos.
JORNAL BRASIL ECONÔMICO
'Não há risco de virada de 180 graus na política monetária'
O diretor de assuntos internacionais do Banco Central, Tony Volpon, disse ontem em teleconferência com economistas que o aperto monetário não está mecanicamente focado em colocar a inflação em 4,5% em 2016 nas suas projeções oficiais. Segundo ele, o objetivo da autoridade monetária é que a meta esteja "satisfatoriamente assegurada".
Respondendo a questões, o diretor do BC disse que, hoje, não vê o risco de uma virada de 180 graus na política monetária, como ocorreu em 2011. "O amplo leque de cenários prováveis não nos levaria a mudanças na estratégia de política monetária", disse. Ele destacou que na véspera esteve num encontro do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) que discutiu, entre outros temas, a crise atual vivida pela Grécia.
Volpon revelou que o BC, como o mercado, foi surpreendido pela aceleração recente da inflação, que foi incorporada no Relatório de Inflação e mereceu resposta da política monetária. Mas ele destacou que "não acredita que mude nosso cenário subjacente olhando adiante".
O diretor do BC também afirmou que, pessoalmente, acredita que o déficit em conta corrente do Brasil precisa baixar dos percentuais atuais. Segundo ele, nessa direção age tanto a desvalorização cambial quanto a mudança da política fiscal e o aperto nas condições monetárias.
Segundo ele, as decisões do BC sobre a rolagem de swaps cambiais são guiadas exclusivamente pelas condições de mercado, levando em conta a demanda por proteção dos agentes e fluxos cambiais. "Não estamos tentando influenciar o nível de câmbio", disse. "Ele vai se ajustar aos fundamentos. Se for abaixo de RS 3,00, que seja. Se for acima dos valores atuais, que seja também."
O diretor voltou a afirmar que, na visão do BC, é perfeitamente possível o cumprimento da meta de inflação em 2016, devido a fatores como um provável comportamento mais favorável da inércia inflacionária. Volpon deu também novas indicações de que, quando chegar a hora de baixar os juros, o Banco Central vai levar em conta os progressos no ancoramento das expectativas de inflação do mercado.
"Nossas decisões não são mecânicas", disse Volpon, em conferência telefônica promovida pelo Bank of America, procurando afastar a ideia de que o Banco Central pretende parar de subir de forma automática os juros quando as projeções de inflação apresentadas no Relatório de Inflação chegarem a 4,5%.
Ele lembrou que o Banco Central utiliza mais de duas dezenas de modelos econômicos e que, em cada decisão tomada, há também o julgamento qualitativo feito pelos membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
"Não haverá uma grande diferença entre as projeções de inflação do Banco Central e as decisões que serão tomadas", ponderou ele, procurando dar o peso exato das projeções nas decisões. "Vocês podem continuar olhando pelas projeções o quão perto estamos de nosso objetivo."
A exemplo do que fez há duas semanas em discurso em Londres, Volpon procurou convencer os investidores que é ' perfeitamente possível a inflação chegar à meta de 4,5% em 2016. "Existe muito ceticismo sobre essa possibilidade."
A mensagem geral é que, da mesma forma com que o mercado vem destacando os riscos negativos à trajetória da inflação, deveria considerar também que há riscos positivos no caminho.
Volpon repetiu a argumentação, feita há duas semanas, de que a inércia inflacionária observada em anos passados não é um bom guia da inércia inflacionária que teremos daqui por diante. E acrescentou que os efeitos inflacionários de choques ligados à taxa de câmbio e a preços administrados tendem a se dissipar entre quatro e cinco trimestres. Enquanto isso, a política monetária tem seu efeito máximo na inflação em dois anos, enquanto que a política fiscal tem suas primeiras repercussões na inflação no ano seguinte.
"Esses choques de câmbio e administrados perdem força antes, enquanto aumenta o poder dos choques de política econômica", afirmou Volpon.
FOLHA DE SÃO PAULO
BC deve reduzir intervenção no mercado de câmbio em julho
O Banco Central indicou que vai reduzir sua atuação no mercado de câmbio em julho. A instituição anunciou nesta segunda-¬feira (29) que iniciará na quarta-feira (1º) as operações de renovação dos contratos de câmbio que vencem no começo de agosto. A oferta no dia será de US$ 340 milhões. Se mantiver esse ritmo ao longo do mês, a instituição vai renovar menos de 70% do vencimento, que soma US$ 10,675 bilhões
Em junho, o BC iniciou o mês indicando a renovação de 80% dos contratos, mas reduziu o ritmo ao longo das semanas e acabou por rolar cerca de 70%. Com isso, a instituição tirou do mercado cerca de US$ 2,5 bilhões. Em agosto, a primeira sinalização indica uma redução de US$ 3,5 bilhões no estoque atual de contratos, que soma hoje US$ 110,8 bilhões.
Esses contratos equivalem à venda futura de dólares e são o principal instrumento de intervenção cambial do governo. Nos contratos de swap cambial, o BC oferece ao mercado proteção contra a valorização do dólar. Quando a moeda norte-¬americana tem alta, o investidor é remunerado. Se o dólar cai, o BC tem ganho com a operação.
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